Uma Introdução as Vendas de Anime

introdução_vendas_anime

A nova seção do Argama; como as outras, não espere qualquer regularidade em sua publicação.

Introdução

Qual é a medida do sucesso de um anime?, é a pergunta que muitos fazem – e a resposta, na maioria dos casos, costuma ser as vendas de discos em formato Blu-ray [e DVD] com os episódios da obra. Costuma, porque mesmo na década de 2010 o domínio da animação feita para o otaku coexiste com outros dois tipos de obras: as mainstream, destinadas geralmente para um público mais jovem e que se sustentam em parte pela audiência trazida para as principais emissoras em horários como as manhãs de Sábado e Domingo e muito pela propaganda que fazem de outros produtos, dos mangas originais de One Piece ou Naruto aos jogos de Pokémon e Inazuma Eleven.

Paralelamente temos algumas obras mais cult que geralmente devido ao sucesso de um manga com temática diferenciada acabam ganhando animes que passam nas madrugadas mas ainda assim são parte bancados pelas emissoras e editoras do original, parte por empresas que esperam ganhar algum dinheiro com um sucesso inesperado – estes até acontecem, como são os casos de Moyashimon e Mushishi, mas muito maiores são animes como Chihayafuru, Claymore e Hyouge Mono que vendem apenas o suficiente – ou nem isso.

Exceções a parte, em 2013 um anime é feito por um comitê de produção no qual a principal empresa envolvida, a que irá investir mais dinheiro, é a que irá comercializar os discos – e assim Aniplex [do grupo Sony], Bandai Visual, Dentsu, Geneon Universal, Kadokawa [que comprou a Media Factory], Pony Canyon e VAP dominam o mercado, ditam as regras de como esse mercado irá se comportar. Para ficarmos em um exemplo, a VAP pratica um preço abaixo da média [o que faz séries como GJ-bu serem inesperadamente atrativas para o bolso – claro, em relação ao horrendo padrão japonês] enquanto a Kadokawa é conhecida por decisões como a de vender os 26 episódios de Nichijou em 13 discos; com preço cheio, claro.

Manabi Line

OK – o importante para o que costumamos assistir, de K-ON! a Sword Art Online passando por Monogatari Series e Ore no Imouto, são as vendas diretas do anime [as indiretas, como de mangas, Light Novels e licenciados, podem ser decisivas em alguns casos – e só]; mas como medir o sucesso de uma obra? Gakuen Utopia Manabi Straight é a resposta.

O caro anime de um estúdio ufotable ainda não conhecido pelas adaptações de obras do TYPE-MOON [Fate/zero e Kara no Kyoukai] acabou fracassando e vendendo apenas 2.899 DVDs em seu primeiro disco. Fracasso? Sim, mas animes com orçamento mediano ou baixo como o citado Chihayafuru ou The World God Only Knows conseguem avançar e ganhar mais temporadas; e além do feedback indireto positivo, o fato das razoáveis vendas fazerem o anime se pagar ao atingir este número fez com que no Japão a Manabi Line virasse sinônimo de meta mínima para qualquer anime alcançar caso queira a chance mais remota de uma continuação.¹

Claro que mesmo a Manabi Line, que alguns contestam sua validade em geral, não é absoluta – animes contemplados com um alto investimento, de uma animação com maior qualidade até uma propaganda intensiva, tem a expectativa de dar um maior retorno para que alguma continuação possa se tornar realidade. Guilty Crown acaba sendo um bom exemplo de que vender mais de seis mil cópias não significa que seu anime fez sucesso suficiente para ganhar uma arriscada continuação.

DVDs e BDs

Ainda estamos em uma lenta mas sempre progressiva transição da definição padrão dos DVDs para a alta dos BDs; e se a BANDAI já adotou o lançamento somente em Blu-Ray para diversos animes como Kyoukai Senjou no Horizon e TIGER&BUNNY, a grande maioria ainda é lançada em DVD – e em alguns casos, vendendo mais que suas contrapartes em alta definição.

