Fullmetal Alchemist: The Sacred Star of Milos

Há poucos dias chegou ao Japão os DVD/BD do filme Fullmetal Alchemist: The Sacred Star of Milos, um spin-off da última série animada baseada na obra de Hiromu Arakawa, Fullmetal Alchemist Brotherhood cujas conclusões que eu fiz você pode ler aqui.

Lançado em Julho de 2011, assim como a maioria dos filmes pós-série de sucesso, Star of Milos coloca os irmãos Elric em uma aventura que apesar de usar os elementos comuns da série, não se encaixa exatamente sua sua cronologia/lógica. Ambos estão na caça de um alquimista poderoso – Melvin Voyager – que poucos meses antes de terminar sua sentença de 5 anos na prisão utiliza-se de uma poderosa alquimia até então desconhecida para fugir do lugar. Seguindo as pistas encontradas no local, os irmãos descobrem que Melvin se dirige para a cidade de Table, localizada na fronteira entre Amestris e Cletan, ao oeste de onde a série em si se passa, em busca de Julia Crichton, formalmente uma cidadã de Cletan, mas que luta ao lado do povo de Milos por sua independência após uma história de subjulgação tanto por Amestris quanto por Cletan, presa na cidade por imigração ilegal.

A história de Milos está diretamente ligada com a busca pelo poder da Pedra Filosofal, ou como é chamada na região, a Pedra da Imortalidade, também conhecida como Estrelas de Sangue. Milos, posicionada em um platô sagrado para o seu povo, se viu invadida por Cletan que buscava as Estrelas de Sangue que o folclore de Milos diziam poder ser encontradas ao redor da região.

Após um longo período de escravidão e devastação, o povo de Milos foi confinado ao imenso vale criado pela prospecção mineral e impedidos de voltar ao seu lugar de origem. Após a intervenção do país de Amestris que atacou Cletan e retomou o platô, a região foi dessa vez tomada por Amestris, sendo nomeada cidade de Table, renegando Milos a um verdadeiro lixeiro nas profundezas do vale.

O filme, um produção do estúdio Bones e da FUNimation, tem um início bastante acelerado, deixando claro que a ideia é muito mais empolgar o espectador com ótimas cenas de ação do que aprofundar o background do mundo onde Fullmetal Alchemist se passa.

Dessa forma, é preciso ter em mente o que você quer assistir para então poder julgar o que foi visto. Como fã da série, é fácil encontrar diversos buracos no enredo e muitas coisas que não fazem sentido, ainda que seja possível encaixar a história de Milos dentro da cronologia de Brotherhood. No entanto, mesmo que se leve o filme apenas como uma produção que se utiliza dos elementos comuns, um fã da franquia ainda pode se entreter conhecendo um pouco mais dos famosos “confrontos na região oeste” que são comentados na série.

Pouquíssimos personagens da série sequer aparecem na película, sendo que os poucos que tem uma participação (fora os dois irmãos, lógico) mínima estão ali como mero fanservice. Temos Roy Mustang, Riza Hawkeye, a Winry, alguns dos oficiais de Roy e Armstrong. Nenhum deles tem participação relevante, sendo até tosca a situação do carismático Armstrong que possui menos de um minuto em tela e que serve apenas para entregar um aviso.

Mesmo Alphonse e Edward Elric perdem um pouco da atenção óbvia que mereciam em prol dos novos personagens, o que de certa forma foi uma decisão correta da produção, já que, apesar de ser um filme de Fullmetal, os protagonistas não são os verdadeiros pivôs da ação, mas sim intrusos que acabam interferindo. Isso tira a graça do filme? Depende. Apesar da já comentada falta de importância do longa no universo da série, ignorando os furos da lógica do seu universo (como o fato de termos “pedras filosofais” pipocando por aí), o filme é sim bastante interessante ao pegar o contexto bélico e autoritário que o Estado de Amestris sempre apresentou. Os novos personagens e verdadeiros protagonistas, especialmente Julia Crichton, possuem coesão e estabelecem uma confiança com os espectadores de que aquilo faz sentido.

Por não ter um envolvimento da criadora Hiromu Arakawa direto no filme, o ponto forte da franquia, que são as imbricadas conexões de acontecimentos micro e macros na região marcada por um contexto bélico e disputas interno e externas de poder, acaba sendo diluído, ainda que esteja presente. É interessante notar a mudança da ambientação germânica da franquia para algo mais latino e arábico. Não diria ser uma coincidência o fato do lado pobre e renegado a um papel social de lixo ser justamente caracterizado por nomes latinos. São esses pequenos detalhes que sustentam o filme, ainda que de maneira superficial, como um verdadeiro pertencente à franquia Fullmetal Alchemist.

Mas se esse ponto forte não é tão bem desenvolvido, temos aqui um ótimo filme de ação e animação, não muito diferente do que poderíamos esperar do estúdio Bones. Mas é interessante notar a diferença na animação desse filme para a série Brotherhood (e mesmo  para a primeira série). Enquanto eu assistia, tinha a nítida impressão de estar vendo algo com influência Ghibli. Não foi uma surpresa descobrir que o character designer e chefe de animação é Kenichi Konishi, que já trabalhou em diversas obras do estúdio de Miyazaki, Ponyo, O Castelo animado, A viagem de Chihiro e outros.

Essa mudança na arte pode incomodar alguns, mas me agradou bastante por criar uma atmosfera diferente da série Brotherhood, algo necessário para uma material sem grandes conexões como é Star of Milos. Outro ponto que pode causar discussão é quanto a animação. Acho difícil alguém afirmar que ela é ruim ou que não é ótima, mas existiu por parte do diretor Kazuya Murata uma enorme liberdade para que os animadores se utilizassem de vários estilos, o que pode causar uma certa estranheza em alguns pela aparente inconsistência. Na minha visão, é justamente essa liberdade que dá vida ao filme, possibilitando momentos de ação muito interessantes, saindo do mais do mesmo.

As músicas são outro ponto altamente positivo do filme, compostas por Iwashiro Taro, dando o tom certo nas cenas mais épicas. Somando a isso, ainda temos as duas músicas temas, uma pela cantora miwa e a final pelo grupo de J-Rock L´arc~en~Ciel, algo que traz um pouco de nostalgia dos fãs mais antigos da franquia.

Fullmetal Alchemist: The Sacred Star of Milos definitivamente não é algo imperdível para um fã, mas certamente é um ótimo entretenimento, sendo uma pena não termos a chance que países como os EUA tiveram de ver diretamente em salas cinemas, especialmente por ser tecnicamente um espetáculo, e mesmo com seus grandes furos (Ao final você irá pensar “Ok, eles venceram, mas daqui há uma semana vão ser destroçados pelos alquimistas de Amestris e pelas Quimeras estranhamente super desenvolvidas de Cletan”) e plot twists um pouco forçados ainda merece ser visto e apreciado, pricipalmente por aqueles com a mente mais aberta.

PS: Quem não acompanhou Brotherhood pode assistir o filme sem problemas. Acho que mesmo quem nunca viu nada de Fullmetal Alchemist conseguirá entender bem o filme por si só.

Há poucos dias chegou ao Japão os DVD/BD do filme […]

8 thoughts on “Fullmetal Alchemist: The Sacred Star of Milos”

  1. Podiam ter aproveitado mais o final do mangá, teria muita coisa pra explorar nos países do oeste e leste de Amestris ou podiam ter feito um filme sobre a guerra Amestris-Ishval…
    Com certeza não vai ser prioridade na minha lista de filmes a assistir, mas com certeza vou assistir algum dia.

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