Animes, Mangás, Arte e Preconceito

Recentemente venho estudando um pouco sobre arte no geral e me deparei com o seguinte dizer que motivou todo um pensamento dando origem a esse post: “arte não tem sentido, se alguém tenta forçar um sentido à arte, ela deixa de ser arte”.

Brevemente essa afirmativa se baseia na noção de que a arte existe justamente para representar o mundo como ele é: caótico e sem sentido. É ela que irá mostrar para os seres humanos que tentam a todo momento racionalizar a realidade de que as coisas não são tão certinhas como queremos imaginar. Seria através da arte que o indivíduo veria a verdade e essa verdade é a de que não existe verdade.

Esse paradoxo pode ser um tanto confuso mas se desdobra em sentidos muito mais palpáveis para nós. Como por exemplo o que seria arte e o que não seria arte. Não existe um conceito fechado e único justamente pois isso iria contra o princípio exposto antes. Sendo assim, arte é algo individual. Algo que eu posso considerar como arte outros podem dizer o oposto. Arte não é uma coisa, mas sim um evento, um momento, uma situação. O instante com o qual você se conecta com uma obra, seja ela qual for, é nesse momento que se estabelece a arte… ou não.

Explicando de forma mais prática: quando eu leio um mangá como Monster, para mim aquilo é tão profundo e lindo que não tenho como defini-lo de outra forma a não ser como arte. Ao mesmo tempo quando eu assisto Queen’s Blade eu posso ter todo tipo de definição para aquilo… tudo menos arte. Porém, outra pessoa ao assistir às mesmas obras pode ter uma opinião totalmente contrária à minha. Podem existir pessoas que considerem Queen’s Blade como arte.

Isso acontece pois cada um de nós é um indivíduo que teve suas próprias experiências de vida, tem seus próprios pensamentos, expectativas, necessidades, etc. E ao entrarmos em contato com uma obra de arte, tentamos buscar sentido naquilo de forma a satisfazer esses aspectos de nós mesmos. Desse modo, cada experiência artística é única e nunca pode ser repetida… nem por nós mesmos. A arte que eu via em Pokémon hoje não existe mais. Eu posso ver o mesmo episódio que vi quando era criança e minha conexão com essa obra será diferente do que era no passado. Aquilo para mim era arte, hoje não é mais.

Dessa forma, chegamos ao ponto final deste post um tanto teórico, de que por ter este caráter individualista e momentâneo, a arte no geral é carregada de preconceitos. O que define um anime como bom ou como ruim? O que define um mangá como bom ou como ruim? Nós acabamos estabelecendo padrões técnicos como parâmetros para justificar essas escolhas mas todos sabemos que na verdade o que importa mesmo é nossa opinião pessoal, nosso momento, nosso contexto, nossas expectativas.

É curioso como esse conceito acaba fazendo-nos entender que nossa vida é recheada de pré-conceitos de tudo que nos cerca. Eu duvido que qualquer um de vocês nunca tenha julgado os gostos de ninguém como “fulano só vê anime de bosta de garotinhas” e por aí vai. Por que seu gosto é melhor do que o dele? Já parou para pensar que na cabeça dele o seu gosto é que é estranho? E quem está certo? Ambos!

Por essas e outras que nunca se deve apenas ver um lado de uma história. Quando você estiver procurando um anime para assistir ou um mangá para ler você não pode simplesmente jogar no Google e ler a primeira opinião que aparecer na sua frente. No mínimo leia duas ou três opiniões sobre a obra e comparando-as tire suas próprias conclusões. E se possível, leia regularmente blogs ou fóruns de animes e mangás. Você provavelmente vai encontrar alguém com um gosto parecido com o seu e dessa forma terá um parâmetro bem estabelecido para ponderar melhor as opiniões daquela pessoa.

Mas isso é assunto para um outro post que deve estar saindo em breve. Encerro este por aqui e gostaria muito de saber a opinião dos leitores sobre esse assunto tão… conceitual.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

Recentemente venho estudando um pouco sobre arte no geral e […]

12 thoughts on “Animes, Mangás, Arte e Preconceito”

  1. Eu concordo com você. O que é arte depende da opinião pessoal de cada um, da situação que estamos passado ou da nossas antigas experiências. E a nossa opinião mudar com tempo, você disse que considerava Pokemon uma obra de arte mas agora mudou de opinião. Arte não é algo que ser deve ter sentindo mas nos sempre procuraremos um sentindo para tudo.

