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Como perceber uma mudança nas decisões editorias

Algumas considerações sobre esse post antes de começarmos:

1 – Ele contém spoilers de capítulos recentes de Bakuman. Leia se você não se importa com spoilers ou não lê Bakuman.
2 – O conteúdo desse post é fruto da minha observação, logo não reflete exatamente o que os autores/editores pensaram.
3 – O intuito desse post é exemplificar de forma clara como as decisões editoriais para uma história serializada estão sempre em mutação e que isso é bem comum de se perceber.
4 – Esse não é um post só para quem lê/leu Bakuman. É um post sobre “mangá”. O exemplo usado foi Bakuman, mas poderia ter sido qualquer outro.
5 – Quando eu digo “decisões editoriais” eu me refiro à vida real, não à história de Bakuman (para evitar mal-entendidos).

Bem, a dupla fictícia Ashirogi Muto está com um novo mangá em mente. Reversi foi um one-shot feito pelos autores e que atraiu uma grande atenção dos fãs ficando a frente do one-shot do novo mangá de Eiji Niizuma, o grande rival e gênio dos mangás. Era de se esperar que o mangá fosse serializado. Porém, o departamento editorial estava receoso por deixá-los com duas séries semanais rolando ao mesmo tempo na revista, afinal, PCP ainda era popular e eles não queriam que a qualidade caísse. Foi decidido então que Reversi seria publicado numa nova revista (fictícia) da Shueisha chamada Hisshou Jump, mensal e com um público mais velho.

Legal. Uma boa solução para o arco da disputa de one-shots. Porém, aí que está o “pulo do gato”. Um capítulo depois, temos uma situação em que o editor de PCP, Akira Hattori, claramente se sente triste por não poder ser o editor de Reversi, já que ele trabalha para a Shonen Jump, não pra Hisshou Jump. No decorrer do capítulo é desenvolvida a ideia, por Yujiro Hattori, outro editor, agora capitão da equipe de Akira, que sabe da vontade do colega e decide ajudá-lo. No fim das contas, na reunião de serialização, tudo muda. PCP vai pra Hisshou Jump e Reversi vai para a Shonen Jump.

Ok… isso foi o que aconteceu. Mas vamos pensar no por quê disso ter acontecido. A mudança foi muito drástica. Tem que ter um motivo para os autores terem decidido mudar isso da maneira como foi mudado. De um capítulo para o outro.

A resposta, é até bem simples.

O one-shot de Reversi ganhou do one-shot de Zombie/Gun novo mangá de Eiji. Esse por sua vez ficou incomodado com a derrota e decidiu colocar seus planos de “conquistar o mundo” para melhorar sua história e vencer seu maior rival, Ashirogi Muto. Temos aí um grande plot para um bom arco de rivalidade. Algo do tipo sempre atrai a atenção dos leitores e, normalmente, temos boas histórias no decorrer do arco.

No entanto, ao mesmo tempo que esse plot foi apresentado, um outro plot, também interessante, o foi. A Hisshou Jump. É a primeira vez que vemos um autor em Bakuman sem serializado de forma mensal. Apesar da maioria não achar, há uma enorme diferença em como é ser serializado mensalmente e semanalmente. Além de mostrar para o leitor um universo totalmente novo, eles tem que criar do zero esse universo. É uma revista nova, que só existe na série, com um público-alvo diferente da Shonen Jump, com editores diferentes, autores diferentes… é um berço de novas ideias que pode crescer muito bem. Alguns arriscam dizer que Bakuman está precisando de uma reformulação como essa urgentemente.

Temos aí então dois plots interessantes para serem desenvolvidos. Maravilha. Quem sai ganhando é o leitor. Porém, a coisa não foi pensada corretamente. Se colocamos Reversi e Zombie/Gun para competir em revistas diferentes e em ritmos diferentes de publicação, não existe competição real. A rivalidade não estaria presente de fato. Jogar um plot no ar para jogá-lo fora em seguida é um problema narrativo.

Foi então que, muito provavelmente, o editor ou os autores (os da vida real) perceberam esse “problema” e decidiram dar um retcon no que fizeram. Da maneira rápida que foi feita, ficou claro que foi uma decisão imediata, mas uma decisão acertada. Vamos aos motivos…

1 – Um novo meta-mangá atrai naturalmente a atenção do leitor. Se ele fosse pra Hisshou Jump, o desenvolvimento das ideias para ele seriam, inevitavelmente, colocadas como secundário já que, querendo ou não, o centro de Bakuman ainda é a Shonen Jump e lá Ashirogi Muto estaria trabalhando em PCP.

2 – A rivalidade está estabelecida de fato. Cara a cara. Duas séries começando juntas. Uma briga de igual pra igual. Clássica rivalidade shonen. Os leitores gostam.

