XILTV – Denpa Shonen, o extremo do extremo da TV japonesa

XILTVDenpaShonen

Yo!

Bora ver o reality show mais extremo do extremo da TV japonesa, que já é extrema.

Em 1992, um programa de leve expressão entrava em hiato na rede NihonTV. Atrás de algum tapa buraco até o recomeço do programa, os diretores do canal chamaram o produtor Toshio Tsuchiya, um pau pra toda obra do canal. Sua especialidade era abaixar a cabeça e fazer o que a direção mandava, mas aproveitando o descuido dos homens de cima, ele usou o “faz qualquer coisa, nem precisa ter audiência, é só pra fechar grade” e criou um programa que iria mudar a forma de se pensar nos limites da TV.

Denpa Shonen nasceu de anos de frustração do T-Producer, como Tsuchiya era conhecido. Todas as suas mais bizarras ideias saíram da gaveta, direto para a televisão e se tornaram sucesso imediato, o que deu sobrevida ao programa. O “tema” era chegar até onde pudesse chegar em se tratando de limites de controle da televisão. Desde o começo, os próprios apresentadores falavam que a meta do programa era ser cancelado por ordem jurídica, por causa dos vários quadros que desafiavam até mesmo os mais insanos programas da televisão japonesa, onde já reinavam brincadeiras com comida fervendo e castigos dolorosos.

Todo mundo que se envolvia na produção ia para cada locação com uma certeza: a pior hipótese era perder a vida. No começo, muitos artistas ainda duvidavam, afinal, por pior que fossem os níveis de comédia sádica do Japão, não passavam de encenação televisiva. Era como um telecatch, com dor calculada, movimentos ensaiados, reação interpretada. Mas Denpa Shonen era uma coisa que na época ainda era novo. Um Reality Show.

Alguns quadros ficaram famosos, como o caroneiro que precisava ir pra Londres, de Taiwan, sem saber falar nenhuma das línguas dos países e com pouco dinheiro. Em alguns casos, eles foram cercados por gangues, presos pela polícia, roubados. Tudo longe de casa e sem a chance de pedir para desistir. Desistir não era uma opção. O mesmo também aconteceu de um ponto ao outro das Américas, começando na Argentina e indo ao Canadá, onde um dos diretores que filmavam o que acontecia, quase foi morto.

Talvez um dos mais famosos quadros tenha sido o isolamento de Nasubi, o comediante que foi escolhido em um sorteio (disseram “Só precisa de sorte nesse trabalho”) e passou UM ANO E TRÊS MESES isolado em um apartamento, deixado nu e sem praticamente nada além de água da torneira, um fogareiro, uma mesa, canetas, papel para carta, um telefone, um rádio, revistas recentes e uma mesa. Todo o resto ele deveria conseguir de concursos de rádio ou revista, para provar que era possível. Nasubi ficou os primeiros vinte dias sem comer por não ganhar nada e chegou a comer comida de cachorro para sobreviver. Tudo era gravado por duas câmeras e registrado em um diário. O programa foi o primeiro da televisão japonesa a ser transmitido via internet, 24 horas por dia, sendo um recorde de acesso em sua época para a internet japonesa.

Veja a compilação completa do programa em duas partes.

(os vídeos podem sair do ar a qualquer momento, se acontecer, comente abaixo pra eu saber)

Depois disso, Nasubi ficou sabendo que seu diário havia virado livro, chegando ao topo das vendagens em algumas edições. Além disso, o vídeo que compilava sua confinação havia vendido 10 mil cópias, algo impressionante para a época. E ele entrou para o Guiness, como “A Pessoa que Passou o Maior Tempo Vivendo apenas de Prêmios”.

Mas tudo isso deixou sequelas. Você pode perceber as coisas acontecendo com ele se assistir com atenção. Ele vai enlouquecendo, a solidão faz ele conversar com objetos e perder completamente a vergonha de aparecer nu na TV. No fim, ele está com unhas enormes, cabelo gigantesco, fedendo… Se tornou um trauma tão grande que ele se nega a participar de programas de comédia desse tipo, mesmo os que são planejados. Ele não quer ver o T-Producer nem para ouvir desculpas. Atualmente, atua como ator, tendo participado do filme de Densha Otoko, da série Trick e de Kamen Rider W.

Daí, cansou e veio pro Brasil desenhar Ledd.

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Quando eu revi, não parava de pensar “meu, ele tá virando o Lobo!”

2, 3 meses confinado em uma casa cheia de luxo e cheia de gente bonita? Isso não é nada!

 

Outro caso extremo foi o de Tetsuro Degawa, comediante que foi incumbido de algumas tarefas perigosas no mundo, como tirar as prostitutas da vida ilegal e salvar os homossexuais da AIDS dando camisinhas em bares gay. No caso das prostitutas, ele chegou a ser confundido com policial, sequestrado pela gangue do cafetão e quase foi assassinado durante a ação. Com a distribuição de camisinhas, ele foi hostilizado pelos frequentadores do bar, que acharam ofensivo o que ele fazia (claro) e o estupraram para testar a camisinha. A produção do programa, assim como o próprio comediante, estavam ilegais no país, o que impediu até que eles denunciassem à polícia. E isso foi ao ar.

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NO FUCK! NO FUCK!

(Entre no link, ele não embeda no blog e é até perigoso de estar aqui.)

O programa teve dezenas de outros quadros, alguns pesados, outros mais leves, alguns até com um pouco de sentido moral, como o que mandaram arruaceiros japoneses que nem a família queria cuidar para pavimentar a estrada ao Angkor Wat, no Cambódia. Mas isso não impediu o programa de alcançar seu objetivo e ser cancelado às pressas em 2002, dez anos depois da estreia. O que não impediu de continuar pela internet por um tempo.

Às vezes, o programa volta em especiais, relembrando e tentando reiniciar os quadros mais famosos, como o de Nasubi, sem sucesso. É um programa que representa sua época, uma época muito louca, onde nada fazia muito sentido, principalmente no Japão, que vivia sua bolha econômica que enlouquecia a sociedade. Depois disso, o resto da TV japonesa é fichinha.

PS: O T-Producer também produz o Gaki no Tsukai ya Arahende!!, o programa que nos trouxe pérolas famosas na internet, como a ratoeira de pinto.

2 ideias sobre “XILTV – Denpa Shonen, o extremo do extremo da TV japonesa”

  1. eu curto humor sadico,se tivesse no br seria otimo bom isso mostra que alem de doramas e animes a tv japonesa tem outros programas de “qalidade”

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