  2. Dizem que a Guerra é uma arte. Será?

    Para mim a melhor coisa da arte é justamente ela não ter uma definição ou sentido: igual à vida. Esta é toda a beleza da coisa.

    O vocabulário humano é por demais limitado para realmente exprimir sensações mesmerizantes como estar diante de uma obra de arte.

  3. Então deixe ver se eu entendi.

    Sua mulher era uma arte, que posava nua para quadros. Mas como ela ficou velha, a arte dela se decaiu, já que a sua beleza é diferente da anterior. Ou se cansar dela, e não vê-la mais como arte.

    Talvez a arte venha da velhice também, a pessoa em si enxerga mais quando estão nesta idade, né. O nosso filho perde o seu encanto quando envelhece, pois o “bonitinho” se torna um homem grande.

    Taí a minha análise.

  4. Arte é sobretudo uma expressão do autor.
    Essa história de arte não fazer sentido é papo furado, pois para o autor ele pode representar algo que não faz sentido para ele mas faz para outro, igualmente como pode representar algo que só faz sentido para ele e para os outros não faz, daí se supões que surgiu essa afirmação.

  5. O próprio conceito de arte foi mudando profundamente ao longo dos séculos. A arte renascentista era extramente calculada, pensada, almejando uma representação fidedigna do ambiente. Alguns séculos depois surge o impressionismo que descontrói todo este conceito de arte certinha, clássica e em alguns momentos chega a beirar a abstração.

    Acho que muitas vezes nossas opiniões são influenciadas até demais pela corrente, ou pelos nossos próprios conceitos, e acabamos ficando presos no que se diz ser arte ou não. Isso nos impede de conhecer coisas novas e até mesmo de aceitar o gosto alheio.

    Como tudo nesta vida, arte é uma questão de perspectiva e acho que foi muito bem colocado o que você disse sobre nós buscarmos sentido que nos satisfaçam e que cada vivência artística é única.

    Mas algo que fica para discussão. Vocês acreditam que existam obras-primas? Isso foi um tema que apareceu no Hyouka nos penúltimos capítulos e achei muito interessante. Um filme como Hotaru no Haka eu considero e sei que outras pessoas também pensam que é uma obra-prima, mas se arte é algo tão pessoal será que podemos dizer que sim?

  6. eu não sei se concordo muito com isso de que arte vai do ponto de vista de cada um…arte é algo que foge do comum. Tem muita gente que não sabe o que fala, nem por isso o que ele está dizendo, se torna algo válido. Se alguém me disser que One Piece é esteticamente artístico, vou apenas fingir que não ouvi essa afirmação. O que eu vejo é muita gente confundindo alho com bugalho. :D:D:D

  7. Eu sou “preconceituoso” então…

    eu acho que a coisa pensada, planejada, criada com varios simbolismos , figuras de linguagem e etc são minha visão de arte, quando eu vejo algo minuciosamente planejado , eu me impressiono, vejo valor.

    Quando eu vejo algo que falha nesse contexto, ou que no contexto em que está inserido não se destaca, eu vejo como desleixo, falta de criatividade, nada perto da minha concepção de arte.

    Não posso ignorar isso, e nem vou ser imparcial e manter aquele posicionamento neutro, pra mim isso é arte, e o que não for, eu te respeito , e sua opinião, mas não vou ver como arte em lugar nenhum.

    É algo que estava discutindo esses dias com uma professora minha. “Ai se eu te pego” faz sucesso no exterior, e muito, as pessoas ouvem a musica nas ruas e tals. E a letra é mediocre, sem qualquer senso artistico, mas… como é o que acontece aqui no brasil tbm, muita gente não sabe o que está sendo cantado, e como um ritmo novo, o sertanejo é um ritmo gostoso, os gringos gostaram e hj ouvem isso e consideram como referencia na musica brasileira. Eu sou obrigado a concordar com eles? não, nem me sinto representado por tal musica. Então eu fico na minha, e eles com “ai se eu te pego”.

