SKET Dance e o poder do oposto na renovação de uma série

Esse post possui spoilers sobre SKET Dance até o episódio 36 do anime, leia por conta e risco.

Se a indústria da animação japonesa é hoje uma das maiores do mundo em produtividade, versatilidade e temática, muito disso se deu por uma das mais simples lógicas do capitalismo: fazer mais com menos. Não irei me alongar nessa discussão, mas você pode observar em todos os seus animes favoritos como a maior parte dos quadros são estáticos (ou com leves movimentos), utilizando-se largamente de técnicas cinematográficas como dar zoom (concentrando ou saindo da imagem) ou o deslize da câmera sobre uma imagem maior que a tela em si.

Apesar de estar presente em todos os animes (mesmo aqueles com mais dinheiro para investir em mais frames), é nos shounens de grande duração que isso é mais apontado pelo público, sendo um deles uma das mais recentes adaptações de um manga da poderosa revista Shounen Jump; Sket Dance.

Caso você não conheça essa ótima comédia (e deveria), recomendo ler o meu post com as primeiras impressões sobre o mesmo ainda na temporada de primavera deste ano. Lá eu elogiava uma comédia que tem como enredo base um trio de estudantes fundadores do clube SKET Dance com a proposta de ajudar a resolver qualquer problema que seus colegas possam trazer. Temos o peculiar otaku que fala somente através de um programa de computador que carrega consigo quase toda hora, o carismático Switch. O toque feminino é dado pela forte Onizuka Hime, ex-deliquente conhecida pelo apelido de “Onihime”, traduzido por “Princesa demônio”. Por fim há o líder desse grupo, Bossun, um personagem sem grandes habilidades (seu principal poder é um modo de alta concentração e raciocínio) e que vive sendo zoado pelos outros personagens justamente por não cumprir as características normalmente exigidas para o protagonista de um manga shounen.

Em um primeiro olhar é fácil achar que SKET Dance é apenas uma comédia com uma cadência para acontecimentos sem grande sentido e exagerados. O uso de expressões faciais caricatas é frequente como feito cômico até um tanto infantil e as metalinguagens aparecem em vários episódios, podendo ser destacado os recentes crossovers com outras obras da Jump como Gintama e Bakuman.

Entretanto, já desde a primeira quinzena do anime começaram a ser dadas pistas de que nem tudo eram flores. Pequenas passagens indicavam para o fato do trio principal, apesar de normalmente soarem felizes e um tanto quanto bobos, na verdade escondiam um passado com histórias pesadas que moldaram quem são hoje.

O anime, após passar por todo o estabelecimento do feeling feliz da série, ao fechar seu segundo cour (slot de três meses; mais ou menos 12/13 episódios como explicado pelo Qwerty do Nahel Argama) nos dois últimos episódios somos transportados para o passado do um dos seus personagens principais, Switch. A mudança é tão brusca que é difícil se acostumar com a seriedade a que somos apresentados. E aí está justamente o ponto principal do porquê o arco “Switch Off” foi até o momento o que melhor foi animado no Japão no ano de 2011.

Sim, a apresentação do passado do personagem é muito bem executada, mas é exatamente no poder do oposto (comédia escrachada – seriedade extrema nesse caso, mas que funciona em qualquer oposição de climas e temas opostos) que a série consegue explorar com maestria o conteúdo que tem em mãos. Ao não dar tempo do espectador entender o que está acontecendo com sua série de comédia, as emoções de medo, horror e tristeza são maximizadas. Com isso, a morte do irmão mais novo de Switch e a transformação doentia de personalidade do mesmo no personagem que conhecemos deixa de ser apenas mais um passagem importante para a série e passa a ser um evento marco não somente dentro do mundo daquela série, mas na própria forma como o anime passa a ser visto em seguida.

O mesmo foi realizado no episódio mais recente de SKET Dance (36), dessa vez ao mostrar, em parte – afinal não é sempre preciso deixar o espectador querendo mais informações – a transformação de uma simples garota sem muitos amigos e que praticava hóquei de grama por comodidade em uma garota violência após a traição de quem considerava ser uma amiga.

Novamente se faz uso do poder do oposto ao se dar um espaço longo suficiente para que o fã da série consiga digerir as emoções tão distintas que sentiu ao ver seu excêntrico Switch passar pela dor traumatizando e culpabilizadora da morte do seu irmão. Mas assim como diria o velho clichê dos shounen de luta de que uma técnica não funciona duas vezes contra o mesmo inimigo, o impacto do passado trágico da Onihime é menor e a probabilidade de que na próxima semana, quando o flashback será completamente encerrado, as pessoas creditarem um maior gosto pelo Switch Off é bem alto (ainda que existam outros variáveis sobre isso) justamente por isso.

