Kimi no Iru Machi [OVA]

O começo de uma linda história de amor.

Kimi no Iru Machi [Uma Cidade Aonde Você Vive] é originalmente um manga publicado na conhecida revista Weekly Shounen Magazine desde 2008, desenhado e roteirizado por Kouji Seo [Suzuka, manga com o qual compartilha o mesmo universo] que se passa – ao menos em seu primeiro arco – na província aonde o autor nasceu e cresceu, Hiroshima.

E a cidade aonde o protagonista Haruto Kirishima vive é simplesmente um plano de fundo para suas aventuras com um verdadeiro harem – que como sempre é crescente – de garotas loucas pelo seu protagonista-padrão cuja melhor característica é ser simpático, bonzinho. Desde sua paixão por cozinhar até a atenção que dirige a quem gosta, o protagonista é um óbvio espelho do que o público-alvo considera ser neste terreno: o nice guy que deveria estar pegando todas mas não pega por que, enfim, as garotas reais costumam ser aquelas vadias de sempre.

Mas Kimi no Iru Machi está justamente para Yuzuki Eba, principalmente, e algumas outras personagens coadjuvantes depois mostrarem que pelo menos aqui tudo pode ser diferente. Fica para um NA MAG posterior, mas o melhor aqui é sem dúvida o traço exuberante de Seo, que sabe mostrar sua habilidade em grandes quadros de leitura fácil e agradável.

Uma característica presente em muitas adaptações de manga, principalmente de obras em que a arte é boa o bastante, é tornar o traço fácil e/ou genérico o bastante para poder ser assimilado com maior facilidade pela literalmente centena de animadores que acabarão envolvidos com o projeto. E esse é talvez o principal mal que atinge a adaptação animada pelo estúdio Tatsunoko Pro e dirigida pelo competente e promissor Yasuhiro Yoshiura [Eve no Jikan].

Desenhos lindos a parte – porque Ryuusuke Tayama [também de Eve no Jikan] faz um boa adaptação, acima da média do que é produzido hoje em dia, mas que simplesmente não tem impacto – resta ao diretor passar em cinquenta minutos o feeling de uma história muito maior. E Yoshiura faz o que pode para transformar esta história de amor doce mas pobre de sabor como um sonho de padaria em algo que faça sentido ao espectador.

E é assim que conta a mistura de diversas passagens de capítulos algo avançados da história que se resumem na viagem de Haruto a Tokyo em uma excursão da escola – com a então amiga de infância barra interesse amoroso Nanami Kanzaki, entre outros – sendo que o objetivo principal deste é na verdade encontrar Yuzuki, que havia até parado de se comunicar com este.

Encontros e desencontros, assim podemos resumir a série de desentendimentos e confusões até o casal se encontrar no quarto final, que amarra alguns flashbacks sugeridos antes, contando para o espectador novo afinal como aquele casal se apaixonou. E é para este público, as vezes contente com obras boas apenas o suficiente para passar o tempo [e que não ofendam] que o OVA é direcionado.

Funciona? Talvez. A direção em si é boa, faz o tempo passar relativamente rápido, mas a falta de uma base mais forte para a história pode incomodar o espectador mais exigente e a trilha sonora é inexplicavelmente mal-escolhida, com diversas músicas que lembram hentai, ou simplesmente algum romance barato. Seria adequado de Kimi no Iru Machi quisesse simplesmente ser assim, feito para arrancar lágrimas de quem assistisse, mas a adaptação não é assim e o original, menos ainda.

Sim, por que apesar de finalmente estes personagens de Seo ganharem vida, é o leitor de longa data quem ficará mais decepcionado com as decisões tomadas aqui. Sim, é um filhote que tem o pedigree da obra que tanto gosta, mas no processo de adaptação o ritmo que torna o manga – ao menos em sua primeira fase – gostoso de ler se dissipa em prol de contar uma história que faça sentido. Cruel, irônico, mas acontece. O resultado não é ruim, mas também não é bom – é insosso como miojo, feito para agradar a muitos sendo que efetivamente satisfaz a quase ninguém.

Infelizmente somente para fãs de romance shounen – principalmente, um aperitivo de uma eventual série de TV que com um ou dois cour a disposição pode efetivamente contar algo que faça sentido e quem sabe ser melhor que o original – o que já aconteceu nesta área com o já esquecido Hatsukoi Limited.