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O status da moda em Kuragehime

Eu escrevi um post sobre Kuragehime apresentando a série para meus leitores. Porém, num post do tipo não dá para nos aprofundarmos muito em determinados assuntos e é por isso que eu decidi escrever esse novo post a respeito do anime.

Para quem não leu o post anterior, Kuragehime é sobre uma menina otaku que mora com outras otakus numa pensão em Tóquio. Em um belo dia, seu caminho cruza o de um cross-dresser que é o completo oposto da protagonista, principalmente na personalidade. O cross-dresser então passa a fazer parte da rotina da menina e das outras mulheres que moram na pensão.

Entre outros assuntos, como NEETs e sexo, um dos mais explorados em Kuragehime é sem dúvida a moda. Tóquio é a capital japonesa da moda e um dos principais pontos geradores de tendências do mundo. Como é de se esperar, as moradoras da pensão são completamente avessas à moda e mesmo morando em Tóquio tentam se manter longe de Shibuya (o bairro da moda em Tóquio) e das pessoas que andam por lá.

Porém, é justamente por eles morarem lá que eles acabam tendo que conviver e lidar com a pressão da beleza. Principalmente pelo fato de um dos principais motes da moda japonesa ser “não seja igual a todo mundo”. A pensão onde elas moram, Amamizukan, é seu refúgio. Elas sabem que são diferentes dos outros e por isso o prédio, com arquitetura tradicional, acaba sendo retratado como o único lugar onde elas realmente podem ser quem são. Isso acaba fazendo com que elas tentem manter aquele espaço completamente livre de mudanças. Isso é percebido nas constantes negações de propostas de novos possíveis moradores. E é aí que Kuranosuke entra. Ele é uma ameaça ao estilo de vida das otakus. Ele é a “ameaça externa” invadindo o ambiente interno da pensão.

Porém, essa discussão vai além disso. Por saberem que são diferentes, elas se mantém assim por opção, gerando assim uma resistência interna pela anti-moda. No episódio 3, Tsukimi recebe um tratamento de beleza pelas mãos de Kuranosuke. O resultado exalta toda a beleza reprimida e escondida pelo descuido proposital da personagem. O curioso no entanto é a reação de Tsukimi ao se ver daquela maneira. Ela simplesmente não aceita o fato de poder ser bonita. Mesmo ela desejando ser uma princesa quando criança, ela se realiza de sua situação atual, otaku, e abomina o fato de ser bela graças ao seu atual meio social. Ela logo se imagina sendo “deserdada” por suas amigas e sendo queimada viva em plena Otome Road.

Toda essa situação não é exclusiva de Tóquio, nós, brasileiros, também podemos nos enxergar facilmente na personagem. Eu moro na zona sul do Rio de Janeiro e sempre estudei e andei por lugares em que a maneira como você está vestido conta. Mesmo eu nunca tendo sido muito ligado em moda, eu sempre tive uma certa noção do que vestir e não vestir em certas ocasiões, mas ao mesmo tempo era bem comum ouvir coisas como “o quê? você já está há oito meses sem comprar uma roupa nova?”, ou “como é possível você usar sempre o mesmo casaco todo dia?” e por aí vai.

É comum essa aversão dos nerds à moda e também é comum quando “um dos nossos” aparece bem vestido, ou bem maquiado nós acabarmos tirando sarro. Não fazemos isso por mal mas, se pararmos para pensar, nós fazemos o mesmo que eles fazem conosco quando aparecemos desleixados com nosso visual.

Voltando à Kuragehime, a aversão das otakus à moda acaba gerando um certo preconceito com quem se importa com isso. É errado se preocupar com a maneira como nos vestimos? É errado às meninas dedicarem tempo à maquiagem, depilação, etc? Sinceramente, claro que não. Não é errado querer valorizar a beleza. Por mais que eu acredite que uma boa personalidade é mais importante que uma boa aparência, por raras vezes sem uma boa aparência a boa personalidade aparece. Moda muitas vezes é encarada como uma maneira de mascarar seus defeitos (e aí entram principalmente os defeitos de personalidade), mas a falta dela também pode ser encarada como uma maneira de esconder as suas qualidades.

