Solanin – Editora L&PM Pocket Mangá

Um dos principais eixos do sistema onde vivemos – o capitalismo – é a permissão do sonhar. A ideia de que todos somos livres para sermos aquilo que quisermos, bastando que nos esforcemos muito para isso. Não vou entrar aqui em discussões sociológicas, já que não é o objetivo deste texto, mas seja aqui no Brasil ou no Japão, de maneira geral é permitido às pessoas sonharem, e, bem, elas sempre sonham pelo melhor.

De acordo com o censo que estou fazendo aqui no blog a maioria dos leitores ou está cursando o ensino médio ou o ensino superior, o que me ajudará a dar o melhor tom dessa introdução.

Àqueles que estão no ensino médio, a maioria vivendo às custas dos pais, coloca-se sobre o manto do futuro: O que você quer ser? O que você sonhar ser? As possibilidades são infinitas.

Àqueles que estão no ensino superior, teoricamente os que escolheram qual caminham querem tomar (ainda que uma vida não possa ser resumida às escolhas profissionais feitas) em suas vidas, mudam-se as perguntas: Eu fiz a escolha certa? O que será de mim?

É ao permitir que as crianças desejem, almejem, sonhem, que o capitalismo dá sua força motriz para as pessoas buscarem entrar no mercado de trabalho e girar a roda. Mas ao chegarmos lá, ao virarmos adultos, percebemos que a vida não se resumo a sonhos e que o mundo real é muito mais implacável do que poderíamos sonhar.

Veja o sol dessa manhã tão cinza…

A obra de Inio Asano, originalmente publicada na revista seinen Weekly Young Sunday de 2005 a 2006, formando dois volumes lançados no final de 2011 como estréia da editora L&PM Pocket no mercado de mangas brasileiros vem apresentar uma história que mais do que apresentar algo ao leitor, vem questioná-lo: Afinal, quem é você? Quem você queria ser? Quem você será?

Meiko e Taneda, ambos universitários formados há dois anos, estão juntos em uma vida que muito se afasta dos sonhos gloriosos da juventude. Ela, trabalhando em um escritório basicamente como uma secretária e ele, ilustrador de uma companhia sem carteira assinada, não conseguindo ganhar muito e vivendo às custas do salário da namorada, enquanto se reúne esporadicamente com a sua banda formado por amigos da época da faculdade, relembrando os tempos em que seu sonho era viver da música.

Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo. Temos todo tempo do mundo…

Solanin, apesar de parecer, não é um manga sobre a busca de um sonho, antes é a busca do entendimento de que somos livres para sonhar, mas que não podemos ficar presos a esses sonhos. O ponto de partida da jornada pessoal que Meiko, Taneda e os amigos que o cercam irão passar é quando a garota se demite do seu entediante emprego. Asano é hábil em enganar o leitor para logo depois desiludí-lo, uma metáfora para seu entedimento da vida. Ao invés de começar uma grande aventura que mostrará que podemos tudo, ao sair do seu emprego Meiko é envolta pela realidade que cobra com seu relacionamento, com suas dívidas a pagar e com o próprio sentimento de inutilidade.

Como diria a música que embala esse post – e que eu recomendo ler enquanto ouve ou pelo menos ouví-la em seguida -, nós temos todo tempo do mundo, mas o que será desse tempo se não compreendermos que não somos mais tão jovens assim? É nessas incertezas da vida que os personagens e o leitor se desenvolvem com o passar da leitura.

Buscando não cair em spoilers, é imprescindível notar a evolução do próprio discurso e do prório pensar de Meiko. Se no primeiro volume temos ela falando do mundo adulto como algo distante, não aceitando sua própria forma, temos ao final da história, após um acontecimento chave, um amadurecimento da personagem que consegue compreender que sim, a vida é feita de sonhos, mas que o tempo não pára e que um dia você vai precisar encará-lo de frente.

É óbvio, e aqui está o grande charme da obra, que isso causa no próprio leitor uma inquietação absurda sobre seu próprio ser. Ler Solanin é o equivalante à levar um tapa na cara enquante ouve um “Acorda!”. É uma sensação ruim, desconfortável, invocando coisas que nós tentamos ignorar. Mas ao mesmo tempo é agradável, é desafiador, é instigante.

Até quando você precisará de mais tempo? Até quando terá esse tempo?

Solanin se utiliza da música – eterno símbolo dos sonhos de uma juventude – marcar a passagem e crescimento de sua personagem principal, em contrapartida ao fracasso do namorado. Não por outro motivo resolvi fazer esse post com ajuda de duas músicas tão emblemáticas do rock nacional e que refletem sobre o mesmo sentimento de um juventude que apesar de parecer, não é eterna.

