Primeiras Impressões – FREE!

PIFree

Yo!

Bora falar dos garotinhos malhados? UI!

Free! estreou com um estigma e uma missão. Antes mesmo de ser anunciado, ele já foi crucificado pelo público apaixonado de seu estúdio, o Kyoto Animation (KyoAni), famoso por ter se estabelecido com muitas das melhores animações moe dos últimos anos, crescendo junto dessa tendência pelas garotas bonitinhas. Por isso, ele precisava provar que, não apenas o próprio anime, mas o estúdio poderia ir além e fazer mais coisas, aumentar o leque de seu portifólio.

Não é a primeira vez que acontece. A Sunrise começou sendo conhecida como o lar dos animes de robôs e sempre fez isso muito bem. O tempo passou e ela precisou fazer outras coisas, seja por convite ou por limitação do mercado, já que os robôs não atraem como antigamente. Começou adaptando mangás como City Hunter e hoje é um estúdio que faz de tudo. Na época, alguns fãs diziam que o estúdio perdia foco e se tornava mais um. Claro que sem a internet, isso se fechou em grupos que comentavam em eventos japoneses e logo a situação foi assimilada. Hoje, a Sunrise faz parte do grupo da Bandai/Namco e produz animação para seus brinquedos e jogos, além de suas eventuais voltas às raízes, em geral com Gundam.

A KyoAni cresceu muito rápido e já está encontrando suas beiradas, por onde está escorrendo. Para poder crescer mais, nada mais justo do que aumentar sua base de público. Acho que é até mais justo usar seu know how em moe para criar algo parecido do que fazer algo completamente novo ou adaptar mangás que a Shonen Jump não passa para a Toei.

19bd2fa9

Falando da série, ela foi vencedora do segundo concurso de novos talentos da KyoAni, com o título High☆Speed. Uma light novel baseada no projeto começa a ser publicada agora, nesta semana. Basicamente, é um mangá de esporte (spocon – o termo japa para histórias de dedicação ao esporte) visualmente atraente para uma parcela do público. No meu post Guia da Temporada, eu comentei que Slam Dunk abriu as portas para esse tipo de histórias, vou aproveitar pra falar mais um pouco disso.

Até Slam Dunk, histórias de esporte eram focadas em treinamentos e campeonatos, com muito suor, sujeira e tudo o que nós sabemos que o esporte tem. Mas traziam sempre personagens caricatos ou machões, saídos diretamente da era dos brucutús. Era um dos temas primários do gekigá inclusive, junto das histórias policiais e de crime. Já que o tema do gekigá era “retratar a realidade que os mangás de Tezuka não mostravam”, era um caminho natural você ir atrás dos dramas criados pelo esporte, em uma época em que o esporte no geral passava por uma fase incrível. Mas todo esse clima de vestiário masculino afastava as mulheres.

Em Slam Dunk, Takehiko Inoue, saído de uma faculdade de arte, inspirado por Tsukasa Hojo (City Hunter) de quem foi assistente, criou um mangá que misturava outro gênero másculo e suado com o spocon. Os mangás de gangue, que já na época migravam para histórias mais profundas do que somente lutas de gangue, trouxe uma vibração diferente para o mangá de basquete de Inoue. Unindo isso à sua arte, muito mais puxada para o mangá shojo da época, com rostos finos e olhos brilhantes, a série virou um inusitado sucesso entre as garotas, que eram o público mais acalorado do mangá. Se até ali, elas tinham um ou dois personagens masculinos em seus mangás, de repente, surgia um harém de possibilidades, com times inteiros de personagens que arrancavam suspiros. No próprio mundo pop real, o estilo bad boy fazia sucesso, com cantores como Yutaka Ozaki, que romantizava a vida de delinquente juvenil e mesmo Takuya Kimura, do SMAP, que sempre teve uma postura e visual mais agressivo que a média dos idols japoneses.

Free! traduz o perfil dos modelos pop de hoje, herbívoros e sensíveis, com traços de arquétipos atuais. Os personagens se parecem com o que as meninas gostam, homens altos, esguios, com cabelos cuidadosamente bagunçados e corpo atlético. E a resposta foi mais rápida do que o anime: antes de estrear, os itens da série já vendiam muito bem.

Resultado:

0afbb7f8

Sabendo o que está por trás, agora vamos ver o que tem por dentro. Afinal, o que é Free! ?

A história volta alguns anos, quando quatro amigos se juntaram em um time de revezamento do time de natação de sua escola primária. Eles vencem, mas se separam e acabam largando a natação, pelo menos a competitiva. Já no colegial, três deles se reencontram e vão à sua antiga escola, antes de ela ser demolida. (curiosidade: é um fenômeno japonês causado pela baixa natalidade. Escolas são demolidas por falta de alunos todos os anos.) Lá, eles reencontram o último parceiro, que está de volta de uma temporada no exterior. Mas não para nadar com eles, e sim contra.

Isso é o que eu entendi da trama básica da série. E, pra mim, é legal, nada de original, mas pode render um bom anime esportivo, sim. Claro que os momentos mais non-sense causados pelo fan service, me torcem o nariz. Mesmo que justificável, a cena do avental é apelativa e fetichista. Mas acho que não o torna uma história ruim.

Os personagens são bem definidos, inclusive em seu papel na dinâmica do grupo. Cada um desempenhará um papel bem claro, isso é o mínimo que animes moe ensinaram para o KyoAni. Até o protagonista, que sempre está boiando (nem sempre literalmente), consegue ter uma motivação e é ativo, faz as coisas, deixa claro que só se interessa pelo que ele curte, etc.