Toda essa discussão ao redor do que é a moda, como os nerds encaram a moda e como a personagem principal reage a tudo isso só torna Kuragehime uma série ainda mais interessante de ser assistida. Vale ressaltar que qualquer coisa em exagero é ruim. Eu lembro de ter mencionado isso em um dos primeiros posts do Anikenkai e é a mais pura verdade. Por isso é sempre bom a gente estar se auto avaliando e vendo em que pontos estamos exagerando a ponto de prejudicarmos outro lado de nós mesmos.

Eu escrevi um post sobre Kuragehime apresentando a série para […]

A transformação no guarda-roupa da Ogiue e os comentários da Saki

A Copa do Mundo com certeza está tirando o pouco tempo que eu tinha para postar aqui no blog, mas vamos tentar amenizar um pouco isso hoje.

Eu sou um leitor antigo do blog OGIUE MANIAX. Achei o blog quando estava para ser lançada a segunda temporada de Genshiken em anime e eu já tinha acabado de ler o mangá. Encontrei-o quando procurava mais sobre Genshiken e, principalmente, mais sobre a minha personagem feminina preferida, Ogiue Chika. Desde então me tornei fã do cara e de suas análises a respeito da série e de anime e mangá em geral. Sendo, incluisve, uma das minhas inspirações no jeito de escrever. É de autoria dele a observação inicial que motivou esse post. Lembrando que a devida autorização para uso do material foi concedida a mim pelo autor do blog.

Desde que acabei de ler Genshiken e passei a analisar a série e seus personagens, percebi que a história só aconteceu por causa de um único elemento, Saki Kasukabe. Ela não era uma otaku e estava ali pois seu novo e bonito namorado era, infelizmente para ela, um otaku. Como eu já havia elucidado nesse post, Saki era um elemento de oposição que não podia ser evitado pelos demais. Eles tinham que conviver juntos. Obviamente, em muitos momentos ela expressava sua opinião e suas idéias a respeito do grupo e vice-versa. Essa convivência diária motivou as mudanças e o desenrolar da história juntamente com o desenvolvimento e crescimento dos personagens como pessoas.

Um exemplo bem interessante, e que evidência a habilidade narrativa e o quão cuidadoso Kio Shimoku foi na criação do universo de Genshiken e de seus personagens, é a mudança pela qual passou a personagem Ogiue por causa de um comentário da Saki.

No início do volume 5, a Saki faz um comentário a respeito do visual masculinizado e largado da Ogiue dizendo que se ela vestissem roupas que combinassem mais com ela ficaria muito mais bonita. A conclusão do capítulo é o resultado das aventuras desastrosas da Ogiue pelo mundo da moda, porém, no decorrer dos capítulos seguintes até a conclusão do mangá, vemos que ela continuou a tentar melhorar sua aparência e renovar seu guarda roupa. Isso não é algo que percebemos de imediato e é uma mudança que, se não prestarmos atenção, passa facilmente batida. Ela é sem dúvida mais marcante após o início do namoro entre Ogiue e Sasahara. Ela passou a usar roupas mais femininas e que combinavam melhor com seu corpo, culminando com o visual escolhido por ela para a festa de formatura do Sasahara, onde vemos a personagem de saia pela segunda vez em toda a série.

Essa mudança, é só mais um dos fatores que demonstram o crescimento da personagem e a aceitação de ser quem é e da superação dos traumas da infância que ainda a perseguiam quando apareceu pela primeira vez no Genshiken.

Genshiken ainda me fascina até hoje. Ainda existem muitas coisas a serem exploradas por mim e muita coisa pode se tirar a respeito do mundo otaku através dele.

Obs: Não deixem de visitar o OGIUE MANIAX, excelentes textos, porém, só em inglês.

A Copa do Mundo com certeza está tirando o pouco […]