Quero ser Mangaká!

QueroSerMangaka

Yo!

Pense nisso como uma divagação, um pensamento em voz alta. Bora ver!

Recebi não menos que mil vezes a mensagem “Oi, tudo bem? Eu quero ser mangaká”, com suas variantes e complementos. Muitas vezes, esse complemento era “não é mais fácil ser mangaká no Japão? Eu queria ir para o Japão e me tornar mangaká lá…”

Tem muitos motivos para essas mensagens virem pra mim, seja pelo trabalho com a NewPOP, ou pelos vários textos sobre produção aqui no XIL, e até mesmo os que ainda se lembram do passado que me condena, né? E eu sempre tento dar uma resposta positiva para quem me fala isso, talvez por entender a posição. Ser mangaká, ou mais claramente, trabalhar com quadrinhos, é algo difícil, mas um sonho para muitas pessoas.

Dia desses, pensei em reler livros e matérias sobre o assunto para escrever sobre isso. Então, decidi traçar duas realidades.

No Japão, ser mangaká é uma trilha que pode ser seguida de diversas formas. Existem pelo menos 50 grandes concursos de mangá que acontecem pelo menos duas vezes ao ano, alguns, todos os meses até. Só a Shonen Jump, a maior revista do país, promove pelo menos cinco concursos diferentes, cada um com um foco ou uma meta. Por isso, oportunidade não falta, não é? Mas a realidade é bem diferente. Existem muitos aspirantes à mangakás no país, muitos realmente talentosos. Desenham muito bem ou escrevem muito bem, narram muito bem… e por diversos motivos, acontece uma seleção natural que vai eliminando os pretendentes pouco a pouco, até que de mil aspirantes sérios ao trabalho, somente um se torne profissional de mangá no Japão.

Um, de mil pessoas que realmente tem talento e estão levando à sério isso. Mil pessoas que estão nesse exato momento deixando de dormir para fazer mais uma página. Mil pessoas que estão sem jogar videogame faz meses. Mil pessoas que estão dando o melhor de si por algo que não lhes dá a menor garantia de resultado. E só uma delas irá viver disso.

Mesmo com tantos concursos de mangá, mesmo com tantas oportunidades, por que será que fazer isso forma tão poucos profissionais no Japão? Não pode ser que os concursos sejam todos marmelada e que no final das contas, não signifiquem nada. É claro que não. Dessas mil pessoas, mais de 80% irá publicar. Ou seja, se você tem talento e persistência, no Japão, é capaz de você publicar pelo menos uma vez na sua vida. Mas também significa que publicar apenas não te torna um profissional.

Para você ter ideia, um editor diz que de dez autores novatos que ele acompanha em um ano, somente um vai continuar até o fim do ano e provavelmente vai ficar por mais três anos na geladeira até conseguir publicar uma série. E mesmo se a série for lançada, as chances de ela durar mais de um ano é menor que 30%. Mesmo na Shonen Jump. Basta ver quantas novas séries saem por ano e quantas delas você vê no ano seguinte. Mesmo que esse novato ultrapasse o primeiro ano de publicação, não significa que ele entrou em uma zona de segurança. Até chegar à casa dos 100 mil (cópias vendidas de tankohon), o nome de sua série sempre vai figurar a pauta das reuniões de cancelamento, que decidem que séries vão pro limbo do esquecimento.

Mas passando essa linha, esse novato já pode se colocar em uma linha de segurança? A história diz que não. Autores que fizeram sucessos enormes já apagaram tão facilmente quanto brilharam. Akio Chiba tinha QI, é irmão mais novo da lenda Tetsuya Chiba, de Ashita no Joe, e teve um grande sucesso, Captain e sua sequência, Playball. Mas depois disso, teve dificuldades para criar e nunca mais apareceu com destaque, entrou em depressão e tomou o caminho sem volta ao pular de um táxi em movimento.

