Pelo menos para mim, os últimos anos têm sido muito satisfatórios quanto a novos mangás sendo lançados aqui no Brasil, tantos títulos interessantes que às vezes até pesa no bolso. Entre eles, obras verdadeiramente espetaculares como 20th Century Boys, Monster, Genshiken – que ao fim de cada volume, vem a intensa ansiedade em ler o seguinte, sem tempo de se preocupar com os gastos.
É maravilhoso que venham títulos dos mais diversos, mas não nego que há dentro de mim aquele sentimento purista gritando “se for para trazer, que seja uma obra-prima!”. Pois bem, Usagi Drop pode não ser do gosto de qualquer um (ainda mais levando em conta o final do mangá…), mas sem dúvida alguma me proporcionou uma satisfação especial, desde a primeira página até a última deste primeiro volume. Limitando-me apenas ao catálogo das nossas editoras, o josei foi um dos poucos que no momento em que o tive em mãos, soube que seria um dos melhores mangás lançados aqui.
A história de Usagi Drop já começa em um velório. O clima entre os parentes é pesado, não apenas pela perda do avô da família, mas principalmente por este ter deixado para trás uma filha bastarda, desconhecida até então. Daikichi, o neto do falecido, se surpreende quando os demais adultos consideram deixar a pequena Rin em um orfanato e, movido pelo impulso e já alguma simpatia pela garotinha, assume a responsabilidade sobre ela. Solteiro, com apenas 30 anos e nenhuma experiência com crianças (além de muito pouca com mulheres em geral), Daikichi precisará se virar para cuidar de sua “tia” Rin, de 6 anos de idade.
Como a pessoa extremamente “família” que sou, obviamente a sinopse do mangá já foi mais que o suficiente para me deixar ansiosa com o lançamento. Atendendo às minhas altas expectativas, cada página transbordava sensibilidade, representando pessoas e relações familiares como de fato são: muito delicadas. Cada atitude e fala refletem em todos, gerando sentimentos por vezes pesados e difíceis de lidar, problematizando ainda mais o relacionamento entre as pessoas.
Indo contra a frieza de seus parentes ao assumir os cuidados da menina, Daikichi já começa a conquistar o leitor, mas tenho a opinião de que a autora foi especialmente feliz quando o coloca refletindo sobre a questão negativamente, assim como os demais. Reconhecendo o escândalo associado ao fato de que Rin seja filha de seu avô, abandonada na casa sem que ninguém suspeite quem seja sua mãe, Daikichi compreende que ele é capaz de perdoar o falecido, mas se questiona se teria a mesma postura se a criança fosse filha de seu pai. Para muitos pode ter sido apenas uma cena, mas eu enxerguei nesse momento uma humanidade ímpar, mostrando o quão nossos sentimentos são relativos e que se não olharmos sob outras perspectivas, não há como compreender as pessoas a nossa volta.
Satisfeita com o protagonista que é de fato capaz de agir como um adulto, assim como com o retrato bem verossímil dos parentes mais velhos, não menos devia esperar da pequena Rin. À princípio bem calada, ela logo se apega a Daikichi, o único adulto no velório que demonstra se importar com seus sentimentos. Por sinal, outro detalhe que me agradou muito foi ele ter perguntado a ela diretamente se gostaria de ir morar com ele, ao invés de somente carregá-la consigo para casa. Não foi sem motivo que ela aceitou, nem por menos que tenham se acostumado um com o outro rapidamente.
Por sinal, não é de se admirar que tantas pessoas se apaixonem por essa primeira parte do mangá – a convivência diária de ambos é realmente adorável, me deixou ainda mais consciente da ansiedade que tenho em ser mãe! rs Rin é como toda criança: precisa de roupas, refeições decentes, escola (no caso, maternal) e todo cuidado de um responsável dedicado, missão que o Daikichi encarna até mais do que esperava ver. Como ele mesmo disse (para si): “Dizer agora que ‘isto não é um sacrifício’, vai parecer mentira. Por isso, gostaria de pensar assim daqui a alguns anos.” Muito fofo ou muito fofo?
Não se limitando a focar em apenas um dos lados, Usagi Drop expõe a todo momento o quanto um influenciou na vida do outro, abordando vários temas – alguns divertidos, outros complicados. Apenas citando dois exemplos, gostei muito de ver a percepção infantil sobre morte sendo explorada além do dia do enterro do vovô, em vez de colocar uma pedra no assunto porque ela agora tinha o Daikichi, “então já está tudo bem”. Também achei sensacional como a autora coloca ele olhando mais para si mesmo, se preocupando com sua saúde e sinais de que já não é mais um rapazinho, exatamente porque tem uma criança para cuidar. Ambos são personagens muito sensíveis e humanos, do tipo que se imagina vivendo como nós, que com certeza tem muito a oferecer um para o outro e uma história incrível para construir. Usagi Drop, sem sombra de dúvidas, extremamente recomendado!
Eu já li e acho esse mangá sensacional, mas só na primeira parte. Na segunda, não sei, mas parece que a autora meio que cansou da história e resolveu mudar tudo. Uma pena.
Quando tiver essa primeira edição em mãos, vou avaliar se realmente quero ver aquele final de novo.
acho que vou acompanhar, mas qual é o preço?
Vão ser dez volumes, R$19,90 cada (200 páginas – 1 página colorida, papel offset). (=
Fiquei com ainda mais vontade de ler esse manga!!
Fui besta! Deveria ter comprado no AF! Agora só Deus sabe quando vem para o interior!!