Os 09 maiores erros do mercado nacional de mangas – Parte 01

2010 marcou a primeira década do “novo” mercado de mangas no Brasil. Apesar de já termos diversas outras publicações anteriormente – como Akira, Mai, Ranma etc -, foi com Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball pela Conrad que deu-se início à publicação períodicas no chamado “modelo japonês” (em resumo, leitura da direita para esquerda).

Durante todo esse tempo muita coisa aconteceu, mais de uma centena de títulos diferentes chegaram à nossas bancas por várias editoras – algumas sólidas no mercado, outras que vieram se aventurar. De um ínicio marcado pela publicação dos chamados “meio-tankos” até hoje em dia, pode-se dizer que aconteceu uma evolução na qualidade do que recebemos, mas essa trajetório foi marcada por diversos erros por parte das editoras. Nesse especial dividido em duas partes venho relembrar os 09 maiores erros do mercado nacional de mangas.

09 – O caso Trigun

Trigun se tornou durante o início dos anos 2000 um anime bastante conhecido pelo público brasileiro graças aos fansubs, além de ter chegado posteriormente à Tv paga pelo Cartoon Network (por onde eu assisti) e à Tv “aberta” pela PlayTv. Essa relativa fama e a qualidade do material fizeram com que a editora Panini comprasse os direitos do manga de Yasuhiro Nightow e lançasse no primeiro bimestre de 2007 no costumeiro formato de 200 páginas por R$9.50,  anunciado para quatro edições.

O problema é que originalmente Trigun foi compilado no Japão em apenas duas edições, bem maiores do que o formato padrão da Panini. Por algum motivo bizarro a editora Tokuma Shoten ou não sabia da ideia da editora brasileria de dividir cada volume original em dois ou simplesmente mudou de ideia. Alguem não leu direito o contrato.

Quatro meses depois, sem aviso algum, a Panini achou que reiniciar Trigun no formato exigido pelos japoneses e descontinuar a primeira versão brasileira não seria problema. Assim, em Julho as bancas brasileiras receberam a nova edição #1. Isso causou uma grande revolta em quem já havia comprado (e em quem não comprou também, pessoal adora entrar no circo), chegando na possibilidade de boicotor o resto da série se nada fosse feito.

E o que foi feito? No dia 05/12/07, meses depois de Trigun #2 ter encerrado o lançamento da série, a Panini anunciou em seu fórum – e somente lá – que estaria fazendo um recall até o dia 21! Sim, apenas 16 dias para as poucas pessoas que chegassem a saber desse recall pudessem enviar suas cartas.

No fim todo o manga foi publicado, incluindo Trigun Maximun. Vocês irão perceber nesse post que a memória de leitor de mangas é bem curta.

08 – A trinca coreana da Conrad

Da maior editora de mangas do Brasil para uma longa ausência nesse mercado. De todas as editoras grandes a Conrad é que a mais errou – e errou feio. Tiragens gigantescas, apostas em títulos errados, descontos agressivos no seu site; foram erros que levaram a editora à virtual falência, sendo obrigada a ser vendida em 2009. Venda essa que deu muitas esperanças aos fãs, mas o que aconteceu?

Pouco tempo depois do anúncio da compra da Conrad pela Ibep-Editora, foi anunciada a trinca de manhwas, Banya, Dangy e Gui. A questão aqui não são os títulos, não li e não posso comentar a qualidade dos mesmos. O problema é que esse tipo de lançamento não fez barulho algum (pessoalmente nunca vi ninguém comentar um desses), não foi nem de longe o renascimento que a esperávamos da editora depois de ser comprada por uma editora tão grande.

É tanto que além da repercussão zero desses títulos, o verdadeiro marco da volta da Conrad ao mercado de quadrinhos japoneses se deu esse ano com a volta de Cavaleiros do Zodíaco – Episódio G, Battle Royale – com uma péssima qualidade gráfica – e Gen Pés Descalços.

Quantas vezes mais a Conrad acredita que os leitores vão acreditar nela? Uma hora não tem mais volta.

07 – Medabots

Quando a maior editora do Brasil resolve entrar no mercado de mangas com um título que possui seu anime sendo exibido na TV, o que esperar? Em condições normais de temperatura e pressão era lógico imaginar um grande sucesso, mas Medabots da editora Abril pode ser considerado o maior fracasso de um manga por aqui.

Lançado em Maio de 2002, quando o mercado ainda engatinhava (lembrando que foi nesse mesmo ano que a Panini entrou com Gundam Wing), Medabots se apoiava no relativo sucesso da série animada, fórmula que rendeu ótimos frutos para JBC e Conrad. Mas a verdade é que Medabots nunca passou para o público geral de um genérico de Pokemon com um grupo pequeno de fãs.

