#VergonhaJBC e a pergunta que não é feita

A hashtag da polêmica.

Que as editoras brasileiras de manga não fazem o melhor dos trabalhos, todo mundo sabe. E de vez em quando vem a tona um problema como as páginas ultra-finas de Kobato. 1, que chegam a ser transparentes – assim, em um acinzentado feriado de 15 de Novembro de 2011 esporadicamente pipocou a hashtag #VergonhaJBC, que requentou esta discussão muito antiga sobre o padrão de qualidade de publicação dos mangas no Brasil, sempre com as inevitáveis comparações com o estrangeiro. Hora de colocar os pingos nos is nesta questão.

Vale começar afirmando que o caso concreto é o menos importante nesta discussão – afinal, se a concorrência [basicamente a Panini Mangas] consegue manter um padrão mínimo de qualidade a ponto que este tipo de exemplo extremo não ocorra, cabe a JBC correr atrás e conseguir contornar o problema; afinal, se as concorrentes trabalham com a mesma faixa de preço [mesmo sendo injusto comparar uma subsidiária de uma multinacional com uma empresa média], não conseguir oferecer ao menos o básico demonstra incompetência que em nosso sistema capitalista é – e deve ser – punido com o bolso.

Mas publicar Kobato. com o padrão de qualidade médio da concorrente a R$ 11 é o suficiente? Para muitos, não. Como o @didcart aborda claramente em seu post acerca do assunto, vale muita coisa para aumentar a qualidade do manga nacional, inclusive aumentar o padrão do preço. Mas qual seria um valor aproximado para termos a mesma qualidade do manga importado?

Pegando o mercado norte-americano como exemplo, temos uma escala de preço que parte dos US$ 8 de Naruto e passa pelos US$ 10 de FullMetal Alchemist até chegar nos US$ 13 de 20th Century Boys, para pensarmos em mangas conhecidos publicados em formato padrão. Pegando FMA para amostragem, esses US$ 10 de preço de capa podem ser convertidos para R$ 17. Porém, montar esta equação não é tão fácil quanto parece.

Vindo dos Estados Unidos para o Brasil, temos duas diferenças que são primordiais para qualquer análise de mercado: 1 – o mercado deles é muito maior que o nosso; 2 – já há algum tempo a moeda brasileira, o real, anda valorizado.

O primeiro – e mais importante – destes fatores é cruel e não atinge só o pequeno mercado de manga publicado aqui; é igualmente deprimente querer comparar as opções disponíveis  no Brasil com as no estrangeiro tratando-se de livros. Muitos estão comemorando a entrada do selo L&PM Pocket no mercado de manga [desde sempre tirinhas como Garfield e Hagar fizeram parte do catálogo desta coleção], mas a coleção em si é quase uma afronta ao rico mercado de livros populares existente nos países desenvolvidos.

Só o fato da produção nacional ser muito menor é muito prejudicial; afinal é uma regra em negócios que quanto maior o pedido, melhor as condições para negociação – e esta economia em escala é apenas um fator a somar as imensas dificuldades existentes para uma empresa operar no Brasil, dos impostos à logística. E em um mercado aonde os custos de distribuição são parte importante no custo final, nossa desvantagem só faz-se mais nítida.

Quanto ao real valorizado, ou seja, proporcionalmente valendo mais que deveria em relação a muitas outras moedas [incluso o dólar americano], este é motivo de reclamação entre muitos empresários nacionais; afinal, o produto estrangeiro tem uma vantagem que é negada ao brasileiro. Apesar de termos entre livros [e mangas] competição monopolística, [isto é, concorrência entre produtos apenas similares mas que por características inerentes a eles não podem ser iguais – ler Naruto e ler One Piece é semelhante, jamais igual], para muitos o manga em outra língua pode ser um substituto à altura para o produto nacional.

E se como demonstrado a situação para as editoras brasileiras é em média até pior que no estrangeiro, os R$ 17 citados antes fazem mais sentido se R$ 20. E essa é a pergunta que fica para você, leitor: realmente vale buscar este padrão? O baixo preço dos mangas no Brasil, mantido a ferro e fogo pelos vendedores locais [inclusive com políticas que causaram o xingar muito no Twitter citado no começo deste artigo], é sempre citado como um argumento muito positivo para o mercado local; portanto vale mesmo a pena partirmos para R$ 20 – ou mesmo uma solução intermerdiária a R$ 15 – sabendo que uma parcela razoável de quem compra deixará de fazer isso [alguns reduzirão o número de volumes que compram, outros simplesmente pararão de vez com o hobby]?

Pergunta díficil, perniciosa, mas que deve ser colocada na mesa como é. Infelizmente JBC, Panini e cia. são empresas tão fechadas que fica difícil saber o mínimo de dados para ampliar a discussão e torná-la mais concreta e precisa; mas é o que temos de dados para começar a discussão – e é essa discussão que tem de ser feita.

Que as editoras brasileiras de manga não fazem o melhor […]

8 thoughts on “#VergonhaJBC e a pergunta que não é feita”

  1. Saudações

    Seu texto está, na base, parecido com o comentário que fiz no blog do nobre Diogo.

    Esta tese, sobre os preços dos mangás, pode sim ser estendida . Mas deixo aqui a minha opinião à respeito disto: não acredito que o público que compra mangás, à nível Brasil, esteja realmente preparado para pagar R$15 nos volumes dos títulos que gosta (faça ideia no caso de R$20, então).

    Acredito que a qualidade poderia sim ser um pouco melhor. Mas a última edição de NHK ni Youkoso, da Panini, me deixou com uma pequena [pulga atrás da orelha].