3 – O plot da Hisshou Jump ainda se mantém. Eles ainda irão ser serializados mensalmente, ainda teremos uma nova revista pra desenvolver, novos personagens, novos rivais, novos problemas e, principalmente…

4 – Teremos ainda mais um novo plot a ser explorado, que é o fato deles terem um mangá saindo de uma revista semanal e indo parar numa revista mensal. Algo que acontece na vida real. Um exemplo é o que estamos comentando sobre Nurarihyon no Mago estar contando os dias para pular da Shonen Jump para a Jump SQ. Essas coisas acontecem e é legal ver como os autores (no mangá) irão lidar com a adaptação da série para o novo formato.

Ao final de tudo, apesar de ter ficado uma coisa exageradamente rápida, essa mudança foi para o melhor. Editores e autores perceberam o erro e o corrigiram a tempo de trazer ao leitor uma boa história. Como foi dito no início do post, isso é algo muito comum de acontecer e é válido você começar a tentar perceber essas mudanças. Comece por se indagar “por que isso aconteceu da maneira que aconteceu?” e você estará mais perto de perceber essas mudanças. É algo que gosto de fazer e dá a você um bom entendimento sobre o manga making.

Algumas considerações sobre esse post antes de começarmos: 1 – […]

BAKUMAN Vol. 2 – Começando a carreira profissional

Conforme estabelecido no post sobre o volume 1, eu irei avaliar cada volume de BAKUMAN individualmente conforme eles forem saindo aqui no Brasil pela editora JBC. Sendo assim, o Volume 2 chegou às bancas já tem um tempinho, mas vamos a ele agora.

Logo no início do volume, temos a dupla Saiko e Takagi em seu caminho para o prédio da editora Shueisha apresentar o manuscrito de “As Duas Terras” para o editor. Eles estão adiantados e decidem matar um pouco de tempo para não parecerem muito afobados. Na conversa, descobrimos as motivações de Takagi para se tornar um mangaká. Gostaria de destacar nesse ponto que acho curioso a forma como o Ohba trata isso. Nos quadros em flashback ele nos mostra um cenário extremamente pesado e tenso em que o Takagi se revolta contra os projetos desenhados por sua mãe para seu futuro em “vingança” da demissão injusta do pai, mas logo depois os dois aparecem fazendo piada a respeito do ocorrido mostrando que isso não parece ser um trauma na vida do Takagi, só algo que aconteceu, nada demais.

Chega então a hora deles apresentarem seu trabalho. Ao entrarem no prédio da Shueisha, temos um panorama geral da recepção e dos procedimentos que um novato adota para poder mostrar seu trabalho. E para os que se perguntam se é realmente assim por lá, sim, é. Exatamente igual. Essa parte do mangá foi retratada com extremo realismo. Até o formulário que eles preenchem é o mesmo entregue na Shueisha “real”. Para adiantar, todo o visual do prédio da Shueisha, do departamento editorial, corredores, etc, que aparecem nesse volume são extremamente realistas. Quase “fotografias” do que eles são na realidade.

Nesse ponto somos apresentados a um personagem deveras importante para a série, Hattori Akira, o editor que aceitou dar uma olhada no trabalho dos meninos. Quando ele entra em cena, nós temos a impressão de que ele é um cara excêntrico e provavelmente doido, mas logo ele nos mostra ser muito competente no que faz e que está ali realmente para ajudar a dupla, já que ele vê futuro no trabalho deles. É interessante nesse momento do volume como Mashiro avalia Hattori com base nas informações que o tio passava para ele de como identificar um bom e um mau editor. No fim, o editor ganha a confiança de Mashiro e diz que o trabalho deles ainda precisa de tratamento, mas vai tentar inscrevê-lo no premio mensal da revista para ver o que outras pessoas acham dele.

Em seguida somos apresentados ao rival da dupla, que já havia sido mencionado na edição anterior, Niizuma Eiji. Ele sim aparenta ser muito excêntrico e não faz questão de mudar essa imagem. Um menino extremamente apaixonado por mangás e que não consegue parar um segundo de desenhar. Tem ideias fluindo em sua cabeça a todo momento e elas precisam ir para o papel. Alguns podem até considerar o Eiji orgulhoso e convencido demais nessa primeira fase do mangá. Uma figura, de fato, curiosa. Ele está pronto para ser serializado na Jump e está de mudança para Tóquio. A briga entre ele e a dupla principal está perto de começar.

De volta aos protagonistas, eles receberam a notícia de que “As Duas Terras” não ficou nem entre os finalistas, isso os deixou motivados para trabalhar em conjunto para criar uma história nova o quanto antes e tentar ganhar o grande prêmio anual da Shonen Jump, o Prêmio Tezuka. É daí que sai a ideia de “Um Milionésimo”. Hattori fica tão satisfeito com o novo trabalho que deixa os meninos com altas expectativas… mas infelizmente eles não conseguem receber nem uma menção honrosa.

