Os heróis da vida real! Yoborangers!

Uma das minhas coisas favoritas sobre Tokusatsu é o poder que tem de trazer boas influencias e lições de vida valiosas para todas as idades e gerações. Muita coisa positiva pode servir de aprendizado desde a primeira série Kamen Rider (lá de 1971) até o episódio mais recente lançado de Zenkaiger. São sempre ensinamentos sobre amizade, companheirismo, empatia e até tópicos mais polêmicos como posicionamento político, apoio a causas de minorias e combate às drogas, esse em especial de forma direta ou metafórica. Essas lições moldam o caráter de meninos e meninas no Japão (e no mundo, por que não?) com a esperança de crescerem e se tornarem adultos competentes, maduros e responsáveis, e claro, os já adultos que acompanham as obras serem lembrados desses valores e continuarem no caminho certo. Nesses casos sempre sou obrigado a citar – e sempre recomendar – Tokusatsu Gagaga, um dorama sobre uma fã de Tokusatsu que definiu sua vida, sua personalidade, seus ideais e forma de agir de acordo com o que aprendeu com as séries e heróis que tanto ama.

Divulgação: NHK

Porém essas coisas não ficam apenas na ficção. Temos pessoas especiais que utilizam do poder do Tokusatsu para fazer o bem maior, serem heróis da vida real! Como o título deste texto sugere, hoje vamos conhecer a iniciativa de um médico pediatra que criou o seu próprio grupo de heróis para ensinar a crianças e adultos sobre a importância de vacinas, procedimentos médicos e muito mais!

A ideia para esse post surgiu por influência da minha amiga, colega de Portal e revisora Deise “rinaharo” Bueno. Eu estava com um pouco de bloqueio criativo sem saber o que escrever para o #TokuTudo desse mês, então ela me sugeriu falar sobre os Yoborangers. Tudo começou quando ela compartilhou uma pequena thread no twitter sobre essa curiosidade em relação ao pediatra que atende ao filho dela lá no Japão. Fiquei super empolgado e acredito que mais pessoas devam conhecer sobre esse projeto!

A ideia partiu de Michihiro Katayama, médico pediatra que encontrou uma forma divertida e original de ensinar sobre cuidados com a saúde, a importância da vacinação e até mesmo conselhos para um convívio social mais sadio.

“O nome da clínica é Kodomo Yume Clinic, é uma clínica bem fofinha que fica aqui no meu bairro, mas eu descobri ontem que ela é bem famosa. O pediatra dono da clínica é um médico que se esforça muito em conscientizar as crianças e os pais sobre a importância da vacina. No site (da clínica) diz que o objetivo dele é “vacina para todos”, e isso não é de agora. Como você sabe, o Japão é um país meio antivax porque eles tiveram problemas com vacinas antes, daí como ele é pediatra, criou personagens que fizessem com que as crianças entendessem melhor isso, que são os Yoborengers, a Peron e o Dreamranger.

Yobou significa proteção, vacina é yobou sesshu. Daí vem Yoborengers.

Ele começou a fazer shows dos personagens em vários lugares pra conscientizar as crianças e pra angariar dinheiro e doações, enviando pra países pobres através de uma ONG que vacina crianças de lugares como Madagascar e tal. Daí, além disso, ele usa o canal do YouTube para explicar às crianças as coisas complicadas, tipo como são feitos os exames e coisas assim. Pra isso ele usa os personagens também.

E é isso, a clínica funciona até de domingo.” – Explicou a Deise quando perguntei sobre os detalhes.

Frente da clinica Kodomo Yume.

Assim como ela menciona, é importante lembrar que o Japão tem de fato um histórico complicado com vacinas. Não vou entrar em muitos detalhes ou muito a fundo, afinal não sou especialista no assunto sobre vacinas e muito menos historiador, mas na pesquisa que fiz sobre o tópico dizia o seguinte:

“As autoridades japonesas têm sido alvo de várias ações judiciais coletivas desde os anos 1970 sobre os efeitos colaterais atribuídos a várias vacinas, incluindo a da varíola.

Duas mortes ocorridas após a injeção de uma vacina combinada contra difteria, tétano e coqueluche provocaram sua retirada temporária e uma reação de desconfiança do público, embora tenha sido reintroduzida posteriormente.

