Revisitando Zatch Bell

revisitando zatch bell

 Por que, mesmo oito anos depois de seu fim, Zatch Bell continua sendo tão bom?

A cada mil anos cem Mamodos (no original, 魔物 ”Mamono”, “demônio”) vem à Terra para lutar ferozmente pelo direito de ser o Rei. Cada um desses demônios possui poderes fantásticos que estão selados em um livro, e que somente um parceiro humano poderá liberar. 

mamodos

Zatch Bell (no original, 金色のガッシュ!! “Konjiki no Gasshu!!”) é um mangá de autoria de Makoto Raiku, publicado pela Shonen Sunday de 2001 a 2007 e vencedor do prêmio Shogakukan de melhor shonen do ano de 2005.  A Toei produziu uma adaptação para anime com 150 episódios, que foi exibida no Brasil pelos canais Cartoon Network, Jetix e Globo. Também foram lançados jogos para PS2, Game Boy e Game Cube.

A história começa quando Kiyo Takamine, um jovem estudante, está discutindo com a mãe por que não quer ir à escola. Por ser extremamente inteligente ele não acha graça nas aulas e é rejeitado pelos colegas. De repente, um garotinho louro trazido por uma águia invade o quarto do Kiyo pela janela. Ele se apresenta como Zatch Bell, diz que foi enviado pelo pai do Kiyo e entrega-lhe uma carta. Depois de se recuperar do susto e ler a carta, Kiyo descobre que Zatch tinha sido salvo por seu pai, um professor universitário que mora na Inglaterra por causa do trabalho.

O pequeno fora encontrado inconsciente e ferido numa floresta e, ao acordar, não se lembrava de nada além do próprio nome. A única pista para sua identidade era um livro que estava junto dele. O pai do Kiyo pede que ele use sua inteligência privilegiada para desvendar o mistério do passado de Zatch. Imediatamente amado e “adotado” pela mãe do Kiyo, o garotinho amnésico passa a morar com a família Takamine. Após algumas aventuras e desventuras, fica-se sabendo que Zatch é um dos cem mamodos que vieram à Terra para lutar pelo direito de ser Rei e que Kiyo fora escolhido para ser o seu parceiro humano.

Zatch Bell reúne o melhor e o pior do battle shonen. Superpoderes? Tem. Torneio violento e mortal? Tem. Protagonista fracote que ganha todas mesmo assim? Tem. Humor escrachado? Tem. Dramalhão? Tem. Poder da amizade? Tem até demais!

O que faz a diferença em Zatch Bell são três ideias bacanas:

Ideia Bacana nº 1 – O livro como instrumento de poder:

spellbooks

Diferente da maioria dos battle shonen, os superpoderes dos mamodos não ficam selados em uma arma, carta, ou pedra preciosa, mas em um livro. E para liberar os poderes é preciso que o parceiro humano leia os feitiços escritos nele. Scientia potentia est (“Conhecimento é poder”), aparentemente. Mas não é apenas isso: o humano só consegue ler o feitiço depois de alcançar um certo nível de desenvolvimento tanto no relacionamento com o mamodo quanto a nível pessoal e, ainda assim, o tal feitiço só funciona se houver uma emoção muito forte.

É simbólico que alguém como Kiyo, um jovem extremamente inteligente, mas que é um total fracasso em relacionamentos humanos,  seja escolhido para ser o parceiro humano de Zatch. Se apenas inteligência bastasse para vencer as batalhas, tudo seria muito fácil, mas não, é preciso também ser capaz de lidar com suas emoções. Este é um dos aspectos mais interessantes da série.

Ideia Bacana nº 2 – Protagonista racional e mais velho x protagonista emocional e mais novo:

zatch e kiyo

Zatch Bell tem dois protagonistas: o mamodo Zatch e seu parceiro humano Kiyo. O primeiro é um pequeno ser dominado pelas emoções que chora, ri e fica com raiva abertamente. Ele fala e age de acordo com seus instintos e sentimentos, sem pensar nas consequências. Já o segundo está acostumado a sempre colocar a razão à frente da emoção. Diante de um problema seu primeiro ato é procurar uma saída estratégica, pensar em consequências, calcular riscos e tentar chegar à melhor relação custo-benefício. Do choque dessas duas naturezas opostas surgem conflitos interessantes, engraçados ou dramáticos. Há todo um instigante processo de entrar em atrito, conhecer, entender e, finalmente, aceitar o outro.

