Monogatari Series, Second Season não merece apenas um review. A adaptação de cinco mais um livros [light novels] que compõem a Segunda Fase desta franquia de tomou de assalto a animação japonesa será resenhada livro a livro, personagem a personagem. E para essa verdadeira missão convidamos a Marcela do bom blog Otomegatari para esta série de artigos múltiplos sobre um anime múltiplo. Mas já falamos demais, com a palavra a nobre convidada…
Yaho! O-o que é isso? Pulamos uma novel? … Sim, sim, pulamos uma novel!
Ainda se lembram de mim? Pois é, sou aquela maníaca por Monogatari Series do OtomeGatari, que fez uma análise de Nekomonogatari [Shiro] umas semanas/meses atrás. O certo seria fazer de Kabuki agora, não? Não é? Sim, seria. Mas por questões pessoais de self insert e oh meu deus! eu amo a Nadeko, Otorimongatari virá antes de Kabukimonogatari. Entendam isso como uma homenagem a cronologia bagunçada de Monogatari Series.
Então… Chega de enrolação e vamos entrar na zona zenbu!
Um conto delusivo
Agora… Por que aconteceu isso? Como foi que tudo acabou assim?…
Vamos dar uma rápida pincelada sobre as visões gerais de Otorimonogatari antes de partir pra loucura generalizada.
Otorimonogatari – Nadeko Medusa é quando aquela garota de Bakemonogatari que vocês provavelmente nem lembram o nome, só o fato de ter ficado seminua no quarto do Araragi, toma os holofotes. Na verdade, toma literalmente. Ela vai nos bastidores, puxa o cabo de todos os holofotes, liga em uma extensão de segunda mão e aponta todos para si. Ela entra em foco a força. Exageradamente. Violentamente.
Menos metaforicamente e focando nos fatos fictícios, Sengoku Nadeko ama Araragi Koyomi, mas Araragi Koyomi não ama Sengoku Nadeko. Sengoku Nadeko teve problemas com cobras, em Nadeko Snake. No dia 31 de Outubro, Halloween, ela vê – ou melhor, sente que vê uma cobra branca, em todo lugar. Sengoku Nadeko pede ajuda a Araragi Koyomi e imediatamente o susto de ver a cobra se torna um prazer – o prazer de pedir ajuda para o homem que ela ama. Com essa mesma figura em mente, ela entra em contato com a tal cobra e nossa história de delusão começa.
zenbu zenbu zenbu zenbu
Onii-chan favorito: Koyomi Onii-chan.
Pessoa favorita: Koyomi Onii-chan.
A abertura desse arco é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores entre todos os animes de Monogatari Series até agora. A característica geral marcante não se encontra em um ponto forte, mas sim no conjunto de fatores – letra da música, perfomance da dubladora, animação – que somados realizaram um trabalho tão minimalista na superfície e tão incrivelmente profundo. A falta de detalhes deixou tudo mais interessante, mais misterioso e a forma vaga como tudo é apresentado instiga o espectador a se imergir mais no mundo da Nadeko.
Primeiro de tudo, para compreender a nova abertura, Mousou Express [Expresso da Delusão], é necessário a mesma abordagem feito nas aberturas que envolviam a Hanekawa: entendê-la em ordem cronológica e diretamente relacionada com a do arco anterior, Nadeko Snake.
Assim analisaremos primeiramente Renai Circulation, Circulação do Amor, famosa pela sua maneira adocicada e, simplisticamente falando, fofa, apresentada na música cheia de requintes e floreios, juntamente com a voz suave e leve de Hanazawa Kana. A animação é repleta de cores calmas, como branco, rosa salmão e verde bem claro. Todas cores fracas e que não se destacam muito.
Nessa abertura visualizamos a situação Nadeko/Araragi percebendo que ela o tem como inalcançável, andando sempre em uma linha paralela a ele. Duas linhas que jamais se cruzarão, com uma aproximação mínima, vagarosa e hesitante demais. Assim como o próprio Araragi é mostrado em tons de cinza, representando sua indiferença ao mundo colorido da Nadeko, ao amor dela por ele. Nossa protagonista permanece sempre de cabeça baixa, pouco confiante, com certo medo, receio de se aproximar de seu interesse.
