Anikenkai foi à MegaCon 2012 – Impressões de um evento fora do Brasil

No fandom brasileiro de animes e mangás existem muitas pessoas que gostam de ir a eventos de anime e muitas pessoas que não suportam a ideia de pisar em um. Eu me encaixo no segundo já tem um bom tempo. Os motivos são vários, mas o principal, na minha humilde opinião, é que os nossos eventos não me oferecem o que eu procuro, que é um ambiente para discutir e conhecer mais sobre animes e mangás. Mas não condeno os fãs que vão a eventos por aqui pois, como eu disse nesse post sobre o assunto, cada um vive seu hobby da maneira que mais gostar.

Mas a grande questão é que outra coisa muito comum em nosso fandom é o fato de falarmos como os eventos lá de fora são superiores, sensacionais, valem a pena de verdade, etc. Eu acompanho alguns eventos dos EUA há algum tempo mas nunca havia ido a nenhum. Bem, não até o último dia 18 de Fevereiro quando pude visitar a MegaCon 2012, o maior evento de cultura pop do sudeste dos EUA. Pude ver com meus próprios olhos como era um evento grande por lá e fui com o intuito de esmiuçar tudo para trazer a vocês como, de fato é um evento por lá. E se vocês estão aqui para uma resposta, sim, eles são MUITO melhores que os nossos… mas também tem seus problemas.

Vamos aos poucos…

Para começar, é válido contar como descobri sobre esse evento.

Na sexta, dia 17, estava indo fazer umas compras e peguei um ônibus lá em Orlando. No caminho para o shopping, reparei que estavam entrando no ônibus umas figuras peculiares que, claramente, meu radar-nerd logo identificou como típicos nerds norte-americanos. Em seguida, comecei a ver pessoas fantasiadas andando pela rua. Logo pensei que devia estar rolando um eventozinho de anime pela região. Foi então que ao se aproximar co Orange County Convention Center (foto) que eu reparei que não era qualquer eventinho.

O lugar era enorme! Um enorme centro de convenções estava sediando um evento de cultura pop. Mudei de emergência minha agenda de viagem e no dia seguinte fui ao local com uma câmera na mão, uma mochila nas costas e muita curiosidade para saber o que eu iria encontrar por lá.

O fato do evento estar sendo realizado num lugar próprio para isso já me agradou muito. Nada de escolas, pátios de universidades, nada disso. Era um centro de convenções, como deveria ser e, principalmente, com um belo ar condicionado em todos os lugares que você ia.

Chegando lá, a primeira surpresa, o preço do evento. Foram salgados 25 dólares (+- 45 reais) para entrar no lugar. Mas apesar da fila honesta para comprar na hora, tudo era MUITO organizado, as compras fluiam rápido, as filas andavam e em cerca de poucos minutos eu já tinha comprado meu ingresso e entrado no evento. Eram cerca de 10h da manhã quando as portas abriram para o galpão principal onde ficavam os estandes. Fui para lá para ver o tamanho da coisa em que eu estava me metendo.

O lugar era enorme. Essa foto não dá nem a ideia de quão grande era o lugar. Maior que qualquer galpão de estandes que eu já vi por aqui no Brasil. Uma coisa muito legal era como eles dividiam esse grande espaço.

Primeiro havia um espaço onde convidados da industria dos quadrinhos, TV, cinema, etc, teriam para distribuir autógrafos e tirar fotos com os visitantes, outra parte com os estandes de vendas de quadrinhos, outro com as vendas de bugigangas variadas (que iam de roupas nerds, até recriação de vestimentas célticas, armas, fantasias, o que quer que fosse era muito provável que você encontraria lá), uma área para a exibição de artigos de Star Wars (muitas replicas sensacionais) e uma área para artistas.

Essa área para artistas merece destaque pois era sensacional. Nós tinhamos desde grandes escolas de arte divulgando seus trabalhos de altíssima qualidade, até belos desenhistas que publicam seu material de forma independente ou online, ou simplesmente artistas de rua que fazem caricaturas, etc. Mas o que me surpreendeu mesmo foi a qualidade do material geral. Dos mais novos aos mais velhos, tanto a qualidade dos desenhos quanto das publicações que eles estavam vendendo, muitas vezes a preços modestos vide a qualidade do material.

Um espaço desse aqui no Brasil era algo que eu queria muito. Incentivar a produção local e dar uma chance a artistas locais mostrarem seu talento.

