Um harém de mulheres de verdade – Review Moteki

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Yo!

Faz tempo que não falo de série nenhuma que não seja de anime da temporada. Bora ver!

Eu conheci a autora Mitsuro Kubo anos atrás, quando ela publicava 3.3.7 Byoshi (Shinjuku Fever no Ocidente) na Shonen Magazine. Autora que começou publicando shojo, Mitsuko Kubo (seu nome real) se viciou em mangá por causa do irmão otaku, que comprava cerca de 40 títulos diferentes de revistas de mangá e anime por mês. Ainda no primário, seu sonho se tornou ser mangaká. Começou sendo descoberta em um curso da revista Nakayoshi, publicando romances curtos em revistas femininas. Quando seu editor foi transferido pra Shonen Magazine, uma de suas exigências foi puxar Kubo, que fez a série que eu citei, seu primeiro hit.

Disfarçando sua identidade, ela publicou como homem histórias sobre sentimentos dos homens, romances sujos, suados e cheios de feridas. Atualmente, faz sucesso de volta à sua casa, a Shonen Magazine, com Again, uma história adolescente, sobre um garoto e uma garota que sofrem um acidente e voltam no tempo, do último dia de colegial para o primeiro, refazendo tudo o que aconteceu naqueles três anos. Mas antes disso, ela deixou seu melhor trabalho nas páginas da revista adulta Evening.

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Em Moteki, Kubo explora o universo adulto com um romance de pontas soltas do passado. A história é uma continuação do one-shot “Linda Linda”, publicado na Young Magazine, onde o protagonista de Moteki, Yukiyo Fujimoto e sua colega barra-pesada Naoko Hayashida vivem sua primeira trama.

Yukiyo é um cara chegando aos trinta anos, que sempre teve problemas para lidar com as mulheres. Até que um dia, como mágica, as peças começam a encaixar e todas as mulheres de sua vida começam a ligar pra ele e se interessar de alguma forma. Todas ao mesmo tempo! Depois de uma vida de desprezo e esforços em vão, Yukiyo está no seu Moteki, a sua alta com as mulheres!

Tem todo tipo de garota: a linda, legal, inteligente e perfeitinha; a jovem, ingênua e pura; a bela, simpática e um pouco deslocada; a durona, independente e experiente. Um verdadeiro harém de mulheres que satisfazem, cada uma, cada fetiche dos homens. Mas a grande sacada da trama é: se tudo isso não for mágica, não for fantasia e a única coisa é que você nunca se deu conta que as pessoas podem gostar de você sem você ser especial em nada, você vai conseguir entender isso a tempo?

Moteki é ao mesmo tempo, uma crítica ao gênero de harém, onde várias meninas, cada uma no seu estilo, rondam a zona de interesse de um protagonista indeciso, e uma ode à ele, trazendo um sabor novo enquanto reascende o vigor dessas histórias. E isso tudo com a habilidade da autora em criar personagens tridimensionais, com mais camadas e nuances que uma planilha de criação possa ter. O suficiente pra merecer uma segunda e talvez terceira leitura só pra rever a história sabendo das intenções depois. Não tem nada de genial nas reviravoltas da história, e a história se atém o tempo todo em seu mote principal: o crescimento de Yukiyo como pessoa.

Se você é mulher e sempre se sentiu objetizada por mangás de harém, Moteki tem um gostinho de vingança quando pinta Yukiyo como um cara que cresceu mas não amadureceu e trata as mulheres como alienígenas. Ora como vilãs manipuladoras e cruéis, ora como princesas que precisam ser salvas, mas nunca como seres humanos com erros e acertos, e alguns erros muito, muito feios.

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Certezas demais que levam a conclusões precipitadas.

Se você é homem e sempre pensou que um mangá de harém forçava situações só pra gerar um clima romântico que nunca acontece na vida real, Moteki tem situações reais que parecem saídas desses mangás, mas com um fundo amargo aprofundando o doce para não deixar ele enjoativo.