Mousou Express é o reverso. Começando pelo início onde Nadeko caminha para trás, em oposição ao começo de Renai Circulation. Isso demonstra a regressão que ela fez – sei que vou parecer ainda mais fissurada na Hanekawa, mas o paralelo que farei entre as duas é de suma importância para entender pelo menos um pouco de Otorimonogatari. Na Segunda Fase, esla avança: cresce e alcança uma paz de mente. Já a história de Nadeko é o completo oposto, e ela regride. Enquanto a primeira estava ligeiramente insana, considerando a perfeição dela como um defeito extremo e beirando a loucura, e eventualmente alcança sua humanidade, a segunda está perdendo a sua, regredindo de sua condição humana para algo mais… além. Por isso os passos para trás, é um retrocesso.
A postura dela também está diferente, completamente diferente. Cabeça erguida, um sorriso confiante, uma atitude invasiva. Ela caminha olhando determinada para frente, sem medo e sem receios. Ainda mais evidente quando ela causa uma perturbação no percurso – caminhava paralelamente a Araragi [mas notem, em direções opostas, mostrando a diferente resolução que ela tomou] e, de repente, quebra a rota traçada agarrando-o. A Nadeko de antes jamais cogitaria fazer isso.
Voltando o foco para a letra e estabelecendo por definitivo o antagonismo entre as duas canções, Renai Circulation mostra uma Nadeko conformada: Estou feliz só por termos nos encontrado. A mera silhueta do Araragi faz seu coração disparar e libera endorfina suficiente para um ano inteiro. Um orgasmo visual. Mas, em Mousou Express, suas ambições vão além. As ambições de uma deusa: Eu não quero um mundo que vá contra meus desejos. Eu só quero uma coisa – tudo, tudo, tudo, tudo. Tudo. Cansou de ser vítima, cansou de ser fraca, cansou de não ter. Uma virada de 180 graus. Essa é a nossa nova Nadeko.
O quality torna-se qualidade e outro adendo sobre a OST.
Não gosta de observar os outros. Não gosta de ser observada.
É evidente notar que houve uma singela melhora na animação deste arco em comparação à Nekomonogatari [Shiro]. Entretanto, pode-se dizer que de Kabukimonogatari para cá, a animação não teve um impacto tão grande. Falarei disso daqui a algumas semanas, no próximo post.
Voltemos a comparação entre Nekomonogatari e Otorimonogatari. Os camera shots que antes estavam tão distantes foram reduzidos um tanto. Como por exemplo, no primeiro episódio, na cena onde ela está caminhando no corredor da escola ao descrever a situação em que está sua sala atualmente. Não foi uma cena estática como havíamos visto tantas vezes em Shiro e a proximidade da Nadeko estava razoavelmente boa para se ter detalhes.
Durante o terceiro episódio, em sua conversa com a Tsukihi, a animação estava bem fluida, provocando uma certa reminiscência de Nisemonogatari.
No entanto, senti que o uso de cores foi bem reduzido. A impressão que tive foi de que as cenas eram um tanto monocromáticas – melhor dizendo, as cores pouco pulsavam, pareciam mais fracas. Bom, combina um tanto com a ambientação mais sombria que aos poucos vai sendo tomada na história.
A economia que torna a animação inferior a de Kabuki também nota-se nas cenas da Kuchinawa, que não são poucas, sempre estáticas. Tal como Kako, nosso tigre galante de Nekomonogatari [Shiro], não há frames para a movimentação da boca enquanto ela fala.
Mas isso são só detalhezinhos para as pessoas mais frescurentas que acham que todo anime tem que ter animação ao estilo do Studio Trigger
As adições musicais feitas nesse arco não foram de todo interessantes – a música maligna e sombria do primeiro episódio, quando somos apresentados ao cenário que iremos enfrentar nos finais; o tema do Kuchinawa que, apesar de gritar problema e ser deliciosamente de um chefe, dando vontade de ouvir em uma poltrona caríssima de couro com um lindo gato persa no colo sendo alisado pela mão carregada de anéis pesados com pedras preciosas de um verdadeiro chefão, deixou um tanto a desejar pela falta de originalidade, assemelhando-se muito com o tema de outro grande vilão de Monogatari – Kaiki Deishu.
No geral, ótimos trabalhos do compositor, mas nada tão marcante. A reutilização de temas como Ika Kaisou e Sawari Neko ajudaram em dar esse toque “estamos de volta em Bakemonogatari”.
Nadeko vs Nadeko ID
Falei pra você, não falei? Não tente tirar os olhos da realidade – você não vai conseguir.
A revelação do Kuchinawa foi um tanto chocante pra alguns, né? Pois é. Descobrir que aquela cobrazinha enrolada em forma de liga de cabelo no braço da Nadeko, até o momento em que ela engoliu o selo, não existia, foi jogar o espectador na parede e chamar de otário.