Para enriquecer isso, há a diferença de idade entre os dois: Zatch é um mamodo de cinco ou seis anos, Kiyo, um adolescente de quatorze. A relação deles é diferente da maioria das duplas shonen, que costumam ser mais ou menos da mesma idade (Gon e Killua, Naruto e Sasuke, Yusuke e Kuwabara, por exemplo). Kiyo era filho único, acostumado a ter tudo só para ele: os pertences, o quarto, a atenção da mãe. De repente aparece o Zatch e ele é forçado a dividir tudo e ainda por cima tem que cuidar de mais alguém além de si mesmo. Essa dinâmica diferente rende cenas muito divertidas como a criação do fabuloso Volcan 300, feito especialmente para apaziguar a birra do pequeno Zatch.

volcan 300

“Que idade tem o Volcan?”
“Cinco minutos.”

O mais bacana desse relacionamento é ver, em paralelo às batalhas, Kiyo amadurecendo e Zatch desenvolvendo sua identidade. No início da história Kiyo é um menino apático, desconfiado, que despreza os colegas de escola por não serem tão inteligentes quanto ele, enquanto que Zatch é uma criança sem memória, sem passado, cujo único objetivo é “ajudar o Kiyo a fazer amigos”. Depois de aprender a ser mais positivo, tolerante e generoso, Kiyo torna-se um líder respeitado entre os mamodos e os humanos, e Zatch, à medida que vai descobrindo partes de seu passado, encontra uma causa pela qual lutar.

Ideia Bacana nº 3 – Entre uma batalha e outra, trabalhar o relacionamento das duplas:

duplas

Algumas das várias duplas humano-mamodo que aparecem na série: Folgore e Kantchome, Megumi e Tia, Li en e Wonrei

Quando observamos as várias duplas humano-mamodo que surgem no decorrer da série, percebemos uma grande diversidade de relacionamentos. Em muitos casos o mamodo preenche uma carência ou necessidade do humano ou vice-versa – um é o filho que o outro nunca teve, um substituto para o neto que morreu, o único amigo, o discípulo, o mentor, o amante.  Uma vez que a carência é superada, os personagens têm dois caminhos possíveis dentro da história: ou o relacionamento se fortalece e a dupla fica mais poderosa, ou acontece a separação dos parceiros, seja pela derrota em uma batalha ou por um sacrifício inevitável. Cada uma das duplas principais tem a sua história. Nem todas são interessantes, mas o número de ideias legais supera em muito o de histórias chatas.

Zatch Bell continua divertido mesmo com o passar dos anos por que Makoto Raiku, seu criador, soube usar essas três ideias bacanas muito bem. A série não é perfeita, claro. Às vezes o melodrama ultrapassa os limites do tolerável e, em um ou outro momento, o humor chega às raias do grotesco e do mau gosto, mas, pensando na obra com um todo, esses problemas são pontuais e não chegam a prejudicá-la de modo significativo.

Quem gosta de comédia e battle shonen deve dar uma chance a Zatch Bell. O traço simples mas cheio de personalidade do autor não envelheceu e, tirando a falta de recursos tecnológicos, tanto o anime quanto o mangá não fazem feio mesmo nos dias de hoje.

FONTES:

http://www.toei-anim.co.jp/tv/GB/index.html (japonês)

http://en.wikipedia.org/wiki/Zatch_Bell! (inglês)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zatch_Bell! (português)

Sobre liviasuguihara

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).

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6 thoughts on “Revisitando Zatch Bell”

  1. Zatch um dos melhores animes q ja acompanhei!!..muitas historias que precisam ser explicadas PFV!!! Makoto raiku faça a continuação desse anime tão bom…I gente qro amigos que gostem de Zatch me add no whats=085 998353728

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