Primeiro Episódio: BLACK ROCK SHOOTER [TV]

Afinal, o anime da Hatsune Miku vale o todo auê feito a sua volta?

BLACK ROCK SHOOTER é, desde a composição de certamente uma das músicas mais populares a envolver o nome do verdadeiro símbolo que é a Vocaloid Hatsune Miku, algo que chama a atenção de um fandom não pequeno ao redor do mundo – mesmo que concentrado no Japão, aonde o fenônemo moe está presente com muito mais força.

O conceito criado pelo artista huke [Steins;Gate] já era um estrondoso sucesso quando foi capitalizado em 2010 em um OVA que apesar de mesmo no Japão dividir opiniões, fez muito sucesso – o bastante para uma nova animação da franquia ser praticamente fato consumado – aonde nos perguntamos não se acontecerá mas sim quando.

O que não esperávamos era que 1 – esta fosse passar no conhecido bloco de programação noitaminA; 2 – fosse ter somente oito episódios e que 3 – abandonasse totalmente o belo estilo de animação presente no mundo da BRS; em vez de batalhas com menos frames do que o necessário, mas feitas inteiramente a mão com uma arte maravilhosa pelo estúdio ordet, temos aqui uma escolha pelo intenso: da escolha pelo 3DCG ao convite a Hiroyuki Imaishi [diretor de Gurren Lagann e Panty and Stocking] para dirigir as cenas de batalha, a intenção aqui é criar uma experiência mais agradável a quem ficou decepcionado com o desequilíbrio do OVA em favor do slice-of-life.

Mas ao contrário do que alguns achavam, neste reboot de BLACK ROCK SHOOTER temos um grande reaproveitamento da história daquele [incluindo uma ou outra cena que foram simplesmente redesenhadas] – mas claro, com a adição de diversos pontos adicionais na medida para criar uma história com duração quatro vezes maior.

O problema aqui é que nada é muito pensado para fazer sentido como uma história, e sim para você gostar dos personagens montados meticulosamente para vender produtos. Da Mato Kuroi/Black Rock Shooter ao personagem que preenche o cenário, tudo soa artificial demais – o que acaba sendo destacado pelo roteiro de Mari Okada.

Neste Primeiro Episódio – que começa de cara com uma espécie de poema que na teoria deveria ser profundo – de ritmo apressado [e se o OVA faz uma coisa direito, é ambientar o espectador no mundo de Mato antes de apresentar Yomi e tudo o que ela representa] o drama forçado entre as duas protagonistas, cuja amizade simplesmente brota como um amor a primeira vista de fanfic barato, dá o tom do episódio – sendo que os acontecimentos desta realidade culminam em uma cena de choro que está fora de lugar – afinal, alguém se comoveu com isto?

O certo é que a metade da história que se passa no mundo real até possui certo potencial de entretenimento [considerando-se um fandom otaku, mas nada além disso. O problema é que até aqui a única passagem realmente divertida foi envolvendo a absolutamente maluca e quase psicopata Kagari – sim, considerando-se o universo puro e inocente que estava dominando até então, sua entrada literalmente tocando o terror no casal protagonista é uma boa cena.

Meninas moe revestidas em camadas de pretensão: ao que parece, é a receita de bolo comprovadamente de sucesso encomendada pelos produtores de BLACK ROCK SHOOTER à roteirista Mari Okada e que deverá dar o tom nesta Primeira Temporada [sim, muito provável da intenção ser esta; só olhar a abertura, com personagens demais a serem exploradas em menos de três horas de duração] – pena que até aqui o clima mais atrapalha que ajuda e a diversão, fator principal neste tipo de anime, anda menor do que deveria.

Agora vamos falar da outra metade, do simples mundo aonde Black Rock Shooter e outros alter ego das personagens da série literalmente quebram o pau em lutas pretensamente épicas: sim, pretensamente, porque infelizmente a direção de Hiroyuki Imaishi aqui foi falha, especialmente na segunda metade do episódio ao criar uma coreografia confusa, chata e pouco empolgante para as batalhas, sendo que o único ponto realmente efetivo aqui é a criação do cliffhanger para o próximo episódio.

