Você Ainda Assiste Anime Por Estúdio?

XEBEC e AIC, dois estúdios que ninguém se importa, animando “o” OVA de 2012.

Por que até o GAINAX [e Kyoto Animation e SHAFT] erra.

O Brain’s Base, um dos estúdios mais hypados da atualidade, e seu Sengoku Collection.

Um dado dos mais básicos que temos acesso sobre o método pelo qual animes são produzidos é o de que os estúdios de animação japoneses possuem, assim como o sistema clássico americano [no qual os grandes estúdios como Metro, Universal e Warner criaram respectivamente Tom & Jerry, o Pica-Pau e o Pernalonga], dá toda uma liberdade artística que permite os estúdios terem uma marca e estilo próprio. Assim a Tatsunoko e a Toei tinham identidades diferentes e assim surgiram [Nippon] Sunrise, GAINAX, Production I.G., BONES e mais recentemente Kyoto Animation e SHAFT.

Cada qual com seu estilo, foco e certos talentos que podem ser imediatamente associados a determinado estúdio [de Yoshiyuki Tomino no Sunrise até Akiyuki Shinbo no SHAFT], e até certa consistência no trabalho de alguns – é de se notar como até Mahoromatic o currículo do GAINAX é surpreendentemente autoral e sempre avaliado de forma positiva pela crítica – logo eleger estúdios de animação bons e ruins passou a ser uma forma fácil de escolher o que assistir. Se é BONES, é bom.

Pena o mercado da animação japonesa nunca ter sido grande e/ou organizado o bastante para ter permitido isto a uma empresa; ao menos normalmente, já que certos casos existiram e existem justamente para confirmar esta exceção na regra. Geralmente talentos apoiados no sucesso de algo como DAICON IV [GAINAX] ou Akai Koudan Zillion [Production I.G.] ou mesmo o clássico Cowboy Bebop [BONES, tanto que o filme da série é a primeira animação do estúdio] conseguem respaldo suficiente das produtoras para poderem bancar seu projeto de independência.

GAINAX quem?

Mas mesmo isso diluiu-se com os anos, afinal os dois principais motivos para por décadas existir espaço para novos e inovadores estúdios terem praticamente acabado: o primeiro, o fato do número de estúdios existentes no passado não serem o suficiente para atingir o número de saturação, foi aniquilado pela facilidade que principalmente o digital trouxe para a animação japonesa; o segundo, o verdadeiro boom otaku do começo dos anos 2000 que pode ser simbolizado na imensa ambição do estúdio GONZO acabou, e isso pode ser amplamente simbolizado no que aconteceu com o manglobe.

Estúdio fundado por pessoas que saíram do Sunrise, conseguiu realizar ainda em tempos de alta uma trinca de animes elogiados pela crítica e ignorados pelo público [o que “importa”, o japonês que compra discos] que o capacitou como o novo queridinho de muitos fãs mais cult de anime. Sim, Samurai Champloo em 2004, Ergo Proxy em 2006 e Michiko e Hatchin já no começo de 2008 não é algo que possa ser esquecido tão cedo. Porém, o dinheiro começou a faltar e o resultado foi bem simples:

Sim, Seiken no Blacksmith. E as duas temporadas de The World God Only Knows, filme de Hayate no Gotoku!, adaptação de Visual Novel, enfim, entrou no mesmo jogo que todo mundo faz. No fim, ninguém mais se importa.

E o mesmo acontece com os mais antigos entre os estúdios citados acima, que tiveram mais tempo para errar, para perder a sintonia com a atual geração de fãs de anime – de Medaka Box na GAINAX a Guilty Crown no Production I.G., qual o sentido de elogiar a boa técnica de estúdios já sem nenhuma proposta consistente que permeie seu acervo? É claro que mesmo estes ainda tem seus Panty and Stocking with Garterbelt e Higashi no Eden para mostrar o porquê seu passe vale mais que os outros, mas não é algo que justifique qualquer fidelidade a estúdio.

Assim, sobre Kyoto Animation e SHAFT, escolas algo artesanais e ainda surfando no sucesso causado por ter um diferencial em sintonia com que o público quer, outro trunfo presente nas mãos deles é o fato de não querer crescer – ao menos não em quantidade. Um projeto por vez e até mesmo alguns hiatos são necessários para manter o nível de qualidade e sobretudo a assinatura típica que caracteriza o que sim, podemos chamar de marca.

