Accel World

Irônico [ou será que não?] o fato de um anime que conta a história de um jogo/mundo de realidade virtual ser melhor apreciado justamente quando se desliga o cérebro.

Accel World, animação em vinte e quatro episódios animados pelo estúdio SUNRISE dirigida por Masakazu Obara [My-HiME, My-Otome] e baseada na série de light novel escrita por Reki Kawahara [o mesmo de Sword Art Online] e desenhada por HIMA conta a história de Haruyuki Akita, desenhado caricaturalmente como um gordinho muito do pequeno e perdedor e tímido que claro, um belo dia receberia a visita de sua fada madrinha, da Princesa Negra de Neve [Kuroyukihime], que o introduz ao mundo acelerado, Accel[erated] World em inglês que dá o título ao anime.

E é através do programa Brain Burst que a rede virtual Neurolinker, utilizada por este essencialmente como uma fuga da realidade – se bem que seu avatar aqui era, erm, um porquinho – vira um campo de batalha no qual agora com um avatar alto, magro, metálico e, veja só, com asas que é chamado de Silver Crow. Sim, no fundo Accel World é uma light novel de ação, sendo eficiente em misturar todos os clichês do gênero, todas as fantasias do público-alvo deste tipo de livro fácil, com certa porradaria que, bem-adaptada por Obara, torna a obra agradável.

Infelizmente a única parte do roteiro que funciona é a construção do mundo, porque o enredo e principalmente os personagens são simplesmente repetições mornas de clichês e esteriótipos já vistos inúmeras outras vezes, em inúmeras outras obras. Protagonista [muito] perdedor, amigo de infância com o qual pode contar para tudo [depois, claro, da fase inicial aonde é o pseudo-vilão], amiga de infância que no fundo você sabe e claro, o grande fetiche da lolita em forma de borboleta que vem para fazer par romântico com nosso porquinho.

Um parágrafo para Kuroyukihime porque ela merece: da voz da novata Sachika Misawa [que inclusive canta o segundo encerramento da série] ao character design transposto para a televisão por Yukiko Aikei, tem o tom certo de tsunderismo e a dose de heroína necessárias para ser uma personagem favorita entre os fãs. Talvez o melhor que tivemos nessa série.

Tá, não, o melhor é realmente como este mundo parece ser bacana – mesmo que bizarramente o senso de perigo seja praticamente zero, afinal não há qualquer consequência mais grave para quem não consiga mais usar o programa – dos designs dos personagens em suas versões aceleradas [melhor, mecanizadas] ao trabalho que a Sunrise fez aqui [e de forma mais completa em Kyoukai Senjou no Horizon] para tudo ficar bonito, diferente [na medida do possível para algo, bem, genérico], integrado – afinal, neste ponto a suspensão de descrença mantém-se intacta.

Do mundo real, feito no padrão atual de anime, ao do Brain Burst, aonde as cores parecem literalmente querer sair da tela, Accel World traduz as palavras em belas imagens, em cenas de ação que em grande parte não parecem saídas de livros mecânicos aonde as pessoas falam muito e batalham pouco. Empolga e diverte, porém não muito mais do que isso.

As cenas de ação são bem montadas, e o orçamento acima da média é bem-utilizado a favor do espectador. O ritmo também ajuda para quem assistir mais um anime; semanalmente e ainda mais vendo tudo de uma vez, os vinte e quatro minutos semanais passam rapidamente, sempre em doses mastigadas de algo que tem seus momentos ruins mas nunca chega a ficar realmente chato. Mesmo no começo, aonde após os dois primeiros episódios temos alguns arcos não muito inspiradores.

Provavelmente o autor tenha melhorado com o tempo, talvez a equipe responsável pelo anime tenha pego o ritmo mais tarde, mas claramente o segundo cour é superior ao primeiro, por colocar um vilão – mesmo que patético, horrendo – que realmente confronte os personagens e torne as coisas mais interessantes. Com também um tempo maior para resolver a história, o enredo tem mais tempo para se desenvolver sem ficar ainda mais preso a clichês do que já é.

