Especial: Kimi ga Nozomu Eien – Lá naquela colina…

Este post faz parte de um projeto de “blogagem coletiva”. Mais informações podem ser encontradas aqui. Por favor, não deixe de comentar.

Eu não gosto de animes baseados em eroges. O simples motivo é o quão irritante eles conseguem ser. Eles pegam um cenário em que no original você está no controle e simplesmente te prende aos desejos do roteiro. Essa quebra, se não for bem trabalhada, gera animes extremamente desagradáveis para o espectador. Ao assistir Kimi ga Nozomu Eien, esse sentimento passou por mim. E digo passou porque no decorrer da história ele foi se dissolvendo no mar de personagens e relacionamentos. E assim como não gosto de animes baseados em eroges, é de conhecimento geral de meus leitores que sou fã de bons personagens e boas relações entre eles.

Eis então que tenho um anime paradoxal em minhas mãos. Me forcei a passar da barreira inicial para conseguir completá-lo, confesso. E se você me perguntar se foi válida a experiência, mesmo com tantas irritações no decorrer dos 14 episódios da série, eu digo que sim. Mas vamos com calma. Um passo de cada vez. Há muitas ressalvas a serem feitas.

Não quero perder tempo contando a história aqui. Mas basicamente Takayuki, Mitsuki, Haruka e Shinji são grandes amigos. Takayuki namora Haruka, que é grande amiga de Mitsuki, que por sua vez nutre uma paixão reprimida, frente à amiga, por Takayuki. Ao mesmo tempo, Shinji, amigo de Takayuki, tem sentimentos incertos quanto a Mitsuki. Um cenário padrão de um circulo adolescente. Porém, um dia, Haruka sofre um grave acidente e acaba em um coma que durou três anos. Nesse tempo, muita coisa mudou.

Takayuki ficou inconsolado com a “perda”, por causa do seu estado, a família de Haruka o proibiu de continuar visitando-a no hospital. Mitsuki se compromete a ajudar na “reabilitação” do rapaz, mas no processo deixa transparecer seus reais sentimentos por ele. Enquanto isso, Shinji é o único a entrar em uma faculdade.

É chegado então o momento em que Haruka acorda de seu coma. Em meio a um monte de fantasias criadas para evitar um choque temporal, ela acredita que ainda é namorada de Takayuki. Essa encenação acaba gerando graves conflitos internos no rapaz. Obviamente seu relacionamento com Mitsuki começa a ser afetado.

Ao final de tudo, Takayuki assume que não pode abandonar Mitsuki, que esteve lá o tempo todo aturando seus problemas. O casal reata o relacionamento. Haruka recebe alta e decide se dedicar a sua paixão, escrever livros infantis. Shinji também resolve dar um rumo para sua vida, longe do ex-amigo e da ex-paixão.

Em quatro parágrafos, essa é a história de Kimi ga Nozomu Eien. Não posso negar a competência do roteiro, principalmente no desenvolvimento das relações e dos personagens. Analisar aqui cada personagem seria desperdício de tempo frente a isso. Basta ver o anime para entender os personagens e suas motivações. Sem dúvida o anime já vale por causa disso.

No entanto, não estaria sendo justo se não levantasse alguns pontos negativos.

Para começar, a parte técnica. Muitos diriam que num anime desse tipo não é necessário um primor técnico, mas eu discordo. Anime é uma mistura de elementos e dentre eles temos animação, character design, etc. Principalmente nesses dois aspectos citados, o anime peca muito. Ambos são péssimos. Temos personagens com visuais bem genéricos e uma animação pouco fluida e travada. Há quem diga que pelo anime ter sido feito em 2003 é algo perdoável, mas é bom lembrar que nesse mesmo ano tivemos Ashita no Nadja, Ninja Scroll, FMP Fumoffu, Peacemaker Kurogane, dentre outros, que não sofrem com tamanha falha.

