Cinco Bons Filmes de Anime

Cinco dicas de bons animes que também são bons filmes, contando boas histórias no exíguo intervalo de noventa a cento e vinte minutos tão característico dos longas animados japoneses.

Angel’s Egg [Tenshi no Tamago]
1985, Studio DEEN, 71 minutos

Era pra entender?

Bonito começar o artigo com uma obra que podemos chamar de média-metragem, mas Angel’s Egg é icônico o bastante para furar o bloqueio e entrar na lista. Icônico, diferente, bizarro e ininteligível.

Mesmo assim, a parceria de ouro feita entre o diretor Mamoru Oshii [Ghost in the Shell, Patlabor] e o designer Yoshitaka Amano [Final Fantasy, Vampire Hunter D] é muito válida ao entregar pouco mais de uma hora que basicamente é uma pintura em movimento.

Belas imagens com alguma mensagem por trás [ou não] que são muito eficientes em construir todo um clima calculado e pesado [e a trilha sonora de Yoshihiro Kanno é simplesmente sensacional] que reflete as opiniões do autor sobre o Cristianismo.

A própria crítica acaba se dividindo quanto a obra, mas com todos os seus defeitos vale e muito como experiência; afinal, até aonde vai a animação japonesa? Se uma década depois Oshii teria em Ghost in the Shell seu trabalho definitivo e maduro para mostrar afinal a que veio, aqui temos um jovem simplesmente fazendo o que bem entende. E isso também pode ser muito bonito.

Macross: Do You Remember Love?
1984, Tatsunoko Productions, 115 minutos

Depois de Space Battleship Yamato e Mobile Suit Gundam finalmente ampliarem o espectro de pessoas dispostas a sim, assistir um desenho animado feito para jovens e adultos – com, na época, muita temática espacial, ficção científica e robôs gigantes na jogada – Super Dimensional Fortress Macross adicionou idols, música e romance em um pacote que sem dúvida foi o primeiro anime de sucesso a acenar para um público mais hardcore que seria posteriormente chamado de otaku.

E o grande sucesso da série de TV, estendida dos originais 2-cour [27 episódios] com dez episódios adicionais de um arco final de feeling diferente do restante da série – e sim, ainda mais focado nestes fatores novos, tivemos o lançamento, dois anos depois, do remake cinematográfico que praticamente é a versão definitiva de Macross, reunindo tudo que este tem de bom em um pacote meticulosamente bem amarrado por Noboru Ishiguro em quase duas horas de duração.

Nesta história oficialmente considerada um filme feito no próprio universo da franquia recontando de forma romanceada os eventos presentes naqueles 2-cour originais temos a mistura perfeita dos três elementos básicos que sustentam a franquia [mecha, música e romance] entregues com uma parte técnica arrebatadora e que quase trinta anos depois ainda impressiona – e que finalmente em Julho de 2012 chega em toda a glória do Blu-Ray nas lojas japonesas.

Mas não é só confete que sustenta o filme que junto com Kaze no Tani no Nausicaa foi a obra que encerrou a fase inicial do surgimento do otaku no Japão [como bem retratada no primeiro OVA de Otaku no Video] e sim o fato de ser cativante, divertida, ambiciosa e bem, completa.

Claro que é puro entretenimento e a mensagem transmitida na longa música que dá o título a obra é a de um amor idealizado, entre as raças que se duelam no belo clímax e também entre os protagonistas deste romance feito para um público-alvo masculino, mas Macross: DYRL consegue bater em seu liquidificador a perfeição os ingredientes do sucesso, que fazem uma obra obrigatória – e linda. Uma experiência visual e audio-narrativa – e que não deixa cair a pataca em um único segundo; de novo, mérito de um dos melhores diretores de anime que existiram.

Meitantei Conan: Shikoku no Chaser [Filme 13]
2009, Tokyo Movie Shinsha Entertaiment, 111 minutos

Quem disse que filmes baseados em grandes franquias não podem ser muito bons?

Este décimo terceiro filme baseado no conhecido manga e anime Detective Conan tem o mérito de tanto ser apaixonante para o fã de carteirinha da série [afinal, é uma rara história contendo a tão querida Organização Negra, além do número gigantesco de outras aparições presentes] e ao mesmo tempo ser um dos melhores pontos de entrada à franquia que se poderia ter.

Um grande mistério contado em duas horas lotadas de muita conversa entre o vasto elenco de personagens carismáticos que pontua a série [e algumas adições ocasionais sempre presentes nos filmes], com cenas de ação que são aqui o diferencial para quem vai ao cinema ver Conan; e quando estes elementos, que no papel sempre funcionam, são articulados de forma a também funcionar no resultado final temos um pipoca de qualidade que sem dúvida prende a atenção do espectador.

Neste caso, o mistério não foge muito do padrão de qualidade dos casos mais extensos presentes na franquia – e a presença de toques tipicamente japoneses [como o feriado do Tanabata e o mahjong que acabam sendo utilizados para montar o mistério] bem utilizados adiciona certo charme especial para você, fã do Japão como um todo.

Mas são os personagens, muitos, presentes, carismáticos e bem-explorados, e o ritmo preciso que a obra adota para entregar sua mistura explosiva e acessível para o espectador comum que realmente chama a atenção de quem assiste – claro que a cena final acaba quebrando o senso de realidade, melhor, de suspensão de descrença que em finíssima camada acaba tornando essa série tão especial para muitos de seus fãs, mas temos um divertido clímax em um filme que sem dúvida vale o ingresso para quem estiver disposto a experimentar uma das franquias mais famosas da animação japonesa. Não, não temos uma obra especial, algo que podemos chamar de arte, mas sim entretenimento de qualidade em uma forma que foi surgir justamente no Japão.

Mimi wo Sumaseba [Whisper of the Heart]
1995, Studio Ghibli, 111 minutos

Sem dúvidas temos aqui o filme mais peculiar do Studio Ghibli, especial como uma caixa de música – e que tristemente também indica o que poderia ser uma espetacular carreira de uma grande promessa da animação japonesa que infelizmente morreu tendo deixado somente este filme como seu legado.

Porque sim, Yoshifumi Kondo era considerado por muitos a pessoa que iria suceder Hayao Miyazaki como o principal realizador do Studio Ghibli – e aqui mostra seu talento ainda algo cru mas cheio de um charme que muito tem das características que identificamos com o estúdio em si mas também cheio de uma aura charmosa e própria, na medida para contar este enredo de filme em live-action.

Em uma cidade pequena, a menina altiva e com um quê de moleca típica dos filmes do estúdio viverá uma história de descobrimento, tanto do primeiro amor quanto do que quer para sua vida – sim, é um coming-of-age, uma fábula de amadurecimento para a idade adulta cujo destaque é a primazia na execução de um roteiro daqueles simples mas que sabem ser eficientes.

Porque ao contrário de muitas obras do gênero os personagens são muito carismáticos sem que seja necessária a utilização de um dos inúmeros truques de roteiro de sempre; este é construído por Hayao Miyazaki e levado a tela por Kondo de uma maneira sutil e cadenciada que graças ao talento dos envolvidos [e claro, a benção das Musas] torna-se uma obra especial, delicada, japonesa – e decidida nos detalhes, no não-dito.

Uma obra com o velho e conhecido pedigree do Studio Ghibli com o diferencial por ter sido dirigida por um membro de uma geração posterior a Miyazaki e pelo tema, um verdadeiro conto de adolescência, ser tratado de uma maneira ao mesmo tempo mundana e ímpar. Mais real que muito dorama, consegue demonstrar que mesmo no estúdio de animação que por excelência encarna a faceta fantástica da animação japonesa é possível termos uma obra esplendidamente charmosa e humana.

Mind Game
2004, Studio 4C, 105 minutos

A estreia de Masaaki Yuasa na direção de um anime pode não ser a melhor [Yojou-han Shinwa Taikei, 2010] ou a mais estranha [Kaiba, 2008] mas sem dúvida é a obra mais intensa deste. E para contar esta história que nunca teve um fim os primeiros vinte minutos do filme são calmos e até meio chatos, parecendo não levar a lugar algum. Mas a introdução dos personagens é necessária e lidada de forma até interessante; e quando menos se espera, BAM!, a história termina. Ou começa.

É clichê dizer que tal história foi feita “no ácido”, mas é exatamente a sensação que Mind Game entrega a seu espectador. Se o efeito buscado no uso de entorpecentes é termos os sentidos aguçados, Mind Game nos fornece exatamente esta sensação através de imagens. Para isso, permite-se arriscar misturando live-action [mesmo sendo basicamente uma animação, o protagonista é tanto um desenho quanto sua versão em carne e osso] na mistura, além de cada frame desenhado focar para um resultado mais do que bonito, intenso.

Claro que o roteiro é redondo [e a estrutura é até bastante simples], mas o que realmente impressiona aqui é a energia criativa do então novato diretor para entregar um belo de um resultado. Há certas cenas antológicas, mas o que realmente importa aqui é o resultado para o qual somos levados tão confortavelmente que nem parece que se passaram quase duas horas de filme.

Mind Game é sim especial e é mais uma daquelas obras de arte que mostram porque o Japão é destino obrigatório para qualquer um que se diga fã de animação. Está longe de ser perfeito, mas é uma combinação vencedora e principalmente única que vale ser vista – principalmente em um dia depressivo, já que a poderosa mensagem é justamente a de que com força de vontade tudo é possível. Clichê, sim, mas entregue de uma forma que você não esperava.

Cinco filmes mais óbvios e mesmo assim obrigatórios? Que tal conferi-los neste artigo similar feito no Chuva de Nanquim?

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4 thoughts on “Cinco Bons Filmes de Anime”

  1. Conheço todos, mas só vi Mind Game, filme que retriplo a recomendação, uma das experiências mais diferentes que tive vendo um filme e uma animação. É incrível e até difícil de recomendar por ser tão indescritível.

    Bom, vou guardar as recomendações muito bem aqui (Angel’s Egg já é próximo na lista)

  2. Melhor filme de Detective Conan, sem dúvida nenhuma. Os outros da lista só ouvi falar, mas ainda não tive tempo de baixar e assistir.

  3. Estou começando a criar o habito de assistir filmes nos finais de semana e ter uma lista como essa é de certa forma de alguma ajuda. Os que me chamaram atenção foram Angel’s Egg que pelo jeito valoriza tudo o que eu valorizava no começo que pelo passar dos anos acabou mudando, e Mimi wo Sumaseba que é algo aparentemente bem mais perto do meu gosto para filmes animados feito no Japão.

  4. Boas animações
    1) Toki wo Kakeru Shoujo
    2) Laputa
    3) Summer Wars
    4) Hoshi wo ou Kodomo
    5) Cowboy Bebop movie

    Mimi wo Sumaseba, Gedo Senki, The sky crawlers são ótimos também ^^

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