Phoenix 2772 – Um sci-fi de Osamu Tezuka para o #TezukaDay

Introdução

O grande pianista, compositor e maestro Igor Stravinsky inspirou muita gente com suas belíssimas músicas. Uma em especial, atingiu em cheio Osamu Tezuka, Firebird, de 1910. A obra que se originou dessa inspiração foi Hi no Tori, considerada por muitos, e pelo próprio Tezuka, sua obra prima. Publicada entre 1967 e 1988, com um total de 12 volumes encadernados, Hi no Tori traz uma história diferente a cada volume, todas com uma temática de ficção científica no passado, presente e futuro da humanidade. Trazendo inúmeras inovações narrativas, histórias densas baseadas em diversas lendas, a série ficou bem conhecida dentro e fora do Japão. Inevitavelmente, adaptações começaram a surgir e, a mais famosa delas, é a obra escolhida pelo Anikenkai para o #TezukaDay, Phoenix 2772.

Na mitologia egípcia, a Fênix é uma ave mágica que perto de sua morte, por volta de 500 anos, ela entra em combustão e de suas cinzas é gerada um ovo e dele sai uma nova Fênix. Essa particularidade faz alusão direta à ideia de imortalidade. Uma ave poderosa e reverenciada pelos mortais. Osamu Tezuka, no entanto, não desenha sua Fênix com as características clássicas, mas sim apegado à aparência dos Fenghuang, uma ave da mitologia chinesa que serve como símbolo de prosperidade e que diz aparecer em tempos de crise para marcar o início de uma nova era. Essa mistura de mitologias acaba gerando a história de Phoenix 2772.

A história

No ano de 2772, no Planeta Terra, humanos vivem em uma sociedade aristocrata em que os bebês são designados desde o nascimento para determinados setores da sociedade dependendo de algumas características físicas. As crianças então eram criadas tendo em vista essas determinações em ambientes isolados. Godo foi escolhido para ser um piloto e foi criado pela androide Olga (ou Orga), que viria a se tornar sua única amiga pela infância.

Sua incrível habilidade o faz ser chamado por Rock, um importante político e membro da elite, para participar de uma missão em busca da Fênix. O sangue da ave mística teria o poder de salvar a Terra, que está sofrendo com graves problemas ecológicos e a falta de recursos energéticos, o que faria de Rock o primeiro-ministro. Godo, no entanto, acaba não participando da missão. Ele estava extremamente descontente com seu treinamento para ser um mero caçador/matador, possui um grande amor por todos os seres vivos, teria que deixar sua única amiga, Olga, armazenada na Terra e, ainda por cima, ele acabou se vendo em um relacionamento com Rena, uma menina da elite e pretendente a noiva de Rock. Como a sociedade proíbe a relacionamentos entre pessoas de classes diferentes, Godo acaba sendo preso e enviado para uma prisão servir de trabalhador braçal.

Lá ele conhece o Dr. Saruta, outro preso que nem ele, que propõe que ambos fujam juntos, achem a fênix e salvem a Terra por eles mesmos. Os dois, juntos à Olga e aos mascotes Pincho e Crack, dois aliens, eles conseguem fugir da prisão e começam sua jornada. Logo eles encontram a fênix, mas o desafio era maior do que eles esperavam. A ave acaba matando um a um na tripulação. Quando Olga é carbonizada, Godo se rende frente ao seu egoísmo ao rejeitar sua amiga e real paixão iludido por impressionar a, agora esposa de Rock, Rena. A fraqueza da Fênix se faz presente no momento em que Godo aceita seu verdadeiro amor a Olga. A força do amor é a arma que faz a ave ser derrotada e ela acaba se apaixonando pelo rapaz.

A Fênix oferece ressuscitar Olga em troca de algo. Godo aceita sem saber que a Fênix iria tomar a “alma” da androide. Os sobreviventes rumam então para um planeta cheio de vida onde poderão passar o resto de seus dias. No entanto, Godo mostra uma enorme vontade de voltar e salvar a Terra levando frutas e vegetais do novo planeta. A fênix, no corpo de Olga, não fica contente com isso, mas o acompanha em seu retorno.

Porém, Godo não consegue chegar a tempo, pouco depois de desembarcar, a Terra entra em colapso e o mundo como Godo conhecia em poucos instantes não existe mais. Todos seus conhecidos estão mortos e apelas ele e a fênix vivem. Em um último surto, Godo clama para que a Terra volte a ser como ela era, que ela não simplesmente vire uma bola de poeira e gás e morra. A Fênix, ainda no corpo de Olga, propõe que Godo tome seu sangue e viva para sempre, assim poderá esperar para que a natureza retome seu rumo, coisa que ela irá fazer algum dia. Assim ambos poderiam viver para sempre esperando juntos esse dia chegar. Mas o amor do rapaz pela Terra não o deixa aceitar. Ele deseja que a Terra volte ao que era, mesmo que ele tenha que dar sua vida para isso. A Fênix realiza o desejo de Godo. A Terra volta ao que era, completamente renovada, a ave sai do corpo de Olga, que é transformada em uma mulher de verdade e Godo morre, mas é transformado em um bebê ao lado de Olga.