Um dos grandes erros de comédias non-sense é cair na mesmice, repetindo piadas e fazendo com que o espectador saiba o que irá acontecer antes do episódio começar. Ao usar o poder do oposto SKET Dance consegue se destacar e tirar o fã da sua zona de conforto. Além disso, existe, claro a inteligência do autor em dar profundidade a personagens que normalmente se esperaria serem planos.

Seja pela comédia, seja pelo drama bem realizado e principalmente bem conduzido que eu coloco SKET Dance entre as melhores séries de 2011. Por mais que alguns episódios já mostrarem certo cansaço, a técnica exposta nesse post dá um pique maior não apenas no seu período imediato, mas faz que novos acontecimentos como esses sejam ansiosamente aguardados. Quando chegar a vez do passado de Bossun, não haverá surpresa, mas é dentro dele, o personagem mais “bobão” do trio principal, que reside o maior potencial para se usar o poder do oposto.

PS: Ao comentar, não será aceito spoilers que falem do manga além dos acontecimentos do anime até o episódio 36.

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15 thoughts on “SKET Dance e o poder do oposto na renovação de uma série”

  1. 0 – Belo post, espero ver mais análise aqui nesse e nos outros meses que vem por aí.

    1 – É mérito do manga do bom Kenta Shinohara [e da execução do igualmente bom Keiichiro Kawaguchi] esse mix de comédia com alguns arcos mais sérios – e é algo que também leva muita gente a comparar com Gintama, que também sabe fazer isso muito bem.

    2 – Realmente se impressionou com o arco do Switch, porque achei o da Himeko tão interessante e com potencial quanto. E ainda não vimos o TWIST que pode ter [a graça do Switch é ter aquele post twist maroto].

    2.5 – Como bem disse no final, o arco do passado do Bossun é que é o bicho. Aguardando desde sempre…

    3 – E meu problema com SKET e sua duração é ser uma série que facilmente ficaria boa com um Abridged de 30 episódios. Porque sim, existem/existirão uns bons 20 episódios nesse primeiro ano que são meh pra baixo.

    First? Second? Twenty Fourth? Veremos!

  2. Você não lê o mangá né Gyabbo? ^^

    O passado do Bossum é o meu favorito, para você ter uma ideia. Não é trágico como o do Switch-sama, mas é um ponto chave para um desenvolvimento do mangá ^^… Se bem que é um mangá de comédia… dizer desenvolvimento é bem estranho ASIUHUIahsiuuAISHUIas

    Espero que você curta ele também como curte o do Switch… Chorei litros quando li o passado dele no mangá… Nunca imaginaria algo assim no passado do Switch o.o…

    E sim o autor não faz esse tipo abordagem SÓ nos passados dos personagens, existem vários caps, alguns já animados, onde o plot da história é um fato bem sério, onde você vê o SketDan trabalhando para um Final feliz, com direito a lições de moral e frases cheia da emoção Shounen, bem comuns na Jump ^^

    Eu gosto muito do mangá, e espero que ele continue por Muito tempo ainda ^^

    1. @Qwertybr
      0 – Obrigado, espero conseguir continuar nesse ritmo pelo menos nas férias que (praticamente) começaram. Quando as aulas voltarem eu não garanto continuar, não.
      1 – Sim, de fato seria preciso dar a parte que cabe ao autor original já que essas histórias foram criadas por ele, soa meio injusto eu não ter feito isso, mas quis não fazer muitas citações ao manga. Infelizmente não li nem vi Gintama, mas se a comparação com SKET Dance for realmente justa, é algo que eu deveria fazer logo!
      2 – Sim, fiquei muito impressionado, ainda mais por ele ter me emocionado tanto hoje quando revi para este post. Mas é como eu disse no post, ainda falta o próximo episódio da Himeko, é possível que não seja tão bom quanto o Switch Off, mas pode ser sim que seja.
      2.5 – Muito ansioso aqui!
      3 – De fato não é uma má ideia. SKET tem sim seus episódios fracos, mas é a questão de lucrar com a longevidade e não deixar de fora material que está no manga e precisa ser comprado.

      @Natthchan
      Não leio, na verdade leio poucos mangas online, espero que ele venha pro Brasil (apesar de achar bem difícil já que comédia quase não vem pra cá e SKET Dance é meio nipônico demais). Estou muito ansioso pelo passado do Bossun, espero não ser traído também (sabe como é, hype…)

      Gyabbo!

