Ai no Kusabi [2012]

Uma resenha que não sabe se é resenha para um anime de planejamento tão indeciso quanto a proposta é ousada; afinal, Ai no Kusabi é um passo além do Boys Love que consegue chegar a televisão japonesa.

Ai no Kusabi, originalmente uma história publicada em capítulos na revista yaoi Shousetsu June entre 1986 e 1987 [sendo posteriormente compilada em um livro lançado em 1990], é mais conhecido pela adaptação em dois OVA com duração de uma hora cada lançados entre 1992 e 1994 que é considerado um verdadeiro clássico do gênero por ter, além de homens se pegando [afinal, é o objetivo por trás de tudo], uma história ao menos interessante.

Produção

Dezoito anos depois, em uma era aonde as fujoshi podem ser ouvidas com mais clareza e a indústria do anime anda com certa preguiça para criar algo novo, por que não revisitar Ai no Kusabi do jeito que ele merece? Assim, em 2008 foi anunciada uma nova série de treze episódios dirigida pelo diretor do segundo OVA e roteirizada pela autora do original que finalmente contaria essa história de uma forma mais detalhada e com animação atualizada [e caprichada]; tudo que uma fã poderia sonhar, não?

Mas bem, a produção acabou sendo bem complicada [sendo que chegou a ser cancelada por razões financeiras] e só mesmo a partir de 2012 acabaram sendo lançados mensalmente os quatro primeiros OVAs que serão tema de análise neste artigo; o problema é que as vendas foram pífias e fica a dúvida: será que irão lançar as duas partes [contendo nove episódios] restantes algum dia?

Enfim, vamos ao que interessa.

Sinopse

O mundo futurista chamado Amoi funciona por um sistema bem rígido de castas aonde os Loiros [sempre de cabelo longo, como anjos] estão na elite enquanto os de cabelo preto são praticamente a escória, vivendo em um gueto localizado em uma cidade-satélite da capital.

E é deste que sai nosso protagonista, o jovem determinado de cabelos pretos e pele morena chamado Riki, no início da série [mas não da história] já um Pet [animal de estimação, aqui em um sentido fetichista e sexual] do poderoso Loiro Iason Mink – com quem tem essa relação de estupro consentido e legalizado por esta sociedade, aqui com todo um toque pessoal [e estranho] de amor.

Claro que Riki quer escapar dali o quanto antes; e quando Daryl [que serve como Mobília – jovens garotos que são empregados dos Loiros de Iason], querendo que a fagulha de rebeldia ainda presente no rapaz não se apague de vez, abre os portões para fuga aquele corre como nunca. E apesar de ser capturado, o desenvolvimento aqui acaba lhe dando uma chance única de voltar para o gueto de onde partiu – e é aqui que a história começa.

Porque é Diferente

Na prática Ai no Kusabi acaba sendo um bom Boys Love ao mesmo tempo que é um anime somente sólido, funcionando mais realmente para os fãs e curiosos no gênero – não chegando a transcendê-lo como fazem os animes verdadeiramente bons. Mesmo assim, além de ser bem-feito possui duas características peculiares que merecem ser explanadas com mais calma abaixo, sendo a primeira delas o fato de fugir do velho clichê do romance entre os esteriótipos do seme e do uke.

Iason e Riki são, cada um a seu modo, dois machos-alfa com personalidades não muito desenvolvidas mas que simplesmente funcionam aqui; claro que a química também consegue ser um pouco forçada [principalmente graças ao clima intencionalmente opressor presente], mas nada que comprometa. É um casal plenamente aceitável e compreensível, apesar de realmente não marcar – e sim, isto já é um ponto positivo.

Já o mundo futurística e utópico [com camadas leves de distopia] presente na série é outro aspecto que acaba dando um ar de novidade, de refresco; mesmo sendo uma imensa colagem de muitos elementos presentes em uma miríade de outras produções [e bem, rodas triangulares não parece ser a melhor das ideias] do gênero, temos um ambiente interessante que complementa bem o clima melancólico estabelecido aqui.

Outras Considerações

Porque sim, até aqui tivemos uma história de como Iason em três anos acabou mudando a vida de um anteriormente empolgado Riki para a persona depressiva que ostenta aqui; e o melhor, apesar do personagem obviamente estar deprimido e algo desesperado com tudo ao seu redor, a série não se torna emo em momento algum.

E isto é reflexo de praticamente todo mundo aqui ter uma aura forte, dura; dura como o mundo aonde vivem [ao menos para o padrão japonês, porque para um brasileiro o gueto aonde os personagens vivem é risível de tão limpo].

E outro aspecto que acaba sendo simplesmente asséptico é o erotismo presente na série; é tudo muito bem calculado para mostrar o máximo possível sem recorrer ao sexo explícito [até porque este é implícito em diversos momentos da série] mas acaba tendo menos sentimento do que deveria, sendo simplesmente fanservice jogado na cara do público-alvo. Uma pena.

Vale o parêntese de sempre para falar da animação, que limita-se a ser competente ao desenhar sem muitos altos e baixos os personagens; como a ação é mantida no mínimo, nem acaba sendo necessário qualquer orçamento mais pesado. Mesmo assim o CG é cruel – desde carros a planos de fundo são feitos de uma maneira tão crua e simples que fica óbvio mesmo ao espectador mais desatento. Vacilo do estúdio AIC, que no geral merece uma nota mediana.

Conclusão

Ai no Kusabi é um entretenimento bem correto na medida para as particularmente carentes fãs de Boys Love, contendo um romance entre homens duros, drama e até mesmo uma trama com certos toques de ficção científica [principalmente ao mostrar o mundo futurista baseado em castas] que mesmo sem ter qualquer clímax é trabalhado de maneira que sim, diverte.

Pode afastar pessoas mais puristas pelo conteúdo erótico [que, bem, atrairá outras desejosas por um contato homem-a-homem] mas o grande defeito é possivelmente a produção ter sido interrompida com somente um terço do projeto concluído. Se for isso mesmo, o que é provável, temos um duro golpe em quem pretende assistir futuramente este anime [e bem, um fracasso desses indica que a produção de algo similar no futuro fica mais difícil]. E assim vamos para mais uma temporada de Junjou Romantica ou Sekaiichi Hatsukoi…

Uma resenha que não sabe se é resenha para um […]

5 thoughts on “Ai no Kusabi [2012]”

  1. Concordo com o post todo. Ainda não vi os OVAs desse ano, mas tudo que você falou da história é o mesmo que eu penso. Fosse melhor trabalhada, seria merecidamente o clássico que é.

    ~Evitando levantar teorias sobre o porquê de ter vendido tão mal e acabar reclamando da fanbase de BL~

  2. É uma pena que tenha mais erotismo que sentimento, o contrário dos OVAs anteriores, que foram maravilhosos tanto no enredo quanto na animação, que na minha opinião estava quase que perfeita.

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