E o caso de Chiba é mais comum do que se imagina. A Shonen Jump até coloca autores de dois ou mais hits em outro patamar dentro da história da revista. Ou seja, conseguir dois sucessos é uma coisa para poucos lá. Claro que você pode mudar de revista e é isso que a maior parte dos autores faz. A pressão de se estar na Shonen Jump só vale a pena se você estiver muito bem ou se precisar alavancar sua carreira. Muitos autores da revista estão hoje em outras revistas da editora ou migraram para empresas rivais.

E mesmo quem escolhe viver dessa forma, precisa entender que a vida vai além das maravilhas dos sonhos.

A editora cuida de você até certo ponto, inclusive gerenciando seus assistentes. Claro que o pagamento deles sai do seu pagamento por páginas, o que no começo de carreira, significa que você não recebe quase nada, isso se não ficar no vermelho. Por isso, muitos novatos tentam fazer tudo com o menor número de assistentes possíveis, mesmo que o resultado fique muito distante do que se gostaria, e isso pode ainda significar um fim precoce. Ficar sem dinheiro? Fazer um trabalho limitado? Uma questão muito dura pra quem já tem todos os problemas que poderia imaginar a essa altura.

Mas a paciência é a maior das virtudes. Depois de algum tempo (uns 3 meses em revistas semanais, 7 meses em revistas mensais) comendo pão, o novato vai lançar um tankohon, o encadernado de sua obra. Agora sim, ele vai receber os royalties de sua história e isso sim vai ser totalmente seu… depois de pelo menos dois meses, que é quando sai o resultado de vendas iniciais. Muitos autores podem nem estar mais publicando quando receberem o dinheiro desse royaltie. Mas se estiver, inevitavelmente, a editora vai lhe pedir para abrir firma. Porque agora você vai receber através dessa empresa e vai contratar e pagar seus assistentes. Claro que você não vai ter tempo pra isso e vai precisar de um gerente. Muitos deixam o cargo para a esposa ou marido, senão você vai ter que encontrar alguém em quem confie.

Aguentar essa tortura toda pode ser recompensador. Afinal, finalmente você deixa de ser um amador e pode falar que vive de fazer histórias! Mas não acaba aí! Se você pensou no parágrafo acima que “deve ser melhor publicar semanalmente, afinal, depois de 3 meses sai um encadernado”, considere agora o volume de trabalho. Imagine que você precisa fazer 17 páginas toda semana. “OK, eu usarei os assistentes”. Somente os que você puder pagar. Com o dinheiro de um novato, se você pagar dois deles, pode comer arroz com conservas uma vez por dia e evitar acender as luzes de dia. Por isso, a porcentagem de gente que desiste sozinha nessa fase é considerável. Isso ainda favorece alguns poucos autores que vem de famílias mais abastadas e podem bancar o rapaz durante o tempo que for necessário.

Isso tudo faz parte, não faz? Afinal, todo sacrifício vale para você publicar a SUA história! Mas peraí…

Você ficaria surpreso se soubesse que o “grande mercado autoral” japonês controla a maior parte das decisões criativas? E isso nem é segredo. Seja como as “dicas” de editores para seus autores, seja como encomenda ou imposição, as empresas tentam controlar o que os autores produzem, com a intenção de melhorar ao máximo as vendas. Masashi Kishimoto pretendia fazer uma história mais adulta e com profundidade, mas foi vetado. Se frustrou tanto com o mangá que criou Naruto como uma história sobre ser aceito. Na rival Shonen Magazine, o lema da revista é sempre ter um pouco de tudo o que os leitores podem querer. Por isso, muitas vezes, falta escritor para fazer a história que eles precisam. E por isso, um dos editores da revista, Shin Kibayashi, muito talentoso, decidiu fazer as histórias que precisavam, deixando só a arte para os novatos. Ele é autor de Get Backers, Kami no Shizuku, Kindaichi Shonen no Jikenbo, Psychometer Eiji, entre outros.

