Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 5 de 6

Infelizmente tivemos poucas atualizações por aqui essa semana, mas felizmente tivemos mais uma parte da conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda traduzida! Se você não leu as outras partes, é só clicar na categoria “Entrevistas” e ler. Logo após a imagem, clique no “Ler Mais” para continuar…

Oda: A batalha dos 70 Yoshioka foi espetacular!

Inoue: No romance original, Musashi derrota o líder dos Yoshioka e enquanto escapa corta mais alguns que o atacam. Pra mim isso não pareceu um verdadeiro desafio, aí eu pensei, “e se ele tivesse que derrotar todos – todo os 70?” Do volume 25 a 27, então, Musashi realmente derrota 70 inimigos.

Oda: Sério…!?

Inoue: No meio da coisa eu meio que me perguntava o por quê deu estar realmente fazendo aquilo. Mas eu não desisti e continuei com a ideia.

Oda: Sem o seu traço mais forte isso não teria funcionado. Simplesmente não daria para funcionar.

Inoue: Quando eu decidir fazer a batalha com 70 pessoas, eu tive que me empenhar na arte. Dá pra dizer que eu estava me ajustando durante o processo. É uma situação em que a arte evolui rapidamente.

Oda: Algumas vezes é difícil para você desenhar cenas onde tantas pessoas são cortadas?

Inoue: Com certeza. Para desenhar uma cena onde aquelas 70 pessoas são realmente cortadas ao meio… meio que me fez desacreditar na simplicidade de vitória e derrota. É uma batalha, então obviamente há vencedores e perdedores. Porém, eu acabei duvidando do real valor daquela vitória. Se você duvida do que está fazendo, você não consegue progredir, consegue? Eu pensava, vencer é realmente sair vitorioso? É uma coisa boa? Foi difícil porque eu estava cheio de sentimentos contraditórios. Contudo, o objetivo daquela cena era justamente para experimentar esse tipo de sensação.

Oda: A arte demonstra o seu sofrimento enquanto a desenhava. É possível até ver a cara do autor através dela. Até eu conhecê-lo aqui, hoje, eu achava que você seria uma pessoa parecida com o Musashi.

Inoue: Eu sou completamente diferente, não? (risos). Várias pessoas tem essa imagem de mim, tipo um monge, sei lá… mas isso não vem ao caso.

Oda: Antes do nosso encontro de hoje, eu perguntei a um mangaka que o conhecia, “Quão medonho ele é?”

Inoue: Hahahaha!! Sério? Por acaso eles disseram que eu era assustador?

Oda: Não, nem um pouco. Mas mesmo assim, para minha geração de mangakas, só de ouvir o nome Takehiko Inoue nós já ficamos intimidados (risos). Eu pensei que se você fosse uma pessoa assustadora que nem o Musashi, eu não seria nem capaz de falar com você… Agora que eu te conheci, estou aliviado de ver que você é uma pessoa tão legal.

Inoue: Quando eu estava lendo One Piece eu me perguntava de onde tinha saído a ideia original.

Oda: Ideia original?

Inoue: É. Uma animada aventura pirata cheia de sons por todos os lados em um mundo habitados por personagens únicos. Não está amarrado a nenhum conceito… é livre e espontâneo. É um estilo que nunca foi visto antes em mangás. De onde isso surgiu?

Oda: Hmmm… Eu sempre estranhei nunca terem feito um mangá para garotos sobre piratas. O desenho Vicky, O Viking era o que mais se aproximava disso. Garotos, independente da idade, querem ir para o mar em busca de tesouros. Só de termos barcos ao vento já nos deixam empolgados, não é mesmo? Mas por alguma razão, ninguém fazia mangás de pirata!

Inoue: Entendo.

Oda: Eu queria ler mangás sobre piratas desde quando eu era criança, então, se eu fosse desenhar mangás, eu decidi que deveriam ter uma temática pirata. Não teve nada a ver com pensar se iria vender ou não. Eu simplesmente desenhei um mangá que eu gostaria de ler. Ainda mais, eu achava estranho a Shonen Jump não ter um mangá sobre piratas… afinal, o logo deles é um pirata!

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Logo da Weekly Shonen Jump

Mascote do site da Weekly Shonen Jump

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Inoue: Verdade! (risos). Agora parece que você criou o mangá principal da Jump. Sensacional!

Oda: Sem chance. Comparado com você eu ainda tenho um longo caminho a percorrer.

Inoue: Não, não… você está sendo bem modesto (risos).

******: O que vocês dois querem fazer, na essência, é entretenimento?

Oda: No meu caso, sim. Se eu não consigo fazê-lo divertido para os leitores, não teria porquê eu fazer mangás. Não seria divertido pra mim também. Eu não sei como funciona com outros autores, mas criar diversão para mim e para meus leitores é o que fazer mangás é pra mim. O que eu estou fazendo ser entretenimento nunca foi uma dúvida pra mim. Digo, como eu poderia estar mais feliz que isso? Eu estou desenhando mangás que eu gosto e fazendo várias pessoas felizes. Dá pra deixar melhor que isso?

Inoue: Isso é fantástico.

Oda: Es… estou errado?

Inoue: Não, não, eu não estou te provocando (risos). É exatamente como você disse. Os melhores mangás, sem dúvida, são os divertidos para os leitores e para o autor.

Oda: Mangás não são bons se eles não forem entretenimento, certo? É sempre bom fazer algo que passe uma mensagem, que fale algo, expresse uma ideia, mas se no final não for uma coisa agradável, a mensagem não vai ser transmitida. Pegue Vagabond, eu tenho achado as últimas partes entretenimento de altíssimo nível.

Inoue: Isso é bem legal de se ouvir. Se eu não tivesse nenhuma intenção de publicar e se eu soubesse que ninguém fosse ler, eu provavelmente não faria nenhum mangá.

Oda: Eu concordo.

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O que acharam? Essa pra mim foi a melhor parte da conversa até agora. Muito bom ver a parte onde eles opinam sobre os fatores “entretenimento” dos mangás. Muito bom mesmo. Assim como vocês, não vejo a hora de ler a última parte.

Até o próximo post.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

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6 thoughts on “Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 5 de 6”

  1. Ryan recomendo vc ler os mangás do Takehiko vc vai perceber q ele teve certa influencia em muitos é concerteza assim como Oda um grande Mangaka ^^

    1. Leia mesmo, mas eu não recomendo começar de cara com Vagabond, obra atual do Inoue, eu diria pra começar com Slam Dunk, um mangá sobre basquete, pra quem não conhece. É excelente e dessa maneira você consegue ver bem a evolução do traço do Inoue, principalmente a passagem do período lápis pro período pincel.

  2. Eu li alguns capítulos de Slam Dunk e realmente achei a série fantástica. Sério, ela me passou um sentimento que eu nunca havia sentido acompanhando um mangá esportivo. Era como se eu estivesse lendo One Piece ou Bleach ou Yu Yu Hakusho ou Dragonball etc. Simpesmente fantástico!!!

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