Nova Queda na Tiragem de Revistas de Manga no Japão

E saiu mais um balanço trimestral da Japanese Magazine Publishers Association [Associação das Editoras de Revistas Japonesas] com a tiragem, no período que vai de Janeiro a Março de 2012, dos conhecidos almanaques que reúnem periodicamente [semanalmente, mensalmente ou em qualquer outro intervalo de tempo predefinido] de forma inédita os capítulos dos mangas que tanto amamos [assim Naruto sai primeiro na Shounen JUMP, Fairy Tail na Shounen Magazine e Gantz na Young JUMP].

Pena que, como há um bom tempo, a notícia a ser dada aqui não é nada boa: lenta mas constantemente as vendas destes periódicos vão lentamente se esfalecendo. Como dito há quase dois anos no extinto Subete Animes, continua a sangria que há tanto tempo vivem essas revistas, impulsionadas por inúmeros fatores: da tão alardada e debatida pirataria até fatos como o crescente e constante envelhecimento da população japonesa e a diversificação do entretenimento portátil [em 1996, tínhamos o StarTAC, o Game Boy – sem cores! – e o WalkMan como opções; em 2010 um iPhone é tudo isso, muito melhor e com diversas novas opções embutidas ao alcance do bolso].

Em menos de três anos a Shounen Magazine foi de 1.614.616 [no terceiro trimestre de 2009] para 1.447.500 exemplares por edição no primeiro semestre de 2012; já a Shounen Sunday, de 745.770 para 540.167, em uma espantosa queda de trinta por cento de sua tiragem. Ainda mais radical é a brusca queda da desconhecida Shounen Rival [aonde foi publicado Monster Hunter Orage] de 100.000 para praticamente a metade, 50.500.

Mesmo a Shounen JUMP anda muito estável em seus 2.837.500 exemplares/edição para sentir-se confortável, isso contando com o sucesso estrondoso de One Piece e a presença de outros pesos-pesados como Naruto, Bleach e HUNTERxHUNTER [mesmo que este último esteja presente de uma forma pra lá de periódica]; sorte que o primeiro está longe, muito longe de acabar, porque o seu fim causaria um baque dificílimo de reverter-se – ao menos nas condições atuais [sendo que o futuro próximo não parece nada animador].

Apesar de termos acima [clique na imagem acima para ampliá-la] uma lista bem completa com mais de sessenta revistas listadas, nada melhor que fazermos uma pequena compilação dos dez almanaques mais vendidos, tanto dos voltados para garotos quanto dos para garotas. Vamos aos números:

Revistas mais VendidasShounen + Seinen [+ Kodomo]

1 – Weekly Shounen JUMP [One Piece, Naruto] – 2.837.500
2 – Weekly Shounen Magazine [Fairy Tail, Air Gear] – 1.447.500
3 – Monthly Shounen Magazine [BECK, capeta, DEAR BOYS] – 743.334
4 – Corocoro Comic [Beyblade, Inazuma Eleven, Pokémon] – 710.000
5 – Young Magazine [Initial D, Kaiji, Minami-ke] – 677.500
6 – Big Comic Original [Monster, Aventuras de Menino] – 664.534
7 – Young JUMP [Gantz, Zetman, Liar Game] – 662.500
8 – Weekly Shounen Sunday [Meitantei Conan, TWGOK] – 540.167
9 – Big Comic [Golgo 13] – 411.834
10 – JUMP SQ. [Ao no Exorcist, D.Gray Man] – 350.000

Revistas mais VendidasShoujo + Josei

1 – Ciao [Hamtaro, Utena] – 635.000
2 – Bessatsu Margaret [Kimi ni Todoke, Aoharaido] – 225.000
3 – Ribon [Full Moon wo Sagashite, Aishiteruze Baby] – 210.000
4 – Hana to Yume [Gakuen Alice, Skip Beat!] – 176.250
5 – Nakayoshi [Sailor Moon, Shugo Chara!, Pretty Cure] – 175.000
6 – Shoujo Comic [Fushigi Yugi, Kyou, Koi wo Hajimemasu] – 168.000
7 – LaLa [Natsume Yuujinchou, Kaichou wa Maid-sama] – 156.834
8 – You – 133.334
9 – Be Love [Chihayafuru] – 125.417
10 – Cocohana [nova revista da Shueisha] – 108.334

Claro que mesmo estes almanaques seguindo a tendência [sem qualquer previsão de mudança no futuro] de terem suas tiragens ainda menores a médio a longo prazo, a indústria do manga em si continuará grande e importante – mesmo que sacríficios tenham que ser feitos, e menos pessoas terem a possibilidade de trabalhar neste ramo.