    Acho que o caminho não é dizer “talvez” se te perguntarem se algo é ou não é, mas dizer sim ou não, dependendo do que acredita. Fugir da discussão com imparcialidade não vai resolver, o importante é entender que mesmo com “preconceito” , o respeito deve continuar e prevalecer.

  8. Post magnífico! Não sei se é porque estou estudando sobre isso também, mas gostei muito das reflexões. Enfim, como eu disse, estou estudando bastante sobre arte e lendo bastante por um certo motivo. Eu estou tentando procurar o conceito de arte para começar a entender, e talvez seja difícil exatamente por não ter um sentido único.

    Mas acho que posso discordar de algumas coisas. O texto foi bem longe, indo para um nível de pensamento bastante superior, mas um tanto escapista. Acredito que arte tenha sim um sentido. O simples sentido de apresentar-se como sem sentido já é um sentido, mas eu acredito que os ‘produtos artísticos’ precisem ter algum sentido proveniente do autor, senão se torna uma arte ruim.

    Um exemplo prático: Um filme pode ser bastante artísticos, com ideias e simbolismos poéticos, mas eu acredito que são bons apenas quando são pensando pelo autor. Claro, essa é uma visão “crítico de cinema”, querendo decidir se o filme é bom ou não como arte. Eu acredito que a arte é arte, mas pode ser ruim ou boa.

    Acho que o conceito do “sem sentido” aplica-se ao conceito de arte. A palavra “Arte” não pode ser totalmente definida, de fato, mas os produtos dela possuem sentidos. Mas nem sempre fica claro que o autor quis colocar a arte daquela forma e isso torna a arte algo extremamente pessoal e quase indiscutível. Entretanto, eu sempre achei que opiniões divergentes podem ser resolvidas com discussões, apresentando argumentos e motivos para aquilo ser ou não arte ou ser ou não bom. Mas ser bom ou não é, como dito, um conceito pré definido que não diz tanta coisa, mas “Em Roma, como os Romanos.”. O mundo definiu e essas são as definições. Podemos tentar sermos superior, mas assim seremos superiores distantes demais.

    Mas, como eu sempre pensei, todas as opiniões vem das experiências, da vida e de tudo que acontece com cada pessoa. Podemos discutir para tentar chegar em um consenso ou dar motivos para nossas opiniões, mas sempre podemos estar completamente errados. Ou certos. Afinal, não há um livro onde todas as regras do mundo estão escritas, dizendo o que é certo e o que é errado, por estes conceitos serem humanos e tudo criado por humanos não deve ser levado a sério.

    Ou não.

  9. Falando sério, essa história de que a vida é caótica, confusa e sem sentido é um pensamento artificial, batido e raso demais. Adolescentes na puberdade pensam isso. Converse com um adulto ou até mesmo com algum idoso e veja se ele concorda que a vida não tem sentido. Isso se aplica também a arte. O que você fez foi confundir gostos pessoais a definição de arte. Os melhores representantes das artes são as obras-primas. São materiais que atingiram o ápice do que o meio e o tempo podiam oferecer. São obras que ao invés de alienar a pessoa ao seu mundinho, a sacode e amplia a sua visão geral. Leia a Divina Comédia, devore o mangá Akira, veja o longa coreano Oldboy e assista o fantástico filme MindGame e depois venha me dizer de novo que o gosto de um otaku moezeiro pode ser considerado igualmente a de quem aprecia esse tipo de material. O próprio otaku SABE que aquilo que ele consome não é arte. Ele somente o apreciad, sente prazer em consumi-lo e só. Quando nos deparamos com uma obra de arte, SABEMOS que aquilo é uma obra de arte, apreciando ou não. Todos sabemos que Monalisa é uma obra de arte, mas quantos de nós realmente iria querer um poster dela ao invés de um do nosso anime favorito na parede do quarto?

  10. Entendo arte como libertação.

    Se algo que você lê te liberta de alguma maneira, aquilo é arte.

    As pessoas se libertam de maneira diferentes por meios diferentes.

    Logo, arte é relativo. o/

  11. Justamente pela vida ser assim, sem sentido algum é que buscamos dar um sentido a ela.
    E na arte encontramos uma forma de entende-la.
    Eu só penso que existe a arte e o produto artístico.
    A arte é como vemos o mundo e o produto artístico é o que fazemos seguindo uma ideia e a usamos para adquirir algo em troca de algo.

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