Pokémon Special, Pokémon Adventure em inglês ou simplesmente Pokémon no Brasil, é uma série de mangá baseada na famosa franquia de jogos Pokémon, conhecida por ser o mangá mais vendido da franquia, com 150 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Foi lançado quase ao mesmo tempo que o anime de Pokémon, no ano de 1997. Quando me refiro ao anime de Pokémon, estou falando da sua versão mais famosa que já passou dos mil episódios. Pokémon Special também é conhecido por muitos como a melhor adaptação da franquia de jogos, sendo referenciada por Satoshi Tajiri (criador da franquia) com as palavras: “Este é o mangá que mais se parece com o mundo que eu estava tentando transmitir”.

Mesmo sendo uma série tão elogiada pelo público, pela crítica e pelo próprio desenvolvedor da franquia, a versão anime é muito mais conhecida até nos dias de hoje, sendo usada como principal referência para produtos e até o live action da franquia. Se você perguntar para alguém comum sobre Pokémon, a primeira coisa que lhe passará pela cabeça é a versão animada ou os jogos originais, mas o mangá acaba sendo citado por um público mais específico, fãs de longa data do game.

A razão é que o mangá de Pokémon é uma interpretação muito mais fiel aos video games originais do que sua contraparte animada, enquanto o anime pega mais pesado no quesito adaptação, o mangá segue à risca tudo que vivenciamos nos games, de forma mais igual, com ligeiras mudanças na história. Mas não é só isso que faz o mangá de Pokémon fazer sucesso entre os fãs, também é o fato do mangá ter mais violência que o anime, e os protagonistas crescerem e mudarem a cada arco. Porém, isso é suficiente para fazer a adaptação em mangá superar o anime? Essa adaptação é perfeita?

Vou agora mencionar alguns pontos negativos dessa adaptação em mangá, isso pode desagradar bastante fãs do mangá, mas mesmo eu sendo fã também, tenho que ser justo. Não se preocupem, no final vou falar dos diversos pontos positivos também, que são muito grandes, aliás, para fazer uma comparação do mangá como adaptação.

Nem sempre a linguagem de jogos funciona bem em uma história

Diferente do anime de Pokémon, no mangá os Pokémons sobem de nível, desbloqueiam poderes e evoluem com o treinador apertando um botão no Pokedex. Isso é uma tradução exata do que acontece nos jogos no nosso gameplay, mas fica muito estranho em uma história. Enquanto no anime os Pokémons treinavam alguma habilidade mostrada fisicamente e evoluíam por si mesmos como seres independentes, no mangá eles dependem de uma máquina para isso acontecer (quase uma digivolução), embora isso não fique muito claro, já que Pokémons também evoluem sozinhos na história.

Personagem em uma história que precisa apertar um botão para sua criatura crescer e que desbloqueia poderes como em um RPG pode funcionar em um gameplay de um video game ou em um mangá de comédia como Konosuba, mas em um universo que pretende se levar a sério não funciona e tira um pouco de imersão do mundo. Alguém que for acompanhar o mangá sem conhecer os games vai estranhar esse tipo de sistema, que dá a sensação de que estamos assistindo um gameplay de outra pessoa.

  Adaptar cada evento do video game é desnecessário

Pokémon, assim como muitas franquia de video game, para extender a experiência de jogo coloca diversas aventuras que não tem nada a ver com a história principal, para enrolar ainda mais o tempo de jogo e também dar algo para o jogador fazer enquanto explora aquele mundo. Por ser um jogo simples e infantil, essas história são simples e bobas, não passam de enrolação, embora algumas possam ter relação com a trama principal, são criadas mais com o propósito de dar mais gameplay ao jogador.

Pokémon Special, tentando ser o mais fiel possível ao game, adapta cada uma dessas aventuras, ao invés de seguir sua trama principal muitas vezes, aventuras que nos games podem ser passáveis pelo fato do jogador estar ativo nelas, assisti-las é muito entediante e parecem um filler que o próprio mangá cria. Pokémon Special não pretende ser uma história episódica e vai mais pelo caminho linear, e para tramas lineares esse tipo de desvio acaba sendo uma perda de tempo. Já o anime de Pokémon, embora também linear, foca principalmente nas histórias episódicas, já que é focado em um público muito mais jovem, as aventuras episódicas também são originais e apresentam tramas um pouco mais variadas e divertidas, dando mais liberdade aos roteiristas ao invés de seguir o game de forma literal.