Mas se tem algo que realmente me incomodou, foi a “necessidade do drama constante”. Parece que produção do anime não queria deixar que uma curva regular se formasse entre drama e superação, por exemplo. A todo momento tínhamos elementos que puxavam novamente a linha para baixo. Um exemplo foi o caso da enfermeira-loli (me perdoem não lembrar o nome dela). Para que era necessário o sub-sub-plot em que ela é afastada do trabalho por estar extremamente doente e ter uma saúde fraca? Sinceramente, não vi razão para aquilo.

Falando sinceramente, acho que essa história cairia melhor em um dorama ao invés de um anime. Dessa forma, muito provavelmente ela atingiria um público maior e teria muitas de suas falhas de execução anuladas, mas não passa de achismo meu. O que é certo é que apesar dessas falhas, Kimi ga Nozomu Eien se mantém de pé graças a seus personagens bem construídos e bem “humanos”. É um anime que vale ser assistido por isso, sem dúvida. Porém, se você está procurando por drama, eu sugeriria Suzuka, se estivesse procurando algo sobre amor, eu sugeriria 5 Centímetros por Segundo, se querem algo baseado em visual novel, eu sugiro Clannad.

Kimi ga Nozomu Eien é uma novela. Uma história boa com bons personagens, mas com uma execução técnica fraca. Sem dúvida não será um desperdício ser assistida, mas estaria mentindo se dissesse que é algo indispensável.

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Como foi dito no começo do post, este é parte de um projeto de “blogagem coletiva”, por isso dê uma olhada nos textos dos outros colegas blogueiros que estão participando e não deixem de comentar:

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

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21 thoughts on “Especial: Kimi ga Nozomu Eien – Lá naquela colina…”

  1. Dos três posts que li da blogagem coletiva esse pra mim foi o mais completo e enxuto, senti falta da análise técnica — mesmo que resumida como você fez — nas outras. Acredito que me apeteceu mais também pelo fato de ser algo mais direto e explicativo, perfeito para quem não viu o anime e precisa de uma visão geral, porém, analítica.

    Pelos comentários de todos parece uma série digna de ser assistida; não curto eroge mas o roteiro é aparentemente muito bem elaborado. Vou conferir com alguma relutância — muito provavelmente com minha namorada, mais chegada nesse gênero — e ver se vale o estardalhaço!

  2. Muito bom você ter comentado da parte técnica e realmente, a força do anime está nos personagens, que nem são tão bem trabalhados como deveria, na minha opinião, mas que conseguem dar conta do recado. 5 centímetros conseguiu ser muito superior ao retratar esse abandono da realidade, tendo uma beleza poética incrível. Mas Kiminozo se safou bem usando uma linguagem de novela e adicionando bastante polemica. Muitas das atitudes da Hayase, são força do roteiro, como bem citado por você: “Mas se tem algo que realmente me incomodou, foi a “necessidade do drama constante””

  3. Saudações

    Gostei de sua opinião, DidCart.

    Um ponto de grande destaque em seu texto está no breve resumo que deste não apenas à história do anime, como também aos seus personagens.

    A análise que tu fez do anime, na parte técnica, é igualmente válida. Imaginei que irias citar outras obras lançadas na mesma época, e que tiveram uma qualidade visual e/ou sonora acima de Kimi ga Nozomu Eien.
    Como já havia relatado no Twitter, não é exatamente o meu ponto forte. Mas são nesses quesitos que o espírito do porque da blogagem coletiva se faz presente…

    Acho apenas que necessita de uma correção o seu texto. Posso estar enganado, mas Clannad não era um jogo eroge. Era uma visual novel e tudo o mais, com mais de 22 mil linhas de diálogo, mas não passava de um simulador de encontros para todas as idades. Neste caso, eroge no alto teor da palavra eram Air TV e Kanon (aliás, o remake de Kanon – conhecido por Kanon2006 – usa muito como base o jogo em seu acréscimo de episódios e evolução dos arcos).

