HUNTERxHUNTER [2011], York Shin e Greed Island

HUNTERxHUNTER [2011], episódios 1 a 37 [por @lmalafaia]

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Finalmente chegamos a um ponto da história onde o autor cada vez mais brinca com as expectativas do espectador ao mesmo tempo que entrega uma obra mais completa e mais sombria; será que esta animação do MADHOUSE consegue firmar seu lugar entre os cada vez mais raros bons battle shounen?

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York Shin

Após dezenas de episódios focados em apresentação e diversão, exames e treinamentos temos aqui finalmente o primeiro arco sério de HUNTERxHUNTER; focado em Kurapika, o personagem com maior potencial para um arco dramático, e seu encontro com a Genei Ryodan – organização que exterminou o seu clã Kurta e por isso deseja vingança – é o arco que até aqui potencializa melhor duas das maiores qualidades de HUNTERxHUNTER: a construção meticulosa do enredo e do mundo pelo autor Yoshihiro Togashi e a habilidade deste em sempre surpreender e entregar uma história ao mesmo tempo satisfatória e com o maior número de anti-clímaxes possível.

Sobre o primeiro fato, basta perceber que Gon e Killua já estão pensando no próximo arco; assim, estão procurando uma maneira de acumular a imensa soma de dinheiro necessária para adquirir uma cópia do jogo Greed Island [Ilha da Cobiça] para, novamente, chegar um pouco mais perto da verdade sobre o paradeiro do pai de Gon, Ging Freecss. E com isso estabelecem uma dinâmica complementar que em parte mantém o feeling de descoberta de mundo presente nas partes anteriores e, através de seus encontros com a trupe, movimentam a história principal de uma forma que não soe forçada.

Claro que por ser um resquício da parte inicial do manga, as opiniões a respeito desses trechos recheados de construção do mundo e pequenos jogos são divididas de acordo com o que o espectador espera desta obra – em um plano geral basicamente continuamos com uma obra que nunca deixa de ser divertida, mesmo com certos trechos [principalmente o mecanismo de funcionamento do leilão, que em mais um anticlímax acaba sendo subutilizado] arrastando-se um pouco mais do que deveriam.

Paralela e lentamente temos a construção de mistura de xadrez e jogo de gato-e-rato envolvendo Kurapika e a Genei Ryoudan; pelo número de acontecimentos presentes e pelo fato de estar misturado com a trama paralela citada acima parece que este é bem maior que os vinte episódios que dura. E ainda assim, dada a quantidade de voltas dadas, é surpreendente a constante crescente que chega a um belo e cruel clímax.

Belo e cruel – duas palavras que se aplicam muito bem aos vilões deste arco, uma organização anárquica de bandidos sem qualquer grande objetivo; e porque precisaria? Os personagens em HUNTERxHUNTER são mais tipos, ideias personificadas que seres tridimensionais cheios de fatos e opiniões; muitos consideram isto um ponto fraco da série – e em certo sentido é – mas o fato dos personagens serem simplificados serve tanto para o autor poder focar em seus pontos fortes como acabam fazendo sentido neste raro shounen que não é baseado em carisma. Prova disto é o protagonista Gon ser apenas o terceiro personagem mais popular de acordo com as três pesquisas de popularidade oficiais; o que condizente com um personagem criado para ser o fio condutor da história mas que ao mesmo tempo não é feito na medida para o espectador se identificar – pelo menos, não o bastante.

A Genei Ryodan é um grupo caótico e mau cujo interesse é simplesmente nos tesouros expostos no leilão que é palco deste arco – e a morte de um das doze pernas da aranha por volta de um terço do arco é o ponto de partida para o desenvolvimento parcial do grupo; afinal, apesar de toda a independência entre os membros proclamada por um grupo que simplesmente não se importa com a vida humana o quanto isso se mantém face a uma situação difícil e cruel imposta pela vida?