Outra coisa legal que eu vi por lá foi essa mesa aí. Reparem que tem bastante gente interessada nela. Era interessante pois ela ficava logo na entrada e estava lotada de panfletos das mais variadas coisas. Tinha comic-shop, outros eventos menores, escolas de arte… mas o que mais me chamou a atenção eram os clubes, principalmente os clubes de anime. Qualquer pessoa do evento podia colocar panfletos ali então alguns clubes de anime pequenos iam lá e colocavam o anúncio de sua existência nessa mesa e as pessoas davam atenção. Uma ideia sensacional. Um espaço aberto onde os visitantes poderiam anunciar o que quisessem através de panfletos. Eu anunciaria o Anikenkai por exemplo.

Obviamente que tínhamos cosplayers. E dos mais variados tipos e qualidades. Existia um galpão bem vazio que era usado basicamente para os cosplayers poderem ser fotografados tranquilamente, sem terem que se espremer no meio da multidão para fotos. Tinha de tudo… até um GUNDAM extremamente bem feito andando por entre os visitantes. E se estar em um evento internacional já não fosse uma realização de um sonho antigo meu, vários outros pequenos (e outros nem tanto) sonhos iriam se realizar naquele dia. O primeiro deles foi finalmente ter encontrado uma cosplayer de Slave Leia (foto)! E acreditem, ela não era a única no recinto! O nerd dentro de mim sorriu pelo resto da semana por essa.

Acontece que eu não estava ali só para ver estandes e tirar fotos de cosplayers. Eu queria saber das palestras, dos painéis, perguntas-e-respostas, etc. Mas não conseguia encontrar informações quanto a isso. Foi ai que perguntei a um outro visitante e ele me perguntou porque eu não tinha pegado o guia do evento. E eu perguntei onde poderia encontrar um para mim. Para minha surpresa, era uma enorme mesa na entrada com uma sacola que dentro você recebia um poster e um guia bem grande (imagem ao lado, clique para ampliar), de 30 páginas mais ou menos, contendo tudo que eu precisava saber sobre a MegaCon 2012. Achei sensacional.

Fiquei perguntando por que isso também não é feito aqui? Muitas pessoas não tem a menor noção do que tem em muitos eventos por aqui além da programação principal. Muitas salas temáticas, etc, ficam desconhecidas por falta de informação ou falta de direções. Um guia do evento ajudaria muito numa hora dessas. Um mapa com as salas, um guia com as programações e por aí vai. Claro que isso iria exigir um profissionalismo muito maior dos organizadores do evento e das salas. Será que eles estariam dispostos? Mas continuando…

Com a programação das palestras em mãos, a primeira que fui foi a da DC (a editora responsável por Batman, Superman, etc, para quem não conhece) sobre a THE NEW 52, o reboot total de suas revistas. Como eu estou curioso sobre todo esse reboot, resolvi ouvir da boca dos responsáveis pro aquilo, o que eles estavam achando de toda aquela coisa.

Foi uma excelente escolha de palestra. O editor-chefe da DC, Dan DiDio (o da foto comigo, odiado por muitos) estava presente e respondeu francamente a todas as perguntas dos leitores e ouviu todas as críticas muito bem. Depois do painel, eles foram muito solícitos com o público. Eu ainda pude bater um papo mais informal com ele depois do fim e tirar essa foto que vocês veem aí em cima.

Mas o mais incrível de tudo foi poder estar cara a cara discutindo as coisas que você está lendo com os caras que as fazem. Isso que é incrível. Tira a passividade do ato de simplesmente ler. Você lê e discute diretamente com os criadores aquilo. É algo que, infelizmente, é difícil de se aplicar por aqui, mas que é muito gratificante. Cria uma conexão do leitor com a editora muito maior do que um mero consumidor. Achei a experiência sensacional.

Decidi então deixar o mundo dos quadrinhos americanos de lado um pouco e ir para o painel da Funimation. Na descrição do painel estava escrito “Industry Panel”, logo acreditei que seria uma discussão sobre a industria americana e me interessei muito. Porém, me decepcionei, pois, apesar de ter sido legal, foi basicamente uma apresentação de lançamentos futuros dos DVDs/BDs da empresa. Só isso.

Foi interessante poder ter acesso a isso e acho que para o público americano (que ficou bem animado com alguns lançamentos) é algo bem legal pois o salão estava cheio e eles vibravam com muitos anúncios e, principalmente para com anúncios de dubladores. Achei curioso.