Nos anos de 1980-90, a vacina combinada contra sarampo-caxumba-rubéola teve de ser suspensa após a ocorrência de casos de meningite asséptica em crianças que a receberam.

Uma decisão judicial de 1992 que declarou o governo responsável pelos efeitos indesejáveis atribuídos a várias vacinas, mesmo sem uma ligação cientificamente comprovada, foi decisiva no Japão.

Depois disso, ‘o governo passou a temer ser processado, se as vacinas que recomendava representassem um problema’, disse Tetsuo Nakayama, pesquisador especializado em virologia clínica do Instituto de Ciências Kitasato.

‘A consequência é que os programas de vacinação do Japão não avançam há 15 ou 20 anos’, explica ele.”

Fonte: https://istoe.com.br/japao-enfrenta-velha-desconfianca-nas-vacinas/

Em outros textos e reportagens também afirmam sobre esses problemas e com isso a ação do dr. Michihiro e sua equipe médica se faz muito importante, principalmente no momento atual onde graças a esse histórico o Japão não está indo muito bem ao enfrentar o corona vírus. Os números de casos continuam aumentando e as doses de vacinas não são suficientes para atender a demanda, chegando ao ponto em que o método de decisão de quem toma a vacina em algumas cidades é feito através de – pasmem – sorteio, segundo a própria Deise. Acompanhando o meio da cultura pop asiática, podemos ver em primeira mão situações no mínimo desconcertantes, como filmes de anime atraindo e lotando cinemas em meio a uma pandemia. Um desses filmes em particular, sendo considerado até mesmo o responsável por uma segunda onda e aumento de casos.

Divulgação: Shueisha/Aniplex/Ufotable

Conhecendo os heróis.

Como mencionado pela Deise, temos um belo cast de personagens aqui e eu gostaria de trazer informações mais profundas sobre eles, mas todas estão em japonês e nem tudo é de tão fácil acesso ou algo que o google tradutor possa ajudar. Mesmo assim, vou tentar apresenta-los do que eu consegui aprender.

Primeiramente temos a Peron, a mascote principal da clínica. Ela é uma gentil e fofa alienígena que veio parar aqui na Terra. Ela ama as crianças e às vezes até mesmo ajuda a combater os vilões.

Temos os Yoborangers, um grupinho colorido e simpático, mas também muito atrapalhado.

O grupinho de Super Sentai mais foto que vocês verão

Os Yoborangers estão sempre sendo salvos pelas incríveis Nurserangers.

Enquanto a Toei ainda está presa a formatos um tanto “antiquados”, aqui já temos um grupo de Sentai formado só por mulheres!

E pelo magnifico herói arco-íris, aquele que vai proteger o sonho das crianças, Dreamranger!

Também temos os vilões como o Influenger (de influenza) e mais uma trupe que não consegui identificar o nome.

Vou deixar AQUI o link para vocês conferirem a série deles no Youtube, mas assistam pelo menos esse vídeo aqui em que são introduzidos todos os personagens!

 

Analisando o conteúdo que eles produzem, achei tudo muito divertido e de uma qualidade surpreendentemente alta. Não é só um fanfilm ou um cosplay elaborado. Eles realmente se dedicam a fazer fantasias de qualidade, passar uma mensagem a cada episódio ou show, coreografias dignas e empolgantes. A cada vídeo que fui assistindo só conseguia ficar boquiaberto com a criatividade e surpreso em como isso não foi mais popular ou explorado. Como que a Toei não fez uma parceria quando ela mesma criou uma série com temática similar? Imagina que sonho seria o Dreamranger lutando ao lado do Kamen Rider Ex-Aid!