Mas o melhor de tudo é que é um mangá sincero até a medula, com um típico protagonista de harém sendo tratado como o paranoico, um pouco depressivo, esforçado mas chato demais nas horas erradas que ele é. E com mulheres reais, que têm suas dúvidas por serem consideradas perfeitas, que querem fugir da imagem de inocente, que admitem não saber dizer não e que não são sempre fortes e companheiras como a gente espera. Todo mundo tem seus traumas, suas pequenas feridas da vida, aqueles erros que ou aprendemos a viver ou vivemos querendo apagar da existência.

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Dúvidas e insegurança de quem é perfeita.

E pra completar, mesmo os personagens secundários e até os mais simples coadjuvantes de cena fazem sua parte. O melhor amigo boa praça, conselheiro e exemplo de vida, o tiozinho do churrasco, aquele que passa as piores cantadas e não tem vergonha de ter as maiores perversões estampadas em sua cara, a boa esposa típica japonesa, todos fazendo parte de uma história sobre romances que nunca amadureceram, ficaram no ar, deixando pontas soltas afiadas por todo o passado, rasgando a pele sempre que você volta à essas lembranças.

Mas se essa é uma história de amadurecimento voltada para adultos, essa base toda com cara de mangá juvenil acaba fisgando só por causa de uma nostalgia? Acho que o ponto forte da trama está na segunda metade, quando a trama começa a resolver os traumas para que os personagens se tornem finalmente adultos, deixando o passado de lado, aceitando ele, resolvendo o problema e finalmente indo em frente para alguma outra história, de pessoas mais seguras agora que não são adultas apenas por tempo de rodagem.

trailer do filme e…

abertura da série. O ator é o mesmo, mudam as mulheres. A série segue o mangá, o filme é outra história, só baseada no original.

É uma história que se encaixou como uma luva para o Japão da época, quando a primeira geração mimada pelos pais e pelo país chegou à fase adulta, ainda agarrada à barra da saia de suas mães, não comendo a salada, achando a falta de facilidade para sua vida uma coisa injusta e as mulheres, aquele mistério traumático e sedutor. E por isso não demorou para virar filme e série para a TV, com um elenco de primeira, ajudando ainda a tornar a palavra Moteki parte do dicionário cotidiano do país.

A autora diz que se espelhou em situações que ouviu de outras pessoas durante seus anos fazendo mangá para o mesmo público dos haréns. Também colocou situações de sua própria vida, sem o menor pudor. Os homens tem uma imagem idealizada da pureza feminina, da mulher que entrega sua virgindade como um prêmio ao amor mais belo que receber e acho que uma das cenas mais polêmicas do mangá é a que explora a pureza sendo jogada no esgoto, mas sem culpa, sem castigo, sem nenhum comprometimento além da memória, que um dia vai sumir de qualquer jeito.

Moteki saiu em quatro edições, mais uma final que complementa com uma história e com um guia de personagens e entrevista, onde inclusive a autora comenta o final, que foi extremamente contestado. Pra mim, foi perfeito. Ainda tem a história da época de ginásio de Yukiyo, Linda Linda. E os spin-off Moteki Girls Side e Moteki in school days.

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Se você já passou dos vinte e tantos, essa história com certeza vai fazer todo o sentido. É a melhor forma de olhar para os mangás de comédia romântica que você leu durante a adolescência com outros olhos (mesmo, tente colocar a ótica de Moteki em outras obras), uma espécie de Watchmen para o mangá harém. Mas o melhor mesmo é passar a fase de cinismo e voltar àquelas obras, podendo ver toda aquela inocência com um toque de mágica. Assim como fez Kubo, retornando ao shonen quando poderia ficar fazendo mangá para adultos, escrevendo uma outra história sobre a magia da adolescência, onde ainda faz todo o sentido ter traumas e paranoias amorosas.

 

No XIL, os reviews são raros porque eu penso que só vale a pena falar de obras que eu goste e queira que outras pessoas entendam por quê. E as que eu não gosto, não tenho base para falar, porque eu não leio. Simples assim. Os critérios são sempre o fun factor, mais a relevância pra minha vida de leitor. Me divertiu e me proporcionou algo a mais? É disso que eu posso falar. Se eu faria um review só pra falar mal? Nada impede, mas se eu não gosto, nem perco meu tempo. Se eu sou obrigado a falar o lado bom e o lado mal da obra? Não, eu posso simplesmente ignorar o que tiver de errado no material, simplesmente porque eu quero que você leia e goste também. Ser tendencioso é a pura arte de espalhar meu bom gosto!