Como em HUNTERxHUNTER, a decisão final parece incompleta ao mesmo tempo que soa profundamente realista; e o tema maior dos personagens aqui não atingirem seus objetivos da forma que desejam – ou ao menos de uma forma mais fácil, costumeiramente impulsionada em algum momento pelo sempre invencível poder da amizade – tema este que é o grande diferencial da obra para seus colegas de battle shounen, um ponto que é melhor explorado [ao menos antes do arco Chimera Ants] aqui, com Kurapika simplesmente percebendo que sua vingança completa, pela qual apostou sua vida [literalmente!], não será possível mesmo quando parece ter triunfado contra todas as possibilidades.

Sim, tivemos aqui um evento raro e algo impulsionado pelo roteiro; os protagonistas são fortes e ainda são chancelados pelo passado [tanto que o único sem uma ascendência nobre, Leorio, é justamente os olhos do espectador médio nesta obra cheia de seres fantásticos] e mesmo assim tão fracos e tão pequenos neste mundo. Claro que tem um potencial gigantesco que será atingido em algum momento, mas um ponto sempre repetido é como este será atingido um dia – quem sabe a dez, vinte anos mais. E dependendo de como o manga terminar, a mensagem passada será preciosa – mas este é um ponto para um possível artigo futuro.

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Temas e sentimentos próprios a parte, o aspecto mais fácil de entender York Shin é o clima de thriller presente aqui. Os acontecimentos, principalmente na metade final do arco, não param de acontecer, de surpreender e satisfazer o espectador em um ritmo muito adequado; claro que o anime as vezes é vítima das longas explicações [a parte das profecias consegue ser mais enrolada que certas cartas de um jogo], mas isto acontece poucas vezes, menos que o suficiente para afetar a percepção geral.

E o melhor: Togashi consegue entregar isto praticamente explorando basicamente duas lutas [há mais, mas acabam sendo basicamente demonstrações de poder de um dos lados] memoráveis e rápidas: Kurapika vs. Uvogin e Chrollo vs. Zoldyecks; a primeira, importante para o enredo, tem uma atmosfera bacana de tensão praticamente inexistente em uma série repleta de exames e torneios e a segunda é o show-off, a demonstração absurda de poderes de alguns dos personagens mais fortes daquele universo que todo mundo gostaria de ver.

York Shin é sem dúvida o ápice do que esperávamos ver em HUNTERxHUNTER desde o começo: um arco mais sério, com um ritmo excelente e ainda cheio de surpresas e mais momentos bons que o esperado. Ainda inesperado e criativo, também conta com uma adaptação do original progressivamente melhor e que procura fazer somente o básico: contar a história do original em forma animada.

O diretor conta com um bom orçamento – para um anime longo atual, é incrível como o design se mantém dentro da linha e as cenas de ação são genuinamente boas [confira mais neste outro artigo especificamente sobre o assunto] – e também consegue, mesmo sem a poesia típica do trabalho de Kazuhiro Furuhashi [e o traço mais escuro típico de 1999], cada vez mais passar o feeling certo ao espectador e não comprometer a obra. Claro que para muitos isto não é o suficiente para termos um clássico, mas consegue recompensar quem chegou ao fim do exame Hunter.

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Greed Island

O arco de treinamento e aonde as coisas começam a ficar inesperadas demais – e isso é bom.

Claro que a busca de Gon e Killua pelo jogo Greed Island iria terminar com a resposta mais óbvia e anticlímax possível – e assim que conseguem após um rápido teste uma vaga para o jogo de realidade virtual que… bem, descubra por si próprio, :P.

Teste, treinamento, t- uma chance dos amigos finalmente terem seu primeiro destaque em um mundo tão conturbado: afinal, não é isso o que um videogame oferece ao jogador? E é isto que Ging, um dos criadores deste MMO tão especial, oferece a seu filho. Já os espectadores ganham muito em construção de universo: o interessante sistema de poderes da série, o Nen, é expandido de uma maneira natural em uma segunda camada de poderes e o jogo em si tem uma enormidade de regras que nunca mais serão utilizadas novamente na série [e a reintrodução ao Exame Hunter mostra isto da maneira mais cruel possível] mas que são mais que o suficientes para fazer o espectador se inserir na história.