Eu não fui com muitas espectativas, já que eu sabia pouco. Nem ao menos aquele vídeo que passou no comercial de Tamako Market eu assisti e acho que fora uns capítulos de K-On!, eu não vi nada do estúdio. Então, pra mim, era um anime com uma polêmica besta de brinde. E a montagem do roteiro, dos personagens, a qualidade da animação, pra mim tá tudo ok. Tá num nível bom de qualidade. Não sei se será um grande anime, mas tá longe de estar na zona de rebaixamento da temporada. Pra mim, parece um equivalente à Suisei no Gargantia para a temporada, salvo as diferenças de gênero, vai ser um anime para assistir sossegado e terminar deixando de lado, para os fãs fazerem o que quiserem e dar espaço para o próximo anime médio.

É um anime tão herbívoro, inofensivo, quanto os garotos pelados da história. Assista sem medo, eles não mordem.

Outras opiniões no Genkidama
Gyabbo!
Anikenkai
Video Quest
Argama

E veja meus comentários gerais da temporada!
Guia XIL da Temporada de Verão 2013

10 ideias sobre “Primeiras Impressões – FREE!”

  1. Eu ri quando a irmã do rapaz de cabelo vermelho se encantou pelos tríceps do protagonista XDDD O mais engraçado é que quando mostram ele do ponto de vista dela o rosto fica embaçado, o foco vai todo pros triceps e mais nada…

    Free! com certeza não é anime de ficar pra história (exceto talvez pela polêmica que causou e está causando), mas dá pra divertir. Vou continuar assistindo nem que seja só pra ver quão longe vai o fanservice ^___~

      1. Oops, desculpe, vi os episodios 1 e 2 de uma vez antes de ler o seu post e acabei me confundindo… Se bem que esses primeiros episodios foram bem inofensivos então não chega a ser spoiler XD

  2. Será q eu sou o único que ignorou o fanservice na cena do avental?? Eu até ri, pq o próprio personagem comenta algo como “não vis o avental por cima da roupa de banho” ou coisa do tipo. Acho q a KyoAni tem muita experiência com moe e não é só pq está fazendo moe “para o outro lado” que vai pisar na bola. Dificilmente fiquei incomodado com cenas de fanservice do KyoAni até (e olha q eu sou do tipo q larga animê qnd o fanservice é exagerado). Eles sempre colocam a boa dose de comédia para aliviar a sexualidade e isso acaba dando um tom diferente pra cena. Coisa que os animês “hardcore” não tem.

  3. “Mesmo que justificável, a cena do avental é apelativa e fetichista.”
    Bem-vindo ao nosso mundo. Ao tipo de coisa que todas as garotas tem que absorver e aceitar sorrindo em TODA a cultura pop, não rara inclusive nos mais populares e cultuados mangás, animes, games e filmes. Concessões de fanservice irreal com garotas estão em TODOS os lugares, mas quem aponta isso é só ‘feminista chata’, né?

    A cena do avental foi perfeita, pois a cena da “garota de calcinha/biquini cozinhando só de avental” é clássica. Agora inverter a situação a torna incômoda por si só? ;) É algo a se pensar.

    No mais, não aguentei ver K-On nem Kimi to Boku, mas Free! deu pra assistir de boa, então imagino que Kyoani esteja fazendo um bom trabalho.

    1. Ninguém citou feminismo, não entendi o que quis dizer com seu comentário, sério. Eu sou contra os dois tipos de fan service, mas como eu disse no texto, entendo que isso tem lá seu motivo que não é relacionado a narrativa. Perfeita por conter uma crítica indireta a algo que você não aprova devolvendo na mesma moeda? Não seria mais racional simplesmente aprovar os dois ou desaprovar os dois?

      Aliás, tem uma versão “se Free! fosse com mulheres” da cena do avental
      http://www.pixiv.net/member_illust.php?mode=medium&illust_id=36866804
      Eu penso que o mundo é grande e cheio de oportunidade para todos, Free! é resultado disso. Vou torcer o nariz para cenas de homens pelados porque é um fan service do qual eu não sou fã e aceito mais um em que uma menina gostosinha faz a mesma coisa, porque eu sou fã de mulher. Só isso.

      Engraçado é que eu fui positivo na crítica.

      1. eu não to te repreendendo nem nada, sério. mas também não sei o que tem de não-entendível ali…

        mas citei a ‘feminista chata’ porque se vc critica a existência de fanservice desnecessário em várias obras, é bem comum o pessoal virar a cara e dizer que ‘é assim mesmo’. Isso quando existe a crítica. Isso porque esse fetichismo com as mulheres é mto mais banalizado e comum do que com os homens, então muitas vezes está lá ‘mas nem se nota’. Cenas de peitos, câmera na bunda, tudo isso é extremamente banalizado e sempre foi. Então quando fazem com um garoto, reação geral vem e é ‘wow, que apelativo!’ Pow, mas é ‘a mesma coisa só que ao contrário’.

        Se fosse um anime com meninas, esse tipo de cena nem seria comentado, seria ‘normal’, mas como é um garoto, se torna um ponto gigante de controvérsia. Por isso a cena é perfeita, pegou um clichê fanservice clássico e só enfiou o outro gênero no avental. Nem devia dar nada, mas as reações são impressionantes e imediatas. Por isso eu disse que é ‘algo a se pensar’. Não é questão de ‘devolver na mesma moeda’, é questão do intenso estranhamento que isso causa, a ponto de todo mundo estar comentando isso: é até uma ótima oportunida de discutir fanservice e sexualização de personagens e o quanto essas coisas estão enraizadas na cultura de uma forma unilateral, causando toda esse furor.

Deixe uma resposta