Isto em si acaba não sendo problema [afinal, a quantidade de lixo publicada continuará sendo muito grande], o duro é saber que as fórmulas de sucesso tendem a ser mais valorizadas e o espaço para um maior experimentalismo acaba sendo reduzido; mesmo sabendo que é justamente no desespero que certa genialidade acaba tendo espaço, uma indústria menor sempre é uma indústria no geral mais fraca. Uma pena – e não é One Piece quebrando recorde atrás recorde de tiragem de seus volumes que resolverá esta situação.

[via Manga News]

P.S.: Vale dar uma lida neste artigo do Lancaster que já há três anos atrás mostrava o caminho sem volta que as publicações japonesas estão trilhando.

E saiu mais um balanço trimestral da Japanese Magazine Publishers […]

10 thoughts on “Nova Queda na Tiragem de Revistas de Manga no Japão”

  1. A situação está realmente preocupante, em especial pra Sunday, que vendia na casa do milhão faz pouco tempo, nem a Arakawa deu uma sobrevida. Imagino que a Jump só não tenha despencado por causa de One Piece…

    E essa Gekkan Shonen Magazine aí na lista não é a Bessatsu, acho. É uma mais antiga, mas com mangás mais desconhecidos por aqui. Foi a que publicou BECK.

    1. Valeu pela correção, fiquei na dúvida e esqueci de conferir via comparação de kanji [o que na prática é algo óbvio e fácil].

      E outro obrigado pelo comentário.

  2. Toda vez que sai a tiragem das revistas, eu vejo a galera internet afora (MangaHelpers principalmente) sempre falando “É, essa mídia vai morrer logo”. Já estamos nessa papo há um bom tempo, e eu já parei de acreditar nisso faz tempo, lol.
    Na minha opinião, esse formato jamais morrerá; e se morrer, será daqui mais de 15, 20 anos, pelo menos, só na próxima geração.
    A começar que o Japão é um país cheio de dedos quando se o assunto é “tradição”. Mudar a mídia de antologias de mangás é mexer numa tradição de décadas, e eles vão evitar isso ao máximo.
    A queda de circulação é esperada. Provavelmente vai cair mais nos próximos meses e anos, até chegar um ponto de estabilidade, como ocorre com várias revistas pequenas. Porque afinal toda queda é uma tentativa de ajuste à demanda, e a demanda baixou. Como exemplo, dá pra ver que revistas novas como a Gessan, Grand Jump e Saikyo Jump estão “experimentando” os números até chegar numa estabilidade. Essa estabilidade será muito mais baixa que essas tiragens atuais? Provavelmente. Mas não vejo motivo de qualquer preocupação por ora.

    Aliás, a única revista com motivos claros de preocupação é a Sunday, que tá numa descendente feia há anos. Falei um pouco disso lá no mangatologia, em um post sobre Antologias Shonen Semanais (http://mangatologia.wordpress.com/2011/11/29/entendendo-antologias-shonen-semanais-parte-2/) e também no esquecido podcast sobre Antologias Shonen da Shogakukan (http://mangatologia.wordpress.com/2012/03/29/tocast-16-antologias-shonen-shogakukan/).

    1. Como disse, “a indústria do manga em si continuará grande e importante” – e essa queda deve ser vista mais como um movimento a longo prazo. É neste em que provavelmente a Shounen Magazine deve passar a vender menos de 1m/semana e assim vai; claro que as editoras continuarão ricas, só estarão menos ricas por este aspecto; fora que os volumes, principalmente das séries grandes, parecem é vender cada vez mais – e ainda temos o inexplorado mercado digital.

      O principal é mesmo um pouco de corte em certa variedade do que é publicado, mas até isso é algo que nós daqui devemos ter efeito bastante do indireto por aqui. Se mesmo obras como Sangatsu no Lion são praticamente inacessíveis ao leitor ocidental [mesmo pelos métodos ilegais], imagine algo mais obscuro…

      1. Fato é que nenhuma editora de HQs/mangás no mundo aprendeu ainda como fazer o mercado digital funcionar pra valer. O pior de tudo é que eles estão tentando tão devagar, mas tão devagar, que é triste. Por isso temos que dar um pouco de crédito do Ken Akamatsu, por tentar acelerar esse processo (e só por isso, porque os mangás dele são boring).
        E sobre diminuição de variedade… não sei, sou meio incrédulo nisso. Embora os títulos de vendas arrasadoras chamem mais a atenção, tem um monte de coisa em revistas pequenas que vende bem… e sustentam a casa de editores e mangakás pequenos. Pra mim, a tendência é apenas diminuir todas as tiragens que não forem “pequenas”; algumas vão sumir, claro, mas acho que as pequenas são as que menos sofrem com a “crise”, e vão manter-se firme, publicando seu mangazinho obscuro que o ocidente jamais ouvirá falar, mas que vende suas 5 mil cópias no Japão.