 Mais foco nos personagens e menos foco nos Pokémons

Não é de se admirar que o anime de Pokémon acaba sendo considerado a principal adaptação da franquia já que vende de forma melhor o que a franquia mais quer oferecer, os Pokémons.  O mangá de Pokémon Special dá pouca atenção para esse aspecto, os Pokémons em vários momentos parecem mais com armas que os protagonistas usam do que seres independentes, nós lembramos menos do Pokémon de forma isolada e mais do protagonista que está associado a esse Pokémon. Claro que como uma série grande já houveram momentos em que os Pokémons tiveram destaque, mas a maioria das vezes foi associado ao uso desse Pokémon por um personagem específico.

Isso não é totalmente um ponto negativo, já que ter uma ligação com personagens humanos acaba trazendo mais simpatia para a história do que com seres mágicos, nos ligamos mais a humanos e conseguimos nos identificar com mais facilidade, principalmente humanos cheios de ambição e defeitos, acompanhamos nesse mangá a jornada dos treinadores e não a aventura dos Pokémons.

Já o anime trata os Pokémons como um foco maior, que embora não seja tão bom no ponto de vista narrativo, funciona muito mais para promover esses animaizinhos. Vemos aventuras no qual eles são protagonistas principais como nos filmes, vemos como eles interagem com o ambiente e com os personagens e o quanto são fofos. Cada episódio do anime o foco principal é o Pokémon, porém isso acaba deixando os personagens humanos mais rasos e entediantes. No mangá, podemos encontrar Pokémons lendários sendo capturados por pessoas comuns e usados como armas em uma luta, já no anime os lendários têm todo um misticismo, toda uma individualidade e não podem ser simplesmente usados por humanos, já que são mais que criaturinhas comuns, são parte desse universo e isso faz bastante diferença.

 Pontos positivos!

São tantos pontos positivos que deveria dedicar um post só com isso, mas você pode facilmente encontrar matérias dedicadas a esses pontos. A série tem mais de um protagonista por saga ao invés de um para toda a história, esse protagonista cresce assim como a gente, são protagonistas com defeitos e cada um tem seu próprio objetivo. Nem todo protagonista quer ser mestre Pokémon, alguns querem ser comediantes, outros viver a própria vida e a história se foca menos no esporte e mais em tramas que envolvem eventos mais importantes como o destino do mundo.

A estrutura é mais linear que episódica e, diferente de histórias com mudança de protagonistas que cada arco é isolado, o arco desses protagonistas está interligado e se conectam para histórias maiores no futuro, assim como crossovers. As lutas também são mais estratégicas e épicas e um pouco mais violentas (embora seja um mangá para o público infantil), assim como a história toca em temas mais maduros como a morte, a depressão e a perda. Existe uma enorme variedade de histórias e de protagonistas, o que não faz a série cansar mesmo sendo grande.

Em resumo, mesmo com seus problemas como adaptação, é um mangá que ainda acerta, é muito divertido e existem arcos muito bem escritos que tocam em temas que outros shounens não tocam. Assim como vai encontrar as melhores protagonistas femininas já vistas em um shounen, o que atrai tanto o público feminino para esse mangá (assim como os romances também).

Se você é fã do jogo, com certeza é uma adaptação muito mais fiel, mas não se pode gostar do mesmo jeito. Agora, se é a melhor adaptação de Pokémon, é complicado de se dizer, já que existem muitas e muitas adaptações e cabe a você escolher, mas em minha opinião ainda é a que melhor sabe tratar os personagens e, para mim, personagens são o mais importante em uma história. Mas ainda é uma opinião pessoal, existem muitos fatores que podem ser levados em conta e cabe a você decidir.

Revisão: Karin Cavalcante