Todo esse cenário é criado para uma das cenas que eu acho mais memoráveis no mangá até hoje, o soco de Takagi em Ishizawa. Eu decorei o nome desse personagem BEM secundário só por causa dessa cena que me marcou bastante pois coloca em evidência tudo que BAKUMAN “prega”. O colega de Mashiro e Takagi, Ishizawa, vê o nome dos dois na Shonen Jump e vai até Takagi dizer que o grande problema do mangá deles foi a arte de Mashiro. Em seguida ele mostra umas ilustrações feitas por ele dizendo que seu traço é muito superior ao de Mashiro. Takagi fica tão irritado que parte pra cima de Ishizawa derrubando-o com um soco.

A questão aqui é o Ishizawa representa a “exploração do moe” que a indústria de animes e mangás tem se direcionado para nos últimos tempos. Esse tipo de coisa é completamente abominada tanto por Takagi quanto por Mashiro e eles deixaram isso bem claro logo no volume 1. Ishizawa nunca desenhou um mangá na vida. Só ilustrações de lolis bonitinhas. Quando ele mostrou para o Takagi aquelas ilustrações dizendo que aquilo ali era muito melhor que a arte realista do Mashiro e que venderia muito mais, foi a gota d’água e acabou da maneira que acabou. Foi uma forma de mostra para o leitor o próprio ponto de vista dos autores de BAKUMAN sobre essa “onda moe”.

Por volta do meio do mangá, a dupla se encontra com Hattori para analisarem o que deu errado em “Um Milionésimo” segundo as avaliações do juri. O que se constatou era que o problema não era a arte nem o roteiro, mas sim a temática. A temática não era apropriada para a Jump. Principalmente um personagem que seja mais adequado à Shonen Jump. Ele diz então que vão trabalhar juntos para que isso aconteça e que tem um plano para eles superarem até mesmo o Eiji em 3 anos. Esse plano deixa Mashiro descontente. Para ele, o importante é conseguir uma série o quanto antes e ficar na mão de alguém que tem planos a longo prazo é doloroso. Ao confrontar Hattori sobre caso eles tivessem um excelente mangás em mãos agora ele ainda iria insistir em publicá-los só quando se formassem daqui a 3 anos, vem o editor-chefe e interfere na conversa.

“UM MANGÁ SÓ PRECISA SER BOM. SE FOR BOM, É NATURAL QUE SEJA PUBLICADO.”

Essas foram as palavras usadas pelo editor-chefe para interferir na discussão e diz que essas palavras vieram da boca de Karo Kawaguchi, tio de Mashiro. Tomamos conhecimento aqui que o editor-chefe foi editor do Karo Kawaguchi no passado e que foi ele que teve que “despedi-lo” da Jump. Todo esse contexto serviu como uma incrível motivação para Takagi, mas principalmente para Mashiro. Ele, mais do que nunca agora, quer ser publicado.

No encontro seguinte com Hattori, a dupla mostra os personagens e storyboards mais “ao estilo Jump”… mas para a surpresa geral, todos são horríveis na opinião do editor. Ele decide então mudar a estratégia e voltar com as temáticas e personagens mais “adultos” pois esse é o estilo dos meninos e pode ser um bom diferencial para a atrair leitores. É na conversa que Mashiro e Takagi apresentam uma ideia que havia sido descartada pela dupla, “Dinheiro e Inteligência” (que na edição da JBC foi traduzido para “Grana e Inteligência”). O plot atrai bastante a atenção de Hattori e ele decide investir nessa ideia. Pede para os meninos trazerem um storyboard com objetivo de publicarem na Akamaru Jump, uma revista agregada à Shonen Jump que trás one-shots de autores novatos e sai três vezes por ano. Hoje em dia a Akamaru Jump não existe mais, ela foi substituida pela Jump Next, mas a ideia continua a mesma.

Daí até quase o final do mangá, temos o trabalho de elaboração de “Dinheiro e Inteligência” e é interessante vermos como é o trabalho de um editor com os autores para a criação de um mangá. Essa relação é um dos pilares em que se apoia BAKUMAN e em diversas situações no futuro da série ela é abordada.

Por fim, eles conseguem fazer com que “Dinheiro e Inteligência” seja publicado na Akamaru Jump. Somos também apresentados ao pseudônimo que será adotado pela dupla, Ashirogi Muto, uma mistura dos nomes do Takagi e do Mashiro. Porém, nem tudo são flores. Eiji também publicou seu one-shot de “Crow” na mesma revista que a dupla. Ele ficou em 1º na pesquisa de opinião do público enquanto “Dinheiro e Inteligência” ficou em 3º. A dupla fica arrasada e temos início à bela rivalidade entre Niizuma Eiji e Ashirogi Muto.

Mais uma vez temos uma análise relativamente longa, mas bem detalhada desse volume. Espero que vocês estejam gostando e que continuem lendo tanto BAKUMAN quando estas análises. Não deixe de deixar sua opinião sobre essa edição nos comentários!

Conforme estabelecido no post sobre o volume 1, eu irei […]