Meu autor favorito, Masakazu Katsura, disse em entrevista que ele só publicou uma história cem por cento como ele queria depois de mais de vinte anos de carreira. Antes disso, o editor sempre controlou o que seria feito, qual o tom da história, quando terminar até… Saber conviver com um editor também faz parte do trabalho. E ele é um dos autores com passagem livre pela Shonen Jump!

Os poucos autores que publicam somente o que realmente querem fazer são poucos, a maioria indo além do que se pode chamar de gênio, como Katsuhiro Otomo e Masamune Shirow. Hayao Miyazaki, se levarmos em conta somente sua carreira com mangá. Digamos que são menos de dez em toda a história do mangá. Claro que podem ter alguns outros, mas não entre os dignos de nota.

 

Agora, vamos ver no Brasil…

Entre as pessoas que realmente levam à sério o mangá, e isso significa aquelas que realmente estão produzindo, escrevendo, desenhando, correndo atrás, quantas realmente irão publicar? Quantas estão publicando periodicamente, seja com que frequência for? Quantas não vão desistir e vão continuar batendo portas para publicar alguma coisa? E quantas dessas tem talento suficiente para convencer um editor?

Basta ver nas bancas e livrarias (principalmente livrarias) para perceber que esse número é muito, muito pequeno e que a periodicidade da maioria é “quando der”. No entanto, assim como no Japão, temos autores que vivem disso aqui no Brasil também. Ou mesmo que não vivem, mas que conseguem publicar com frequência mesmo assim. É uma realidade completamente diferente do Japão, mas entre as duas, só uma coisa é verdade. As duas versões só existem para os que estão fazendo.

É muito comum você ver pessoas com talento na internet. Artistas incríveis, eu conheço muitos, e sei que ainda vou conhecer outros. Mas se engana se vai publicar só com seu talento, só porque desenha melhor que todo mundo, só porque escreve melhor que todo mundo, ou mesmo porque é o maior talento que surgiu no mundo dos quadrinhos até hoje. Porque se você não souber trabalhar, não honrar com prazos e compromissos, não atender o que lhe é pedido, não seguir roteiro, não dialogar… e principalmente, não fazer… Você continuará sendo apenas um vaso bonito plantado na cristaleira de uma antiga casa vazia. O talento, acredite, não é diferencial hoje em dia, é o óbvio. E a fila anda, um dia você vai ser esquecido.

Não é e provavelmente nunca será fácil viver de mangá, ou de futebol ou de qualquer outra carreira onde o talento te destaca e te poe à prova todo dia. Mas sempre que você olhar para a realidade dos números e da probabilidade, você vai achar melhor prestar um concurso público. Sempre que você tentar e não conseguir, vai achar injusto e botar a culpa nos outros, no editor que não apostou, no público semi-analfabeto que não te entende, nos críticos que não sabem de nada. Você sempre vai ter uma desculpa.

E por isso, quem está ali, publicando, sempre vai estar um passo a sua frente. Porque ele está fazendo e você está discutindo na internet.

 

Para quem quer publicar, indico alguns outros textos do XIL.

Não invente desculpas, desenhe!

Quadrinhos Dependentes (ou “Oh Lord, Won’t you buy me a Mercedes Benz”)

Terminou seu roteiro, que tal checar algumas coisas?

Checklist do seu name, rascunho…

Páginas finalizadas, última checagem

 

Quer publicar?

NewPOP

JBC

(sabe de mais alguma? só me mandar que eu incluo!)

 

E esse é um update de um antigo texto que eu fiz para minha coluna no Anime Pró, que foi publicada em um dos números da Desenhe e Publique Mangá (acho, eu nunca vi a revista, tava no Japão)

Clicaqui

37 ideias sobre “Quero ser Mangaká!”

