1945: uma das muitas histórias sobre o Nazismo
Baseado em personagens históricos, Keiko Ichiguchi narra em ,1945, sobre uma juventude alemã que assiste à ascensão nazista e aos conflitos desencadeados não só nos campos de batalha e campos de concentração, mas da própria moral e daquilo em que acreditam. O mangá é o primeiro da autora a ser lançado no Brasil, e segue sendo seu único trabalho no país até o momento.
A HISTÓRIA
A história é ambientada na Alemanha, iniciando pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Elen e o irmão Max são filhos de uma boa família alemã e viviam seus dias em paz enquanto assistiam a escalada do Partido Nazista em seu país. Max sempre se mostrou contrário à ideologia e ao controle imposto pelo Nazismo, enquanto Ellen seguia vivendo sua vida sempre com a amiga Rosa por perto.
Um dia Elen vê Rosa, que é judia, ser levada por membros da Juventude Hitlerista e entra em desespero. Ela questiona os soldados e acaba reencontrando Alex, o rapaz por quem é apaixonada e que agora está junto do exército nazista. Os dois passam a se ver com frequência, embebidos por um amor inocente misturado com a vontade de escapar da realidade que viviam ali. Alex diz odiar os judeus em consequência da ruína de sua família, que ele considera ter ocorrido por culpa de um homem judeu.
Mas nem todos os alemães concordam com o regime. A própria Elen não compreende muito bem o que está acontecendo de fato, e teme pelo que pode ter sido feito com sua amiga Rosa. Max, que é um jovem universitário, é uma das figuras por trás da confecção e distribuição de panfletos com ideias contrárias aos dos nazistas, distribuídos como correspondências sem remetentes.
Alex decide se alistar no exército para “lutar pelo país” e “massacrar os judeus”. Ele passa a atuar ao lado de outros soldados no Front Oriental em Stalingrado, uma cidade da União Soviética. Ele consegue sobreviver a famosa Batalha de Stalingrado, no qual o exército alemão fracassou em invadir de fato a União Soviética ao enfrentar um inverno rigoroso. A partir deste episódio, Alex passa a se questionar e a questionar o que de fato é um “ser humano” – ou melhor, quem é ou não considerado um. Quando retorna à Alemanha consegue reencontrar Elen, mas as coisas não poderão ser as mesmas.
A AUTORA
Keiko Ichiguchi é uma artista japonesa que também atua como tradutora do idioma italiano. Sua estreia como quadrinista ocorreu em 1998 ao ganhar um prêmio de novos talentos da Editora Shogakukan. Inicialmente, utilizava o pseudônimo de Keiko Sakisaka para assinar seus mangás, publicados pela revista Bessatsu Shoujo Comic.
Ela se graduou em Estudos de Língua Italiana pelo núcleo de Estudos Estrangeiros da Universidade de Osaka, e se mudou para a Itália em 1993. No país, ela foi responsável pela tradução de dezenas de mangás do japonês para o italiano, além de continuar produzindo quadrinhos.
Em 1995, ela publicou Olte la Porta, considerado o primeiro quadrinho de uma artista japonesa criado especialmente para o mercado italiano. Em volume único, a obra apresenta quatro histórias interligadas por algo em comum às trama. Para este trabalho, Keiko contou com a colaboração dos autores italianos Barbara Rossi, Andrea Baricordi e Massimiliano de Giovanni, responsáveis por escrever três das quatro histórias.
Mesmo morando na Itália ela continuou contribuindo com editoras japonesas, tanto com quadrinhos (como no caso do próprio 1945) quanto com livros. Além dos quadrinhos, a artista também escreveu para revistas e colaborou com rádios, além de desenvolver trabalhos como ilustradora. Ela é casada com Andrea Venturi, quadrinista italiano famoso por desenhar títulos como Dylan Dog e Tex.
Site oficial da artista: http://blog.livedoor.jp/www_keikosan_come/
EDIÇÃO BRASILEIRA
Originalmente publicado em 1997 no Japão em 3 capítulos, posteriormente encadernados em volume único, 1945 foi publicado no Brasil em 2007 pela Editora NewPop. E no caso, a obra de Keiko Ichiguchi foi o primeiro título da editora. Em junho, a Editora lembrou do lançamento com algumas fotos dos seus primeiros clientes, que compraram 1945 no seu estande em um evento.
Por abordar um contexto histórico complexo, para a edição brasileira a Doutora em História pela UnB (Universidade de Brasília) Valéria Fernandes da Silva foi convidada para escrever sobre alguns pontos chaves para melhor compreender a obra. O texto foi incluído no final da publicação. Ela diz que muito do que conhecemos sobre a Segunda Guerra Mundial está relacionado com a atuação da Frente Ocidental, constantemente retratada em filmes estadunidenses.
Sobre o mangá em sí, Valéria aponta que “Keiko Ichiguchi, pelo contrário, nos mostra um pouco da Frente Oriental, que nos é menos familiar. Um dos méritos de 1945, portanto, é mostrar as batalhas no Leste, a resistência soviética e, mais do que isso, o quanto os alemães estavam empenhados na guerra.“ A historiadora também explica sobre as personagens reais nas quais Keiko Ichiguchi se baseou para desenvolver os personagens da história, além de citar outras produções que abordam os fatos ocorridos.
Através da ficção é possível conhecermos diferentes faces de eventos históricos, já não são poucas as produções totalmente ou parcialmente baseadas em eventos reais. E uma tragédia como o Nazismo precisa ser sempre lembrada para que nada parecido se repita. Existem centenas de produções que abordam diversos pontos de vista sobre esse período, como livros, filmes e quadrinhos. Destaco aqui os filmes Au Revoir les Enfants, A Mulher contra Hitler, Bent e O Jogo da Imitação; os quadrinhos Maus, Adolf, A Busca e o segredo de família; e os livros O Menino do Pijama Listrado e A Menina que roubava livros.
Revisão: Karol Facaia