Uma trama pode ser dividida em duas estruturas: estrutura episódica e estrutura linear. Embora muitos considerem a estrutura episódica muito superior à linear, gosto de ver de forma diferente, cada uma tem suas vantagens e desvantagens. A estrutura episódica pode ser divida em episódica e pseudo episódica.

Na trama episódica, o autor cria pequenas histórias auto conclusivas ao invés de focar em uma grande trama. A vantagem é que os personagens podem aparecer em uma variedade maior de cenários e situações. A desvantagem é ser mais difícil de trabalhar bem uma trama e personagens por causa do tempo.

Na episódica padrão, a continuidade não costuma ter relevância, fazendo desta o tipo de história ideal para tramas que envolvam vários escritores, graças a ausência de consistência . Você quer reescrever o personagem nesse episódio? Tudo bem. Você quer fazer com que todos os personagens morram no final do capítulo e o universo exploda? Tudo bem, já que no final tudo se reseta e retorna ao status quo.

Embora seja uma estrutura com maior liberdade, acaba sendo a menos consistente e também a que envolve personagens mais unidimensionais. Para fazer um personagem se encaixar em variedades de situações e escritores, ele é obrigado a ter a personalidade mais simples possível, como o Homer Simpson (The Simpsons) que é gordo e burro, Ash (Pokémon) que quer ser mestre Pokémon, ou Nobita que é antissocial em Doraemon.

Isso ocorre para dar a oportunidade de outros escritores usarem esses personagens, mesmo que algum desenvolvimento ocorra após o reset do episódio e tudo acaba. Por ser uma estrutura muito básica, com arcos que embora variados são menos trabalhados e com o tipo de personagem menos dimensionais, considero essa estrutura a mais inferior das três.

Mesmo assim, vejo valor nessa estrutura, pois é feita para produtos de simples consumo. Funciona perfeitamente para séries infantis, já que crianças não tem facilidade de acompanhar séries muito complexas, ou para adultos que queiram desligar o cérebro. Além disso, se bem executado, pode trabalhar com diferentes críticas sociais como nas primeiras temporadas de Simpsons ou em South Park.

Já na pseudo episódica, ela segue a fórmula de histórias auto conclusivas e uma variedade de cenários, com a diferença que dessa vez, sim, existe uma preocupação com consistência. Os personagens podem mudar com o passar dessas histórias, novos personagens podem surgir e até uma trama linear pode ser construída a partir disso.

É uma fórmula ótima para a construção de um mundo, pois pode mostrar diferentes lugares e elementos deste, ótima para formar interação entre personagens e momentos genuínos ou até mesmo introduzir personagens. Também é uma fórmula que funciona em histórias que simulam viagens, pois dá a sensação de progresso. Também pode ser usada como degrau na construção de uma história linear. Pode ser usada em histórias de super-heróis para introduzir uma enorme quantidade de vilões.

Existem histórias pseudo episódicas que não se preocupam em seguir uma grande trama linear e usam da fórmula apenas para introduzir novos personagens ou seguir pequenas tramas que no final acabam resetando o status quo como no primeiro tipo. Existem também aquelas que em cada episódio a trama avança um pouco ou o objetivo da trama principal fica mais próximo. Também existem aquelas em que a trama episódica acontece, mas após a chegada da trama linear elas simplesmente se separam.

As desvantagens desse tipo de história é que é mais limitada em liberdade que o tipo episódico padrão, essas auto conclusivas podem ser consideradas enrolações para quem só tem interesse na trama principal, por isso muita gente não curte algumas sagas de Jojo, por exemplo. As tramas auto conclusivas também têm risco de não acrescentarem em nada na trama principal, o que faz com que pareça mais perda de tempo do que na episódica padrão. Uma estrutura que deve se tomar bastante cuidado. Se bem escrita, pode ser muito boa, se não, uma história que faz você perder seu tempo.

Já a estrutura linear é considerada por muitos como a superior. O foco é a trama principal, cada capítulo serve para avançar a trama principal. A desvantagem é que por estar sempre seguindo a trama, existe menos momentos para conhecer os personagens ou o mundo, menor variedade de situações e cenários, já que só os importantes para a trama são mostrados. Essa é a estrutura que menos tem perda de tempo.

Sem falar que, por ser uma história que só tem uma conclusão ao ser vista até o fim, é o que mais agarra pessoas para acompanhar, ninguém quer ver uma história pela metade. Muitas histórias lineares com um enredo não tão bom são valorizadas pela experiência de acompanhar, de fazer teorias, de se encher de expectativas. Mas uma história linear só pode ser julgada quando assistida até o final. O que o expectador imagina não é relevante e sim o que o autor entrega.

Bibliografia

https://revistamoventes.com/2020/05/30/narrativas-nao-lineares-e-a-estrutura-de-roteiro-em-filmes-multiplot/

http://www2.nkfust.edu.tw/~emchen/CLit/study_elements.htm

https://department.monm.edu/cata/rankin/classes/cata171/lectures/chapter15.htm

https://brasilescola.uol.com.br/redacao/enredo-linear-naolinear.htm

E esse incrível vídeo em espanhol! www.youtube.com/watch?v=PQNvzA9-5Qk

Revisão: Karin Cavalcante