  1. porque existe mangás tipo naruto que eu nao sei como funciona
    tipo naruto nao é uma historia completa mais e publicado ainda
    e pelo que eu sei é nescessário ser entrege uma historia completa

    1. Impossível era o que diziam do homem voar. A mudança do impossível pro comum começa quando alguém decide agir. Ah, e se gostou, compartilhe! Espalhe a palavra! Hehe

  2. Excelente texto Sakuda, simples, direto e revelador. uma pedrada bem dada na cara de todo mundo que tem sonhos de fazer uma vida nessa indústria.

    E adiciono que o nosso mercado so irá crescer quando autores e desenhistas entenderem que se quiserem espaço terão que lutar por ele na marra e isso só acontece quando você desafia os velhos padrões.

    o Google teve que lutar com a Microsoft para se tornar a gigante que é hoje, A Amazon teve que competir com as lojas físicas em uma época que a internet não era difundida e muito menos o conceito de compras online, A Netflix e os torrents colocam em cheque o modelo das emissoras de TV, céus, o Youtube matou a Mtv.

    E como quebramos os velhos padrões no mundo dos quadrinhos? eu sinceramente não tenho a resposta, apenas parte que é produzir conteúdo de qualidade, e qualidade não se atinge tentando copiar o anime/manga de sucesso do momento.

  3. Meu negócio é a literatura, mas faço tirinhas e quadrinhos sempre que possível pelo simples fato de é divertido. Ainda pretendo fazer obras mais extensas, mas não pretendo ser profissional nisso, afinal não tenho esse talento necessário.

    De qualquer modo, texto muito bom para esclarecer aos novatos nessa corrida pela carreira de como funcionam as coisas. Pelo visto você mesmo deixou de lado os quadrinhos mais a sério, não? Acontece né.

  4. Texto excelente!

    E uma outra editora que eu sei que realmente investe em mangá nacional, é a HQM Editora, que desde que criou o selo “HQMangá”, publicou mais obras nacionais, duque japonesa. Foi ela que lançou os mangás nacionais “O príncipe do best seller” e “Vitral”, ambos das gêmeas Soni(Sonia) e Shirubana(Silvana), que juntas criaram o Futago Estúdio. Sem falar que ontem/hoje foi anunciado que a HQM publicará um novo mangá nacional, de outra autora, chamado “Vidas Imperfeitas”.

    O site da Editora é esse: http://www.hqmaniacs.com/editora/

    Para publicar é só enviar a proposta por e-mail.

    E não estou “puxando o saco” das autoras do Futago, só porque fiz amizade virtual com a Soni, mas sinceramente das obras nacionais que tive a oportunidade de ler, poucas me agradaram. E entre as que me agradaram, O Príncipe do Best Seller e Vitral são as minhas obras nacionais favoritas.

    E aproveitando que você trabalha para a Newpop, Sakuda, quero fazer um desabafo quanto a editora… Eu vejo o quanto a editora está crescendo, mantendo a periodicidade das obras que estão em publicação, e isso me deixa muito feliz. Mas infelizmente, ainda existem alguns fatores na Editora, que me deixam um pouco com o “pé atras”, como as obras anunciadas que ainda não foram lançadas, em especial as obras nacionais, incluindo a sua. Por isso, no momento, só pretendo mandar uma história para o concurso da JBC, e quando eu terminar de fazer um mangá mais longo, mandá-lo para a HQM, que vem lançando suas séries nacionais. No caso da Newpop, por motivos de insegurança pessoal, só tentarei enviar algo meu, e recomendá-la aos amigos que também sonham em ser mangakás, quando finalmente as obras nacionais da Editora forem lançadas…
    Espero que entenda o que quero dizer, e desejo muito sucesso a você, e à editora!

  5. Sério, realmente lendo esse texto deu pra perceber a grande dificuldade e pressão sobre desenhar, publicar e se mantar (sobreviver) como um desenhista. Me lembrei bastante de Bakuman lendo esse texto.