E nisso temos uma diferença de comportamento entre otakus e fujoshis; os primeiros costumam se preocupar mais com a máxima qualidade possível em que verão suas menininhas moe e pagam um pouco mais caro sem pestanejar nos discos de alta definição, já as segundas se importam mais com o lindo pacote em que esses discos vêm, não importando se DVD ou BD – e algumas vezes nem um reprodutor de mídia em alta definição tem. Assim, mesmo animes recentes Kuroko no Basket e Magi vendem mais no formato DVD.

Também devemos considerar os casos de alguns animes que atingem um público grande a ponto de saírem do nicho, como Mobile Suit Gundam Unicorn; ao analisarmos o mais recente volume seis vemos que este em três semanas vendeu 54.905 DVDs e 118.640 BDs – ambos os números impressionantes, também mostram que a velha mídia ótica ainda é responsável por quase um terço das vendas, feitas para pessoas que não parecem se importar muito em ver a obra em uma televisão de sessenta polegadas. E principalmente com filmes este tipo de fenônemo ainda costuma acontecer com uma certa frequência.

Diferenças a parte, para as produtoras cada disco vendido a mais conta – assim, na prática somar as vendas das duas mídias é a maneira básica e certa de se agir.

Semanas e Semanas

Como dito acima, não espere qualquer regularidade na publicação desta seção; se a dificuldade para quem cobre o Oricon [não explicado até aqui, é a empresa que contabiliza as vendas de livros, CDs e muito mais no Japão; não temos um equivalente preciso aqui no Brasil, mas podemos comparar seu trabalho com o do Ibope nas televisões] de mangas é o fato de muitos títulos serem praticamente desconhecidos fora do Japão. O de animes acaba prejudicado pelo fato das produtoras lançarem grande parte dos títulos na última semana do mês – ou seja, em uma semana tem muito mais informação a ser comentada que as vezes na soma das demais.

Também temos o fato de que as vendas dos seis [padrão para animes de 1-cour] ou nove [padrão de 2-cour] discos costuma ficar dentro da margem de erro, sempre com uma pequena queda entre o primeiro e o último disco, mesmo que o anime seja conhecido pelo que aconteça após os primeiros episódios como é o caso de Madoka Magica. O primeiro disco, justamente o com os piores episódios, é o que mais vendeu. Assim, bater na tecla que o quarto volume de uma obra vendeu o mesmo do primeiro, segundo e terceiro é exercício desnecessário; e este fato reduz ainda mais a necessidade de comentários frequentes, quase semanais a respeito do assunto.

Além disto vale notar que geralmente o ranking é liberado em duas etapas: a primeira, que ocorre na Terça-Feira seguinte aos dias avaliados, contém os trinta DVDs e vinte BDs mais vendidos no geral – sim, de animes a filmes, desenhos e musicais, japoneses ou não. Em uma semana mais calma esses dados costumam ser o suficiente; mas quando uma semana recheada de lançamentos, principalmente com algum filme, acontece, os vinte primeiros Blu-Ray são suficientes apenas para as obras mais conhecidas.

Assim, Quinta-Feira sai um ranking maior e mais completo contendo os cem DVDs e cem BDs mais vendidos. Mesmo ainda faltando um ou outro anime mais fracassado, é mais que o suficiente para dissecarmos o atual estado da indústria, o que anda fazendo sucesso e o que não; e dependendo da situação, aguardar este ranking é o melhor a fazer.

Prevendo o Futuro com o Amazon Stalker

A Amazon japonesa é individualmente o lugar que mais vende anime na terra natal deste; e como tem um bom ranking dos cem mais vendidos a respeito de tão específico assunto fica fácil organizar um bot que vasculhe as atualizações feitas de hora a hora pela loja virtual para no final do dia usar essa informação através de um algoritmo para calcular quantas pré-vendas foram feitas ao longo dessas vinte e quatro horas; esta informação é calculada de forma que no final temos pontos de pré-venda com um significado bem simples: a cada ponto apontado por esta técnica, um disco foi vendido.