Mas uma coisa que me chamou a atenção nesse painel foi o comentário do representante da Funimation para com o lançamento de Kuragehime (ou como eles chamam por lá, Princess Jellyfish). Ele disse que aquele era um lançamento incomum pois não continha uma quantidade significativa de peitos e bundas balançando na tela. Fiquei pensando sobre o assunto e de fato. O mercado americano tende muito para essa área, principalmente os lançamentos da Funimation. E eles não tem medo de assumir isso.

Em seguida, eu fui a uma palestra sobre o trabalho de Go Nagai. Era palestra de fãs para fãs. No caso, membros de um clube de anime para o público do evento. Algo que eu defendo há muito tempo para os eventos do Brasil. Deixem os fãs falarem. Se nós podemos fazer posts em dezenas de blogs, podemos muito bem falar sobre o assunto também. Eu adoraria apresentar Genshiken para uma platéia, por exemplo.

Mas, outra decepção, apesar de ter tido bastante conteúdo, foi basicamente uma apresentação das obras de Go Nagai sem muito aprofundamento sobre o assunto. O que é válido, mas que para alguém que já conhecia o assunto (eu) não acrescentou muita coisa. A grande surpresa viria a seguir…

Eu tinha um horário vago e estava cansado de andar, então resolvi entrar em um painel chamado MANIME!. Eu não tinha a menor ideia do que significava até os responsáveis chegarem. Infelizmente não tirei nenhuma foto do painel, mas vamos ver se vocês conseguem entender.

MANIME é uma sigla para “The Manly Anime Panel”, que traduzindo significa “O Painel de Animes de Macho”. É uma mistura de The Man Show com Epic Meal Time, mas ao invés de cerveja e comida eles falam de animes e mangás. O espírito do lugar é sensacional e o público, que já conhece o MANIME entra na onda e se diverte junto. É engraçado e com conteúdo. Naquele dia eles estavam falando de Hokuto no Ken e foi uma excelente apresentação para o pouco tempo que tinham. Os apresentadores são bons, sabem levar o show e entendem do que estão falando. Foi a maior surpresa do evento.

E nenhum deles é profissional em nada. São fãs querendo fazer um bom painel para fãs. A declaração “E nós finalmente conseguimos nos livrar dos cosplayers e daqueles que vem vestidos com roupa de bichinho esse ano” descreve bem o clima do painel. “Eles até vinham no começo, mas pararam de vir naturalmente… não sei por quê?”.

Eu ainda tinha um outro painel de animes para ver. Sobre a adoção da palavra “otaku” no ocidente. Mas como eu duvidei BASTANTE da autoridade dos palestrantes no assunto logo no começo do painel, preferi sair e entrar na fila para o perguntas e respostas com ninguém menos que a LENDA VIVA, STAN LEE! O criador de Homem-Aranha, Hulk, Vingadores, dentre outros, estava no evento e iria das uma palestra para os fãs.

Foi a melhor coisa que fiz pois o lugar lotou muito. Era o maior salão do evento e TODAS as cadeiras ficaram preenchidas e um monte de gente ainda ficou em pé. Fácil umas 3.000 pessoas sentadas naquela sala. Ou mais.

A questão é que, observado por um excelente cosplay de Tony Stark (foto acima), lá vinha Stan Lee…

Mais um sonho realizado. Eu consegui ficar BEM perto de Stan Lee, ouvir o cara falar e poder ter uma experiência como essa. Um cara que eu admiro desde criança estava lá na minha frente. E o cara é sensacional, para falar pouco.

Suas respostas são sagazes, diretas e sem papas na língua. O fã perguntava “Sr. Lee, em que a conjuntura da época influenciou na criação do Homem-Aranha ou de outros heróis?” e ele respondia “Meu filho, eu era um empregado como outro qualquer. Eu pensava num herói muito legal, um vilão melhor ainda, um problema que os leitores achariam impossível de resolver e eu resolvia. Simples assim. Tudo mais foram coincidências”. Gênio.

E ao falar do filme d’Os Vingadores, o público foi à loucura. O velho Stan só jogou ainda mais hype para a galera. Eu não perdi a oportunidade e tive que falar pro cara que tava do meu lado que eu iria assistir ao filme uma semana antes dele (estreia no Brasil antes dos EUA).

Foi um dia sensacional que nunca esquecerei. E olha que ainda fui sozinho. Ir com um grupo deve ser ainda mais legal.