  6. Eu entendo bem esse estresse. Levei isso super a sério pra um concurso que ia ter aquii. Fiquei tão estressado q desisti de desenhar e n desenho sequer um circulo já deve ter quase um ano. Perdi o saco e a paixão por isso. Continuo curtindo quadrinhos mas não tenho mais nenhum interesse em desenhar ou escrever nada.

    1. Bom fazer, Igor. Quer dizer, se você realmente gosta, cedo ou tarde vai voltar a fazer. Mas é sempre melhor quando você tira o peso das costas. Fazer com prazer.

    1. Publicar no japão hoje em dia não é mais impensável como era até pouco tempo atrás… mas é tão difícil que as chances ainda são virtualmente zero. Alcançar isso exige MUITO talento, esforço, estudo, cabeça, humildade, sangue-frio, força de vontade, senso de sacrifício e até desapego, eu diria.

      …E não pode ser qualquer um. Seria muita arrogância alguém mediano ir pro japão e tentar publicar algo sem ter nível profissional, só “pq ele quer, pq é o sonho dele” e pronto. Isso é pirraça. O cara tem que ser MUITO bom e confiar MUITO no próprio taco se quiser publicar em qualquer lugar, e principalmente se for no Japão. Se ele for pro Japão sem ter nível isso não seria nem viagem, mas arrogância mesmo… seguir um sonho que desde o início sempre foi inalcançável só vai avacalhar a vida dele.

      Lembro da parte de submissions do site da Dark Horse: “se não houver um consenso entre todas as pessoas que viram seu trabalho de que ele é de nível profissional, favor NÃO nos mandar seu trabalho para avaliação”… é mais ou menos por aí. Uma pessoa tem que saber seus limites, saber avaliar se tem nível e se dá conta de publicar em qualquer lugar que seja antes de largar tudo pra ir pro outro lado do mundo. Senão, é lutar uma batalha perdida.

        1. Hã? Não, Sakuda, não estava falando de vc nem nada… foi mal mesmo se dei essa impressão. Não o conheço pessoalmente e nem faço ideia de uma fração do que vc passou lá enquanto corria atrás… quem sou eu pra julgar qualquer coisa a respeito. O que eu quis dizer é que de uns tempos pra cá tem muita gente entrando de cabeça nessa de fazer mangá no japão sem ter uma visão fria do próprio trabalho, das chances que ele tem, achando que ter vontade vai bastar.

          Sei que tem muita gente tentando ir ou que já foi pra lá, mas conheço pessoalmente pelo menos um cara que foi pra lá com esse intuito, e outro que está planejando ir.

          O 1º cara é educado, tem cultura, tem disciplina, tem grana (que até certo ponto, ajuda MUITO), corre trás e queria tanto ser mangaka que chegou ao ponto de ir pro japão tentar. Ele hoje tá lá faz uma data, mas mesmo com tudo isso… ele infelizmente não tem boa história, e o desenho é pior. Além de tudo, ele é cabeça dura… nunca ouviu conselhos dos outros pq isso ia “macular a arte dele” e continua dando murro em ponta de faca até hoje. Assim o que já é difícil fica mais complicado ainda…

          E o 2º cara… bom, ele leu Bakuman, acreditou naquilo, leva tudo que apareceu no mangá ao pé da letra e se fez de bobo quando falei com ele que “não é bem assim”. Ah, e começou a desenhar ontem (depois de Shingeki, todo mundo acha que não precisa saber desenhar pra fazer mangá) e todos os planos que ele tem com relação ao japão são ultra mirabolantes, pra ser otimista. Falar o que dele…?

          Dadas as devidas proporções, acho que os casos deles englobam a maioria esmagadora dos ocidentais que já foram lá tentar ou estão planejando ir: eles nunca pensaram seriamente se tem algo de nível pra competir, a única coisa que eles pensam é que “eu quero e pronto” e não é bem assim que a banda toca.

