Hoshi wo Ou Kodomo

Makoto Shinkai já é um dos mais importantes e reconhecidos diretores de animação japonesa; desde o animador independente que conseguiu ter a proeza de fazer praticamente sozinho um Kanojo to Kanojo no Neko [She and Her Cat] ou o mais famoso Hoshi no Koe [Voices of a Distant Star], feito somente com um pouco mais recursos, até o consagrado diretor do ótimo Byousoku 5 Centimeter, obra de reconhecida qualidade que conseguiu transcender as poucas almas que costumam assistir constantemente filmes de animação japonesa e atingiram o verdadeiro limbo reservado às obras famosas entre os fãs de anime a ponto de chegar ao ouvido de alguns fora do meio.

Assim, obviamente que a obra seguinte ao clássico de 2006 seria muito antecipada e aguardada por muitos, ainda mais porque Shinkai, também famoso pela repetição temática em torno do amor juvenil e o efeito que a distância exerce sobre este, finalmente iria virar o disco. Hoshi wo Ou Kodomo ou Children Who Chase Lost Voices from Deep Below no título em inglês é uma aventura em um mundo de fantias no qual a ação e principalmente a aventura [em forma de uma jornada] é também fator importante para a história ao lado do sempre presente drama – assim vale levantar uma pergunta: como um diretor como Shinkai, que demorou três filmes para chegar ao ponto de um clássico lidaria com esta obra diferente, ambiciosa e longa? Afinal o filme resvala nas duas horas.

Tratando-se de Shinkai, vale a pena começar comentando o ponto alto do filme que é a plena maturidade deste em suas técnicas de arte e animação – analisando-se friamente temos o melhor filme do autor graças a imensa melhoria na animação per se feita pelo estúdio CoMix Wave e capitaneada pelo character design deste [e de 5 Centimeter, Takayo Nishimura] [finalmente os personagens são bem-feitos e algumas cenas, como a luta entre Shun e um dos monstros é de baba; além disso a variedade de locações somente possível em uma história que embarca na fantasia – e Agartha pode ser simples mas nos dá algumas belas paisagens ilustradas neste post.

Mas mesmo uma análise fria com esta não pode passar por cima de uma resultado final apenas correto também neste aspecto; falta a emoção, a magia, o mojo do citado 5 Centimeters per Second; e o motivo principal disso é a falta de envolvimento do espectador decorrente de diversas decisões erradas nas áreas de direção, edição e roteiro que impedem a obra de sair do lugar-comum e da mediocridade.

Vamos começar pelo roteiro: afinal, qual é o ponto, qual é a questão que o diretor queria abordar com este filme que obviamente não contenta-se em ser somente entretenimento? Este artigo pretende continuar praticamente livre de SPOILER, mas é fato que o real motivo da longa jornada dos protagonistas faz o mais crédulo dos espectadores refletir se é somente isso mesmo em um final que é pretensamente épico mas está longe de emocionar como pretendido – mais fácil é ficar em um estado de letargia.

E esta jornada soa ambiciosa demais – percebe-se ao longo do filme a constante introdução de novos temas e abordagens somente para serem ou resolvidos de forma insatisfatória ou nem iss. Claro que existem histórias cuja graça é justamente mostrar que o que está sendo contado é somente parte de algo maior, mas Shinkai aqui soa incapaz de lidar com o universo criado por sua pessoa.

E aqui é que transparece a falta de prumo e de direção que a história contém. Esta acaba sendo forçada e incompleta também pelo mau aproveitamento em um filme aonde as coisas simplesmente acontecem – pense, a primeira meia hora do filme é o que deveria ser a introdução dos personagens, mas o que vemos é o Deus dentro da máquina empurrando estes até o mundo aonde se passa a história sem efetivamente explorar o básico. O fato de Asuna nunca ser mais que uma tentativa de protagonista do Studio Ghibli pode ser colocada na conta de um diretor que nem para usar de um recurso básico como um clipe para mostrar a protagonista vivendo sua vida visando fazer o espectador ao menos se importar com algo do que está acontecendo.

A edição do filme também não é boa e além de não conseguir fazer mergulhar emocionalmente na obra, nem ao menos é coesa o bastante para realmente parecer um filme bem montado. Sabe a impressão que fica? A de que Hoshi wo Ou Kodomo era uma obra planejada visando uma duração maior [1-cour, talvez] e teve que ser posteriormente ajustada para caber nos cento e dez minutos do filme. Cinco anos de desenvolvimento parecem ter sido é pouco para este anime ainda verde e que tinha sim potencial para ser realmente bom.

E o maior exemplo de como o filme poderia ter sido mais bacana é a cidade de MIMIMI, abordada um pouco antes de reta final – simplesmente temos personagens jogados de escanteio neste lugar que funciona como, de novo, deus ex machina para alguns pontos do roteiro amarrarem-se e fazer mais um ponto em paralelo com a obra do Studio Ghibli [oras, até as roupas são feitas com a mesma inspiração].

E claro que podemos comparar Kodomo com os filmes de Hayao Miyazaki; afinal, até uma nave deslocada dos elementos presentes aparece para dar o ar doa graça aqui, mas em uma análise mais conceitual podemos compará-lo a Mai Mai Shinko to Sennen no Mahou – ambos parecem ser filmes infantis [até pelas protagonistas pré-púberes] mas são para o público mais velho [muitos de nós já estamos praticamente imunes a violência gráfica e outros, mas a verdade é que temos aqui uma quantidade até razoável de sangue]; os dois tem ideias lindas e são obras na medida para festivais, mas são grandes demais para seus diretores.

Claro que estão longe de serem ruins, mas realmente alguns dos melhores diretores de anime atuais estão perdendo o seu tempo – e o do espectador – com isso? É como digo, “existem dois tipos de animes: os bons e os ruins”. Hoshi wo Ou Kodomo pode até tentar ser bom mas cai no limbo dos que fracassam e será lembrado somente a reboque das outras obras do diretor, uma pena. E aquele sentimento de esperança e expectativa citado no início torna-se dúvida para como o @PaninaManina lembrou em seu recomendado artigo no Subete Animes é a eterna promessa da animação japonesa.

P.S.: Também vale dar uma conferida nesta terceira opinião do Shoujo Café, aonde o marido da ShoujoFan levanta alguns pontos interessantes sobre o filme em um ponto de vista que acaba sendo complementar a este artigo.

Makoto Shinkai já é um dos mais importantes e reconhecidos […]

2 thoughts on “Hoshi wo Ou Kodomo”

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *