Seiyuus: Como Surgiram, O Que Fazem e Como Ficaram Tão Populares?

Olá pessoas, como estão?

Antes de tudo, devo me apresentar caso vocês ainda não me conheçam. Eu sou o Leo-Kusanagi, fanboy da Mizuki Nana, Perfume e AKB48 e dono do blog Mithril. onde comento não só sobre as minhas fanboyzises como também cultura japonesa em geral, geralmente voltada para alguns nichos desta cultura.

Sou um dos parceiros do blog Nahel Argama e se tem algo que eu gosto no Japão além dos animes e dos mangás é a capacidade que o país do sol nascente tem para criar fontes de entretenimento e consumo que não existem em nenhum outro lugar do mundo inteiro ou, se existem, não chegam nem perto da loucura que são tais coisas em terras nipônicas.

Neste post especial para o Nahel, lhes contarei um pouco mais sobre uma das vertentes da cultura japonesa que tem se destacado cada vez mais nos últimos anos, os seiyuus. Seiyuu pode ser traduzido livremente como dublador e na teoria, eles fazem basicamente o mesmo que os dubladores brasileiros ou americanos fazem, mas lembrando do que falei no parágrafo anterior, no Japão tal profissão atinge níveis épicos e lá os seiyuus hoje em dia são considerados verdadeiros ídolos não só na dublagem, mas também no mercado musical e no da moda.

Para falar do que acontece hoje em dia, devemos voltar algumas décadas e explicar como é que oS seiyuus foram evoluindo junto com o Rádio e a TV até atingirem o seu ápice de popularidade depois dos anos 2000. VEM COMIGO, CHAMPS e bem-vindo ao mundo espetacular dos seiyuus japoneses.

As origens e a ascensão inicial da profissão de seiyuu no Japão

A profissão de dublador no Japão é muito antiga. Ela surgiu junto com as transmissões de rádio na década de 20 quando a NHK começou a transmitir novelas, foi dai que surgiram não só os seiyuus como também os doramas, mas este ultimo é papo para outra ocasião. A palavra “Seiyuu” (声優) é derivada de “Koe no Haiyuu” (声の俳優) que significa ‘ator de voz’ e assim como acontece no Brasil onde muitas pessoas não consideram, ou não sabem que dubladores também são atores, os seiyuus japoneses até meados dos anos 70 também sofriam com tal confusão por parte das pessoas.

Uma das formas escolhidas para “separar” os atores tradicionais dos atores de voz foi usar o tal termo seiyuu para denominar aqueles que apenas emprestavam a sua voz a personagens ou faziam narrações. O termo ganhou popularidade entre o público a partir de 1974 com a exibição do anime Space Batteship Yamato onde a palavra que antes era apenas para fins de conversão acabou sendo adotado em larga escala, inclusive pelos próprios seiyuus para denominar todos aqueles que emprestavam a sua voz para algum personagem ou faziam narração, seja no rádio ou na TV.

A década de 70 foi importante não só pela consolidação do termo, mas também pelo surgimento do primeiro grupo musical composto unicamente de seiyuus, o Slapstick, que tinha como integrantes Akira Kamiya, Tooru Furuya e Toshio Furukawa, considerados lendas da dublagem japonesa até hoje. Eles foram praticamente os pioneiros nessa expansão dos seiyuus para o mercado fonográfico, o que abriu portas para diversos outros seiyuus tentarem a sorte como cantores além de dublar animes e filmes.

Ainda nos anos 70, mais precisamente em 1978 nascia a Animage, considerada a primeira revista da história totalmente voltada à animação japonesa. Na época que a Animage foi lançada, o editor da revista Hideo Ogata, por meio de editoriais foi o primeiro a dar indícios de que os seiyuus poderiam ser algo muito além do que simples dubladores; eles poderiam ser acima de tudo grandes ídolos se tivessem o seu potencial devidamente explorado.

Com a ideia de Ogata dando certo, outras revistas de anime que surgiram nos anos seguintes criaram sessões voltadas para seiyuus dando informações e mostrando coisas relacionadas a eles, aumentando consideravelmente o interesse do público em se inscrever nas escolas de dublagem japonesas. Com isso, pela primeira vez desde que os tempos de rádio, pessoas cada vez mais jovens começavam a se interessar em se tornarem grandes seiyuus, agora sim, visando exclusivamente o mercado de animações e filmes para se tornarem conhecidos.

Nos anos seguintes o “boom” que tais publicações causaram foram responsáveis por uma verdadeira reviravolta no mercado de seiyuus japoneses. As escolas de seiyuus começaram a receber cada vez mais investimentos para especializarem seus alunos criando estúdios cada vez melhores e cursos voltados totalmente para a dublagem de animes, acompanhando o sucesso que as produções japonesas estavam começando a ganhar no final dos anos 80.