  3. Yo Qwerty-san como vai?
    As coisas estão mesmo feias para lá, mas…já agora, estou com uma dúvida, no quadro que você está mostrando, em todas as revistas que estão a vermelho tem há frente na percentagem um número sempre maior, é um sinal de melhoria ou quer dizer outra coisa?
    É que não costume ver estas coisas então fico na dúvida, heheheheheheheheheh.
    Fique bem ^^

  4. Acho que existem muito fatores que estão minando a venda de mangás, mas como todo mundo sabe, as grandes empresas vão dar a volta por cima, afinal eles são japoneses e não vão se dar ao luxo de perder dinheiro….

  5. Será que são essas (ou só essas) as verdadeiras causas da queda da venda de revistas no Japão? Como dizia Jack, o Estripador, vamos por partes:
    1. A “tão alardeada e debatida pirataria” pode não ser bem uma das causas da queda das vendas das revistas de mangá no Japão. Se o que acontece com os animes pode-se aplicar aos mangás, então a pesquisa feita pelo RETI (Research Institute of Economy, Trade & Industry) mostra que essa alegação é (em parte, pelo menos), infundada. Para saber mais sobre a pesquisa, é só acessar o artigo do Raphael Melo no link abaixo:
    http://www.anmtv.xpg.com.br/japao-pesquisa-revela-que-pirataria-pode-ajudar-nas-vendas-de-anime/
    2. A concorrência com as novas mídias (videogames, celulares, computadores, notebooks, internet, redes sociais, Ipods, Ipads, jogos online, etc.), que estão roubando o público que antes lia mangás (e livros, também);
    3. O envelhecimento da população japonesa, que a cada ano têm menos crianças e mais pessoas entrando para a terceira idade, o que afeta não só o mercado de mangás/revistas/livros, mas também outras áreas, como da previdência social, por exemplo;
    4. A prolongada crise econômica (e o aumento nos números de desempregados) na qual o Japão está mergulhada desde os anos 1990 e que aos poucos começa a afetar a capacidade de consumo dos japoneses, que passaram a cortar gastos, inclusive com mangás e outras publicações (esse detalhe não foi levado em conta na matéria). E a situação se agravou ainda mais desde o ano passado, por conta do grande terremoto seguido de tsunami no nordeste do Japão (e do acidente nuclear da usina atômica de Fukushima) e os efeitos desses eventos na economia, no comércio e na indústria daquele país;
    5. O estreitamento criativo dos mangás, devido ao medo dos editores em correr riscos em tempos de crise (como a atual). Os editores passaram a ver nos moezeiros (e outros otakus hardcore) uma espécie de “porto seguro” para o mercado atual, uma fonte de dinheiro fácil em meio à crise econômica. E o resultado é que mangás e animes moe, entre outros, estão na linha de frente da indústria (tanto do mangá quanto do anime.). A indústria do mangá e do anime se tornou refém desses fãs hardcore. Como podem verificar no artigo sobre Bakuman (escrito e postado por Lancaster, do Maximum Cosmo), no link abaixo:
    http://www.interney.net/blogs/maximumcosmo/2012/04/20/bakuman_ohba_obata_de_novo/#feedbacks
    6. A perda de capacidade de dialogar com o grande público (o público mainstream) por parte das editoras, resultante do estreitamento criativo dos mangás (cujas causas foram citadas acima), o que fez com que esse grande público e as editoras se distanciassem mutuamente.
    As tres últimas partes (crise econômica prolongada, estreitamento criativo e perda da capacidade de diálogo) são as causas que não foram citadas, mas que deveriam ter sido levadas em consideração, pois elas apontam para um futuro nada promissor para o mercado de mangás. A não ser que a situação econômica melhore e que as demais causas principais (queda da taxa de natalidade, perda da capacidade criativa dos mangás, distanciamento do público, entre outras) sejam resolvidas a contento, o declínio dos mangás continuará. E ninguém como isso vai acabar.
    De qualquer forma, cabe ao público e aos editores japoneses decidir qual será o futuro dessa mídia. Só podemos observar, esperar e torcer para que a situação se reverta a tempo.

    1. Bem, o foco deste – e do citado – artigo em divulgar a tiragem em si mais do que analisá-la acabou fazendo com desse mais exemplos de causas para o acontecido do que destrinchasse todo o ocorrido. Sim, faltou a quarta causa em questão.

      Já a quinta e sexta acabam sendo ilações, mais para teorias [sólidas, mas ainda assim teorias] do que fatos. Muita gente boa acredita nisso, outros não. Se fosse abordá-las, teria que antes dar um parêntese todo especial.

      Mas caramba, imensamente agradecido por este belo – e gigante – comentário, pena não ter como “destacá-lo”, espero que um like ajude. Volte sempre.

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