Diferente dos J.C.STAFF e Studio DEEN que tantos odeiam – sendo que o primeiro nos deu de Nodame Cantabile a Utena, o segundo de Higurashi a Rurouni Kenshin – e cujo ponto fraco é trabalhar com projetos demais. Mas isso é necessário para termos esse número alto de animes produzidos anualmente, nesta fábrica incessante que segue a Lei de Sturgeon. Sim, 90% dos animes é lixo.

Progressive Animation Works, o seu moe de sempre com uma camada extra de verniz nos cenários.

E o fato da grande novidade tratando-se dos bastidores da animação japonesa nos últimos cinco anos sobre o tema ter sido a ascensão do braço da Sony para produção de anime [ANIPLEX] com seu estúdio, o A-1 Pictures [Ano Hana, Ao no Exorcist, Fairy Tail] representa um péssimo sinal para essa cultura. Formado a base de equipamentos modernos e muito dinheiro aliado a diretores contratados para projeto-a-projeto [como Tatsuyuki Nagai para o primeiro e Tensai Okamura para o segundo], acaba representando a hegemonia total do dinheiro à cultura de centros de excelência de animação. E você ainda olha o estúdio antes de ver o staff/elenco de dubladores de um anime ou fica com medo porque o J.C.STAFF vai adaptar Little Busters!. Quem sabe não acaba sendo um dos grandes animes de 2012?

Cabe, em um Post Scriptum, dar um parágrafo a Casa dos Loucos, ao MADHOUSE, pau pra toda obra e que tanto nos deu. Das primeiras temporadas de Beyblade a Card Captor Sakura, de Beck a Kaiji, de Death Note e NANA a Chaos;Head e HUNTERxHUNTER [2011]. Lar dos melhores diretores da atualidade, Mamoru Hosoda e Masaaki Yuasa, e que abrigou toda a obra do já mitológico Satoshi Kon. Grande, ousada e complexa, fez de tudo, possui um acervo de obras que são contribuição inestimável a animação japonesa, mas mesmo na genialidade soube ser caótico, sem qualquer fio condutor. Cada um fez o que quis até a venda do estúdio – sim, por problemas financeiros – a emissora de televisão NTV.

Mais um sinal do fim de uma era? Talvez. Mas a lição aqui é que o que importa é acima de tudo os animes – e que na divisão entre os bons e os ruins o método que consiste em escolher o que ver [e o que não ver] pela casa que animou pode não ser o melhor. As vezes, nem sequer é bom o bastante.

A-1 Pictures, nossos novos mestres.

Por que até o GAINAX [e Kyoto Animation e SHAFT] […]

3 thoughts on “Você Ainda Assiste Anime Por Estúdio?”

  1. Acho que hoje a maioria das pessoas prefere escolher um anime por estúdio por causa da falta de tempo.Não temos tempo para fazer tudo que queremos por causa da superlotação de conteúdo:precisamos estudar/trabalhar(os dois as vezes),ler livros e revistas,fuçar um pouco(muito?) nas redes sociais,acessar sites,blogs e fóruns,ler mangas e ver animes.Tudo isso,claro,sem perder a tão honrada vida social e sem ter de acabar com as olheiras iguais a de um panda por causa de poucas horas de sono.Escolher animes por estúdio foi a solução achada para não ter de conferir todas as obras,uma por uma,lançadas a cada temporada.Claro que também é preciso ficar atento a opinião de outros fãs,assim corremos menos risco de perder as pequenas surpresas que de vez em quando brotam por aí.

  2. Já sofri demais com hype de novos projetos. Estúdios continuam se vendendo ao demônio das adaptações.

  3. Posso estar sendo desleixada, ou simplesmente seja simplista, mas escolher um anime por estúdios nunca me pareceu ser uma coisa muito importante, claro que ajuda, mas não vou deixar de ver uma coisa que em que me interessei pela sinopse ou pelo trailer só porque é de determinado estúdio e não de outro. Se me interessei, começo a ver, pode dar certo, pode dar errado, mas ninguém sabe neah! 😉

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