Capa da Voice Animage, volume 31, datada de Maio de 2000.

Na década de 90, o conceito de seiyuu transformado em ídolo (idol) já estava praticamente estabelecido nos meios de comunicação e isso fez com que mais pessoas fossem atraídas para este mercado. Com isso começaram a surgir novos nomes que ficariam conhecidos não só pelas suas dublagens, mas também por suas músicas, pois o papel de um seiyuu na época não era simplesmente dublar os personagens, mas também cantar as músicas da série e participar de eventos e convenções de anime.

Nomes como Megumi Hayashibara surgiram nesta época, tendo alcançado um sucesso estrondoso devido a seus papeis e a suas músicas. Megumi é considerada uma das grandes lendas da dublagem japonesa dos anos 90, pois muitas seiyuus femininas começaram a seguir o seu exemplo se tornando cantoras.

Nesta época começou a se tornar cada vez mais comuns seiyuus aparecerem em programas de variedades japoneses, além de fazerem participações especiais em outros meios da mídia. A busca por informações de seus seiyuus preferidos se tornou recorrente entre os fãs de animação na época e com a popularização da internet a partir da segunda metade dos anos 90, isso se tornou mais fácil e acessível graças aos antigos BBSs onde grupos se reuniam para conversar e trocar informações sobre seiyuus e animes.

A profissão com isso começou a se transformar mais uma vez, agora se adaptando às novas tecnologias e usando-as para o seu beneficio angariando popularidade e se expandindo como nunca.

A explosão da cultura japonesa no mundo e a era da internet nos animes

A maioria das pessoas que acompanham animes hoje em dia no Brasil tiveram o primeiro contato com os mesmos na década de 90, com a extinta TV Manchete. Naquela época e durante todos os anos 90, a única fonte para se assistir tais séries aqui ou era na TV ou por VHS. E isso foi se estendendo até meados dos anos 2000 onde os chamados distros de anime vendiam fitas VHS com séries clássicas e animes que foram exibidos no Japão no final dos anos 90.

Após a vinda de Dragon Ball Z pelo Cartoon Network e em seguida pela Band, a cultura japonesa que por alguns anos ficou quieta voltou a ganhar certa notoriedade, o que deu chances de novas séries virem pra cá. Naquela época a grande maioria dos animes que chegavam aqui via TV sempre vinham com suas músicas dubladas. A não ser que você tivesse Locomotion (sdds) era quase certeza que se um anime estivesse vindo pra cá ele seria inteiramente dublado.

O cenário começou a mudar principalmente quando o Cartoon Network começou a exibir Samurai X com as músicas originais japonesas sendo que eu considero este o primeiro grande contato real do público daqui com seiyuus japoneses não só dublando, mas cantando musicas que com o tempo se tornariam marcantes.

Mas se aqui as anime songs só ganharam notoriedade com Samurai X, no Japão elas já estavam se consolidando como parte do cenário musical japonês desde o final da década de 90, onde grupos e cantores começaram a fazer sucesso chegando a se apresentar em clubes e também em arenas de médio porte com músicas de animes, mas também com canções não relacionadas a nenhuma série.

O que nos anos 80 e começo de 90 começava a engatinhar, nos anos 2000 ganhou força e o que antes era apenas esporádico começou a se tornar comum, surgiam então os primeiros grandes cantores seiyuus de sucesso que começaram a ganhar notoriedade fora da cultura otaku.

Megumi Hayashibara, a primeira seiyuu feminina a se tornar um sucesso nas paradas de música no Japão.

Com cada vez mais seiyuus se tornando cantores e revistas especializadas sendo criadas começou a aparecer a necessidade de um selo de música que englobasse toda essa galera que estava surgindo e que por não terem uma carreira totalmente voltada para a música não tinham muitas chances de conseguir contratos com gravadoras maiores como a Avex (que na época havia se tornado a maior gravadora do Japão), por exemplo.

Foi desta lacuna que surgiu a Lantis, a primeira gravadora japonesa que direcionou quase todos os seus esforços para seiyuus japoneses. Praticamente todos os animes do inicio dos anos 2000 tinham pelo menos um artista da Lantis que além de dublar também cantava as músicas da série. Inicialmente contratando apenas seiyuus, a Lantis também começou a contratar artistas novos que não eram necessariamente seiyuus para cantar músicas de anime.