O algoritmo é complexo [afinal, estamos transformando as vendas na maior loja virtual do ramo em uma previsão de como todos os fatores, que incluem lojas físicas e a procura feita logo após o lançamento, irão se comportar] e sempre está sofrendo necessárias atualizações, mas de alguma forma consegue atingir uma razoável margem de precisão, o que já é excelente e até um pouco assustador, demonstrando que os hábitos de compra dos otakus são regulares o bastante para este tipo de análise ser válida.

Simplificando ao máximo algo naturalmente complicado, existem duas maneiras de analisarmos este ranking: a primeira é observar os pontos já acumulados; a segunda, utilizar um sistema que automaticamente pega a pontuação da última semana e calcula que esta se manterá até o lançamento – para ficarmos em um exemplo concreto, abaixo temos as informações referentes ao Blu-Ray duplo dos primeiros filmes de Madoka Magica a ser lançado em 24/07/2013, com dados coletados em 10/04/2013:

amazon_stalker

Vemos que até aqui tivemos 25.486 pontos acumulados; ou seja, se fosse lançado hoje as vendas saíram nesta magnitude. Mas ainda temos três meses para o lançamento – e pelo cálculo automático a previsão atual de vendas é de impressionantes 235.748 cópias,o que claramente não irá acontecer. Se para lançamentos próximos e animes com recepção sem muitas surpresas esta previsão tem algum índice de acerto, no geral deve-se tomar muito cuidado antes de levar este índice a sério – que o diga Sword Art Online, em certa época com previsão de cem mil cópias vendidas do primeiro volume [chegou, após várias semanas, a quarenta].

Conclusão

Obviamente fizemos neste post um panorama básico pincelando alguns elementos-chave necessários para as análises que virão a seguir e também para o leitor curioso ter a noção básica e razoavelmente precisa de como funciona o mecanismo de vendas de anime no Japão; demais elementos serão expostos ao longo dos demais artigos desta seção e se necessário compilados em artigo posterior.

Claro que um tópico específico como este não afeta o entretenimento buscado por muitos na animação japonesa, mas como as vendas acabam tanto sendo um método confiável de medir a popularidade no Japão quanto de verificar os animes com maiores possibilidades de continuações e derivados, a análise extensiva deste tipo de dado praticamente substituiu os antigos rankings de audiência e é usada por muitos mas sempre intermináveis discussões de meu anime > seu anime.

Assim, este artigo em breve continua em sua segunda parte com a primeira tentativa de análise dos rankings da Oricon relativos a Março/2013, no qual será mostrada a metodologia um pouco diferente da lista-padrão, organizada princpalmente para simplificar o entendimento.

Quer saber mais sobre este assunto? O blog Intoxicação Alimentar tem um belo post a respeito que serve de complemento ao focar com intensidade diferente cada um dos aspectos citados; temos ainda uma muito recomendada série de dois artigos feitos pelo Yuyucow [em inglês] que explicam de forma detalhada o funcionamento do Amazon Stalker e do Oricon. E além disso temos um Anikencast a respeito do tema.

1 – O Minna Suki também aponta o uso da palavra como um trocadilho com manabu [aprender]; assim, os animes que estão abaixo da Manabi Line ainda precisam aprender algo antes que possam ao menos se pagar.

A nova seção do Argama; como as outras, não espere […]

7 thoughts on “Uma Introdução as Vendas de Anime”

  1. posts inteligentes e imparciais,de longe o Argama tem a melhor opinião sobre o assunto de mangas/animes.

  2. Onde eu posso ver as vendas totais de um anime que já terminou?Caso as vendas sejam suficientes apenas para o anime se pagar,não garantindo uma segunda temporada,ela iria depender de como essas vendas irão com o passar do tempo,além dos mangás e produtos licenciados,podendo demorar anos até que seja anunciada?Seria por exemplo,o caso de Spice & Wolf?Ou mais recentemente de JOJO?

