Shoujo na Grama #01: Itazura na Kiss e o shoujo pós-vida escolar

Nahel Argama. Anagramas. E aqui o Shoujo fica na grama! Está no ar a seção para falar de shoujos, joseis e derivados, porque afinal de contas estava faltando um espacinho mais cor-de-rosa por aqui!

E para estrear a seção, um anime de comédia romântica recheado de clichês, mas ao mesmo tempo, adorável!
 Itazura na Kiss é um anime produzido em 2008 baseado no mangá de autoria de Kaoru Tada. O mangá começou a ser publicado em 1991, entretanto, Kaoru foi vítima de um acidente doméstico que a fez sofrer de hemorragia cerebral e falecer antes que terminasse a história.

Como seria possível adaptar uma história sem o final definido? Neste caso em especial, a autora havia deixado dito ao marido o desfecho da trama e assim foi possível completar a obra na versão animada.
Kaoru Tada, com todo respeito à sua memória, não tinha um traço muito prazeroso de se ver, tanto que algumas páginas do mangá pareciam tomadas por um rascunho despretensioso.

A adaptação animada veio em 2008 produzida pela TMS Entertainment e conta com 25 episódios. Não foi a primeira adaptação feita do mangá pois dois doramas (um japonês e um tailandês) já haviam sido produzidos anteriormente. A animação consegue evoluir muito o traço do mangá, tornando os personagens mais bonitos visualmente, entretanto não significa que seja uma animação de alta qualidade: Existem diferenças gritantes de traço dos primeiros episódios para os últimos. É claro, cerca de 13 anos se passam durante o andamento da história, mas mesmo assim as diferenças não são no intuito de envelhecer os personagens e sim são diferenças na própria animação.

Aihara Kotoko é uma estudante do terceiro ano do colegial, aluna da turma F, a mais fracassada da escola. Irie Naoki, estudante do mesmo ano na mesma escola, é aluno da turma A que já pressupõe ser a turma dos mais estudiosos. Ela é burrinha e bobinha, mas é bastante carismática (a propósito, a seiyuu dela é a Nana Mizuki). Ele é frio, seco e arrogante. Aí é possível pensar naquela velha máxima que diz “os opostos se atraem”… Não num primeiro momento.

Kotoko escreve uma carta para se declarar a Naoki, já que é apaixonada por ele desde que entraram no colegial. Entretanto, ele apenas diz que não quer a carta e a deixa desolada.
Mais tarde, no mesmo dia, Kotoko está comemorando a mudança para sua casa nova, e recém-construída, com seu pai e seus amigos quando um leve tremor acontece e põe a casa abaixo. O assunto foi parar até nos jornais já que foi a única casa danificada na região toda.

Sem ter para onde ir, o pai de Kotoko consegue abrigo na casa de um antigo amigo. Agora deduzam, se esse fato é tão relevante, para onde vocês acham que Kotoko e o pai se mudaram? Sim, para a casa da família Irie. Ao chegarem lá, Naoki é tão gentil que nem parece o mesmo rapaz que a ignorou por causa da carta. Entretanto, a gentileza dura muito pouco, logo ele a diz para evitá-lo e não deixar que ninguém da escola os vejam juntos, pois seria muita vergonha e arruinaria sua reputação.

Durante os primeiros 14 episódios nós vemos a Kotoko correndo atrás do Naoki, ele a rejeitando, depois provocando e depois rejeitando novamente. Também temos o grupo de amigos de Kotoko e nele o cara simpático e gente boa, mas sem muito futuro, Kinnosuke, que tende a ficar na friendzone forever and ever. Kinnosuke no começo é muito chato, ele não desiste de conquistar  Kotoko chegando ao ponto de fazer homenagens públicas mergulhadas numa dose generosa de vergonha alheia que deixa até o espectador constrangido. Porém, com o passar do tempo você começa a entender a personalidade dele e até  se sensibiliza com algumas cenas que acontecem; ele está presente na série até o final e tem um belo desfecho. As outras duas amigas de Kotoko aparecem nesta fase, praticamente só estão lá para dizer frases óbvias e depois tomam um chá de sumiço voltando a aparecer só no último episódio.

Nessa primeira fase nós temos a formatura deles no colegial, o início da faculdade (ele, na Engenharia; ela, na Faculdade de Artes), a indecisão sobre a carreira a seguir… Mas a mesma infantilidade de Kotoko permanece e você tem que aceitar que esse é o jeito dela. Além disso, a coitada tem um azar que só a faz atrapalhar Naoki, mesmo quando quer ajudar. Enfim, são acontecimentos que trazem clichês atrás de clichês, mas mesmo assim são bons de se ver.

As personagens de destaque no quesito humorístico são o irmãozinho e a mãe de Naoki. Ela é a sogra que toda garota sonharia em ter! Além de receber Kotoko como filha (já que seu sonho era ser mãe de uma menina), montar um quarto todo especial para ela e tentar o tempo todo dar aquele empurrão para ver a garota casada com seu filho, sempre está escondida tirando fotos dos momentos especiais e também dando uma forcinha quando as coisas não estão muito bem. O irmão de Naoki é sua miniatura, vive tirando sarro de Kotoko e mesmo sendo um garotinho do ensino fundamental no início da série, consegue “humilhar” a garota em muitos aspectos. Já de cara ele não gosta dela porque o quarto tão bonito que ela ganhou era o quarto dele.

