A triste realidade do animador japonês

Yo!

O negócio tá feio para o mercado de animadores no Japão. E você sonhando em trabalhar com isso “num lugar onde respeitam a arte“.

Três empregados do estúdio Easter, responsável por fazer cenários para animes como Meitantei Conan, entraram com um processo contra a empresa por falta de pagamentos e abuso, em 35 milhões de ienes(mais ou menos R$910 mil). Eles alegam que não recebiam horas extras e precisavam se submeter à jornadas estressantes fisica e mentalmente. Enquanto a garota do grupo diz que ao perguntar sobre as horas extras ouviu de seu chefe “no mercado da animação, não se paga horas extras”, o mais velho dos três, na faixa dos trinta anos, diz que desenvolveu um problema grave na coluna por se submeter a um ritmo frenético escaneando frames, que quando muito, passavam dos mil por dia.

O cenário japonês de animação nunca passou por momento pior, nem mesmo em seu início, quando Osamu Tezuka produziu o primeiro anime para TV, Tetsuwan Atom (Astroboy). Já era normal que muitas animações ficassem no vermelho até as vendas de vídeo, DVD ou Bluray fechassem as contas. E algumas passaram a depender também da venda de direitos para tapar seus buracos, o que explica a grande profusão de animes que rendem games, figures, brinquedos, cards, etc. Não está mais valendo a pena fazer anime no Japão.

Com isso, quem ganha é o mercado da Ásia, pra onde vai toda a produção de animação se o Japão fechar as portas de seus estúdios. Mas isso pode sinalizar o fim de um mercado como um todo, pela falta de terreno para crescimento do talento individual. Muitos diretores começaram lá embaixo, animando, antes de subir.

A própria retração do mercado modificou a forma como se faz anime. Se antigamente, um novato recém-formado fazia somente animação de preenchimento por pelo menos 3 ou 4 anos, hoje, não é estranho ele se tornar key-animator em menos de um ano. A animação de preenchimento já tem sido feita quase completamente em outros países, como a Coréia do Sul. Se isso continuar assim, é capaz de os talentos migrarem ou começarem a surgir apenas nesses países.

O Sindicato de Animadores do Japão (JaniCa) fez uma estimativa do ganho anual dos animadores. E, trocadilhos à parte, não é nada animador. Os animadores de início de carreira ganham em média 1,05 milhão de ienes anuais, cerca de 40 mil reais. Mesmo um key animator ganha só 2 milhões anuais,  52 mil reais. Isso, levando em conta o custo de vida japonês, é muito pouco. Um aluguel muito barato na região de Tóquio, onde se concentram os estúdios, custa em média 30 mil 60 mil ienes (700 1550 reais, por 17m²), que equivale a 40% do salário do animador. Além disso, somente 12,8% dos associados pagavam a Previdência e 10,6% tinham plano de saúde.

Fechando a matéria, a mais famosa escola de animação do Japão, Yoyogi Animation Gakuin, afirmou que o cenário varia de lugar para lugar. “Só em Tóquio, temos mais ou menos 700 empresas relacionadas a animação. Temos casos de alunos que entraram ganhando 200 mil em algumas empresas, outros que em um ano se tornaram key animators e passaram a ganhar 300 mil. Nós ainda acreditamos no mercado e criamos animadores capacitados aqui, nos certificando ainda de lhes proporcionar um ambiente de trabalho posteriormente”.

A animação como um todo está em uma fase péssima. Todos os problemas do mercado estão se refletindo em produções cada vez mais apelativas e menos ousadia em cada título. Se não é material pronto pra fanservice, é certamente algo com um nome forte e fandom consolidado de alguma forma. Vemos ai muitos horários tradicionais da animação perderem espaço (e com isso, patrocínio) e serem mandados para horários de madrugada ou pior. O volume de OVA também diminuiu, e quando acontece, tem sido em formatos diferentes. Por exemplo, uma nova moda tem sido a própria editora de algum mangá bancar uma animação para ir junto com algum volume do tankohon.

O futuro é cada vez mais negro para as animações…

Fonte: Tokyo Shinbun 

Obs: Tinha errado o valor e a conta, acertei agora. Agradecimentos ao Marcel Goto.

9 ideias sobre “A triste realidade do animador japonês”

  1. VIXI mano,é tão ruim saber logo agora que estou super animado com animação japonesa.Mas essa é a realidades os caras esforçam o maximo para que nos temos 25 minutos de diversão e emoção ali em nossa sala.Galera vocês que tem condição vamos motivar os caras comprar algo do seu anime favorito que seja um poster para motivar mais ainda os cara.Tudo de melhor sempre Vlw e Até +!

    1. eu sei cara mais pra comprar algo pra ajudar temos que comprar pelo menos os volumes isso arremete em produção e garantia de emprego com salarios ok mais embolsa do bolso 300 dolares so nos blu ray vai ser fogo afinal alem disso nem vai ter legenda e ainda teriamos que importa e pagar o frete sobre o produto aumentado o custo uns 100 a 150 dolares e combater isso em assitir de graça legendado e ainda em blu ray so baixando de graça é foda e afinal no brasil ue a população n tem poder aquisitivo en e tbm n tem tanta gente que pode desembolsar isso aq no brasil e nem rico que é mao de vaca.

  2. Fabio, eis o link para o texto do meu blog onde comento o dia em que fui na Production IG. Infelizmente, não tem imagens, mas quando tiver um tempinho, vou atualizar todo o meu relato com as fotos correspondentes. No post, tem alguns comentários do executivo Mikio Gunji. A parte em que comentam sobre o Sky Crawlers tem as informações que tinham na época, com prováveis equívocos ou de tradução ou de release mesmo.

    http://nagado.blogspot.com.br/2008/05/intercambio-no-japao-parte-2.html

    Abraços!

  3. Também já tinha feito um post sobre isso, mas mais sobre a animação em si do que o mercado. Os lucros aumentaram um pouco, mas não porque as vendas cresceram, mas porque os DVDs foram substituídos pelos Blu-rays, que são mais caros. Hoje em dia, o que rende mais é merchandising do que o anime em si.

    Também não acho que isso vai acabar com os animes, é besteira pensar assim, afinal o Japão tá numa recessão vai fazer duas décadas e ainda tem gente gastando dinheiro com isso.

  4. Realmente isso é complicado, a tempos que ouço falar desse tipo de coisa nos estúdios de animação japonesa.

  5. Apesar de tudo isso, não acho que o mercado japonês de animação vá pra vala. Acho que ainda veremos coisas boas.

  6. Eu presenciei um pouco dessa situação quando fui fazer intercâmbio no Japão, em 2008. Reproduzo abaixo um trecho do meu blog, quando comentei a vez em que estive no Production IG. Após uma palestra com um executivo, fomos conhecer uma das centrais de produção. Segue o relato:

    “Na verdade, era uma kitchenete bem apertada, com alguns desenhitas trabalhando. Não tivemos permissão pra falar com eles e nem tirar fotos, pois estavam bem ocupados. Ou quase, já que um estava cochilando quando entramos, levou um susto e rapidamente protegeu os desenhos nos quais estava trabalhando. Faltou uma plaquinha com os dizeres “Não alimente os desenhistas”. Entramos, vimos quase nada e saímos rápida e silenciosamente. Ainda assim, valeu.”

    Realmente, muito longe do glamour imaginado por tantos.

    1. Isso é muito bacana, Nagado! Se puder, linka a postagem direta aqui, acho que tem muita gente que gostaria de ler.

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