    De qualquer forma, o debate prossegue.

    Até mais!

  2. li esse post.e só posso dizer,façam como os quadrinhos,mantenham um mercado acessível,mensal(ou com o prazo que eles quiserem),e qualidade mediana.Já outro sem periodicidade definida,com acabamento como de livros(capa dura e afins) e consequentemente mais caro,porém a grande questão é o publico alvo,querendo ou não o publico do mangá hoje no Brasil é o jovem,diferente das graphic novels e bem “crianças” não gastariam 60 reais em um mangá,fora que não existe o ideal de coleção em massa nesse mercado

  3. Infelizmente essa saga da JBC não vai acabar, não pelo trabalho de péssima qualidade que eles estão nos proporcionando e sim pelo fato de que suas vendas vão continuar no esperado de sempre. Não é todo apreciador de mangas que presa por um trabalho e qualidade muitas vezes ele esta na loja so para adquirir o produto e ler.

    O leitor em sua maioria não é muito critico e não espera grande qualidade, o que espera um trabalho de qualidade da JBC somos nos a minoria que presa por um manga de boa folha e boa tradução. Infelizmente meter o pau no twitter contra a JBC #VergonhaJBC é algo que não vai dar em nada como sempre é como as velhas lamentações de fans de Restart onde ninguém vai dar bola e no dia seguinte é fadado ao esquecimento.

    Quando a JBC vai mudar de qualidade ? So quando realmente eles estiverem tendo prejuízo coisa que no momento parece que não esta acontecendo então se colocar uma folha transparente faz eu economizar e ter o lucro que preciso irei continuar vendendo neste padrão de qualidade. A verdade é triste enquanto a JBC não tiver uma grande perca de vendas por causa de sua qualidade essa historia vai continuar a se repetir como sempre, nem vale a pena se aborrecer.

  4. Na verdade Qwerty, meu não querido lindo fofo, essa pergunta tem sido sim feita e discutida, antes, durante e depois dos fatos citados.

    E com uma ressalva aqui: mangá com qualidade igual à lá fora, é claro que vai sair mais caro, mais ou menos no mesmo preço de se importar eles. Isso é óbveo. O que não parece ser óbveo, é que não “estamos” pedindo qualidade igual, estamos pedindo, clamando, por um mínimo padrão de qualidade. O papel não precisa ser tão ruim assim, tanto é que ele não era. Só que nos últimos lançamentos, a qualidade diminuiu visivelmente ocasionando os problemas já tão comentados.
    A qualidade nunca foi a ideal, mas ainda era satisfatória. Esse assunto só se transformou nessa comoção toda porque atingiu um ponto crítica, que como pude observar a partir de hoje, também atingiu a Panini pelo menos em Sora no Otoshinomo #1 e Bem Vindo a NHK #6. No caso deste último é revelador, por pelo menos até a edição de número #3 (meus #4 e #5 estão lacrados), esse problema não se apresentava. De repente, as duas editoras passam a ter mangás com páginas transparentes? Mesmo mantendo e em alguns casos aumentando o preço? Não tem algum problema misterioso aqui no meio? Algo mudou de fato, e para pior.

    O problema real é que os consumidores estão se manifestando, mas as editoras não.
    Elas sabem do problema, sabem dele antes mesmo de enviarem os mangás para as ruas, mas estão quietas. Mesmo sem fazer nenhum pronunciamento oficial, até agora não temos notícia de nenhuma resposta via nenhum canal de comunicação disponível. Eu fui um dos primeiros a disparar mails para todos os lados. Até agora estou esperando. Por acaso você recebeu alguma resposta deles por acaso? Alguém recebeu?
    Enquanto não, só podemos especular, mas já imaginamos o que está acontecendo.
    Enquanto isso, na Bat Caverna….

  5. Foi como disseram, não acho que a maioria esteja preparado pra gastar 15 reais ou mais em mangás com mais qualidade. Eu, por exemplo, comprava 4 mangás diferentes todo o mês, 3 da JBC (Negima, Tsubasa e Holic) e 1 da Panini (Gantz), e eles foram gradativamente aumentando de preço. Hoje em dia, tive de parar totalmente e só leio pelos scanlators agora.
    Tem muitos títulos bons vindo pro mercado, apesar de ainda ser pequeno se comparado aos EUA, por exemplo, mas o preço continua aumentando abusivamente. Eu ainda prefiro páginas quase transparentes, mas por R$ 9.90 do que uma super qualidade por quase 20 reais…

  6. Acho que o ponto nem é se estamos preparados para pagar 20 reais em mangás, porquê realmente não estamos. Não o consumidor médio, AINDA. Não que não possam pagar, apenas achariam abusivo um preço sim numa simples revista de quadrinhos e levando-se em conta que poucos realmente se importam com a qualidade. Quer dizer, eles veem, eles sabem que não está bom e não é como se estivessem felizes com isso, mas é aquilo de tanto faz, a maioria ler por ler e depois provavelmente joga numa caixa de papelão em baixo da cama.

    Mas o ponto mesmo, é: está certo regredimos da forma como estamos fazendo?

    -Acho que seria um bom momento pra começar a se apostar em mangas de mais qualidade para livraria, mas em menor grau.
    -Manter o preço médio ou elevar para o padrão da NewPOP, tanto em preço, quanto em acabamento. Acredito que, com essa nova politica de mangás bimestrais e trimestrais, apesar da choradeira, possibilitaria uma melhor qualidade.

    Enfim, é triste ver a Panini e a Jbc nessa situação.

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