Frankenstein, de Junji Ito – Genki Review

O lançamento de outubro de 2021 da editora Pipoca e Nanquim mais uma vez traz o mestre do horror, mas agora explorando um clássico da literatura. Junji Ito abre as portas de sua mente maravilhosamente perturbadora para nos apresentar a adaptação do clássico “Frankenstein“, de Mary Shelley! Então cuidado com o encontro do seu “eu” de outra dimensão, e nos acompanhe nesse Review monstruoso!

A editora Pipoca e Nanquim trouxe uma coletânea de história feitas por Junji Ito em seu novo lançamento. É importante destacar que a obra não apresenta única e exclusivamente a adaptação para mangá de “Frankenstein, o Prometeu Moderno“, de Mary Shelley, embora, é claro, seja a história com mais destaque na edição. Também somos convidados a conhecer os contos do personagem Toru Oshikiri, além de duas histórias curtas chamadas “Boneca Infernal e “Imobilizador Facial, e, por fim, relatos bem humorados do autor e de sua cachorrinha Non-non

 

Oshikiri e o multiverso da loucura! (Foi mal, não resisti…)

A história, ou melhor, as pequenas histórias que, juntas, constroem um todo sobre o sombrio e misterioso garoto Toru Oshikiri, um estudante do colegial que vive em sua mansão sinistra enquanto os pais estão viajando, são de longe o material que junto de “Frankenstein” carregam todo o mangá. Embora sejam 6 contos curtos de começo, meio e fim, Junji Ito brinca com a possibilidade dessas histórias conversarem entre si através da proposta de um multiverso sinistro. As duas primeiras histórias são bastante categóricas e bem mornas, mas com o arremate das seguintes, os primeiros contos ganham um peso muito maior e divertido.

 

A boneca infernal! Gasolina e um fósforo.

Em “A Boneca Infernal“, uma das histórias curtinhas que fecham a obra, iremos acompanhar um misterioso fenômeno que se abateu sobre as crianças deste mundo proposto pelo autor: lentamente, elas começam a se transformar em bonecos assustadores de si mesmas. É uma história bem rápida e muito mais visual do que Junji Ito costuma fazer, mas aqui somos apresentados à criatividade de Junji na hora de colocar o lápis no papel (perturbadoramente maravilhoso!).

 

Imobilizador facial: dentistas, é óbvio!

Para muitos, dentistas são assustadores, alguns dirão que suas ferramentas parecem instrumentos de tortura… Bem, Junji Ito resolveu explorar esse campo frutífero na história “Imobilizador Facial” (confesso que essa me deu um desconforto constante). Enquanto “Boneca Infernal” é, como já dissemos antes, uma história visual, em “Imobilizador Facial” Junji Ito, através do texto, consegue fazer o leitor ter calafrios na espinha, ou nos ouvidos!

 

O monstro de Frankenstein!

Já a adaptação da fantástica obra de Mary Shelley, traduzida para as páginas do mangá com a visão de Junji Ito, é cirurgicamente bem construída (ba dum tsss!). Aqui, tanto o visual quanto o texto se unem numa história horripilante, é claro que no bom sentido. Toda a história é conduzida de maneira bastante cativante e triste, o monstro e a mente do aspirante a cientista, Victor Frankenstein. Embora soe precipitado, é necessário comentar que o final melancólico dessa história nos revela muito mais sobre a criatura do que os efeitos que irá provocar na vida de seu criador. Enquanto Mary Shelley descreve Frankenstein de maneira mais humana se comparado a sua criatura, nos traços de Junji Ito ele é construído como, quem sabe, um algoz. Fato é que os personagens são trabalhados de um modo que não exista uma definição de bom ou mau em relação às personalidades, diferente da obra de Mary Shelley. O mangá acerta com êxito na ambiguidade e desenvolvimento de criador e criatura.

 

Humor, piadas e um pouco de calma na tempestade.

Junji Ito separa um tempo para contar sobre sua cachorrinha Non-non nos curtinhas “Non-non, a Chefona“. Aqui o autor dá um descanso para nossas mentes e corações com uma história leve e bem humorada. Verdade seja dita, não tem como não sentir um nó na garganta esperando que a qualquer momento algo sobrenatural vá acontecer, mas nessa história é apenas o mestre do horror compartilhando um pouco do seu dia a dia e nos revelando que o mesmo tem um ótimo senso de humor!

Por fim, se a pergunta for “vale a pena ler ‘Frankenstein’, de Junji Ito?”, a resposta pode ser variada, assim como as realidades de Oshikiri. Mas fato é que se você é alguém que gosta de se aventurar pelo gênero do horror, vai achar nesse mangá um prato cheio de proposta da mente engenhosa de um dos mestres do gênero e ainda lerá uma das melhores adaptações, cheia de homenagens à uma das autoras que começou tudo isso! Então, por que não?

 

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.