    DidCart, parabéns por sua ótima postagem.

    Até mais!

  4. Então, vocês está desrecomendando a série principalmente pela parte técnica?
    Não vejo porque isso seja um motivo para deixar passar uma série, afinal, para o que se propõe a qualidade técnica é aceitável, o suficiente para contar aquela história.

    Por exemplo eu comparo com Genshiken.
    Quando vi o anime, achei um aborto técnico. A animação e principalmente o traço dos personagens é fraquíssimo, principalmente conhecendo o mangá.
    Mas isso não é motivo para deixar de lado a série, se ela tiver um conteúdo apresentável, não é?

    1. @Panino Manino

      Rapaz, releia meu texto. Eu não “desrecomendo” o anime por causa da parte técnica, simplesmente acredito que isso seja uma falha considerável, mas em todo momento garanto que é algo que vale a pena passar sobre. E sim, o primeiro anime de Genshiken é um aborto técnico mesmo. Incrível a falta de qualidade. Não tenho como negar isso.

      @Carlírio Neto

      Rapaz, Clannad era sim um eroge. Logo depois criaram uma versão “normal”, mas o original é um eroge sim.

      @Roberta

      “5 centímetros por segundo” é superior à Kimi ga. Porém, é uma comparação injusta, confesso, já que há uma real diferença de tempo e orçamento entre as produções. Além de um ser uma série e outro um filme.

      @Filipi Cloud

      Obrigado pelos elogios e que bom que você gostou do post. Eu realmente tentei fazer algo que não fosse somente para quem já viu o anime, mas sim para um público mais amplo.

  5. Eu já li algo sobre esse animê em uma revista (lembrei dos traços). E pra ser sincera, é muito feio visualmente….Mas, darei uma olhada. Ah,sobre o designer dos personagens. Também concordo que, dizer que foi um animê de 2003 não conta. Porque nesse mesmo ano tivemos Last Exile (com aquele visual incrível). O que custava contratar pessoas que dessem essa mãozinha para o animê (que pelo visto, tem seu valor)?

  6. Eu também pensei por várias vezes que esse anime seria melhor como Dorama, Mas não acho que tenha sido uma falha total como anime, Eu consegui assistir esse anime de uma vez só e não foi dificuldade nenhuma pra mim muito pelo contrário. Não entendo muito de animação mas se pensarmos bem foi feito pelo Studio Fantasia que é pequeno comparado aos estúdios que produziram os animes citados.

    1. @RodTakira

      Rapaz, ser feito por um estúdio pequeno não é motivo para um trabalho porco. Se eles quisessem, dava pra fazer algo realmente legal. Dá a parecer que eles tinham uma boa história nas mãos e queriam fazer ela render da forma mais rápida e barata possível.

  7. Ola. aqui é o JonhMaster do visual novel brasil. Clannad não é eroge é visual novel porem ele ganhou uma versão spin-off que é Clannad Tomoyo After mas em si Clannad não começou como eroge você esta equivocado didcast.

    O anime se focou mais nas historias do triangulo amoroso principal e sobre a enfermeira loli amakawa eles estavam seguindo em relação ao jogo onde essa enfermeira tem uma doença incurável onde ela vai morrer depois de um tempo, ou seja o anime quis poupar mais esse drama.

    1. @JohnMaster

      Tenho várias referências na internet que dizem que Clannad nasceu sim como um eroge, mas logo foi cortado para se adaptar ao grande público. Mas ao que parece, a versão eroge de Clannad é extremamente restrita, nunca foi traduzida, etc. Minha pesquisa pode ter sido falha, mas creio ter lido algo a respeito.

  8. @Carlírio Neto

    Kanon foi lançado em 1999 e era adulto e no ano 2000 teve uma versão para todas as idades, em relação ao anime o primeiro foi lançado em 2002 pela Toei Animation porem a qualidade estava muito fraca porem em 2006 foi feito um remake que conta as historias de todas as personagens.