Custando R$3.90, capa mole, 128 páginas, Medabots foi um grande erro nem tanto por seu valor, mas por sua qualidade original. Quem era fã do anime não conseguia identificar naquilo o que via na TV (eu mesmo sou um grande fã do primeiro anime de Medabots), o traço era mais do que questionável, era horrendo. A narrativa era confusa e não conseguia ter o dinamismo do anime. O trauma foi tanto que nunca mais a editora Abril tentou lançar algum manga (dizem que ia lançar Kingdom Hearts, mas nunca aconteceu, supostamente pelo jogo não ter sido lançado oficialmente por aqui).

06 – Lançamento de Monster e Sanctuary

Vocês devem estar pensando que eu estou louco para considerar o lançamento de Monster e Sanctuary como um dos grandes erros do nosso mercado. Mas a verdade é que, juntamente com One Piece, o maior desfavor que a Conrad deixou para nós foi esses dois lançamentos.

Caso você não se lembre Sanctuary foi anunciado juntamente com Nausicaa em Julho de 2006, sendo os últimos lançamentos de mangas até a nova edição de Gens – Pés Descalços. Esse marco significa o início da decadência da editora, acentuado em 2008 quando nada mais saía praticamente. Pense agora, você tem uma editora com séries problemas e resolve lançar quadrinhos adultos em um mercado dominado pela juventudade? Por mais que seja chato de admitir, seinen ainda não encontrou seu espaço no Brasil, apesar de boas tentativas da Panini. Por melhores que sejam esses dois títulos – e são ambos fantásticos – era fácil prever que não conseguiriam salvar a editora – nem Dragon Ball ED conseguiu – e que talvez não chegassem ao fim.

Depois de anos parados, a editora finalmente se pronunciou, anunciando este ano que esses títulos estavam oficialmente cancelados. As consequências para os leitores vão muito além de coleções incompletas. Significa o atraso em vários anos de mestres dos mangas por aqui: Naoki Urasawa, Sho Fumimura, Ryoichi Ikegami. De forma mais direta é o impedimento de uma obra incrível como 20th Century Boys (visto que ela só pode ser publicada quando Monster estiver completo), já que dificilmente outra editora irá pegar esses títulos para completar. É o atraso para o seinen, é um atraso para o amadurecimento do mercado de mangas.

Muito obrigado, Conrad.

Domingo que vem trarei os 5 maiores erros do nosso mercado de mangas, até lá quero ver o que vocês consideram de pior nos mangas lançados no Brasil, não deixem de comentar!

Update: Confira 05 maiores erros do mercado nacional de mangas aqui!

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26 thoughts on “Os 09 maiores erros do mercado nacional de mangas – Parte 01”

  1. Apesar da minha coleção ser pequena, eu detesto 2 títulos em particular: Code Geass e Saber Marionette J. Extremamente ruins, massantes e piores que os animes. Eu comentaria sobre o lançamento de DTB e de God Save the Queen, mas eles são tão curtos e insignificantes que nem vale a pena comentar.

  2. Monster é muito bom! Ainda tenho esperança de completar minha coleção… ;___;
    Acredito que, se tivesse sido lançado como edição especial em livrarias, tudo isso não teria acontecido com Monster. E hoje já teríamos 20th Century Boys e Pluto também…
    Porém, em relação a mangás cancelados, acho que nada foi mais traumatizante que Peach Girl…

  3. Belo post, Denys!

    Dessas falhas, o que mais me atingiu foi o cancelamento de Monster e outro que provavelmente você falará (creio que esteja ao menos nas 3 primeiras posições) que é o cancelamento da versão standart de Vagabond pra depois também cancelarem a versão de luxo.

  4. Cancelamento das versões normal e de luxo de Vagabond e da edição “tankobon” de Evangelion, o atraso na conclusão de Nausicaä, o lançamento do mangá Evangelion Girlfriend of Steel 2nd pela Conrad … nossa, é uma penca de coisas.

    1. @Ketsura
      Mas aí é questão de gosto, não é o que procurei julgar, sim o mérito e as consequências que trouxeram para o mercado.

      @barthkoch
      Acho difícil Monster ser completo por aqui… a Conrad já está fora, duvido que outra editora pegue esse título, por melhor que seja. Pelo menos tão cedo. E sim, concordo que esse lançamento deveria ter ido para livraria, se tivesse vindo no mesmo formato de Buddha ou Adolf, teria sido bem mais interessante e acho que não teria fracassado.
      Peach Girl e Savana… será que estarão no resto do ranking?

      @Panino Manino
      Agora que me cadastrei lá, tenha calma.

      @Leandro
      Vagabond… é esperar o próximo post para ver se estará entre os maiores erros.

      @Vorspier
      Muita coisa mesmo, parece que as editoras se esforçam em errar por aqui.

      @FourZe
      Primeira pessoa que eu vejo que gostou do manga de Medabots! Mas tem gosto pra tudo. Não sei se Dr.Slump foi tão sentido assim; não via muita gente comprando, foi logo no início, não resultou na não vinda de outros títulos do Toriyama…

      Gyabbo!

