Kimi ga Nozomu Eien – Blogagem Coletiva

O principal objetivo de um blog de animes, ou pelo menos o meu principal objetivo com um site desse tipo, é poder discutir com o maior número possível de outros fãs sobre as obras que surgem. Felizmente com o passar do tempo o número de blogs aumentou consideravelmente e hoje é possível ler sobre os mais diversos temas, com as opiniões bem fundamentadas e divertidamente contrárias uma das outras. Mas normalmente, com exceção dos títulos do momento, especialmente os que estão fazendo sucesso na temporada atual, não é possível experimentar vozes diferentes sobre um anime certo anime. É com esse objetivo que surge a ideia de “blogagem coletiva”. Idealizada pela Panina Manina do blog Subete Animes, esse projeto que tem como intuito reunir blogs e vlogs para se focarem por um momento em uma mesma obra, possibilitando aos leitores, além do intercâmbio entre sites, uma visão maior sobre um tema. Assim, convido você leitor a dissecar junto de nós, nessa primeira edição, o anime Kimi Ga Nozomu Eien.

A franquia Kimi Ga Nozomu Eien iniciou-se como uma visual novel (jogo majoritariamente literário onde o jogador escolhe entre as opções apresentadas e isso resultará em consequências diversas) feita pela produtora âge no ano de 2001 para PC e posteriormente recebendo versões para Dreamcast, Playstation 2 e DVD. Com o sucesso do jogo (na verdade eu não tenho esses dados, estou assumindo que foi um sucesso já que recebeu sua versão animada) não tardou para que Kiminozo fosse animado, acontecendo no final de 2003 pelo pequeno Studio Fantasia.

Dividida em dois momentos, a história começa a se desenvolver a partir do momento em que a tímida Haruka Suzumiya se declara para Takayuki Narumi. Os dois começam a namorar e seu relacionamento cresce progressivamente até o dia em que Haruka é vítima de um acidente de carro, deixando-a em coma por três anos, acontecimento que marca o fim da primeira parte do anime. Após o acidente Narumi desenvolve um quadro de Transtorno de Estresse Pós-traumático e forte depressão, marcado por, insônia, falta de apetite, apatia, ansiedade e outros sintomas, sendo ajudado por Mitsuki Hayase, a melhor amiga de Haruka. Os dois eventualmente começam a se relacionar e inconscientemente esquecem a garota em coma, até o dia em que Akane Suzumiya, irmã de Haruka, liga para Narumi avisando que sua irmã recuperou a consciência e deseja vê-lo.

Kiminozo possui um enredo muito interessante e que poderia (até merecia) uma produção melhor. Feito em 2003, o anime possui uma animação extremamente datada, mesmo para sua época – é só lembrar que ele foi lançado na mesma estação de Fullmetal Alchemist, Chrono Crusade e Gungrave, para citar alguns. Para ser sincero é complicado falar de animação já que a maior parte do tempo é preenchida com sequências “paradas”, utilizando-se excessivamente do zoom para dar a sensação de animação, além de uma falta de esmero para com os detalhes.

Se a sonoplastia e a sound-track em geral se encaixam bem com o sentimento do anime, o trabalho dos dubladores é mercado por altos e baixos. Apesar das boas atuações de Takahashi Chiaki – Mitsuki – e Taniyama Kishou – Narumi –, os dois personagens mais explorados emocionalmente, a voz da seiyuu Kuribayashi Minami no papel de Haruka é irritante, exagerando demais nas características mais superficiais da personagem. O resto do elenco não compromete, mas também não se sobressai.

O enredo de Kiminozo, apesar de soar bastante piegas, possibilita ao diretor Tetsuya Watanabe (experiente produtor, mas sem muitos trabalhos com diretor principal) explorar bem as consequências da culpa e do medo nos relacionamentos dos personagens. O começo do anime patina, principalmente pelos personagens caricatos a quem não é dada personalidade para existir – eles só existem para o fatídico acidente acontecer, possibilitando que, aí sim, sejam explorados mais profundamente. Além disso, o início não empolga por ser chato, talvez até de forma proposital.

A vida colegial dos personagens não possui grandes emoções, ela apenas acontece (como a vida da maioria das pessoas), com seus draminhas adolescentes comuns. Falo sobre a possibilidade de isso ser proposital por que para que o espectador possa se identificar com o grande sofrimento pelo qual passam os personagens, ele precisa sofrer um corte abrupto como o da história (nas medidas proporções). É assim que depois de um episódio e 90% de outro o anime balança entre um romance e um slice of life colegial, gêneros falsos para a obra.

Mitsuki e Narumi formam – até certo ponto – um casal feliz. Apaixonada por ele desde a época do colégio, onde procurou afastar seus próprios sentimentos pela amiga, entrega sua vida nas mãos dele, largando amigos e a promissora carreira como nadadora, tudo para estar ao lado de Narumi, seja em seus piores momentos após o acidente quando o mesmo era quase que um corpo sem alma com uma depressão severa, ou após sua lenta recuperação. O problema está aí; do início ao fim do anime, salvo alguns minutos, Mitsuki deixa para o outro sua felicidade, ela se resigna, aceita o papel de coadjuvante da sua própria vida. Muito se discute acerca da parcela de culpa da garota nos eventos subsequentes: vítima x culpada. A verdade é que Mitsuki não é nenhum dos dois, ela não é nada, é uma marionete sem rumo, cega pela promessa de felicidade através do amor.