    O jogo Air TV foi lançado para todas as idades no ano 2000 no ano seguinte ele ganhou a versão todas as idades. O anime foi lançado em 2005 e no mesmo ano foi lançado também o filme.

    Clannad o primeiro jogo foi lançado em 2004 para PC em 2006 para PS2 em 2008 para PSP e XBOX 360 e neste ano teve sua versão para PS3 e todas essas versões são para todas as idades nenhuma delas é eroge ou tem cenas de sexo.

    A versão Eroge de Clannad se chama Tomoyo After que foi lançado em 2005 para PC e é para adultos, a versão para todas as idades demorou um pouco para ser feita para o PC onde foi no ano passado 2010. a versão para os consoles que é para todas as idades começara ma ser feitas em 2007 onde a primeira foi para o PS2, 2009 foi lançado para o PSP e em 2010 para o XBOX 360.

    Kanon

  9. Tem fontes que se enganam a respeito disso Air e Kanon nas suas primeiras versões começaram em eroge, porem a Key percebeu que vende bem as versões All-Ages então como markenting a partir de Clannad eles começaram primeiro como All-Ages para consseguir o grande publico e depois uma versão eroge para as pessoas ja adultas comprarem e assim ganharem em dobro.

    Com Little Busters foi desse jeito e agora o recente lançado neste ano o Rewrite veio em All-Ages e não tem data para uma versão eroge.

  10. @Suzi,

    Não dá para comparar Kimi Ga, adaptação de um visual já criado e animado com baixo orçamento com o Last Exile, na época da poderosa Gonzo que queria mostrar suas capacidade técnica.
    Last Exile teve orçamento alto e muito uso de CG, e ainda assim, o Gonzo nunca conseguiu realmente integrar o CG com a animação tradicional tão bem quanto outros estúdios, como o Bones e o Production IG.

    Que poderia ser melhor, isso é verdade, mas não concordo em dizer que devia ser melhor porque existia algo melhor na época.

  11. @Suzi

    Em 2004 tivemos animes como mahou shoujo lyrical nahona e não tinha um traço perfeitinho e Last Exile é da Gonzo ela se foca muito em CG não podemos comparar uma Toei Animation com uma Gonzo.

  12. @JohnMaster

    Você estava correto, amiche. Vou editar o post pois me enganei quanto a Clannad ter começado como um eroge.

  13. Sem problemas ja vi muitas fontes errarem a respeito de Clannad isso é bem normal acontecer em visual novel porem tem blogs gringos que não estão cometendo mais esse erro.

  14. Concordo com você didcart a respeito das adaptações que os visual novels recebem para anime a grande maioria não consegue ter uma boa adaptação mas não podemos tirar da cabeça boas adaptações como Tsukihime, Fate Stay Night, Amagami SS, Yosuga no Sora, Air Tv entre outros que tem por ai.

    Porem quando temos duas adaptações porcas como Hoshizora e Oretachi realmente desanima a pessoa.

  15. @Panino,
    eu não quis dizer que o Gonzo é melhor que os outros. Só falei que poderiam ter feito algo esteticamente agradável. (Impressão minha, ou você implica mesmo com os meus comentários? Não é a primeira vez u.ú…).

  16. @JohnMaster

    Sim. Estás certo. Recordo-me bem sobre os jogos da Key que foram convertidos para anime (inclusive em uma postagem especial feita em 2008 com outros dois blogs, o Subete Animes e o The Key of the Broken Hearts). Por isso “questionei” o amigo DidCart sobre o jogo de Clannad ser eroge ou não.

    Mas correr atrás de fontes confiáveis é um eterno problema mesmo…

    Valeu pelo toque.

  17. Ele se enganou sobre as fontes e não o culpo por isso ele fez um texto claro e objetivo sobre sua opinião sobre o anime sem ofender a opinião do leitor para min esta muito bom esse texto. The Key of the Broken Hearts faz tempo que não leio esse blog onde é muito bom ele também.

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