Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 3 de 6

E, depois de uma longa espera, está no ar a 3ª parte da conversa entre Takehiko Inoue (Vagabond) e Eiichiro Oda (One Piece). Dois autores de mangá que nasceram na mesma cidade e são famosos no mundo todo. Se você ainda não via as partes 1 e 2, não perca tempo e clique aqui ou na categoria “Etrevistas” ali ao lado para conferi-las.

Agora, sem mais enrolação, a conversa. Basta clicar no “Leia Mais”…

****** : A partir do arco Kojiro, a arte em Vagabond mudou de caneta para pincel. Sr. Oda, o que o senhor acha dessa mudança?

Oda: É muito legal. Mesmo com uma carreira como a dele (Inoue), ele continua a evoluir. Esse tipo de convicção é incrível.

Inoue: Olha, não é algo que deve ser feito, não é? Numa série longa é algo que quebra com a consistência.

Oda: Mas você já usou pincel antes, não?

Inoue: É verdade, mas era pra dar alguns efeitos. Porém, a decisão pra fazer tudo assim foi meio que no feeling, uma intuição. Quando eu comecei o arco Kojiro, pensei que para alcançar o resultado que eu esperava eu tinha que usar um pincel, não uma caneta. Isso mudaria a minha arte e como as pessoas a sentem, mas eu nunca fui muito preocupado com consistência no decorrer da série, daí fui confiante na minha intuição do momento.

Oda: O logo do mangá também mudou.

Inoue: Houve um tempo em que eu fiquei me perguntando o que Vagabond realmente era. Eu precisava de algumas mudanças pra continuar o trabalho. O logo foi uma das coisas que mudaram. Porém, a caligrafia em pincel do logo até então era fantástica.

Oda: Quando um autor decide, “Hora de mudar as coisas”, as pessoas são muito receptivas, não? Com o Volume 50 de One Piece eu decidi que iria encerrar aquela parte e eu ainda mudei a forma como colocava o logo. Porém, as respostas foram surpreendentemente leves (risos). Os leiores – e eu digo isso num bom sentido – não parecem se importar muito com mudanças. Eu acho que é por isso que os autores podem provavelmente se sentir mais livres para fazer coisas do jeito que eles acham que devem.

****** : Sr. Inoue, o que você acha da arte do Sr. Oda?

Inoue: É cheia de um atrativo totalmente oposto ao meu trabalho. É cheia de vida, e com poder para atrair o leitor a pontos específicos. Comparativamente, eu sou um artista que gosto de “subtração”. Eu tento manter a arte com menos coisas possível. Tem muito disso na exposição “ A Última Exibição de Mangá”. Porém, eu realmente admiro o jeito como o Oda preenche a arte dele. Eu não tenho a sensação de que os cantos estão sendo deixados de lado. Deve ser muito difícil diminuir seu trabalho para o tamanho de um tankobon, não é?

Oda: Sim, é (risos). Não tenho o que fazer, a não ser desenhar bastante. O formato semanal é de 19 páginas, mas como criador, eu quero fazer as coisas andarem mais rápido. Eu acabado colocando o máximo possível ali. Também tem o fato deu querer terminar logo para poder relaxar.

Inoue: Na parte de relaxar somos iguais.

Oda: Parece que eu to sempre correndo contra o tempo. Meus quadros diminuindo cada vez mais, e eu não desenhos quadros desnecessários. As cenas estão sempre cheias de coisas. Tem muitos personagens (risos). Tudo bem que a história é na maioria só sobre 5 deles, mas são tantas coisas que eu quero fazer que acaba saindo como é hoje.

Inoue: Você pensou sobre o aspecto geral da coisa desde o começo?

Oda: Sim. O final da história não mudou nada desde o começo. O problema é que eu ainda não consegui digerir direito a quantidade de coisas que está acontecendo no rumo para esse fim. Como você faz com sua narrativa?

Inoue: Mmmm… Quando eu começo, eu não penso no todo e muito menos em como a história vai terminar. É realmente impressionante como você consegue pensar nisso e ainda assim ficar empolgado desde o começo.

Oda: Sério, foi só o final que eu já decidi.