A moral da história é que, sim, os eventos de lá são muito melhores do que os daqui, mas se teve uma coisa que eu percebi foi que isso se dá, basicamente, por relaxamento dos organizadores. Tudo que eu vi lá poderia ser feito aqui. Não precisa ser numa escala tão grande, mas ainda assim dava pra fazer. Nós temos brasileiros trabalhando com quadrinhos, nós temos uma enorme quantidade de pessoas que pesquisa e escreve sobre animes e mangás por hobby que topariam falar sobre o assunto em eventos… basta querer.

Hoje em dia, se eu for a um Anime Friends sozinho, como fui para a MegaCon, eu não teria NADA para fazer. Eu entraria e sairia sem fazer praticamente nada. Teria produtos super-valorizados e com pouca variedade. Num ambiente impróprio para eventos e mal organizado. O Brasil não tem centros de convenções? Até onde eu sei tem, e muitos. Como eu disse, basta querer.

Espero que vocês tenham gostado. Não deixem de comentar e fazer perguntas! E, se um dia, tiverem a oportunidade de ir a um evento fora do país, o façam. É uma experiência muito legal de se ter como fã.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

No fandom brasileiro de animes e mangás existem muitas pessoas […]

10 thoughts on “Anikenkai foi à MegaCon 2012 – Impressões de um evento fora do Brasil”

  1. Um evento que poderia inspirar os daqui em organização e entretenimento… o preço do ingresso desse evento poderia ser condizente com o que oferecer ao público; quanto custou?

    Espaço para eventos assim? Aqui tem! Temos o Anhembi, Expo Center Norte, Espaço Imigrantes… isso são os que conheço aqui de SP. No Brasil afora devem ter bons espaços; pra mim a era de eventos de anime em espaços universitários acabou, pois se quer que a cultura se expande, tem que procurar grandes centros de eventos, senão vai dar aquele ar de evento fechado a um grupinho.

  2. Ótima matéria. Acho que falou tudo sobre o que seria se tivesse esses eventos no Brasil, agora sobre os eventos internacionais só indo mesmo para saber como é, e seus comentários com certeza deixaram muitas pessoas com vontade de ir.

  3. O que precisa acontecer é algum organizador de eventos brasileiros, ler essa matéria e ir em algum evento estrangeiro, só assim pra mudar alguma coisa no Brasil, já foi o tempo…

    Alias sua matéria foi muito bem escrita, deu aquela vontade de ir ver, deu pra captar a emoção de quando você estava escrevendo e lembrando do evento. Parabéns.

  4. Ótimo texto, relamente mostra a diferença do que é lá fora com o que temos aqui. Infelizmente os eventos brasileiros não chegam aos pés.
    O melhor evento que já fui sempre foram os organizados pela AnimeCon, eles sabiam achar bons espaços e era bem organizado. O AnimeFriends e demais da Yamato estão ali para povoar, mas são péssimos em organização e esses tipos de painéis existem mais próximos na FestComix e olhe lá.
    Vou em alguns dos eventos para ver bandas que curto e bons cosplays.

    Os cosplays da Slave Leia e do Homem de Ferro estavam bons, mas seria tão mais legal se tivesse mais fotos.

  5. Esse sorrisinho do DiDio…. dá vontade de surrá-lo pelo o que ele está fazendo com o Reboot que não é Reboot.

    Acho que evento grande só de anime no Ocidente não rola, acho que a FIQ é mais parecida com esses eventos que o Anime Friends.

  6. Evento muito legal. Gostei da promoção de mangás a 5 doletas na última foto.

    Talvez o evento mais parecido com este no Brasil seja a FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos), se bem que a do ano passado aqui em BH aconteceu no menor centro de exposições da cidade, tava um inferno andar por lá, apesar do lugar escolhido a programação foi bastante diversa.

    Empresas que podem fazer eventos de qualidade nós já temos, lugares de qualidade para realizar grandes eventos também (o Expominas em BH é maravilhoso) o que falta é a vontade de se fazer.

  7. Ótima matéria, deu muita vontade de estar lá.
    Em matéria de eventos, nem tenho muito o que falar, pois nunca fui em algum, e do gente que falam, parece que não vou mesmo. Outro problema é que moro no interior de Minas Gerais… o pessoal aqui mal faz ideia do que é mangá, anime e coisas otakus em geral. e, se conhecem, acham que é coisa de criança/desocupado/pervetido.
    Nem mesmo em Belo Horizonte vejo falar de bons eventos, e fico pensando se vale a pena deslocar 400km para perder meu tempo.

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