    1. Totais de verdade acaba sendo difícil de serem acessadas; o Oricon costuma publicar até rankings anuais, mas só das séries que mais venderam – ou seja, as que ficaram “abaixo do radar” ficam sem um acompanhamento mais adequado.

      Maiores informações sobre vendas passadas estão disponíveis na Anime DVD/BD wiki que é excelente… mas em japonês: http://dvdbd.wiki.fc2.com/

      Uma boa fonte em inglês que cataloga razoavelmente os animes que mais venderam é mesmo o blog do dtshyk, no My Anime List: http://myanimelist.net/blog.php?eid=17532

      JoJo vendeu muito bem, é questão de tempo ser anunciada uma segunda temporada; já Spice and Wolf sempre foi uma série de ganhos razoáveis e não parece valer a pena mais uma continuação.

      1. Eu prefiro o blog do dtshyk,que apesar de demorar um pouco para atualizar(Eu acho,porque Yamato já tem o Vol 4 há um mês e ele só tem até o 2.Mas também deve estar esperando o número estacionar nas vendas),a praticidade dele é muito boa,principalmente para pesquisar números de 1 ano atrás,já o dvdbd wiki é bom para informações recentes(ou muito antigas,a cargo mais de curiosidade é claro),porque o ANN ou o dtshyk são melhores nesse aspectro(ou o ANN tira do bddvd wiki?).

        Que boa notícia saber que Jojo vendeu bem!Só espero que o anuncio seja feito para a Fall ainda(wishful thinkings).E que pena Spice & Wolf ter apenas se pagado( um pouquinho mais),a série é tudo o que Maou Yusha queria ser mas não foi,além de ser da época de ouro do Brains Base.

        O que eu ainda não consigo justificar direito é o caso de Little Busters!,que antes até de começar as vendas dos Bds,já era praticamente certo uma 2 temporada.Seria isso confiança de que ele se pagaria ,para depois obter um lucro maior com Refrain?Ou talvez tenha sido contratual,justamente pelo nome que carrega?

        Origado pelas fontes, e pode ter certeza que elas me serão muito úteis pra ficar especulando números, e ver se anime x terá nova temporada.

        Ps:Que sucesso absurdo Gundam Unicorn faz.Imagino se não estou perdendo algo ao não ter visto a série.

        Ps2:Jinrui ao menos conseguiu um pouco de lucro.Mas infelizmente está longe de ganhar uma 2 temp.

        1. 1 – O dtshyk parece estar é sem tempo/disposição para atualizar tudo aquilo – tanto que as notícias do MAL foram em grande parte “terceirizadas”.

          2 – O ANN [e o MAL semanalmente] usam basicamente o Oricon, o mesmo que irei utilizar daqui pra frente; realmente o diferencial das fontes citadas é compilar de forma efetiva esses dados.

          3 – Sobre LB!: parte “estava nos planos”, parte os primeiros BDs foram lançados antes para testar a receptividade; como deu certo, Refrain ganhou um sinal verde mais definitivo.

  3. Ótimo post, Cuerti. Desconhecia completamente a origem do nome “Manabi Line”, nunca imaginaria que teria se originado num fracasso do ufotable. =OOOO

    Não cheguei a usar stalker Amazon, nem nunca fiz parte da bolsa de apostas que a galera faz, sou muito preguiçosa pra isso. Mas é sempre bom ver artigos bem elucidativos como o seu (e o do Intoxianime). Lembro que quando era um otakinha perdida por aí, custei a entender todo esse processo, que só fui pegar mais ou menos lendo os fóruns do MAL hahahaha.

    1. Obrigada – e como disse, esse é somente uma introdução a uma série de artigos [mensal?] analisando as vendas dos lançamentos. E como sempre, muitos detalhes acabam ficando mesmo para a prática.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *