AS DIFICULDADES DOS ANIMES NA TV BRASILEIRA (PARTE 2)

Continuando a explanar os problemas entre os animes e a televisão brasileira.

Esse artigo é uma continuação direta (Parte 2) do texto publicado mês passado. Nele, destrinchamos 3 pontos importantíssimos para que você entenda e compreenda os motivos pelos quais a tv brasileira se afastou dos animes e outras obras japonesas. Caso ainda não tenha visto ou não se recorde do que foi dito, sugiro que leia o texto anterior. Você o encontra clicando AQUI.

1- Patrocinadores escassos

Pokemon/OLM
© Pokemon/OLM

Você com certeza percebeu nos últimos anos uma diminuição da veiculação de propagandas voltadas ao público infantil, focada em brinquedos, bebidas e alimentação. Você já se perguntou o porquê que isso ocorre?

A legislação sobre publicidade para crianças atende algumas normas da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente e também do Código de Defesa do Consumidor, assim como na resolução 163 da Conanda.

Antes de explicar a resolução, quero deixar claro que não estou discutindo a lei e sim esclarecendo a vocês o que ocorre nesta situação.

Resolução 163 estabelece alguns elementos como nocivos e abusivos. Alguns dos principais pontos são:

  • Uso de linguagem infantil, efeitos especiais e cores em excesso;
  • Uso de trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por crianças;
  • Representação de crianças nas propagandas;
  • Apresentação de pessoas que tenham apelo sobre o público infantil;
  • Uso de personagens ou apresentadores de programas infantis;
  • Uso de desenho animado, de bonecos ou similares;
  • Promoções com distribuição de prêmios ou brindes colecionáveis, de competições ou de jogos com apelo ao público infantil.

Em resumo, o veto busca proteger as crianças da exposição abusiva do consumo. As empresas, por sua parte, se distanciam da divulgação de seus produtos ao público alvo das programações infantis, para evitar multas e batalhas judiciais.

2- Lucro x Direitos autorais

InuYasha
© InuYasha/Sunrise

Outro problema muito considerável é o valor para adquirir o licenciamento de novos títulos de obras japonesas. As produtoras de animes tendem a “salgar” na hora de fazer os acordos com os canais de televisão. Foi a partir deste ponto que surgiu essa mudança de paradigma, tirando o foco dos animes.

Além disso, os canais enxergaram um investimento muito mais lucrativo e seguro, dentro dos produtos “Hollywoodianos”, como animações baseadas em super-heróis já conhecidos pela maioria.

Aqui, novamente, ressalto a falta de entendimento por conta dos canais. Quantas e quantas vezes eram exibidos episódios “soltos”, sem sequência, sem qualquer ligação um com o outro? O público enxergava isso, assim como eu enxergava. Criava-se, então, um abandono a tais séries.

As tvs não tinham a percepção (talvez ainda hoje não tenham) de que os animes funcionam como séries e novelas, e sua maioria não é episódica (estilo de série onde não existe uma história em sequência). Animes possuem começo, meio e fim. Sem público, que não aguentava mais tamanha repetição, qual patrocinador e investidor apostará na grade?

3- Importância do streaming

Digimon Adventure
© Digimon Adventure/Toei Animation

Vamos esquecer aquela história de que o Streaming é o futuro do entretenimento. A verdade é que eles já são o presente do setor. A partir de hoje você terá esse entendimento, combinado? Empresas como Netflix e Amazon Prime Vídeo já dominam o mercado. Imagina então quando os serviços Disney Plus e HBO Max estiverem disponíveis no mundo todo. A TV por assinatura estará com os dias contados. Você consegue entender então como está sendo e qual será o destino das obras japonesas?

Vou ser mais claro: vamos trazer esse pensamento pra dentro do universo otaku. Acima, eu citei que a pirataria foi um dos grandes responsáveis pela popularização dos animes no nosso país e também por ter afugentado parte do público que já conhecia as séries e tinham o desejo de conhecer novos títulos, consequentemente não acompanhando o que era transmitido na tv, certo? Então, qual o motivo dos animes voltarem à tv aberta se as formas de consumo de entretenimento mudaram?

A possibilidade que é dada, por exemplo, pela Crunchyroll, que transmite os animes com apenas 1 hora de diferença da transmissão japonesa, não é muito mais atrativo do que esperar essas séries irem para a tv, com meses de atraso, podendo ser interrompidas a qualquer momento?

A internet transformou os animes em algo muito mais autossuficiente. A popularização de serviços online pagos, gera o interesse não só por sucessos aclamados, mas também por produções menores e mais desconhecidas, que muitas vezes sequer veriam a luz na tv aberta. O catálogo é vasto, imenso e diversificado.

A grande verdade é que, para os fãs, não importa se suas obras preferidas são transmitidas ou não na tv. É claro que entendo a importância da tv aberta na criação e fidelização de um novo público, ainda mais pelo fator dublagem, essencial na popularização de séries; mas talvez seja hora de entendermos e aceitarmos que não só os animes migraram, mas todo o setor do entretenimento. Na verdade, eu consigo enxergar uma grande popularização dos animes através desse novo meio de entretenimento.

4 – Conclusão

Tenchi Muyo!
© Tenchi Muyo!/Anime International Company

Entendo a importância que os animes tiveram – e possam vir a ter – se transmitidos na TV, principalmente nos canais abertos. Eu mesmo sou fruto disso. Minha paixão pelo universo otaku nasceu dentro do meio. Mas os tempos mudaram. Negar isso seria egoísmo e saudosismo de minha parte. O mundo do entretenimento mudou, se tornou mais democrático, menos monopolizado pelos canais televisivos.

Por que não apoiar e incentivar que mais obras sejam dubladas (o que gera maior popularização) e lançadas dentro dos serviços de streaming? Ao invés de nos contentarmos com 3, 4 séries passando nas tvs, podemos ter 20, 30, ou muito mais, ao mesmo tempo, alcançando um bom público e ajudando a fazer crescer os animes que tanto amamos. Vale a reflexão.

Gostou do post? Deixe seu comentário, quero debater e interagir com vocês!! Até a próxima!!

 

Revisão: Deise Bueno

25 anos. Estudante de Teatro. Apaixonado por animes e mangás. Falo sobre tudo (ou quase tudo) que acompanho no meio otaku. Tenho noção de que, as vezes, meus gostos e opniões podem ser meio duvidosos. Instagram e Twitter: @odanielorien