  5. Tenho um carinho especial pelo manga do Medabots, não é que eu acredite que seja uma obra-prima, mas foi o primeiro que acabei comprando, no fatídico ano de 2002, e ainda o tenho guardada a primeira edição em minha estante.

  6. Falar sobre a situação de One Piece aqui no Brasil, acredito que seja chover no molhado, né? Acho que sua vinculação em animes, foi mais troll e com péssimo trabalho sobre o produto, que o mangá em si, já que na época não era um titulo tão conhecido e vai saber, se realmente teve ou não sucesso. De qualquer forma, não seria ele que tiraria a Conrad do buraco. Peach Girl acho bem mais alarmante, quer dizer, a Panini realmente usou e abusou da paciência do leitor. Não vivenciei tal acontecimento, mas só de ler relatos sobre o assunto, fico de cabelos em pé. Foi um incrivel desrespeito da Panini, para com o consumidor. Suspendeu o titulo por 2 ANOS e depois voltou a lançar novamente. Logo em seguida, depois de mais uma longa ausência, veio avisando de forma obscura, em uma página escondida do seu site, que o mangá seria descontinuado por baixas vendas. E o motivo das baixas vendas? Ah, claro, puro amadorismo ao meu ver (detalhe que, a Própria Panini prometeu lançar até o fim). Inventaram de lançar o mangá aqui, em formato ocidental e de forma espelhada. Não agradou nem ao consumidor ocasional e nem os fãs de mangá. Há também o caso Éden, que pouco sei a respeito, mas ficou sendo cozinhado em banho maria. Não sei se foi devido á um péssimo trabalho feito pela Panini ou o quê.

    Ranma ½ também quase caiu nessa, por ter recebido o mesmo tratamento porco por parte de uma editora, que não tenho certeza se foi a Jbc ou Abril. Mas a Jbc relançou os primeiros volumes, da forma como se deve é sucesso.

    Fora outros mangás que deveriam receber uma atenção diferente, por não ter um fandom tão forte ou não serem conhecidos o suficiente para terem boas vendas. Seton é o caso do tipo de série, que nunca deveria aparecer por aqui como material pra banca de jornal. É obvio que algo assim, não vai ter muitas vendas, então que se faça acabamento de primeira e lançe em livrarias, com tiragens limitadas. A New Pop parece conhecer bem esse caminho, imagine se ela lança Speed Racer em bancas….pfff

    Lodoss War, depois de muita espera, agora retorna para o seu final (e claro, é a Panini querendo não ficar ainda mais marcada com a imagem negativa, como uma editora de muitos cancelamentos e que não inspira confiança). Mas a mesma sorte, não teve Kil – Dong, que parece, foi cancelado faltando apenas 1 volume para o final.

    Claro que nenhuma editora é casa de caridade e se não vende, normam que cancelem. Mas quando a coisa já começa ruim e mal planejada, a editora deveria ter um pingo de decência para com o público.

  7. Maior decepção: Cancelamento de One Piece e Battle Royale (no ápice da história, graças a deus voltou a ser publicado, com relação a qualidade gráfica de BR não está tão diferente do que era e tão pior do que as outras editoras oferecem por aí).

    Acho que no início o meio-tanko foi essencial (nunca conseguiria ler tantas histórias se não fossem meio-tanko), mas depois que lançaram o tanko, acho que foi um erro a JBC continuar co meio-tanko (Fullmetal Alchemist, Tsubasa, Shaman King e etc…)

  8. O caso do Trigun foi ainda mais chato, porque a Panini dividiu em 2, mas “pero no mucho”. Parte das últimas páginas do Volume 1 original viria no volume 3 nacional. Mas por conta da encrenca, eles re-publicaram o Volume 1 com essas páginas de volta, e o 2, tais como deveriam ser. Assim, quem tinha os volumes 1&2 publicados primeiro não poderia comprar o novo Volume 2 grandão sem ter aí um ou 2 capítulos “pulados”. Foi o meu caso. Mas no fim pelo menos eu consegui o recal das revistas (bastava enviar as duas capas dos dois volumes por correio, que eles lhe mandavam um novo volumão 1. Chato foi ter que destruir os mangás para retirar as capas :-/)

  9. Ahh, sim, em tempo: eu fui um daqueles que ficaram a ver navios com Dr. Slump, Eden e Monster. Sem contar A Dama de Pharis, que a Panini DISSE que iria publicar o segundo volume este ano, mas até agora nem cheiro (pô, haja sacanagem, cancelar um mangá de DOIS volumes após publicar o primeiro :P)

  10. Sem dúvida o pior erro foi terem lançado Monster e depois cancelado. Agora mais nada do mestre Urasawa pode ser lançado no Brasil até alguma alma bondosa (leia-se JBC ou Panini ou NewPOP) não terminar de lançar o mangá por aqui.

  11. saint seiya e dragon ball saiu no brasil em 2001
    2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 ,2008, 2009, 2010. Deve ter sido essa a conta. Dez anos presenciais, não uma diferença de dez anos :)

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