Mil tsurus pelo Japão

Yo!

A tragédia que ocorreu na costa leste japonesa no último final de semana mobilizou o país inteiro, o mundo todo.

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Cada notícia que vinha tornava o acontecido mais terrível e aterrorizante. Sendai, a cidade mais afetada, mais da metade de sua população subtraida, entre desaparecidos e mortos. Enquanto eu escrevo este texto, o número oficial é de 3 mil mortos e 520 mil desabrigados em todo o Japão. As buscas continuam, e não fosse a antecipação das equipes de resgate e seu trabalho firme e incessante, esses números seriam maiores.
A ferida ainda é recente e sangra muito.

O Japão, um país preparado, alertou o tsunami, tomou medidas cautelares, e por isso conseguiu um número menor de vítimas. O grande problema fica sendo a quantidade de idosos da região. Vendo a relação dos vitimados nessa tragédia, a grande maioria é de velhinhos, muitos dos quais vivem longe de sua família, sozinhos, ou simplesmente não têm mais ninguém. Desde a tragédia de Kobe que o país não sofre um baque tão forte de um perigo tão iminente.

Kobe foi destruida pelo terremoto de Kansai. Suas vítimas chegaram a 6 mil, e a cidade, tradicional pelo seu porto comercial de onde muitos dos primeiros negócios internacionais do Japão aberto começaram, foi reduzida a escombros. Quem mais sente nesses casos é a população, traumatizada.

Fui visitar Kobe, na ocasião do levantamento de uma estátua em tamanho real do robô Tetsujin 28gou, criado por um cidadão local, Mitsuteru Yokoyama, e ídolo de uma geração. Mais de dez anos depois do incidente, ela foi levantada com dois propósitos. A primeira, de reaquecer o mercado local, que ainda sofria os efeitos da tragédia, com diversas lojas vazias em bairros comerciais. A segunda, de criar um símbolo da força de um povo, que como o herói do mangá, se levantava contra as adversidades, e não se deixava derrotar. A estátua foi levantada com doação do próprio povo local.

99ad9_648_PN2011031401000325.-.-.CI0003O Japão é visto como um povo frio. Seu tratamento internacional e suas portas cada vez mais fechadas aos estrangeiros traz antipatia, e a história do país ainda acende a tocha da vingança, assim como foi com os judeus. Pior, usam suas crenças religiosas, que deveriam trazer paz de espírito, para pintar o Japão de exemplo àqueles que não acreditam em seu deus. Seja qual ele for, quem ousa falar por ele, lhe atribuir ações vingativas e terroristas? Quem seria o ser humano que pode portar a palavra de uma divindade, quando mesmo seus líderes não têm esse direito unanimemente? f-gn-2011-0312-0002-ns300

Não, o Japão não foi castigado por nada. A natureza não é justa, nem injusta. Ela simplesmente cumpre seu papel. É a mão que nos alimenta e ao mesmo tempo, nos desespera. Mas nessa frieza japonesa, é estranho aos olhos distantes, ver como os japoneses são rápidos em ajudar os que precisam. Foi assim com o Haiti, com a China, até com a Coréia do Norte, que recebe doações periódicas do Japão, mesmo como uma potencial ameaça. E pro Brasil também. Porque o Japão sabe o que é tragédia, vive com sua possibilidade rondando seus pés todos os dias. Não quero santificar ninguém, nem é de minha posição glorificar o Japão. Eu vivi dez anos lá e sei na pele o lado ruim do país. Mas não podemos deixar de ver que o Japão é um país como qualquer outro, mesmo não sendo um país de católicos, mesmo não sendo um país de pobres, não sendo o maior de todos os países.

7_010429Os japoneses em si são extremamente reservados. Não por frieza, nem por educação ou timidez, mas por tudo isso e mais, é cultura. Mas, tendo como exemplo essa tragédia, eles não deixam de ajudar como podem. Alguns, com roupas, comida. Outros com dinheiro. Alguns são voluntários. Alguns simplesmente mandam mensagens de apoio.

Existe uma tradição no Japão, de se dobrar mil tsurus de origami, para dar a um amigo doente. Quem dobra e quem recebe sabe racionalmente que isso não paga as contas do médico. Isso não cura sua doença. Não resolve seus problemas de forma alguma. Mas o sentimento conta, as palavras, mesmo não ditas, significam muito mais que um pedaço de pão. Mil tsurus, mil pequenos esforços em vão, que não mudam o mundo, nem a vida de uma única pessoa, mas que acalentam um coração e dão coragem pra viver. 01300000317243122802244674700_sNão existe valor para a solidariedade.

Reze pelo Japão, dobre um tsuru, mande uma mensagem de encorajamento. Se puder, mande dinheiro. Não faça isso por um lugar no céu, por remorso, por obrigação civil. Faça se você sente um aperto no coração e quer ajudar. Não precisa ajudar se não quiser. Isso não te torna uma pessoa má. Nós não podemos mudar o mundo, e tragédias são a maior prova disso. Mas podemos lutar e continuar vivendo, ajudando os que nos são próximos, não geográficamente, não politicamente, nem religiosamente simpáticos. Ajudando aqueles que podemos ajudar, da forma que pudermos.

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Cruz Vermelha, doe se quiser ajudar as vítimas.

 

Informações sobre doações em entidades brasileiras.

 

 

Abaixo, aprenda a fazer um tsuru.

 

2 ideias sobre “Mil tsurus pelo Japão”

  1. >Desculpa, Patrícia, apesar do post, eu não tenho nada a ver com a campanha. Se souber onde é, me informe que eu completo aqui. Abraço!

  2. >Olá!! Bom dia!! Vi hj pela manhã, no jornal da Tv, a campanha para envio de 1.000 tsurus para o Japão. Você sabe me dizer aonde poderemos entregá-los?? Gostaria de fazer alguns e enviar…

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