Há também espaço para uma pequena critica que gostaria de expor. Apesar da produção de qualidade e atenção aos detalhes, na maioria dos episódios parece que a resposta para todos os problemas é… “violência”? Eu sei que em literalmente todas as séries Tokusatsu, no final das contas tudo se resolve com lutas, poderzinhos e explosões. Heróis enfrentando desde cultos nazistas-religiosos até aliens super poderosos com poderes equiparáveis a um deus, mas geralmente esses embates são formas metafóricas de representar a superação de um problema. Vou usar o próprio Kamen Rider Ex-Aid como exemplo. Os heróis da série são pessoas que podem se transformar em Riders graças à um procedimento médico que os tornam compatíveis com o Belt. Eles usam esses poderes para erradicar os Bugsters, que espalham uma doença que quanto mais estressado, aflito e/ou incomodado com um problema específico o paciente está, mais chance ele tem de morrer. O procedimento que torna os personagens Riders é eles serem infectados com uma pequena dose dos Bugsters, fazendo com que eles sejam literalmente vacinas humanas ou anticorpos externos. Quando eles lutam com o “monstro da semana”, eles nem chamam de luta necessariamente, eles dizem que vão “operar” o paciente.

Não é apenas uma luta, é todo um processo clinico para tratar um paciente.

Nas lutas em Yoborangers – onde na maioria das vezes é só o Dreamranger ou as Nurserangers que de fato lutam – as situações não são tão metafóricas assim, como por exemplo: A Peron está ensinando as crianças a higienizar as mãos, lavando com água e sabão, então chegam os vilões e cortam o suprimento de água da clínica. O Dreamranger surge e arrebenta todos na porrada e pronto, problema resolvido. Eu sei que a mensagem é “vejam crianças, lavar as mãos é importante, isso pode ajudar a prevenir doenças”, mas ao mesmo tempo tenho essa impressão que também estão dizendo “na dúvida, reboca a pessoa no soco”. Posso estar exagerando ou super interpretando a coisa toda? Talvez, mas é a impressão que eu tive. De todo modo, isso não tira o mérito desse projeto que ajuda pessoas no Japão e no mundo, inclusive sinto até inveja (não desmerecendo o nosso Zé Gotinha). Devo dizer também que toda a estética aqui lembra muito o conceito de Local Heroes – que eu já expliquei no meu texto sobre os Dogengers. Ia pirar se houvesse um dia uma inclusão deles no universo da série – e acho isso fantástico.

O que podemos fazer para ajudar?

Acredito que o melhor apoio que podemos oferecer aqui do outro lado do mundo é apresentar às pessoas esse projeto e ajudar dando view no canal do Youtube deles. Um jeito de ajudar também é não fazer a luta dos Yoborangers ser em vão e fazermos a nossa parte aqui no Brasil, respeitando a quarentena, se cuidando e se posicionando quanto ao bom senso em relação à pandemia. Não existe só corona de doença no mundo, ainda existem outros problemas que podemos evitar mantendo uma vida com cuidados e hábitos saudáveis.

Se cuidem, se hidratem, se protejam, ajeitem a postura e não desistam dos seus sonhos. Essa são as lições que os Yoborangers passam, que os Tokusatsu passam e que podem ser praticadas todos os dias, por todos nós. Se cada um fizer sua parte, o coletivo inteiro vence esse monstro que infelizmente está durando muito mais do que só uma semana.

Obrigado por lerem até aqui, obrigado à Deise por ter compartilhado e ajudado na produção deste texto e até o próximo #Tokutudo!

 

Revisão: Deise Bueno

Referencias:

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/02/02/Por-que-o-Jap%C3%A3o-ainda-n%C3%A3o-iniciou-a-vacina%C3%A7%C3%A3o-contra-covid-19

http://www.medicos.jp/

http://www.medicos.jp/1-annai/drannai.html

http://www.medicos.jp/yumekuri/katsudou/katsudou_index.html

http://www.medicos.jp/yumekuri/tv/index.html

https://www.japantimes.co.jp/news/2021/04/28/national/japan-coronavirus-vaccinations-lag/

https://www.google.com/maps/place/Kodomoyume+Clinic/@35.2744858,137.0311732,114m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x60036c3ade9d69f9:0x94f5876b3b0ea1cf!8m2!3d35.2744093!4d137.0312329

 

 

 

 

 

 

Redator para o Genkidama em duas colunas mensais: - TokuTudo: conteúdo diferenciado sobre Tokusatsu no Brasil e no mundo. - Pitacos do Vilson : conteúdo diverso sobre animes, mangás, filmes e diversos aspectos da cultura japonesa. Também sou podcaster e faço parte do Henshin Rio, somos 5 cariocas especializados em falar sobre Tokusatsu.