The Terror: Infamy – uma temporada “japonesa”

The Terror: Infamy explora o medo sobrenatural e o real.

 

 

The Terror é uma produção do canal AMC, exibida no Brasil pela Amazon Prime Video. Planejada como uma antologia, cada temporada conta uma história completa. A segunda temporada, que entrou no catálogo da Amazon há poucas semanas, explora um assunto curioso: imigrantes japoneses nos EUA.

 

A história de The Terror: Infamy

 

Com o sugestivo subtítulo Infamy* (Infâmia), a segunda temporada de The Terror se passa durante a Segunda Guerra Mundial. A história segue duas linhas de horror: o sobrenatural e o real. 

 

De um lado temos uma entidade que ronda o protagonista, Chester Nakayama, um jovem nipo-americano. Essa entidade, uma yuurei, parece ora querer proteger, ora destruir o rapaz e sua família. 

 

Esta linha de roteiro é mais instigante e segue o padrão das mais recentes obras de terror. O mistério da yuurei se apresenta e se desenvolve de maneira eficiente, atiçando a curiosidade do espectador. Entretanto, a finalização acaba sendo um pouco didática demais, ainda que não seja ruim.

 

the terror: infamy - funeral
O primeiro episódio da série já abre com uma morte terrível.

 

A outra linha do roteiro retrata a situação dos imigrantes japoneses e descendentes, que foram segregados em campos de concentração(**) durante a guerra. 

 

Nesta linha, o ritmo é de um drama histórico. A trajetória da família Nakayama e seus amigos avança lentamente, mas nunca deixa de ser interessante. No entanto, nas duas linhas o roteiro tem  algumas inconsistências e furos, o que pode incomodar o espectador mais exigente.

 

Atuações em The Terror: Infamy

 

As atuações variam de nível. Algumas são ótimas, outras, nem tanto. Talvez isso se deva ao fato de que vários dos atores principais tinham pouca experiência com papéis grandes. O mais tarimbado do elenco é George Takei (Hikaru Sulu, da antiga série Jornada nas Estrelas). Mas ele aparece pouco, ainda que sempre em momentos importantes. 

 

Mesmo com performances irregulares, percebe-se no geral um grande esforço e honestidade nas interpretações de todos, sem exceção. Afinal, vários atores são descendentes de famílias que foram “internadas” nos campos de concentração. Eles provavelmente pensaram em seus pais ou avós enquanto atuavam.

 

É de se notar também que há um núcleo mexicano na história. Os atores desse núcleo talvez também se emocionaram lembrando que hoje, são seus compatriotas sofrendo em campos de concentração. 

 

George Takei, famoso pelo papel de Hikaru Sulu na série Jornada nas Estrelas.

 

Fatos históricos – imigração

 

A imigração japonesa nos Estados Unidos começou bem antes que no Brasil. Quando os primeiros japoneses chegavam aqui, já havia mais de 30.000 imigrantes estabelecidos nos EUA. Lá, como aqui, a maioria trabalhou na agricultura, deu duro e progrediu aos poucos. Embora não conseguissem realizar o sonho de enriquecer e voltar ao Japão, pelo menos melhoraram de vida.

 

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, os imigrantes e seus descendentes passaram a ser encarados com suspeita. Pouco depois do ataque a Pearl Harbor, eles foram enviados a campos de concentração. Podiam levar apenas duas malas, todo o resto – seus pertences, seus bens – ficaria para trás. Até o fim da guerra, muitas famílias ficaram nesses campos, vivendo em condições quase similares a prisões comuns. Poucas conseguiram recuperar o que possuíam antes do internamento. Seus pertences foram roubados, suas casas, destruídas.

 

 

the terror: infamy - campo de concentração
A família Nakayama e seus amigos e vizinhos a caminho do campo de concentração.

 

Nisseis na guerra e a luta por compensações

 

Mesmo revoltados com o tratamento do governo americano, muitos jovens nisseis se alistaram nas Forças Armadas. Inicialmente recusados, eles puderam servir a partir de 1943 em uma unidade segregada comandada por oficiais brancos. O Regimento 442 de Infantaria, formado por nipo-americanos, foi um dos mais condecorados da história militar do país.

 

No final da década de 70 iniciou-se uma campanha por compensação àqueles que foram internados nesses campos. Essa campanha reivindicava um pedido formal de desculpas do Congresso e indenização em dinheiro, entre outras ações. Em 1988, o Civil Liberties Act foi assinado, concedendo as indenizações, o pedido de desculpas e tudo o mais.

 

the terror: infamy - combatentes nisseis
Jovens nisseis lutaram na Segunda Guerra Mundial.

 

Conclusão

 

No geral, The Terror: Infamy é uma obra interessante, bem feita e, principalmente, honesta. A produção não caiu na armadilha do “sendo asiático, serve” que é tão comum na escolha do elenco. Os atores são realmente japoneses ou nipo-americanos. 

 

É claro que existem problemas, que podem incomodar muito ou pouco dependendo do seu gosto pessoal. Há tropeços no roteiro, e atores que não se saem tão bem apesar de se esforçarem, como já citei antes. Entretanto, não chega ao nível de prejudicar irremediavelmente a obra.

 

Para quem se interessa por História, ou tem curiosidade sobre a imigração japonesa, é uma ótima opção de entretenimento.

 

 

 

(*) Infamy (Infâmia) é provavelmente uma referência ao ataque a Pearl Harbor – conhecido como “Dia da Infâmia”. Também possivelmente se refere ao modo como os imigrantes japoneses e seus descendentes foram tratados pelo governo americano. E ainda, pode remeter à traição que levou ao surgimento da yuurei.

 

(**) Em inglês há diferença entre esses campos (“internment camps”) e aqueles criados pelos nazistas (“concentration camps”). Nos textos em português que pesquisei, usa-se o termo “campo de concentração” para ambos.

 

 

Fontes

 

Informações do elenco no IMDb

Imigração japonesa nos EUA

Nipo-americanos na Segunda Guerra Mundial

 

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).