As Crônicas da Era do Gelo vol.1 & vol.2 – Review

As Crônicas da Era do Gelo, por Jiro Taniguchi, é um épico sci-fi publicado pela editora Pipoca e Nanquim, no Brasil, em 2 tomos. Agora, nós, do Genkidama, vamos falar um pouco sobre essa obra e quem sabe ajudar você a colocar as suas mãos nessa belezinha! Coloque o seu casaco mais quente, pegue o seu kit de sobrevivência portátil e nos acompanhe nessa Review!

As crônicas de um jovem rebelde

Para começarmos é importante uma pequena sinopse, certo?

Em As Crônicas da Era do Gelo, somos apresentados a um mundo tomado por uma terrível era glacial. A humanidade, assim como as demais formas de vida desse novo ecossistema, tiveram que se adaptar para sobreviver.

Os seres humanos, apoiados por uma alta tecnologia gerenciada pela impressionante inteligência artificial “LA BELLE-MÈRE“, conseguiram construir uma sociedade estável. Contudo, para isso, eles precisam captar recursos e é aí que o foco da narrativa toma um ponto de partida.

A história começa em uma estação mineradora no círculo polar ártico, onde somos apresentados a seus funcionários e ao herói da história. Takeru é um rapaz que foi enviado para esse buraco no gelo pelo seu pai, aparentemente contra sua vontade, mas estranhos comportamentos climáticos colocaram em xeque toda a rebeldia do protagonista e nos levaram a uma jornada cheia de mistérios e aventuras.

(Ufa, essa foi de longe a sinopse mais longa que eu já escrevi, mas acredite isso é só a ponta do iceberg…qual é, essa foi boa!)

UM POUCO APRESSADA?

Jiro Taniguchi apresenta inúmeros personagens na sua obra, tanto no primeiro quanto no segundo volume. Porém é importante destacar que essa história é um pouco apressada, infelizmente não há como dizer que todos os personagens são extremamente bem desenvolvidos, ou mesmo o oposto. Assim como os clássicos livros de Júlio Verne (que parecem ser uma grande influência na narrativa desse mangá), os personagens são “direto e retos”, o foco principal em si é a jornada que iremos acompanhar.

Takeru, nosso protagonista, evolui rápido demais de um garoto implicante a um líder comedido. Mas esse ritmo não chega a ser um obstáculo ou um defeito absurdo que impedirá você de acompanhar a história. O próprio Taniguchi, em seu posfácio no segundo volume, aponta que gostaria de ter aprofundado uma coisa ou outra – em especial algumas das premissas levantadas por certos personagens. É um fato que a história toma uma resolução rápida, deixando algumas coisas pra trás, como…

*AVISO, VOCÊ ESTÁ PRESTES A PASSAR POR ALGUNS SPOILERS!!! RECOMENDAMOS QUE PASSE POR ELES O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL, SE NÃO QUISER SER ATINGIDO, VOCÊ FOI A.V.I.S.A.D.O!*

Após ir em uma missão de resgate, contra sua vontade mais uma vez, Takeru conquista a confiança de seu grupo. Entretanto, ao retornarem para mineradora, após algumas mortes, Takeru abandona o oposto e parte em uma jornada até a capital para descobrir o que está acontecendo com o clima. É importante destacar que, a poucos capítulos anteriores a esse evento, Takeru foi promovido ao posto de diretor da mina, o cargo de gerência mais importante naquele local.

Mas ele promete voltar para resgatar os demais funcionários e trazer respostas… Mas ele não volta.

Na mina, também somos apresentados a única pessoa que o nosso protagonista não detesta, um senhor que está em busca de um tesouro perdido nas galerias e, infelizmente, essa premissa também desaparece.

*A PARTIR DAQUI, ZONA SEGURA DE SPOILERS! OBRIGADO PELA COMPREENSÃO!*

Embora a trama passe a evoluir muito rápido, é interessante perceber que isso se mistura ao tom de urgência que a história nos apresenta. Outro ponto interessante é que não há furos de roteiro (pelo menos, na percepção deste humilde redator). Nessa obra, Taniguchi faz algo extraordinário ao montar as situações que ainda irão acontecer.

Planejamento e Arte

Durante a história inteira, Taniguchi monta uma ambientação única, volta e meia ele corta de uma cena acontecendo no ponto “A” para o ponto “B”. A princípio, podem até parecer cenas sem objetivo, mas a verdade é que o autor está preparando o leitor para o que virá logo em seguida na narrativa, qaundo esses pontos convergirem.

Com relação a arte, não há muito o que dizer, Jiro Taniguchi é um mestre no desenho. Se existe algo pra destacar, é a habilidade do autor em organizar e resolver as ambientações mecânicas e demais objetos futurista, como máquinas e naves.

A estrutura da estação de mineração é extremamente rica e detalhada. Geralmente, alguns autores se empolgam demais e acabam deixando certos cenários e apetrechos confusos em histórias. Taniguchi faz o oposto, parece que cada parafuso, trilho e engenhoca foi planejada cuidadosamente para não interferir como ruídos nos balões de fala, onomatopeias ou mesmo com a inserção dos personagens no ambiente.

É um trabalho impressionante e quase cirúrgico, só pela habilidade de montar o cenários seria motivo suficiente para você ter As Crônicas da Era do Gelo na sua estante, mas continuemos…

As Edições do Pipoca e Nanquim

Ambas as edições trazidas ao Brasil pela Pipoca e Nanquim são extremamente caprichadas, desde o acabamento ao cuidado com as capas e sobrecapas lindíssima. Por mais que sejam aquelas famosas edições grossas, com inúmeras páginas, a abertura do mangá é bastante confortável e de fácil leitura.

O letreiramento, as traduções e adaptações nos diálogos são igualmente caprichados. Embora o linguajar das personagens esteja, em alguns momentos, bastante “atual”, tudo se encaixa como uma luva.

Com toda certeza é uma edição de luxo para esse consagrado autor e um tributo póstumo a sua incrível arte e história. Uma edição digna de um Jiro Taniguchi!

É como Akira, escrito por Miyazaki

Esse obra, com certeza, foi um suvenir nas mãos de inúmeros mangakás posteriores. A influência que esse mangá, publicado em meados de 1987 até 1991, gerou em inúmeros obras é perceptível, como em Akira. Toda a maneira como a história é conduzida na obra de Katsuhiro Otomo, desde a postura dos personagens até certas decisões de “script”, é bastante reconhecível.

O oposto também é verdade, Taniguchi certamente foi influenciado por Júlio Verne, como já foi citado aqui. Também, signos parecidos com Star Wars, Duna principalmente e outras obras sci-fi ocidentais também aparecem em peso nas idealizações de Taniguchi para Crônicas”

Os dois volumes expressam todo um conflito da humanidade entre si e entre suas tecnologias e a natureza. Este segundo atrito foi um ponto muito mais discutido no segundo volume, mas, como já dito antes, trabalhado delicadamente no primeiro.

O quadrinho se apoia em um discurso curioso, o público mais acostumado as animações japonesas vai sentir uma vaga sensação de como se já tivesse visto essa história em alguma obra da Ghibli. E, isso pode parecer um pouco ousado e até absurdo para alguns, mas As Crônicas da Era do Gelo, de Jiro Taniguchi, é como se Akira, obra que ele inspirou, fosse escrito por Hayao Miyazaki.

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.