Não, isso não foi uma crítica.
A revelação feita recai sobre o conceito de kaii, onde as kaiis só existem porque os humanos acreditam nelas e elas se moldam de acordo com o acreditar de cada um, como explicado pelo Oshino em Nekomonogatari [Kuro] para Araragi, que questionava o motivo da Shinobu estar agindo tanto como uma criança de oito anos – o motivo era porque a existência dela baseava-se na crença do Araragi, o único consciente da presença dela, e porque ele mesmo a via como uma criança. Logo, ela passa a assumir comportamentos que se encaixem na maneira como as pessoas veem ela e acreditam nela.
No caso da Nadeko, é feita uma mistura entre a loucura que ela já cultivava dentro de si somada com uma crença muito forte no Kuchinawa, a kaii. Ela rezou tão fervorosamente para que ele separasse o Araragi e a Senjougahara, tanto empenho, tanta determinação, que sua crença sozinha recriou a cobra para um estado mais mental. Kuchinawa desde o começo não era o deus que dizia ser, sua presença era fraca, mas para a Nadeko, sua própria insanidade intensificava a presença da cobra, produzindo efeitos como a aparição inicial no templo, onde a kaii assume um formato enorme.
Dessa forma, além de recriar uma kaii enfraquecida, ela cria uma existência mais “física” para sua ID, sua personalidade interior, apesar da presença incórporea e mental do Kuchinawa. Partindo do conceito do sistema de RPG de mesa para criação de personagem, todos temos duas vertentes – Natureza e Comportamento. Natureza é, obviamente, sua realidade interior, aquilo que você realmente é, a maneira como você verdadeiramente se sente. O Comportamento é a personalidade que você assume para se adequar a determinadas situações – eu, Marcela, mesmo sendo tsundere, não posso ser tsundere se quiser uma entrevista de emprego. Aí minha ID sai de lado e meu ego toma o lugar.
A ID da Nadeko é parecido com aquilo que foi presenciado no episódio quatorze – determinada, esquentada. Só que o ego dela é o que normalmente era visto: uma menina quieta, tranquila, que tem medo dos outros e prefere não chamar a atenção. Ela reprime a ID dela e deixa só o ego a mostra porque é mais fácil ser vítima. É mais fácil ser ignorada ou, no máximo, ter as pessoas olhando para você com pena e eventualmente tentando lhe agradar. Claro.
Mas… Ninguém é vítima para sempre, Nadeko-chan. Dessa vez isso não vai dar certo. A Ougi acerta em cheio sobre a história. Não adianta ser vítima quanto a isso, não adianta ser vítima quanto o amor que ela sente por Araragi. Esse amor irracional que, por um simples encontro, perdurou durante anos. Um amor que também não é real – mas porque é mais fácil, ela também se força a acreditar que seja. Argh… A Nadeko é complexa, complexa! Tudo dela é uma ilusão, uma máscara, só uma camada a ser escavada pra você descobrir que tem mais umas centenas!
Retomando… Ao descobrir do relacionamento dele, sua ID percebe que o comportamento de vítima não é suficiente para lidar com essa situação e começa a agir. Mas até as revelações do episódio 15 a ID agia supostamente de maneira disfarçada, o ego não sabia de suas ações porque a própria Nadeko apagava essas memórias. Lembram lá de Mirai Nikki, quando o Akise Aru diz pro Yukki que a Yuno apaga as próprias memórias pra se manter sã? A Nadeko faz um processo parecido, mas é pra se manter vítima.
Ela precisa acreditar que ainda é a vítima e que tem todo o direito de ser salva. Por isso, ignora o que a ID faz. No episódio 14, quando ela explode logo no começo, seu ego fala Ué? Alguém falou alguma coisa?, fugindo de aceitar o fato de que foi ela mesma que disse aquilo, negando a realidade. Como um autista, que cria seu próprio mundo para viver, a Nadeko cria sua ilusão, sua delusão, e segue por esse expresso até as estrelas.
Reparem – nos momentos de dificuldade dela [a conversa com a Shinobu, depois com o Araragi e a Shinobu], Nadeko recorre rapidamente ao Kuchinawa. Recorre ao seu ID – “faça o trabalho sujo por mim, para que eu possa continuar livre de pecados”. O que nós temos em Otori é uma progressiva batalha interna entre o ID e o ego da Nadeko pelo controle, resultando na inevitável vitória do ID.