Com esse estilo de administração, a gravadora deu continuidade deixando ainda mais forte o conceito de seiyuu idol criado no final dos anos 80 e alavancou o mercado de anime songs. Agora os seiyuus tinham total suporte de uma gravadora feita quase que exclusivamente para eles e unindo isso ao sucesso que os animes começaram a ter no mundo todo graças à internet, os seiyuus que já eram idols começaram a não só aparecer em revistas ou pequenas apresentações, mas também em eventos e convenções maiores fora do Japão.

Em 2006 a Lantis foi comprada pela Namco Bandai e com a criação da Bandai Visual (braço da Namco Bandai voltado para produções animadas) a Lantis se tornou uma subsidiária da mesma junto de outras duas empresas diretamente relacionadas ao mercado de animação japonesa e anime songs.

Seguindo o exemplo da Lantis outras gravadoras começaram a investir em seiyuus, como é o caso da King Records e a Pony Canyon (que é mais antiga do que a Lantis, mas começou a investir muito mais depois da criação da mesma). Hoje as três são as maiores gravadoras voltadas para o mercado de nicho japonês, porém ao contrário da Lantis, a King e a Pony não são totalmente voltada para isso, eles por serem muito maiores tem diversos artistas que nunca chegaram a cantar anime songs.

Para tornar os seiyuus ainda maiores, em 2005 um projeto grandioso foi anunciado juntando diversas gravadoras que tinham cantores de anime song: o Animelo Summer Live. A mente por trás do Animelo foi Masami Okui, atual integrante do JAM PROJECT que desde os anos 80 canta temas para animes e filmes. Okui (que na época já era membro do JAM) resolveu propor tal ideia para as gravadoras com o intuito de criar um festival de música onde 100% dos artistas seriam cantores de anime songs.

Com um line-up inicial de 14 artistas, no dia 10 de julho de 2005 acontecia no Yoyogi National Gymnasium a primeira edição do “Anisama” tendo sido um verdadeiro sucesso. Nos anos seguintes o Animelo já dava indícios de que estava se tornando cada vez maior sendo que em 2006 e 2007 o concerto aconteceu no Nippon Budokan tendo ganhado ainda mais patrocínio por diversas outras gravadoras e empresas voltadas pra música e animação.

Já em sua quarta edição em 2008, o concerto tomou proporções épicas sendo transferido do Nippon Budokan para o gigantesco Saitama Super Arena. A lista de patrocinadores diminuiu, mas a qualidade aumentou, pois naquele ano Avex, King Records, Lantis e Geneon foram responsáveis pelo evento que pulou de 14 para 34 artistas sendo realizado em dois dias. O evento tornou-se então o maior concerto de anisongs do mundo e foi fundamental para impulsionar como nunca a carreira de todos que participaram. É impossível não ficar ansioso com os artistas que irão se apresentar no Animelo, que acontece todos os anos em julho no Japão.

Aya Hirano e Mizuki Nana. Aya se tornou um sucesso depois de Suzumiya Haruhi e ajudou a popularizar as anisongs no mundo. Mizuki Nana é a seiyuu de maior sucesso da história do Japão tendo alcançado o topo das paradas de música diversas vezes nos últimos anos.

Hoje em dia é extremamente comum no mundo inteiro personagens terem se tornado verdadeiras lendas graças as suas vozes marcantes ou músicas que são símbolos de alguma série. Eu poderia citar aqui diversos artistas que são seiyuus cantores, mas a lista seria tão grande que o post perderia o rumo. No Japão, ser seiyuu ao contrário do resto do mundo não é simplesmente emprestar a sua voz a um personagem, é algo muito além, pois em um país onde praticamente tudo gira em torno do entretenimento, ser um seiyuu de sucesso é algo grandioso e extremamente popular.

É interessante perceber como esta profissão acompanhou a história do Japão durante todo o século 20 e também neste inicio de século 21. A evolução da tecnologia, da expansão cultural do Japão e tudo o que envolveu o país pós-Segunda Guerra foram fatores determinantes para os seiyuus se tornarem o que são hoje: verdadeiros artistas de sucesso que atraem legiões de fãs para concertos em grandes estádios e lotam convenções de anime para os fãs verem seus ídolos de perto.

Para saber mais sobre a maior seiyuu da atualidade, tanto que conseguiu construir paralelamente uma verdadeira carreira como cantora, acesse aqui o artigo sobre Nana Mizuki no blog parceiro Gyabbo!

Olá pessoas, como estão? Antes de tudo, devo me apresentar […]

7 thoughts on “Seiyuus: Como Surgiram, O Que Fazem e Como Ficaram Tão Populares?”

  1. Desculpe, mas mesmo no proprio Japão mesmo Mizuki Nana sendo um fenômeno a maior lenda da dublagem continua sendo Megumi Hayashibara.

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