Se liga, tia Marta! Games não são cultura?

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Ministra da Cultura diz não aos games no Vale-Cultura.

No post de hoje diferente do que costumo fazer, não trarei nenhuma notícia sobre games recentemente lançados e curiosidades da indústria, pois o meu papo com vocês vai ser outro. O tema continua sendo o mesmo que amamos em comum: os games, porém o assunto tem a ver com política e muita, mais muita reflexão da parte de vocês e da minha também.

Okami - Um belo exemplo do game como arte interativa.

Okami – O game trata de lendas populares do folclore japonês.

Em dezembro do ano passado foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, o “Vale-Cultura” um benefício que será concedido aos trabalhadores que possuem carteira assinada e ganham até cinco salários mínimos. O benefício representado por um cartão recarregável no valor de R$ 50 mensais será acumulativo, no entanto R$ 5 (10% do valor total) serão descontados do trabalhador.

Já o valor de R$ 45 (90% do valor total) ficarão a cargo das empresas que aderirem ao programa. “O Ministério da Cultura calcula que R$ 300 milhões serão injetados na cadeia produtiva do setor no segundo semestre” explica a Assessoria de Comunicação do MinC, na página oficial dedicada ao programa.

Explicado o que é o “Vale-Cultura” darei continuidade ao raciocínio para chegar ao ponto que de fato nos interessa. No dia 19 (terça-feira) de Fevereiro, ocorreu em São Paulo, uma audiência pública com a atual Ministra da Cultura Marta Suplicy a cerca do então apresentado “Vale-Cultura”.

Dentre os visitantes instigados com as possibilidades positivas do benefício estava o pesquisador e game designer Francisco Tupy, que indagou a Ministra Marta Suplicy sobre como ficaria a situação os jogos eletrônicos em relação ao programa e se seriam inclusos ou não. Tendo em vista que o vale contempla livros, DVDs, CDs, teatro, shows e outras formas de expressão cultural, a resposta que se esperava era um “sim”, mas não foi bem isso o que aconteceu.

Segundo a Ministra Marta Suplicy os jogos eletrônicos de que ela detém conhecimento, não podem ser considerados cultura e no que depender dela os games não farão parte do programa. A afirmação feita pela Ministra é um tanto contraditória e escassa de bons argumentos a começar pelo fato de que o próprio MinC possui em seu acervo de conteúdos, uma seção dedicada à games.

God of War - A melhor aula de mitologia grega da atualidade.

God of War – A melhor aula de mitologia grega da atualidade.

Professores, estudiosos, pesquisadores, entusiastas e até mesmo grandes empresas do ramo de desenvolvimento de games demonstraram certo descontentamento com a opinião da Ministra e tomaram suas respectivas iniciativas para convencê-la de que games são sim, uma forma de expressão cultural. Dois casos figuram entre os mais comentados pela mídia especializada este mês: o primeiro partiu do Napalm Studio com apoio da Acigames (Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games) que criaram o “Jogo da Martinha“. Nele o jogador deve tentar a todo custo acertar controles de videogame em um alvo onde está escrita a palavra “cultura”, contudo, a Ministra Marta Suplicy fará de tudo para bloquear e rebater os objetos arremessados.

Já o segundo caso foi bem diferente no que diz respeito a sua execução. A divisão Latino-Americana da Square-Enix uma das maiores desenvolvedoras e produtoras de jogos do Japão com base instalada em outras partes do mundo, enviou uma carta, acompanhada de um exemplar do artbook Japan de Yoshitaka Amano – assinado pelo artista – e também uma cópia álbum Distant Worlds: Music from Final Fantasy com composições de Nobuo Uematsu, endereçada a Ministra no intuito de fazê-la enxergar o quão importantes são os games tanto comercialmente quanto culturalmente.

Com esse kit cultural da Square-Enix, talvez, ela mude de ideia...

A carta enviada pela Square-Enix à Minsitra Marta Suplicy.

A carta foi disponibilizada pela empresa por meio de sua página oficial no facebook e rapidamente se propagou em compartilhamentos nas redes sociais gerando comentários positivos pela atitude – que obviamente reflete os interesses mercadológicos da Square-Enix em nosso país recentemente reconhecido como quarto mercado mundial em consumo de games.

Coincidência ou obra do destino fiquei sabendo do bafafá envolvendo a atual Ministra da Cultura um dia antes de palestrar na segunda edição do Gamepólitan – Festival de Jogos de Salvador que foi sediado no Centro de Convenções da Bahia, onde eu e meu sócio Omar Zaldivar tivemos a oportunidade de conversar com diversos profissionais de diferentes áreas que desenvolvem ou estudam games.

E inevitavelmente durante a palestra no espaço reservado às perguntas, tirei um momento para falar brevemente sobre o episódio relacionado a afirmação no mínimo absurda da Ministra, que ao dizer o que disse, ofendeu não só a mim, mas a outros tantos profissionais e entusiastas que enxergam nos jogos eletrônicos sua ferramenta de trabalho e pesquisa.

Infelizmente, ela parece não saber que um jogo eletrônico não é muito diferente de um filme, é também um trabalho conjunto de diversos profissionais que dialogam com diferentes áreas do conhecimento. Temos desenhistas, arquitetos, roteiristas, programadores, músicos, historiadores e outros, a depender de que gênero de jogo estamos falando.

O que se pode concluir do episódio protagonizado pela Ministra Marta Suplicy é que ela cometeu mais uma gafe, só que desta vez, por ter sido presunçosa em falar de um tema que ela mesma admitiu não conhecer profundamente. Neste caso cabe a nós refletirmos se para nós games são ou não cultura. E lutarmos pelos nossos direitos e para que nossas vozes sejam ouvidas.

Os interessados em saber mais sobre o assunto abordado no post de hoje, recomendo algumas leituras complementares nos links que listei logo abaixo:

http://www.acigames.com.br/2013/03/carta-aberta-a-ministra-marta-suplicy-games-sao-cultura/

http://www.acigames.com.br/2013/01/gamers-ja-podem-opinar-sobre-o-vale-cultura/

http://www.acigames.com.br/2013/01/vale-cultura-e-games-uma-relacao-que-tem-tudo-a-ver/

http://www.fatecsaocaetano.edu.br/arquivos/carta_aberta_valecultura.pdf

http://www.kotaku.com.br/vale-cultura-marta-suplicy/

E para fechar o post com chave de ouro temos Nobuo Uematsu e sua banda The Black Mages:

Coisa fina.

 

PS: Hoje tem Fala OTAKU sobre esse assunto! Participe, no canal no Youtube do Genkidama!! Ao vivo, às 21:30

4 ideias sobre “Se liga, tia Marta! Games não são cultura?”

  1. Para uma pessoa com auto grau escolar e Ministra da Cultura, a Dona Marta deveria ter ficado calada. Quando não sabemos nada sobre o assunto é isso que devemos fazer, e só depois pesquisar e aprender sobre este.

    Ai sim falar sua opinião. Eu acho que ela num sabe nem o que são games…

  2. Esperar o que de uma pessoa que manda o povo “relaxar e gozar” com a crise dos aeroportos?

    Pena que não consigo pegar o Fala Otaku ao vivo, é bem no horário que estou trabalhando. Bom, assisto depois e posto comentário no site…

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