  3. Esse poder do oposto é utilizado, re-utilizado e re-re-utilizado em Gintama… É sempre assim: episódios cômicos intercalados por arcos sérios, onde se esquece toda a non-sense(sisi) e se foca nos personagens… para só depois voltarmos à comedia desenfreada… e então termos outro arco serio… e etc etc etc…

  4. Tenho certeza de que o passado da Himeko será ótimo, mas não tão impactante para mim, não apenas pelo que você falou, Gyabbo, mas também porque tenho um irmão, e depois que vi o Switch Off, senti uma depressão muito intensa. =/

    Mas adorei esse contraste do Sket Dance. Desde o primeiro episódio eu imaginei que eles tivessem passados assim (afinal, o que mais faria três pessoas tão distintas e esquisitas a formarem um clube para ajudar estranhos simplesmente por ajudar?), mas nunca imaginei que fosse tão forte. Que venham os próximos, mostrando o resto do passado deles e como eles se juntaram.

  5. de fato, essa comparação COMEDIA X SERIEDADE acontece MUITO bem em Gintama, e dentro dos proprios arcos “serios” que mesmo no meio de batalhas, guerras e afins, ainda consegue manter o bom humor…

    “Switch Off” foi muito bom, não so pelo Oposto, mas tambem pelo fato de que é o personagem mais estranho e misterioso do trio… a Onihime os fãs já sabem que se trata de uma ex-delinquente, e a partir do momento que voce sabe que ela tera sua historia contada o impacto diminui… e acredito que o arco daOnihime vai ser mais “bonito” ou talvez ate “romantico” do que o triste arco do Switch…

    enfim, fica ja a espera pelo arco do Bossun, que de fato a expectativa ja ta alta…

  6. Eu via esse anime e ate gostava + cancei via te o 33 dai n deu mais dropei perdi o animo pra min toda semana é a mesma coisa. não vejo + graça nesses episodios de stekdance.

  7. @Eduardo @Henrique Kaza (@kkkaza)
    O pessoal está muito falando sobre a utilização disso em Gintama. Já tinha vontade de assistir, agora mais ainda!

    @Gabriel
    Pior que eu tenho uma irmã menor, será que isso teve um efeito na forma como eu fui impactado ao assistir ao Switch Off? Interessante pensar dessa forma. Eu não imaginei que eles teriam passados tão intensos, achei que ficaria ali naquelas personalidades peculiares, fui muito surpreendido.

    @Henrique Kaza (@kkkaza)
    Sim, esse é outro lado do poder do oposto, mas dessa vez dentro do próprio personagem. A gente vê ele todo bobão, todo bizarro e de repente nos vem com um outro Switch, que nem era Switch e a tragédia que ele passou. É aquela coisa, o palhaço nos faz rir, mas quem faz o palhaço rir?

    @Carlos
    Pena Carlos, mas eu entendo, pode cansar um pouco mesmo, mas na maioria das vezes eu vejo os episódios com muita qualidade. Tendo ainda dentro essas mudanças tão grandes, só engrandecem o anime.

    Gyabbo!

  8. Achava e ainda acho a comédia em Sket Dance ruim. Não consigo rir por mais escrachado que possa parecer. Salvo raras conotações e paródias (Rachei com a paródia de Kimi ni Todoke e Gintama). Mas normalmente gosto de comédias nonsense (vide Excel Saga, Gintama). Sempre achei o anime “mal feito” e torcia pra terminar com 26 episódios. Sob hipótese alguma eu dropo algum anime que iniciei, por isso torcia pelo fim.
    Até que levei um murro na cara e outro no estômago no episódio do Switch. Lindos episódios, sensíveis, perfeitos como drama. A série, pra mim, dificilmente alcança os melhores do ano 2011, mas o episódio do Switch é o melhor que vi esse ano sob qualquer aspecto e qualquer anime. Considerando episódios em Fate, Madoka, Chihayafuru, Steins Gate e outros.
    Hoje adoro o Switch e gosto dos outros mortalmente agora. A comédia não me ajuda, mas os personagens estão bem salvos em meu conceito. Até os secundários *3*
    Por sim, enxergo plenamente o que vc diz em seu post, Denys, pois está bem justificado. Só não caiu no meu gosto como comédia (e nem sei porque), mas realmente acho que não enxerguei SkeDan como deveria desde o início. Me ajudou a refletir um pouco mais a respeito.
    Por isso que gosto do blog.

    Não leio o mangá (se já não deixei claro). =D

  9. Eu curti BASTANTE Sket Dance, principalmente pela qualidade do anime visualmente falando, trilha sonora, e tudo o mais, e (lógico), pela história em si…

    Eu não espero mesmo algo tão trágico com a Himeko quanto foi com o Switch (como o pessoal falou, a gente já sabia em parte do passado da Onihime), mas eu espero mesmo pra saber do passado do Bossun e de como os três acabaram se encontrando :)

    Pra mim, de longe um dos melhores animes que eu já vi!

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