Muito treinamento, que é divertido a sua maneira, introduz a carismática Bisky, convence mas… ainda é treinamento; juntamente com a história focada no Bomber teríamos um arco que é legal e divertido mas não tem nada de especial ou diferente. Isto se não tivesse acontecido no meio do arco um fatídico jogo de queimada entre diversos participantes unidos pela ameaça do Bomber e Razor, um dos criadores do jogo. É uma sequência de três a quatro episódios com ação, tensão e estratégia que sem dúvida é o ápice do arco: mais, o tornam diferente e especial ao mesmo tempo por diversos fatores: seja a repentina ajuda de um certo personagem, seja o fato do objetivo aqui ser alçancado de uma forma inusitada, o fato é que conseguimos aqui sintetizar diversas qualidades que tornam HUNTERxHUNTER divertido.

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Conclusão

York Shin e Greed Island são dois arcos distintos mas que ao mesmo tempo mostram uma direção menos óbvia, menos focada em um enredo que em temas, estrutura e construção de um mundo. Yoshihiro Togashi no fundo cria todo um mundo repleto de lógica interna e recheado de pequenos detalhes na construção de seu imenso castelo de cartas que chama de história – e seu segredo dos milhões, de resistir a mão pesada da JUMP mesmo após incríveis sete anos de hiatus, de ganhar um segundo anime é conseguir integrar isso em uma embalagem tão padrão quanto a de um battle shounen.

E esse segundo anime, que começou de uma forma algo amadora por um estúdio MADHOUSE e diretor Hiroshi Koujina [Neuro, RAINBOW], melhora aos poucos até o resultado dos dois arcos tratados aqui ser o de não percebemos de forma óbvia que algo foi modificado; simplesmente o manga ganha movimentos e cores [no arco que virá, a arte-final também é bônus da versão animada] e perde o impacto da violência, igualmente presente mas tornada tolerável as manhãs de Domingo de uma grande emissora japonesa.

Não temos aqui um JoJo’s Bizarre Adventure, uma adaptação pulsante e autoral por si só, mas o resultado diverte e junto com Bakuman. é a adaptação para anime de um manga famoso de longa duração possível em nossos tempos; e quando a mão dos animadores anda cada vez melhor chega Chimera Ants, o mais longo e mais respeitado entre os arcos do manga. Juntamente com Gon, o anime simplesmente soube ser divertido e passar pelo primeiro teste de animar o que já havia sido feito antes. Com material totalmente inédito pela frente, qual será o resultado? Este é o assunto do próximo artigo sobre HUNTERxHUNTER, aqui no Argama.

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Quer saber mais sobre HUNTERxHUNTER? Leia o artigo sobre os dois primeiros arcos aqui mesmo; além disto, temos uma excelente compilação em vídeo comparando as duas fases.

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4 thoughts on “HUNTERxHUNTER [2011], York Shin e Greed Island”

  1. Quando vai rolar ArgaLog #07 ?? quero uma review de chihayafuru dos episódios 13/14/15 espero ansiosamente 😀

    1. Agora que escolhi os animes da temporada para acompanhar, devo retomar o ArgaLog o mais rápido possível – espero que ainda essa semana. 😉

  2. Cada vez mais eu penso que Ging é o alter-ego do autor Yoshihiro Togashi.

    HunterXHunter é o melhor battle shonen que a Jump teve em seu portfolio nos ultimos 20 anos, deve ser por isso que eles toleram as escapadas do seu autor.

    Eu gostaria muito de ver o proximo arco da série o qto antes, mas quero que ele seja feito com a vontade do autor para que ele possa me surpreender novamente.

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