 

Se você gostou, dê um joinha! Se você não gostou, dê dois joinhas pra eu saber. Se você não gostou e ainda me acha bobo e feio, dê dois joinhas em cada botão para eu arrumar tudo de errado na minha vida! Espalhe a palavra!

19 ideias sobre “Um harém de mulheres de verdade – Review Moteki”

  1. Gostei das colocações suas sobre o manga (qdo gostamos não vejo problema em ser tendencioso), espero que possa le-lo, mas pelo que vi só o achei em Japa, e esse realmente não é o meu forte..(não entendo “patavina” nenhuma), em scans tem poucos capítulos, temos de esperar a boa vontade deles terminarem, enquanto isso fica a curiosidade guardada!

  2. Gostei, fiquei interessado.
    Gosto deste estilo de manga, tenho alguns volumes de Love Junkies e atualmente coleciono Freezing – que é mais o menos parecido.

    Eu ainda tenho um pouco de vergonha, principalmente por ser casado e ter filho, e colecionar essas obras! heuawhua Quem vai em minha casa e olha estes mangas na estante fica enchendo meu saco.

    1. Que nada amigo, se vc for ligar para tudo o que pensam e falam da gente que curte manga, vc pira, sou casado tbem (mais de 10 anos) e coleciono mangas e animes deste que me lembro como ser humano, comecei a apreciar no dia que assisti AKIRA, dai vc imagina desde qdo eu leio mangas e assisto animes, acredito que cada um tenha o seu hobby, sua curtição, a minha é essa, tem amigos que preferem revistas de carros (que nunca irão ter), tbem respeito, como disse, cada um tem a sua praia!!!

  3. Achei 13 capítulos em inglês. isso corresponde ao manga todo?

    E o filme tem legendado em algum lugar?

    1. Nope. De acordo com o Manga Updates, a série tem 4,5 volumes (não me pergunte o que é meio volume, rss). No site dos scans que estavam fazendo a série, a mesma consta como ativa, e esses dois grupos lançaram outros projetos nos últimos dias (aka não estão mortos). Em suma: Os grupos que traduzem a série são lerdos, e como nós não sabemos japonês, o jeito é esperar mesmo, fazer o quê.

        1. Traz pela NewPOP!! Não dá nem de trazer pela internet, então faria sucesso, quem sabe =P
          Ou você poderia fazer um levantamento, aqui pelo blog mesmo, e aí talvez a editora aceite. Sei lá, dicas bobas, mas você realmente me fez querer esse mangá e eu não consigo, porque não falo japonês ¬¬”

  4. Ainda não li a notícia, mas além da chamada (que me prendeu muito a atenção, parabéns, Sakuda), é incrível ver um mangá japonês com pessoas de biotipo e aparência oriental. Algo realmente raro, pelo menos dentro do meu minúsculo escopo de conhecimento sobre mangás.

  5. Mto legal Sakuda, vc dizendo tuddo que precisa saber pra querer ler e não disse nada do que vai-se ler, eu que ja passei dos 20(faz um tempo) fiquei bem interessado.

    Se vc leu Love Hina e Video Girl e gostou e recomenda Moteki, ta recomendado e aceitado.

    Sabe que de certa forma o review pareceu mto com Love Junkies, um mangá tirando a sacagem quase explícita eu acho bem mais profundo que muito harem famosinho.

  6. eae Sakuda,então quem já passou dos 20 anos vai ter um enriquecimento de leitura maior do de quem ainda não passou ? Sou um mero jovem de 17 anos kkkkkkkk mas por causa do post,to morrendo de vontade de ler

  7. Eu fiquei com vontade de ler um mangá de harém…?! Tem que espalhar a palavra mesmo, Sakuda operando milagres, huehuehue.

    1. Cara, não tem scan nem em inglês. É impossível de achar essa parada pra quem não importar o mangá do Japão ou ler a RAW na internet. Aliás, Sakuda, será que não rola trazer pela NewPOP? Porque esse mangá não se acha na internet, a não ser em Japonês ;)

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