Se a coreografia realmente precisa de ajustes, a parte técnica é algo que não deverá mudar daqui para frente, mesmo tendo opções para lá de polêmicas. Começando aqui pela parte do estúdio Sanzigen [3DCG], ao considerarmos que estamos assistindo uma série de TV, a animação das batalhas está muito boa, com dois poréms: o primeiro sendo algumas escolhas de filtros – afinal, por que não integrá-la melhor a animação tradicional? – que acabam não ajudando e o segundo o fato de via stream ou download BLACK ROCK SHOOTER não corresponder a imagem límpida que só será obtida no Blu-Ray da série – enquanto isso, ficamos com uma versão algo míope da série, principalmente em movimentos intensos feitos dentro desse mundo de Computer Graphics.

Já a animação tradicional, via estúdio ordet, é ame-ou-odeie: sem dúvidas é bem-feita, mas escolhe radicalmente focar na animação, até em detrimento da arte. O resultado é que faltam ajustes, sendo que a ambição em fazer quadros demais para seu orçamento acabou trazendo certa irregularidade aqui – nada que não possa ser corrigido na versão para home video.

Mais difícil é o novo character design, em parte injustamente ofuscado pela qualidade do OVA, mas que também é “largo” demais. Influência de Ume Aoki [Hidamari Sketch; Madoka Magica]? Pode ser. O certo é que o resultado pode desagradar a alguns – mas olhem a Yomi, de design menos “simples” que a Mato e que é desenhada com um capricho ímpar. Neste quesito, acima da média – a não ser que prefira sacrificar a animação em troca de imagens bem-desenhadas enquanto as personagens falam e a câmera aponta-nos para o teto para economizar custos.

Enfim, BLACK ROCK SHOOTER, agora em sua adaptação para a televisão japonesa, começou de forma extremamente mediana. Até aqui, não é ruim – mas está longe de ser bom com sua proposta clichê sendo executada de forma igualmente pouco pensada, refinada, esforçada. Temos aqui uma prova de que não basta um orçamento razoável e um staff razoável para termos um bom anime – e infelizmente o fato da série ser presa demais ao modus operandi do mercado – como dito acima, tudo é pensado tendo em vista somente o lucro – prejudica e muito seu desempenho. Esquecível, bem mais do que o hype pressupõe.

Bem, o Gyabbo até curtiu a história, o Chuva de Nanquim – que irá comentar BRS Episódio a Episódio – discorda da avaliação quanto a parte técnica emcampada aqui e o artigo do Vocaloid Brasil sobre esta estreia está interessante. Porque, além de comentar abaixo, também não os ler?

Afinal, o anime da Hatsune Miku vale o todo auê […]

8 thoughts on “Primeiro Episódio: BLACK ROCK SHOOTER [TV]”

  1. “o drama forçado entre as duas protagonistas, cuja amizade simplesmente brota como um amor a primeira vista de fanfic barato, dá o tom do episódio – sendo que os acontecimentos desta realidade culminam em uma cena de choro que está fora de lugar – afinal, alguém se comoveu com isto?”

    Acho que esse foi o comentário mais repetido entre aqueles que falaram de BRS. Apesar de achar que isso é um tanto quanto subjetivo (só olhar o bom número de pessoas que não acharam o drama de AnoHana forçado), não concordo com isso. Primeiro, estamos falando de garotas de 12 anos que acabaram de entrar no ensino fundamental. Já faz um certo tempo, mas que eu me lembre as amizades surgiam assim, por um detalhe em comum, por estarem perto uma da outra, por uma afinição boba. Estamos falando de crianças aqui entrando em uma nova fase da vida, achei extremamente normal e bem posto a forma como elas viram amigas. Querer uma exploração mais profunda disso é ignorar a idade das personagens.