      1. Mesmo que alguém daqui vá para o Japão, dificilmente conseguiria acompanhar o ritmo de publicação de lá. Levaria alguns anos no mínimo (isso desenhando/escrevendo sem parar).

        Pra contentar um pouco quem já sonhou em publicar lá, acho que seria até menos difícil publicar algo aqui(?), até finalizar, e depois tentar caçar alguma editora por lá que queira publicar material Made in Brazil, já encadernado claro (ou não.. quem sabe (sei lá..)). E 99,98% de chance de, se caso isso acontecesse, que essa hq não viraria anime, lógico (coisa que muita gente deve sonhar também junto da publicação de um mangá).

        Antes de quererem fazer algo lá fora, o povo tem que FAZER algo aqui.

        1. Bem lembrado… a capacidade de produzir uma série com capítulos semanais com + ou – 20 páginas é outra coisa a ser pensada. Lembro de ter lido uma entrevista com uma agente japonesa (o nome era Yukari Shiina) que foi a um evento nos EUA (provavelmente San Diego ComicCon) avaliar portfólios (é, aqui no brasil isso rola direto tbm…) e dela ter dito que encontrar mangakas aptos a publicar semanalmente é um desafio mesmo no japão, e que ela nem sonhava em achar alguém com esse ritmo de produção no ocidente.

          Apesar de ser demorado pra finalizar uma série, não ser nem de longe tão lucrativo e nem te deixar tão famoso, existem trocentas revistas de mangá quinzenais, mensais, bimensais e trimestrais no japão. Publicar com periodicidades assim não seria algo TÃO sobre-humano (ainda que exija muita disciplina e sacrifício, como eu já disse)…

          …MAS NÃAAOOO, todo mundo quer publicar na Jump (principalmente quem leu Bakuman)! Só serve a Jump! Como se ela fosse a única editora de mangá no japão… assim fica difícil.

          Acho que publicar aqui é tão difícil quanto publicar lá, claro que por motivos diferentes. Publicando aqui vc CONTINUA disputando com os japoneses, pois pras editoras é mais barato e de retorno certo só traduzir algo com propaganda já feita, uma base de leitores já garantida e que já teve toda sua produção paga. E mesmo assim… como vc vai competir com um cara que vive só pra desenhar, tem assistentes, tutor, material de primeiríssima, todos os recursos do mundo… enquanto aqui no brasil vc provavelmente vai ser mal pago (ao ponto de precisar de um 2º emprego), vai usar material mais barato, fazer tudo sozinho… pra no final seu mangá custar o mesmo valor que o blockbuster japonês? É um massacre.

          E publicar material já editado gringo até onde sei é uma coisa que eles não fazem com frequência. Além de serem fechados, eles simplesmente não precisam disso. Quanto a sonhar com anime… acho que é coisa típica desses carinhas que leram Bakuman e acham que “só a Jump serve” (já vi trocentos caras assim), de que falei. Publicar já pensando em anime não é uma realidade nossa, é pensar como amador. Jump ou não, o cara tem que primeiro ir ao Japão, peitar os caras, publicar lá, se estabelecer como mangaka. SÓ DEPOIS pensar em anime.

          Fazer algo no brasil atualmente é utopia… nesta terra, em se plantando nada dá. O cara que se contentar com isto aqui está condenado a passar o resto da vida tendo seu fanzine lido por meia dúzia de gatos pingados via internet e bajulando e sendo bajulado pelos amiguinhos no Deviantart. Se o cara está encurralado, não está a fim de virar um “mártir do quadrinho nacional” E TEM TODOS OS PRÉ-REQUISITOS pra peitar um Japão da vida… acho que é o melhor que ele tem a fazer. A dificuldade é bem maior, mas as recompensas caso consiga serão imensamente maiores.

