Jero – um cantor de enka diferente

Jero é o primeiro afro-nipo-descendente a se tornar cantor de enka na história do Japão.

O nome é Jerome Charles White Jr, mas os japoneses o conhecem simplesmente como Jero. Nikkei por parte de mãe, ele nasceu e cresceu nos EUA. Nos anos 2000, alcançou sucesso surpreendente no Japão cantando enka, um tipo de música muito popular na década de 50. 

 

A surpresa não é só por ser um artista americano cantando em japonês. Acontece que o público de enka é mais velho, conservador e portanto, mais propenso a ser preconceituoso e racista.

 

Na segunda e última parte de nossa série sobre famosos que causaram reações diversas no Japão, falaremos de Jero. Vamos ver quem é ele e teorizar sobre os motivos de seu sucesso e aceitação pelos japoneses.

 

 

jero

 

As origens de Jero

 

Os pais de Jero se divorciaram cedo, quando ele ainda era muito criança. Por isso, a mãe e a avó materna foram responsáveis quase que totalmente por sua criação. Como consequência, houve forte influência japonesa em sua educação. 

Desde pequeno, Jero sempre foi muito apegado à avó, a sra. Takiko. Através dela, ele conheceu e tomou gosto pela música enka. O interesse pelo país de sua avó só cresceu com o tempo. 

 

Ele estudou japonês desde o ensino médio e hoje fala o idioma com fluência. Em 2003, depois de se formar em Ciência da Informação, Jero se mudou para o Japão.

 

A promessa

 

Embora seu plano fosse fazer carreira no campo da Informática, havia uma pendência a resolver antes de tudo. 

 

Jero prometera a avó que se tornaria cantor de enka e um dia iria se apresentar no Kouhaku Utagassen. A sra. Takiko já estava idosa, e ele queria muito dar esse gosto a ela. Assim, enquanto trabalhava como engenheiro de computadores e professor de inglês, Jero participou de inúmeros concursos de música.

 

O esforço compensou e ele começou a chamar atenção como um novo talento do enka. Infelizmente, a avó de Jero faleceu antes de ele gravar seu primeiro single, Umiyuki. Apesar da tristeza, a escalada rumo ao Kouhaku já tinha começado e restava continuar. Ele iria cumprir a promessa mesmo que a sra. Takiko não pudesse mais ver.

 

Kouhaku Utagassen, o tradicional show de fim de ano

 

Um sucesso surpreendente

 

Em 2008, Jero finalmente se apresentou no Kouhaku Utagassen, vestindo uma camiseta com o retrato da avó estampado. Foi um show emocionante, onde não só ele, mas também os apresentadores, a plateia e outros artistas presentes choraram abertamente.

 

Os anos seguintes foram de consagração. Jero lançou mais singles e álbuns, estrelou comerciais de TV e até atuou em um filme (Donju, em 2009). Os amantes do enka passaram a considerá-lo uma esperança de renovação. Afinal, o público jovem se interessou pela música por causa do estilo despojado, meio hip hop de Jero.

 

Diante de todo esse sucesso e aceitação, a pergunta que não quer calar é: por quê?

 

Por que um público majoritariamente conservador e desconfiado de pessoas de outras etnias parece aceitar Jero tão bem?

 

O público do enka é em geral mais velho e conservador, porém aceitou Jero com tranquilidade.

Teoria no. 1

 

Uma possível razão é a quebra do estereótipo altamente preconceituoso do “gaijin”. A visão mais comum que o japonês tem do estrangeiro em geral é de pessoas folgadas, escandalosas e inconvenientes. E no caso de pessoas negras, ainda se soma a questão da fetichização, da sexualização. 

 

Jero é o oposto de tudo isso. Ele sabe se comportar de acordo com a etiqueta por causa da influência japonesa em sua educação. Fora do palco, tem uma postura calma, discreta e respeitosa. Nos shows, sabe dosar dramaticidade (pois o estilo enka pede isso) e bom humor para entreter sem ofender.

 

Em resumo, o salary man de meia idade, a dona de casa, a vovó, enxergam Jero como “um bom moço”. Ou, como dizem alguns, “ele realmente incorpora o espírito gentil do Japão” 

 

Teoria no. 2

 

A outra razão para uma aceitação tão grande é a história da promessa que Jero fez à avó. Para cumpri-la, ele deixou de lado seus planos pessoais e trabalhou duro. Nas entrevistas, sempre fala da sra. Takiko com muito carinho. 

 

A reverência aos ancestrais e o respeito à palavra dada são valores importantíssimos principalmente ao japonês conservador. São princípios que poderiam, talvez, superar até mesmo um racismo arraigado.

 

Jerome Charles White Jr. é um caso raríssimo onde preconceitos foram vencidos de maneira mais pacífica do que o esperado. Ele abriu portas para uma aceitação maior de pessoas negras no Japão. 

 

Por outro lado, sua fórmula de sucesso não é muito fácil de ser reproduzida. O caminho para a aceitação ainda tem muitos bloqueios e armadilhas.

 

O futuro de Jero

 

Em 2018, depois de mais de 10 anos de carreira musical bem sucedida, Jero anunciou um hiato. A promessa à sra. Takiko tinha sido cumprida. Agora, ele iria se dedicar a sua carreira em Ciência da Informação.

 

FONTES

Wikipedia

JRock News

Scholarblogs

 

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).