Ano Natsu de Matteru

Artigo com um ou outro SPOILER [sempre em moderação]; mas não prefere ver uma abordagem Episódio a Episódio deste? Comece… aqui!

Como poderia um anime com character concept do criador da franquia Onegai, Taraku Uon, o roteirista desta, Yousuke Kuroda, e o diretor de ToraDora! e Ano Hana, Tatsuyuki Nagai, na animação mais bonita realizada pelo estúdio J.C.STAFF em algum tempo, dar errado?

Ano Natsu de Matteru [Estamos Esperando Naquele Verão] estreou o primeiro de seus doze episódios em diversas TV UHF japonesas em Janeiro/2012 com a proposta de ser uma bela de uma comédia romântica adolescente; e pela presença dos envolvidos mencionados acima, isto significava atualizar e refinar a fórmula de Onegai: uma peituda do espaço surge na vida de um apagado colegial para mudar a vida deste.

Desta vez Ichika Takatsuki é uma adolescente que ao cair na Terra acaba machucando Kaito Kirishima; e ao transferir-se para a escola deste [enquanto ele está no segundo ano, ela acaba ficando no terceiro – portanto, sendo sua senpai] acaba desencadeando a história de Ano Natsu, que basicamente envolve um filme caseiro que o protagonista, fanático por filmes [e dono de uma câmera Super 8], pretende fazer durante o verão.

Duas pessoas praticamente inertes muito lentamente se apaixonando, taí um bom resumo para o que acontece durante a série. Filmes e ficção científica são meramente elementos secundários que parecem estar mais ligados a misteriosa lolita Lemon do que outra coisa. Ame ou odeie, é um elemento que funciona como certa forma de comédia além de ser mais um dos diversos pontos na medida para dar um “empurrãozinho” no enredo deixados aqui e ali pelo roteiro.

Sim, porque todos os personagens fora do pentágono amoroso principal são praticamente definidos por uma característica ou outra: assim temos a irmã de Kaito [e a de Tetsurou], que servem para ser quase adultas [e também para mostrar um corpo bonito e, hum, maduro [para os padrões de anime], as duas garotas do arco de Okinawa [como um anime que tem verão no nome iria escapar do obrigatório episódio da praia?] como plot device puro e… só.

Elenco curto para anime curto – e na teoria deveríamos ter um elenco de apoio carismático, forte e complementar aos protagonistas; mas não é isso o que acontece. Mio, que ama Tetsurou, que ama Kanna, [que ama Kaito, que ama Ichika – e vice-versa] enfim, são personagens puramente feitos para serem fofos e inocentes na arte do amor. Falta magia, mojo, tempero. E isso é um pecado mortal em uma obra claramente character-driven [focada nos personagens] como Ano Natsu.

E o começo deste problema está em ser uma obra comercial que acaba não se esforçando em nada para driblar as armadilhas impostas pelo aspecto mercadológico da coisa e os clichês de praxe do gênero; claro que estamos em uma era aonde em comédias românticas adolescentes otaku todo mundo – especialmente as meninas – precisam ser puros e inocentes. Até o fim.

Assim, a personalidade de todos acaba sendo moldada demais para agradar em uma obra tão preocupada com este aspecto que tudo acaba sendo simplesmente plástico e artificial demais. Claro que existem histórias e histórias, mas aqui fica óbvio que seria necessário antes de mais nada sentirmos que estes personagens são mais do que simplesmente construções feitas para uma obra de ficção: eles deveriam parecer reais, tridimensionais, parecerem realmente um grupo de amigos.

E inicialmente são até bem-apresentados o suficiente para acharmos isso – o problema é que a casca inicial praticamente se mantém durante a série inteira [e mesmo no final parte do status quo ainda é mantido]. Tanto os personagens acabam sendo mais vazios do que o esperado como o próprio fio de história acaba tendo muito pouco drama, conflito. Pior: no fundo a estrutura é toda de um anime de drama.

O próprio fato de termos um pouco de comédia [com alguns temas – como as fofices do mascote Rinon e diversas dos devaneios dos protagonistas – simplesmente chatos] com papel de quebrar o clima mostra esta concepção que acaba não sendo a adequada aqui. Em tudo Ano Natsu preza por ser morno: desde a comédia inicial ao drama final, passando inclusive pelo ecchi moderado presente principalmente no Primeiro Episódio.

Mas morno pode ser divertido? Claro que sim – desde que seja fã da proposta encampada aqui. Todo mundo é fofinho o bastante e mesmo em um trabalho sem muita inspiração a direção de Tatsuyuki Nagai continua sendo boa o suficiente para levar com leveza o espectador do primeiro ao último episódio.

Pena que o fato de uma série de TV ter que ser encaixada em tamanhos pré-definidos [com cour, três meses, 12~13 episódios sendo a medida-padrão] acaba também dando a sensação da série ter sido estendida em ao menos alguns episódios, tal a maneira como o pentágono amoroso acaba se movimentando [por exemplo, os eventos ocorridos nos dois episódios da praia poderiam ser encaixados nos demais com melhora no ritmo da série].

E falando nisso, se a série acaba sendo predestinada a amarrar os protagonistas em uma relação totalmente pura e inocente [que até funciona para os amantes disso, mas para muitos acaba sendo apenas chata demais], sobra para os coadjuvantes – ao menos para os que tem algum tempo de aparecer – o papel de entreter e encantar o público. E sim, a série deve ser lembrada mais pelo choro e determinação da Kanna ou pelo fufufufu~ de Lemon que outra coisa.

Enfim, Ano Natsu de Matteru é uma série mais bobinha do que divertida que acaba não convencendo a muitos em seu drama com toques de comédia romântica – e traços de sci-fi – extremamente água-com-açúcar, mas pode sem dúvida nenhuma divertir aos fãs do gênero pela direção competente, mesmo que em piloto automático, por uma parte técnica até acima da média que para o algo pobre estúdio J.C.STAFF é simplesmente sua melhor tentativa em algum tempo de ter qualidade visual/artística e até por maneirar no ecchi e fanservice.

Não é ruim, mas é mediano e esquecível – e tratando-se da mais nova obra do diretor do ótimo ToraDora! e do, apesar de manipulativo demais para muitos, bom Ano Hana, um puta desperdício de tempo e dinheiro por parte de todos os envolvidos; e talvez de quem assiste, caso não tenha tempo para ver obras melhores.

Um ponto de vista um pouco menos rabugento sobre a série pode ser encontrado no OtomeNerd. Com quem você concorda, afinal?

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