Com seu traço bonito e bem delineado com personagens e ambientações realistas, algo imprescindível para que a ideia do autor conseguisse ser transmitida, uma narrativa direta e diálogos, que apesar de em alguns momentos soarem prosaicos, que não soam repetitivos, Asano conseguiu criar uma leitura brilhante e que entra para os melhores mangas já publicados no Brasil e entre os melhores que eu li.

Até por isso Solanin merecia chegar ao Brasil em um formato diferente dos tankohons de bancas. Felizmente ele veio pela editora L&PM Pocket. A qualidade é a mesma dos seus outros quadrinhos lançados nesse mesmo formato. Papel offset, branco, cola e costura de alta qualidade, sem medo das páginas caindo, mesmo abrindo o manga em mais de 180º. A tradução, na mão de Adriana Sada, a conhecida Drik Sada de outros mangas, está muito competente e a edição dos textos também, dando uma leitura fluida, o que era crucial, pois seria uma tragédia se o leitor ficasse empacado em alguma frase; o ritmo em Solanin é muito importante para dar o tom.

No entanto, é preciso citar dois problemas da edição da L&PM. O primeiro é sobre os textos dentro dos balões que em muitas vezes estão mal encaixados, tortos, algo que eu particularmente nunca tinha visto nos mangas nacionais, então não aceito a afirmativa da editora de que isso aconteceu pelo japonês ter um estrutura diferente e que isso influi na hora de encaixar o português nos balões. Espero que nos próximos lançamentos isso não volte a acontecer.

Outro problema que eu percebi é quanto à impressão. Se na maioria das páginas ela é ótima, com um preto que é realmente preto, não cinza escuro, acontece em algumas páginas da tinta ficar mais “fraca” e o preto perder seu tom. É meio difícil explicar, mas às vezes o preto é mais fraco em uma página do que na outra, causando uma inconstância. Ainda é melhor do que aquilo que vemos nas bancas de longe, mas é um problema e que deve ser apontado para ser corrigido posteriormente.

A editora L&PM Pocket entrou com os dois pés dando um chute na porta do mercado brasileiro de mangas. Solanin não é só uma leitura obrigatório para todos, mesmo para aqueles que não lêem mangas, como também é um item obrigatório para uma boa coleção de mangas pela sua qualidade grafica superior. O preço, R$15 cada edição, é mais do que justo (poderia sero R$20 que eu acharia justo ainda) e não dói no bolso de ninguém.

Da escolha do lançamento, do tratamento dado a ele, à aproximação com os leitores e blogs da área, com a criatividade na hora de divulgar (viram o vídeo acima feito pela própria editora?) e por estar aberta ao diálogo, vejo um futuro grandioso para os mangas da editora. Mas é claro, nós precisamos comprar. Não deixe essa chance escapar.

Se quiser ler outras opiniões sobre o manga, segue uma lista de outros blogueiros que comentaram:

Mais de Oito Mil

Subete Animes

– Elfen Lied Brasil – Parte 1 e Parte 2

Yon-Koma

Se mesmo assim você não estiver convencido em comprar, a editora disponibilizou o primeiro capítulo para leitura online de forma oficial para você testar! Só clicar aqui e ir para a última página, lendo de baixo pra cima.

Resolveu comprar? No página de cada volume no site da editora você tem diversas opções:

Solanin 1

Solanin 2

O que mais eu posso dizer? Compre e se delicie com o melhor manga lançado por aqui em 2011.

Um dos principais eixos do sistema onde vivemos – o […]

11 thoughts on “Solanin – Editora L&PM Pocket Mangá”

  1. Recomendo Solanin para todos que estejam a fim de algo mais do que um bom entretenimento, mas algo que o consiga envolver completamente. E de quebra, irá conhecer um dos melhores “novos” autores da nova geração de mangakas e seu primeiro passo para um futuro brilhante que se despontou.

  2. Estou lendo Solanin 2 e é, realmente, uma história fantástica e por demais verdadeira: a chegada do jovem ao mercado de trabalho e as inquietações desse período. Quanto ao que tu disse sobre os textos estarem tortos nos balões, eu realmente não percebi.

  3. Eu comprei os dois volumes de uma só vez, e me decepcionei com o mangá. Provavelmente foi porque não correspondeu as minhas expectativas.
    O problema não é o gênero. Um dos meus mangás preferidos é do mesmo gênero e com temas parecidos, o Honey & Clover da Panini.

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