  7. Ótimo texto, como sempre. Eu realmente tenho um pensamento muito pessoal, nesse quesito do final, que é sempre por a culpa em mim. Uma das minhas regras foi parar de dar desculpas. Se está ruim, é eu que errei, e isso é motivo para eu melhorar :D

    Eu estou quebrando a cabeça para aprender a desenhar, estou me esforçando. Eu jogo Poker, e a melhor lição que já vi em Bakuman está no inicio, ‘apostadores’. Os apostadores mais fracos, vão apostar apenas no básico. Muitas publicam em revistas como a Conexão Nanquim, nas esperança de um dia ela explodir e ele ser ‘veterano’ lá. Ou alguns só fizeram história para concursos, paga tradutor, esse já um apostador mais hardcore. Outros publicam sozinhos e tenta conquistar seu público na raça. Cada um tem seus pontos bons, pontos ruins, mas tudo é uma aposta. Isso significa, poucos ganhadores. Eu sempre vejo a aposta como: ‘Haverá um bom vencedor, se houver vários perdedores’. De mil pessoas lutando, só uma consegue. Como em Shokugeki no Souma, esses 95% servem para polir os outros 5% de talentos. Poucos vão se destacar e o resto ou desiste ou continua gastando fichas. Não por falta de talento, mas por falta de sorte, medo de riscos, talento, crença, ética.

    Mas, sinceramente, nada disso importa. No final importa apenas o quanto você quer fazer isso. O quanto você ama fazer isso. Tem gente que desenha lindamente, tem gente que escreve incrivelmente, pessoas sabem técnicas de roteiro geniais, pessoas que acertam sempre o que vai fazer sucesso ou não. Mas não importa mesmo. Ter um ou dois mais títulos não muda merda nenhuma em uma aposta. O cara que não tem nada pode ser publicado e você cheio dos conhecimentos e talentos fica indgnado.

    Por isso acredito, severamente, que a única coisa que funciona é amor (ui). Se você gosta de fazer quadrinho, de verdade, você simplesmente vai fazer, vai lutar. O problema é os que não gostam de quadrinhos, gostam de sucessos. Para esses são apenas dois caminhos: Sofrer, chorar, e fracassar. Ou dinheiro e contratos com o demonio, kkkkkkkkkkkkk

    Fazer quadrinho no Japão é mais fácil? Meu saco. Lá só tem muito mais opções, Brasil tem muito menos concorrentes. Essa de mais fácil ou mais difícil é tão verdade quanto não é. O sonho de publicar é diferente do sonho de ser sucesso. A pessoa que quer publicar faz, o que quer ser sucesso é frescurento, fica mandando e-mail para outros ‘quero ser mangká, como faz?’, praticamente, ‘Me dá uma receita pronta’.

    Todos os que chegaram lá, levantaram a bunda da cadeira e foram fazer, os que não conseguem é os que no fundo, esperam uma luz abrir no céu e cair tudo pronto no colo. Não importa o que faça, é difícil. No Brasil, eu uso o Eduardo Spohr como exemplo de vida.

    ….

    Escrevi muito novamente T-T

      1. Pergunta meio off, mas lá vai: Você acha que talento existe, ou talento seria o resultado de muito empenho e dedicação a algo que se gosta? Pessoalmente, eu acho que talento existe sim. Já vi criancinhas do ensino fundamental desenharem melhor que muito profissional, sem nunca terem tido educação formal nessa área. Mas também já vi gente que desenhava palito man aprender a desenhar coisas legais estudando desenho. Acho que esse talento natural seria uma espécie de atalho para o sucesso, mas que o cara sem talento, mas que se empenha no que quer, também pode chegar lá, mesmo que leve mais tempo. Mãsss, apesar de estar pensando em aprender, eu nunca desenhei, então não sei dizer se é assim mesmo ou não.
        Outra pergunta: Publicar quadrinhos “comuns” é mais fácil, ou mais ou menos a mesma coisa? Pergunto porque, apesar de quase não ouvir falar de autores nacionais de mangá, há um bom número de brasileiros quadrinistas. Nem todos viram autores famosos, mas muitos publicam constantemente.