E sobre este, hora de falar do que deve ter incomodado a muitos: Accel World é uma história feita na medida para satisfazer os desejos do otaku japonês, como diriam em inglês, ser wish fulfillment. No fundo você é o gordinho loser que de repente encontra a borboleta gostosa que te convidará para jogar um videogame aonde poderá ser forte, superar seus medos e pegar as gostosas. E só.

Claro que a série toca em certos pontos como bullying e isolamento, mas sempre através de uma perspectiva alienadora que sussurra no ouvido do espectador, convidando como uma sereia a permanecer no mundo virtual, aonde sim, tudo é mais gostoso – e aonde inclusive poderemos resolver os problemas do mundo real. Uma perspectiva assustadora ou simplesmente entretenimento? Você decide.

Resumindo, Accel World é uma experiência pra lá de mediana que vale pela ação, pelo esforço dos animadores e da direção para fazerem uma obra bonita e pela construção do mundo que mesmo não sendo um primor funciona|: enfim, um anime no melhor estilo To Aru Majutsu no Index feito mesmo autor do Sword Art Online. Se personagens absolutamente clichês com motivos idiotas e uma temática algo alienadora não te incomodarem pode ser um bom passatempo. Não é ruim, mas também não é bom – é mais na medida para o que atual público japonês deseja.

Irônico [ou será que não?] o fato de um anime […]

6 thoughts on “Accel World”

  1. Até que valeu a pena assistir está serie até o fim. Ela começou razoavel, virou um lixo, voltou a ser razoavel e terminou muito boa! (está oscilação me lembra SAO)
    Tecnicamente, uma segunda temporada já seria bem vinda… até porque tem muito mais intriga a frente e pelo que já vi, o que vem depois é bem melhor!
    O ponto positivo realmente fica a cargo da Kuroyukihime (ela tem muita presença de espirito) e da produção da Sunrise, que mais uma vez, não me decepcionou como estudio.
    Mas como voce disse, não passa de algo mediano…

  2. A melhora na segunda parte do anime e a ajuda de uma temporada fraca reforçaram as qualidades do anime. Só acho que, como em Sword ArtOnline a história deveria ser melhor trabalhada, tendo mais batalhas do que a falação.

  3. desculpe ao autor, mas é o pior texto que eu já li no argama. Não com relação ao contéudo e sim com a escrita pois li umas 3 vezes a mesma parte e ainda estou em dúvida se é o protagonista que se transforma de avatar de porco para um avatar fodão ou se é a kuroyukihime. Sem falar do último paragrafo x.x

    1. Acho que deixei claro o _este_ que indica o protagonista [Haruyuki] que afinal se transforma em Silver Crow.

      No mais, obrigado pela crítica construtiva e o último parágrafo tava realmente um lixo; assim, refraseei-o de uma maneira que espero que seja melhor.

  4. Bem .. acho que as criticas feitas foram todas pautadas na opinião do autor e só.
    Eu gosto muito do anime e da história que ele propõe, mas também vejo que o andar do enredo é muito lento sem saberem como aproveitar o tanto de informação que eles mesmo geram. A interação de personagens on/off é a mais explorada para simpatizar os personagens com o público, mas até certo ponto eles erram na medida e arrastam o mesmo tema pra mais de 3 episódios.
    Duas coisas que vejo como erros fatais em Accel. Uma é a liberdade que o mundo online proporciona e toda essa liberdade parece não ter fim. Em como funciona as regras de batalha, utilização de arenas, ganhos através de batalhas e coisas mais detalhadas. Eles apenas fazem o “Burt Link” e é só ser feliz. A outra é o mau aproveitamento dos avatares que os players usam, que só teve um melhor destaque no último episódio do anime. Por serem avatares com habilidades ligadas a traumas, faz com que os seus usuários aprendam a conviver com esse trauma e superar eles. Essa individualidade e a origens das cores dos avatares ainda são mau aproveitados no anime.

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