Comentando

Quando escolhi Phoenix 2772 para o #TezukaDay, o fiz para entrar de fato no espírito do evento, que é de divulgar e conhecer mais e mais a obra de Tezuka. Eu nunca tinha assistido o filme e pouco li de Hi no Tori. Sendo assim, uma bela oportunidade de conhecer ainda mais desse grande mestre dos mangás. Eu sempre gostei de ficção científica e saber que o Tezuka se aventurou nessa linha me deixou muito animado.

Ao assistir, fiquei impressionado com a qualidade da animação. Dá para vermos que a produção estava dedicada a fazer um excelente filme animado. Destacam-se o uso de efeitos de profundidade e movimento de “câmera” em ambiente 3D através de rotoscopia, mas se tem algo que me chamou bem a atenção foi a composição musical. O filme faz jus à inspiração inicial de Tezuka nas obras de Stravinsky.

Se você conhece outras obras do autor ficará se divertindo tentando pegar todas as referências de personagens, como o responsável pela prisão sendo a cara do Dr. Black Jack  ou Olga ser uma alusão clara à Michi de Metropolis ou até mesmo de Rena ser a cara da Princesa Safira de A Princesa e o Cavaleiro.

Ainda sobre a animação fica clara a influência da animação ocidental, principalmente dos estúdios Walt Disney, amplamente referenciado no filme com sequencias inspiradas em Fantasia e Pinóquio. Tezuka nunca escondeu sua paixão pelos trabalhos de Walt Disney e fazia questão de deixá-la bem clara em suas obras, mesmo quando só era co-escritor, como em Phoenix 2772.

Outro fator que deve ser destacado é a presença do fanservice. É engraçado como as pessoas tendem a vilanizar o fanservice sendo que o problema não é ele, mas sim a maneira como é usado. Tezuka fazia uso desse artifício pois era (e ainda é) algo que deixa a obra mais leve e divertida de ser lida/assistida. No entanto, é bom deixar claro que em nenhum momento o fanservice se torna o foco do filme, como é bem comum hoje em dia. Ele é um extra, um easter egg para o espectador.

Apesar das inúmeras qualidades, o filme peca em diversos aspectos. Sua produção é extremamente datada e, apesar de interessar para um espectador como eu, que gosta de animação antiga, é clara a falta de apelo para um público mais moderno, acostumado às produções atuais. O tempo foi até injusto com a obra pois foi nos anos 80 que as animações japonesas tiveram um grande boom de qualidade técnica e Phoenix 2772 tendo sido lançado em 1980 não se aproveitou das novidades tecnológicas.

E digo isso não só no quesito animação, pois esta ainda tem características próprias que se destacam, como já foi dito acima, mas também quanto à narrativa, desenvolvimento de história, dublagem, efeitos sonoros, etc. Infelizmente Phoenix 2772 é um anime parado em seu tempo. Não posso dizer para o espectador moderno que ele não sentirá um tanto de receosidade ao entrar em contato com a obra.

Porém, a obra reflete bem o modo como Tezuka enxergava a vida e o nosso planeta. Ele era um homem extremamente ligado à questões ecológicas e gostava da natureza. A paixão do personagem Godo pelos seres vivos nada mais é que a paixão do próprio Tezuka.

O final do filme mostra como Tezuka pensou bastante na hora da criação de sua Fênix. Ao unir a mitologia egípcia com a chinesa, ele proporcionou uma excelente metáfora. Ao renascer na forma de um bebê, Godo fez alusão à fênix egípcia, enquanto que por representar o início de uma nova era, ele fez alusão ao Fenghuang chinês.

Considerações Finais

Eu poderia aqui dizer que só pelo fato de Phoenix 2772 fazer parte da biblioteca de Osamu Tezuka ela já automaticamente deveria ser assistida, mas não, nesse caso, não funciona bem assim. Phoenix 2772 traz todo um plot que envolve desde questões ecológicas a questões sobre o próprio ser humano e sua sociedade. Ele não é nenhum grande marco da animação japonesa nem fez história, mas nos apresenta de forma clara muitos dos pensamentos de Osamu Tezuka. De fato temos uma produção datada e que, infelizmente, não deve atrair o espectador moderno. Mas se você se interessa por conhecer animes do passado, ou a própria obra de Tekua como um todo, pessoalmente creio que Phoenix 2772 deva entrar na sua lista.

Meu ponto final será dizer que gostei bastante de conhecer o filme, mas creio que tudo poderia ter sido mais bem executado, principalmente no aspecto narrativo da história. Não me arrependi de ver, pois há muitos pontos interessantes, mas poderia ter sido melhor. É… nem mesmo o deus do mangá é a prova de falhas.

Termino deixando para vocês um vídeo de Igor Stravinsky regendo sua composição Firebird:

httpv://www.youtube.com/watch?v=5tGA6bpscj8

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Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

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9 thoughts on “Phoenix 2772 – Um sci-fi de Osamu Tezuka para o #TezukaDay”

  1. Primera?? eu?? O.O WOOOOWWW xD
    Muito bom! Por mais defeitos que o filme tenha a mensagem é linda e tem que ser sempre renovada e passada a diante! Tezuka Gênio!
    OBS: Adorei o Rock.. Quem dirira que o cabelinho do Rock de Metropolis era dele xD

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