        1. Olha, Angélica, eu me recuso a acreditar que existam pessoas que nascem com habilidades especiais. Isso desmerece o esforço que cada uma faz. Mas sim, acredito em aptidão, pessoas que aprendem mais fácil isso ou aquilo. Eu por exemplo, não consegui aprender a tocar violão de jeito nenhum e é uma grande frustração minha. Não consigo nem imaginar o que é tocar com tanta naturalidade.
          A segunda eu não entendi. Tá falando de quadrinho que não é mangá? Se for, minha resposta é que tá difícil pra todo mundo aqui!

          1. Sim, era de quadrinho que não é mangá mesmo, ^^. Talvez o motivo de haver mais publicações nacionais de hqs comuns do que de mangá seja por esse tipo de quadrinho ser um estilo mais popular e/ou tradicional (acho eu).

          2. Acredito no “talento” como a aptidão que o Sakuda falou. Já vi gente desenhando muito menos tempo que eu e fazendo muito melhor, no caso, não tenho essa aptidão.

            Já vi um maluco tocar bateria como um manjão na primeira vez que tocou o instrumento, foi algo realmente impressionante.
            Mas ao mesmo tempo também acredito que esse não é o fator principal. O esforço pode compensar tal falta de aptidão.

          3. Max, nesse caso, bateria pode até ser um negócio de senso, música no geral. Mas pega um cara que nunca OUVIU música e fala pra ele criar música com um instrumento em até uma hora.

        2. Eu acredito em talento sim. Existem coisas que nem todos podem fazer (Se um Einstein ou um Shakespear fossem fruto de só esforço, não os chamaria de gênios). O que não acredito é que ‘apenas quem talento pode fazer’.

          Pegando um exemplo rápido, Lee do Naruto não podia fazer ninjutsu. Mas queria ser ninja. Ele nunca desistiu e treinou um Taijustsu anormal. Agora, ele é um dos melhores Shinobis, mas ainda não pode fazer Ninjutsu.

          Se falar que talento existe é desonrrar quem se esforça, dizer que não existe é desonrrar os Gênios. Existem hyper-visões, hyper-ouvidos, hyper-memórias, e não são coisas que você adiquere com esforço. Eu chamo de ‘dom’. Mesmo que seja fruto de um ‘problema’, isso traz um beneficio único.

          De qualquer forma, ter ou não ter dom, acreditar ou não acreditar, não importa, as chances de publicar são as mesmas para todos… Ou talvez um pouco melhores para os gênios… O.o

          1. Rafael, lembrando que gênio não é capacidade, mas status. Os gênios são aqueles que deixaram uma contribuição inestimável para a humanidade. Ou seja, o cara pode ser “genial”, mas para ser “gênio”, precisa fazer algo. Existem predisposições naturais, claro, mas nada se constrói sem esforço.

          2. Realmente. Mas, eu dúvido que qualquer um que tenha terminado uma faculdade de física conseguiria fazer o que o Einstein fez, só no esforço. Com certeza, nada se constrói sem esforço, mas para mim o mundo não é feito de apenas esforço. A voz da Mariah Carey atinge um agudo inacreditavél, ao qual uma pessoa que não nasceu com uma voz para tal feito, nunca conseguirá fazer. Isso eu chamo de Dom. A facilidade enorme em fazer algo que outras não conseguiriam. Ou muitas vezes, fazer algo que ninguém mais conseguiria.

            Steve Wozniak era um gênio, Steve Jobs inteligente e esperto. Jobs é considerado gênio pelos seus feitos, Woz é gênio por ter criado algo que só ele poderia ter feito.

  8. Foda! Excelente descrição do mercado. Sinceramente, esse texto me MOTIVOU a fazer algo. Sério mesmo. Tolo é aquele que desanima ao desafio.

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