Inoue: Pra mim, só agora eu comecei a ver para onde Vagabond está rumando.

Oda: A história de Vagabond está seguindo fatos históricos?

Inoue: Aparentemente o que se sabe sobre a luta entre Miyamoto Musashi e Sasaki Kojiro nas ilhas Ganryu é um tanto impreciso. O que se tem conhecimento é que a história tende a favor de Musashi. A única coisa que se fala sobre Kojiro é que ele era um mestre espadachim que enfrentou Musashi. É por isso que eu penso que há chances do Kojiro ter sido derrotado.

Oda: Mmmmm… Por acaso a história seguiu um rumo diferente do original (“Musashi”, romance escrito por Eiji Yoshikawa)?

Inoue: Não completamente, mas as partes originais ainda estão dominando. Eu não pensei na história como um todo ainda, por isso eu simplesmente sigo pra parte seguinte da história quando termino a que estou trabalhando no momento. Eu acho que eu só repito esse processo. Algumas vezes vejo que acabei saindo um pouco do original e muitas vezes me vejo em situações difíceis por causa disso.

Oda: Mas dando umas escapadas como essas pode ser bem divertido algumas vezes, não?

Inoue: Sim, sem dúvida.

******: Quais personagens de Vagabond você gosta?

Oda: Eu gosto dos personagens mais velhos. Eles são bem adoráveis.

Inoue: Hahahahahaha!

Oda: Yagyu Sekishusai é especialmente bom. Especialmente adorável é a cena em que ele do nada diz, “Posso reclamar do meu neto?” . O que é realmente interessante a respeito do trabalho do Inoue é que mesmo quando a relação entre os personagens é um tanto dura, sempre tem um pouquinho de simpatia. E também tem as cenas casuais com diálogos curtos que sempre me fazem rir. Como quando Musashi diz “Nyanko-sensei” (Gatinho-sensei) sempre me faz rir.

Esse tipo de coisa é sempre feito de uma maneira bem natural e faz os leitores realmente aceitarem os personagens. Mesmo quando eles tocam em temas complicados. Eu penso que a habilidade com que o mestre Inoue cria seus personagens consegue atrair a atenção de um grande número de leitores.

Inoue: Eu realmente gosto de desenhar personagens mais velhos. Se eu pudesse, todos os personagens seriam velhos (risos).

Oda: É divertido desenhar as rugas na cara, não?

Inoue: Quando eu começo a desenhá-las, eu não paro. Eu acho que nós dois gostamos de desenhar personagens bem humanos, não é?

Oda: Concordo.

Inoue: Com os idosos, quanto mais rugas você desenha, mais humanos eles ficam. Quanto mais você coloca, mas eles ganham vida – essa é a cara dos idosos, não? Isso torna desenhá-los uma coisa bem recompensadora.

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É isso aí, pessoal! A cada parte eu gosto mais de ler essa entrevista. Saber mais sobre os autores é algo que eu realmente acho interessante.

Até a próxima parte!

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

E, depois de uma longa espera, está no ar a […]

4 thoughts on “Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 3 de 6”

  1. Fantástica esta entrevista, conheci o Blog hoje e já li a 1, 2 e agora a 3 que vi pelo Tweet.

    Muito bom projeto de traduzir as entrevistas Diogo, admiro que você teve o trabalho de primeiro pedir permissão para o tradutor só assim postou, coisa rara hoje em dia num mundo cheio de “Ctrl+C e Ctrl+V”.

    Já que vi na introdução dos seus vídeos a referência ao filme “A Vingança dos Nerds” te recomendo ouvir o Nerdcast no http://www.jovemnerd.com.br caso não conheça

    Abs e continue com o Ótimo trabalho.


    Visitem meu Blog: http://mangaslam.blogspot.com/

  2. Essa entrevista é genial! Dois monstros sagrados do mangá atual!

    Pena que tanto Vagabond quanto One Piece não são publicados por aqui mais. =/

  3. Continuo lendo as partes que faltavam para mim completar essa excelente entrevista. Bom, acho que não preciso agredecer e parabenizar de novo (risos), afinal já o fiz nos posts anteriores.

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