A primeira – e talvez melhor – das prováveis três temporadas da adaptação de desde já um dos mangas icônicos da Shounen JUMP.
Bakuman. é uma série que já nasceu com imenso hype, afinal é “dos mesmos autores de Death Note”, um dos grandes sucessos no mundo dos mangas na última década. O manga sobre dois ginasiais que decidem formar uma dupla de mangakas tal como os autores da obra [que dividem as tarefas, sendo um roteirista e um desenhista] foi sucesso instantâneo no segundo semestre de 2008, quando estreou na famosa Weekly Shounen JUMP.
Pouco mais de dois anos depois chegou o anime, bancado pela editora do manga, Shueisha [em parceria com a concorrente Shogakukan] e pela emissora estatal japonesa, NHK, ocupando o horário onde acabara de terminar a sexta e última temporada do manga de beisebol Major – sendo que o diretor de Bakuman, Keniichi Kasai, também foi o diretor das três primeiras temporadas daquele – portanto, quem criou a fórmula a ser seguida pelo restante da série.
A primeira série de adaptações de 25 episódios cada começa com o único momento de destaque do ponto de vista técnico que é a bela abertura de Chou Hero Densetsu [A Lenda do Super-Herói], anime baseado no manga do tio e referência do co-protagonista Moritaka “Saikou” Mashiro, que é cantada pelo veterano Hironobu Kageyama. Logo em seguida vemos o verdadeiro traço do anime, que é uma imitação algo eficiente mas claramente barata do estilo de Takeshi Obata com alguma movimentação somente quando necessário. Previsível a dificuldade de manter o traço de um excelente artista, mas o baque é razoável – e o J.C.STAFF acaba dando uma sensação de genérico neste quesito ao anime.
A abertura de verdade tem uma bela música, “Blue Bird” [Pássaro Azul] – que na segunda metade tem sua segunda parte executada como tema [sendo que a animação é quase toda trocada] –, e que é cantada por Kobukuro, que em 2009 emplacou a abertura de Cross Game, anime baseado em manga de beisebol de Mitsuru Adachi. A sequência de noventa segundos mostra o forte do diretor: animes focados em boa ambientação e bons personagens – e assim podem ser definidos certos trabalhos deste como Aoi Hana e a Primeira Temporada de Nodame Cantabile. E são justamente esses dois fatores o calcanhar-de-aquiles de Bakuman. até aqui.
A sinopse é até simples, mas o talento do roteirista Tsugumi Ohba em passar um número grande de informações por capítulo sem que este fique tedioso e criar situações que mantenham a trama sempre em alto e constante movimento é digno de nota – e a parte que foca na produção de um manga, seus bastidores e demais temas relacionados a este universo é notável – um dos pontos fortes do anime até aqui é justamente a conversão desses mangas fictícios. E o clima do manga só ressalta estas qualidades.
Já no anime temos a tentativa deste aproximar-se mais de algo como Major ou Cross Game – principalmente no aspecto aqui empobrecedor de manter um ritmo calmo demais. Quando começa a música de encerramento, alguns segundos antes da animação, não há muita vontade de saber o que vai acontecer no próximo episódio – sendo que em parte significativa dos episódios não ocorrem cliffhangers [até porque com esse ritmo morno, apesar de contínuo rumo ao objetivo, a existência destes picos seria algo deslocado do restante da obra e soaria de certa forma falso].
E isso ocorre porque o encaixe de uma estrutura que lembra a citada primeira temporada de Nodame Cantabile não é a mais adequada para uma obra como Bakuman.. Perde-se o feeling do manga, muito intenso e que comprime em dezenove páginas semanais grande quantidade de informação que aqui é explorada vagarosamente em quase um episódio. E o fator pelo qual um Nodame Cantabile ou Major ou Cross Game foram efetivos no original e nas adaptações em animação com estrutura similar a encontrada aqui é algo que o manga de Bakuman. não possui: bons personagens.
O quarteto principal funciona se pensarmos como esteriótipos com somente algum refinamento feitos para o enredo seguir em frente; mas ao analisarmos efetivamente como personagens, são absolutamente sem carisma. Tanto que literalmente a cada novo personagem que aparece a posição deles torna-se pior – o elenco secundário não chega a ser bem desenvolvido [ao menos por ora], mas Eiji, Hattori ou Fukuda são personagens que fazem pensar que talvez seria mais interessante estar lendo um manga sobre suas vidas em vez da dos protagonistas. O conceito de romance adotado na série é particularmente patético [e acabou gerando no fandom brasileiro uma imensa discussão se a obra é machista ou não], e as personagens femininas especialmente mal desenvolvidas – aliás, a Miyoshi Kaya contenta-se a ser apenas uma cheerleader da dupla com certa facilidade.
E é este fator que, com finos ajustes e alguns toques, o diretor dá certo foco na série. Esta mostra mais a Miho que no manga e é somente no episódio final que temos certo desenvolvimento executado de forma satisfatória. Assim como em Nodame Cantabile [convenhamos que o final da primeira temporada consegue ser mais satisfatório que o da terceira e última], temos um belo episódio – claro, tivemos inúmeras dicas jogadas ao longo da série sobre isso – que transforma um momento importante no manga no momento em que a série poderia simplesmente acabar deixando razoável dose de satisfação no espectador. Mas claro que somente é a primeira grande parada, rumo a objetivos maiores ainda – e os minutos finais conseguem ter o grande cliffhanger da série.
O saldo até o momento? Temos uma produção até sólida – e na medida para agradar o público deste lado do mundo -, mas que precisa encontrar um formato melhor – e de preferência próprio – para brilhar. A adaptação fiel do bom conteúdo do manga esbarra no feeling sobretudo diluído da série – sem necessidade, tanto que a terceira e última temporada terá que correr para cobrir a história – e na estrutura que serve bem há obras baseadas em bons personagens, o que não é o caso de Bakuman. Já o traço é um ponto que não deve mudar daqui para frente – é questão de acostumar-se a um trabalho que evoca Hatsukoi Limited [afinal, ambos baseados em mangas da JUMP e animados pelo J.C.STAFF com traço até similar o do original, mas cuja diferença é nítida].
Interessante análise! E, pensando no que você falou, seria bem bacana se o foco fosse no Eiji ou no Fukuda… Mas, se muitos dizem que Ohba é um gênio, ele pode ter feito isso de propósito, não? Digo, deixar os secundários mais interessantes do que os próprios protagonistas… mas com que razão? Argh! Que confuso lol
Confuso? Pra mim é simples. Ohba não é tão genial e acaba inventando demais. É um dos meus mangakas preferidos (talvez um dos meus autores em geral preferido), mas tem muitos problemas. Ele peca na simplicidade e acaba inventando coisas desnecessariamente “inovadoras”.