No 14º episódio temos uma reviravolta. Depois de tantas provocações, idas, vindas, outras pretendentes aparecendo… Naoki assume o que sente por Kotoko numa cena muito kawaiiiiii desu romântica e dramática, depois da menina já ter chorado litros. Tá aí, poderia ter acabado assim, o beijo final e todos felizes. Mas aí é que está um diferencial de ItaKiss diante de outros shoujos: a relação dos dois vai bem além.

Ele a pede em casamento e planejam oficializar a relação quando terminassem a faculdade. A mãe de Naoki, que não é boba nem nada, já marca o casamento para dali a duas semanas, antes que ele desista.  A cerimônia acontece, Naoki fica “p” da vida já que discrição é uma coisa que não ocorre em nenhum momento durante a festa. Em seguida, temos a lua-de-mel e se você pensa que depois de casados as personalidades deles mudariam, está redondamente enganado. Ela continua atrapalhada e ele continua sendo frio. Na viagem para o Havaí eles conhecem um outro casal dentro do avião e a moça se atira com tudo em cima do Naoki. Kotoko só perde com isso, não é madura o suficiente para contornar a situação, acaba saindo sem rumo, se perdendo, tomando bronca feito criança e só aproveitando de fato a viagem na última noite.

Mesmo casados, eles precisam continuar com seus estudos. Naoki resolve seguir sua vocação e estudar Medicina. Kotoko, por sua vez, não tem nenhum sonho além de fazer tudo que a deixe próxima dele. Logo, ela decide cursar Enfermagem, somente por causa do marido… Ok, isso é romântico, é fofo, mas é tão submisso que dá um pouco nos nervos ainda mais que a forma como ele a trata é tão infantil a ponto de propor encontros em troca de boas notas dela na prova equivalente ao vestibular. É quase como um pai oferecendo ao filho um brinquedo caso ele vá bem na escola. E ela fica feliz, muito feliz! Ela passa na prova e cursa a faculdade aos trancos e barrancos.

Os novos amigos dela são bem divertidos, mas todos tem uma quedinha pelo Naoki. Eles sabem que ele é casado, mas não sabem com quem… Eles pensam que é com uma mulher muito séria e Kotoko não tem coragem de contar a verdade para eles. Tem cabimento?

A relação dos dois é bastante conturbada porque ele não demonstra o que sente e a deixa carente. A submissão dela é irritante mas a frigidez dele é muito pior. Se vai melhorando com o tempo? Bem, até vai, nós temos algumas cenas com demonstrações de carinho e uma pessoa que aparece na vida de Kotoko e dá uma “sacudida” nos pensamento de Naoki, fazendo que ele fique mais amável com a esposa, já que o faz ter medo de perdê-la pela primeira vez.

A passagem do tempo é algo muito interessante nessa série, como disse anteriormente, ao todo são 13 anos. Este é um ponto positivo na série já que não resume a história à vida escolar, ela mostra o que gostaríamos de ver depois do beijo no episódio final. Os fatos acontecem rapidamente, não há enrolação, muita coisa muda em apenas um episódio e isso também é um fator que prende o espectador. Kotoko é muito persistente, mas quando ela já cansou de se machucar, Naoki vai lá e faz alguma coisa que a atrai de volta: ele a trata como um ioiô o que faz até você torcer ela o traia de uma vez.

Outro aspecto que vale ser lembrado é o fato de acontecerem histórias paralelas com os outros personagens, temos alguns episódios focando no irmão de Naoki – e dali fazendo nascer a sua vocação para a Medicina -,  por exemplo.

Mesmo sendo rodeado de clichês, contando com uma protagonista cujo único objetivo de vida é ficar com o cara que ela gosta abdicando de sua própria personalidade por várias vezes, Itazura na Kiss é um anime bem legal de se assistir! Não é uma obra-prima, tampouco é cheio de qualidades visuais, mas ele é cativante, principalmente para quem curte romance. Quando tiver um tempinho, vai lá, assiste! Se não gostar da parte romântica, sem problemas, risadas não vão faltar.

Nahel Argama. Anagramas. E aqui o Shoujo fica na grama! […]

6 thoughts on “Shoujo na Grama #01: Itazura na Kiss e o shoujo pós-vida escolar”

  1. Freud explica a relação dos dois… XP

    Sério, eu me irrito tanto com essas coisas na vida real, que passo longe dos fictícios, pq pra q me extressar mais?!

    1. O pior é que quando assisti nem imaginava como ele tratava ela… Num conjunto da obra gostei, mas isso realmente é irritante! D:

  2. Eek… D:

    Esse é um dos shoujos que morria de vontade de ver, mas por algum motivo ainda não o fiz. E eu achava que Itazura na Kiss era uma obra-prima, uma história muito bonita mesmo. Mas depois desse post… Acredito que pode, sim, ser legal em alguns momentos, mas não há coisa que me irrita mais que obras voltadas às mulheres com protagonistas que idolatram o interesse amoroso e praticamente abdicam de sua vida pessoal por ele. Fosse voltado aos homens eu entenderia, mas às mulheres? E em especial Itazura, em que o rapaz é tão frio e grosso com ela. Nah, passo.

    1. Falou tudo! É como comentei antes, eu nem fazia ideia da relação do casal, até onde ia o anime e tal… Realmente tem muita coisa legal, existem partes sim em que ele demonstra seus sentimentos, mas como um todo é bem isso mesmo, ela sendo submissa e ele sendo um pnc… =/

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