    Tanto o choro da Mato quanto o choro da Yomi são bastante compreensíveis se pensarmos dessa forma. A primeira foi quase que literalmente expulsa da casa de sua nova amiga por uma garota bizarra e agressiva. A outra ao, provavelmente, conseguir sua primeira amizade verdadeira é obrigada a se desfazer dela da pior maneira possível, mas esta não desiste da sua amizade – amizade da garota que pelo que parece passou a vida sozinha (e a cena do quarto vazio e sombreado deixa essa sensação -, certamente algo que emocionaria uma garota como a Yomi.

    Boa estréia, nada espetacular, mas competente.

    Gyabbo!

    1. 1 – Bem, tenho uma linha algo coerente sobre o que é “drama forçado”. Ano Hana é forçado. Angel Beats! é forçado. VNs em geral [adaptações do key mostram isso] são forçados. Que bom que o trio de ferro do key conta com direção competente a ponto disto não incomodar. Infelizmente não é o caso nos demais.

      2 – Bem, na verdade já estão no Fundamental II [6a-9a série], antigo ginásio. Sim, com essa idade. Mas o problema não é a idade [e acho o que disse um tremenda “análise excessiva” da psiquê das personagens, e sim a direção que joga os acontecimentos de forma tosca. A amizade ocorre porque sim, elemento de roteiro, plot device. Chato.

      3 – O choro da Yomi foi além de tudo conduzido por uma Insert Song na medida para fazer chorar, fazer emocionar. Muitos ficaram foi entediados com essa jogada da equipe. Como disse, o OVA, com seu ritmo lento, soube inserir o espectador no mundo das personagens. Já aqui um ou outro deve ter se emocionado.

  2. Acho que finalmente encontrei um anime en que tenho chances de dropar antes da minha irmã – já que ela tem interesse em Vocaloid-stuff, deve aguentar mais do que eu…

    Falando sério, achei o drama forçadinho também – não por não condizer com a idade das personagens, mas por ser rápido e mal explorado demais. Mas tem gente que diz ter se emocionado por aí…

    De qualquer forma, não dou muita corda para BRS mesmo. Se este anime não está muito a fim de fazer diferente ou melhor que o OVA, não vale meu tempo, não.

  3. Não me emocionei, mas assim como o Gyabbo levei em conta a idade das personagens e pra mim foi coerente toda reação emocional que teve no primeiro episódio. Talvez pudessem ter desenvolvido esse início de relacionamento um pouco mais, pra talvez ser mais convincente, mas de fato não deixou de ser coerente, não vi exagero ali.

    Muitos vão querer me matar por dizer isso, mas numa temporada FRACA como essa atual, BRS conseguiu ser mediano, mas ainda sim melhor que grande parte das estreias dessa estação.

    1. OPINIONS, gosto, sei que não se discute e sim se compreende. Até os outros com minhas maluquices.

      Bem, quando o grande destaque entre as estreias é Ano Natsu…

  4. Meu texto foi citado o/ Muito obrigado pelo elogio, como é a primeira review que fiz na vida, não esperava que ficasse boa.
    Quanto ao anime, não sei se vai ficar bom ou não, falando francamente. Afinal, pode ser que alguma “carta na manga” esteja guardada. Afinal, mesmo sendo clichê, a ideia basica pode sim ser bem explorada. Acho que se a “franquia” tivesse sido pego por estúdio mais competente desde o OVA, o resultado seria melhor. Huke é azarado mesmo. Enfim, o jeito é ver o que sai.
    PS: Aquela abertura foi feita por forças malignas dos meus amigos para queimar meu fandom de VOCALOID na foto. *facepalm*

    1. Problema é que provavelmente não será. E caramba, o Primeiro Episódio é o mais importante, porque esconder o jogo em algo tão simples?

      Pior que não manjo dos Vocaloid e IMO parece tudo a mesma coisa.

      1. Porque não mostrar tudo no primeiro episódio? Clichê de Madoka. Mas também acho que não vai sair muito dos padrões dos anime atuais.

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