Vítima, ser ou não ser
Olhando pra baixo desse jeito, ficando em silêncio sem dizer uma palavra pode muito bem ter feito você continuar como vítima – mas me pergunto se isso vai dar certo dessa vez.
E, como toda história para toda família, temos uma lição pra retirar de tudo isso.
Em Nekomonogatari [Shiro], Hanekawa aceita que imperfeições e perfeições são os que nos fazem humanos e a falta de qualquer um dos dois nos priva de inúmeros proveitos da vida – dores pra aprender, sabores pra saborear.
Em Otori… Caham. Algo como… Se você deixar de ser vítima vira uma deusa.
Nah, não é bem isso. Analisando isso de fora da caixa e virando o caso de cabeça pra baixo, tudo se resume as palavras dita pela Ougi que mencionei lá em cima: ninguém é vítima pra sempre, assim como não existem pessoas que foram só vítimas. Todos tem sua parcela de culpa de algo e parte do crescimento humano é aceitar essa culpa ao invés de jogá-la para os outros. Ser vítima é fácil, sim, é uma maneira simples de viver. Mas tudo tem que ter um equilíbrio. Você não pode ser perfeito. Você não pode só ser vítima.
Voltando para Nadeko Snake: aparentemente a Nadeko foi a única vítima do triângulo amoroso entre seus amigos. Não podia corresponder ao garoto, tampouco fazer com que ele amasse sua amiga. Mas, no final, os outros também não foram vítimas, antes de se tornarem os culpados? Não foram vítimas da ilusão do amor, não foram vítimas da ilusão que é a Nadeko? Como será que a Nadeko rejeitou o garoto? Como será que ela agiu diante sua amiga, para consolá-la? Será que foi tudo tão perfeito e preto no branco como a cobrinha contou? Como diria a grande Ba-chan, reflitão.
Conclusão
É bom?
Sim.
É insano?
Sim.
Vou ter que jogar no Google o final do último episódio pra entender?
Sim.
É melhor que Nekomonogatari [Shiro]?
Não.
Abraços.
Saudações
Noto que a jovem Marcela esteve realmente ocupada…
Guest post no NETOIN!, guest post no Argama, comentários zemanais no OtomeGatari, e por aí se segue…
Mas foi tudo em prol de uma causa justa…^^
Até mais!
Ótima resenha! Monogatari Series já virou um best-seller no ramo de light novels, e suas adaptações pra anime são uma das mais vistas em todas as temporadas em que são lançadas. Acho que se não fosse pela SHAFT duvido que estaria tão bem vista como se encontra.
Ótimo comentário! Parabéns!
A única questão que eu ainda tenho é com relação a influencia da Ougi com relação a Nadeko, porque a Nadeko só começou a ser ver como uma vítima, depois que a Ougi disse que ela estava se fazendo de uma (a mesma lógica do conceito dos kaiis), e só por isso se iniciou essa Monogatari, pois a Nadeko estava num dia relativamente comum, onde nada seria diferente, logo eu acho que nem mesmo teria a aparição da cobra sem essa influencia das palavras da Ougi.
Por isso eu me questiono sobre a questão se essa “personalidade” que vimos ser revelada pode ser considerada sua “verdadeira” natureza, ou é apenas ela seguindo o roteiro de vilã da historia (da Monogatari) que a Ougi “criou” para ela.
E sinto que esse foi a maior diferença entre a historia da Nadeko com relação a Hanekawa: a influencias de outras pessoas. A Hanekawa até recebeu uma deixa de como ela era “branca” (Shiro) com relação as coisas, porem para resolver o problema do tigre, ninguém a ajudou a descobrir o que era, até demonstraram o quanto ela não sabia, porem tudo ela acabou que descobrindo num processo de reflexão sozinha. A Nadeko não, ela foi influencia a ser ver como vitima pela Ougi e pressionada brutalmente pela irmã do Araragi a deixar de ser algo que nem ela mesmo tinha certeza se era ou não, e esse processo forçado (oposto ao processo gradual da Hanekawa) teve o pior fim possível.
E concluindo, eu pergunto: quem é a Ougi? Por que aparece em todas as monogatari menos da Hanekawa? Ela foi a primeira personagem a dizer a expressão Monogatari, será que isso não é um fator importante? Por que ela nunca mostra as mãos? Por que ela claramente é uma pessoa “estranha” (kaii), mais ninguém sabe, qual é a monogatari dela?