Se Mitsuki não aceita sua responsabilidade e sofre pelas consequências que essa escolha causa em sua vida (o que poderia leva-la a ser considerada culpada se assim preferirem), Narumi consegue ser a pior escolha possível como seu par amoroso. Ainda adolescente, quando não sentia nenhum tipo de sentimentos por Haruka, aceitou namorá-la por não querer lidar com o sofrimento do outro. Ele não é bondoso como algumas vezes é dito no anime, ele é covarde, é assim pelo medo. Justamente por isso, mesmo não gostando de Haruka, acaba ignorando Mitsuki quando a garota volta do coma. A culpa que ele sente por estar com outra na hora em que deveria estar com sua namorada e ela sofreu o acidente não foi compreendida e resignificada durante o processo de recuperação do quadro de Transtorno de Pós-traumático, Narumi se usa do cuidado (e do corpo) de Mitsuki para criar outra Haruka e poder continuar vivendo em seu mundo que parou há três anos, fugindo daquilo que precisa enfrentar.

Não fosse a recuperação de Haruka e o relacionamento com Mitsuki teria se mantido dessa maneira doentia. Mas ao acordar, Haruka também obrigada o rapaz a acordar, o que impossibilita que ele mantenha sua proteção usando sua atual namorada, o real demanda ser esclarecido. Por isso que apenas no final do anime, quando Haruka finalmente consegue se manter de pé, é que ele escolhe sua rota, Mitsuki.

Kiminozo consegue ser lembrado por todos que o assistiram, mesmo que falhe consideravelmente em quesitos técnicos, por apresentar relacionamentos críveis. Quando eu acuso Narumi de ser o personagem mais medroso que eu já vi em um anime e Mitsuki de ser uma das mais fracas, não estou considerando isso como um problema, mas como um elogio à obra. Quantas Mitsukis e Narumis não existem? Quantos nós não somos como eles (não completamente, pois ainda estamos falando de uma obra idealizada), medrosos para com as nossas próprias vidas, utilizando-se dos piores subterfúgios para sermos felizes, ainda que em uma felicidade precária?

Há muito mais para se considerar em Kimi ga Nozomu Eien, como a ofuscada Akane, sempre buscando copiar os outros em troca de uma identificação forçada (como a idealização exagerada à sua senpai de natação Mitsuki, resultando em um ódio após Akane descobrir o caso dela com Narumi), principalmente após o afastamento forçado da sua irmã. Temos ainda o falho alívio cômico do restaurante onde Narumi trabalha, e claro, aquele onde todos orbitam, Haruka. Mas com a possibilidade de ter a visão de 17 blogs, prefiro me ater àquilo que mais me chamou atenção e que melhor posso comentar, para entender outros aspectos do anime recomendo comentar aqui para debatermos e ler os posts dos outros participantes.

Blogs participantes:

Gyabbo!

MBB Anikenkai

– Subete Animes

– Elfen Lied Brasil

Chuva de Nanquim

– Anime Portfólio

– Netoin!

Filho adotado por Amaterasu

– Buteco Shounen

– Mithril

Visual Novel Brasil

– Mais de Oito Mil

– Philosophy Otaku

Yasumi no Cast

– Moon Stitich

– Otame: Otaku no Ame

Video Quest

– Neo Armstrong Cyclone Jet Armstrong Blog

O principal objetivo de um blog de animes, ou pelo […]

13 thoughts on “Kimi ga Nozomu Eien – Blogagem Coletiva”

  1. Muito bom o seu ponto de vista. Então, Hayase abriu mão de viver sua vida para estar ao lado da pessoa que gosta e o processo disso tudo é bem triste viu. Infelizmente é um anime romantico e não vemos nele um fim mais crível, porém é plausível.

  2. Com essa blogagem coletiva eu fico meio que sem saber o que comentar….porque tem vários falando sobre o mesmo animê. Bem, ao menos agora, terei que assistir para dar uma opinião sobre isso…

  3. Eu ainda acho que o Narumi realmente amou a Mitsuki mas depois da Haruka acordar o amor foi sendo desnutrido pela culpa e acabou que os sentimentos do Narumi se voltaram pra Haruka novamente. Concordo em muitos pontos com você e foi uma pena não ter falado do Shinji que como você disse no twitter é o único personagem sadio.

  4. Dá par perceber o toque do psicólogo na análise, inclusive em pontos que até agora não vi em nenhum dos blogs lidos. Achei a Akane uma porcaria de personagem mas você levantou um ponto bastante verossímil nas ações dela.

    Assim como a paixão nasce forte e instantaneamente (a idealização da Sempai), ela pode ser permutada por um ódio igualmente forte e instantâneo. Todo mundo está analisando a participação da Akane apenas com foco no triângulo dos mais velhos, ignorando que ela não existia apenas em função da irmã, ela tinha sua própria existência.

    Se a Akane é acusada por alguns de manipular a percepção do espectador, agora enxergo ao menos um ponto no roteiro que ajuda a justificar o ódio alimentado pela veterana Mitsuki.

    Não que esse tenha sido o único ponto de sua análise que mereça destaque, mas ele destoou de todos os outros POV’s dos blogueiros. Gostei da sua análise!

  5. Saudações

    Já li vários posts da análise coletiva deste anime. O amigo Denys aprofundou-se mais em falar dos personagens, dando ênfase ao psicológico dos mesmos.

    Gostei da iniciativa. Gostei mais ainda da forma como o texto foi conduzido. É claro que há partes onde opiniões batem e outras não, mas isso era lago mais do que esperado.

    Ótimo texto.

    Até mais!

  6. olá. como voces selecionam os blogs para participar das postagens? Tenho um blog onde eventualmente faço minhas proprias resenhas de anime, inclusive ja fiz um de Kiminozo, se puderem dar uma passada lá. agredço a atenção. abraços.

    1. @cassio

      Na verdade nós não escolhemos quem iria participar. Tendo um blog e querendo era só nos avisar que adicionávamos ao links. Fique ligado para próxima e nos contate pelo Twitter.

      Gyabbo!

Deixe sua opinião