A sombra do fim: Cai o véu na antologia Manga Sunday

ASombraDoFimEndofMangaSunday

Yo!

O fim de uma revista com 54 anos de tradição nunca pode ser visto com desdém. Não tá fácil pra ninguém!

Ultima Capa

Ultima Capa da Manga Sunday, de 19 de Fevereiro de 2013

A Manga Sunday (não confundir com Shonen Sunday, a não ser que seja pra se surpreender e ser fisgado pra esse post), antologia adulta da pequena editora Jigyou no Nihonsha (Editora Pequena Empresa Japonesa – e eu não tô brincando nessa tradução!) encerra atividades depois de longos 54 anos publicando alternativas para leitores de mangá adulto. O primeiro sinal aconteceu quando seu maior sucesso em toda sua história, o também longevo Shizukanaru Don (24 anos de estrada, mais que a média do público do Genkidama!) chegou ao fim, no final de 2012. Na verdade, um sinal de sua fraqueza já havia aparecido um pouco antes até, ainda em 2012, quando a periodicidade semanal mudou para duas vezes ao mês.

Nascida no mesmo ano da Shonen Magazine e da Shonen Sunday, um ano de muita agitação no mercado editorial (muitas antologias que existem até hoje são deste ano), a Manga Sunday sempre foi o patinho feio. Foi o lar de GeGeGe no Kitaro, de Shigeru Mizuki, Tensai Bakabon no Oyaji, de Fujio Akatsuka e Shizukanaru Don, de Kazuo Nitta, entre outros. Nasceu com uma proposta de ser o lar de mangás esquisitos demais para qualquer classificação, hoje, vivia de mangás seriados, com um certo erotismo e uma dose de violência. Ainda era cultuada por fãs, que a chamam carinhosamente de ManSan.

O destino das séries que são publicadas lá já é certo. Muitas terminam com ela, em 19 de fevereiro, na edição 5 de 2013, referente ao número 2795 na numeração real. As que ainda tiverem algo a contar, terminarão no website, como webcomic. A editora ainda deve publicar as encadernações durante os meses seguintes.

A motivação, de acordo com comunicado da editora é que a idade dos leitores subiu muito e isso foi se tornando insustentável. As vendas caiam e não se renovavam. Também havia o fator “Shizukanaru Don”, seu alicerce durante os últimos anos, e a incapacidade de criar um herdeiro.

O que eu acho? Você pode pensar “Bem, pelo menos eu não lia nada de lá mesmo!” mas isso é o melhor exemplo do que acontece com as revistas hoje. A Magazine e Sunday, apesar de não crescerem muito, estão de certa forma seguras com suas fórmulas de criar sucessos de tempo em tempo, já que sua linha editorial sustenta o vigor da publicação. Porém, a Shonen Jump sofre de um medo terrível ao fim de seus maiores sucessos, vide a era negra que assolou a revista depois do fim de Slam Dunk e Dragon Ball. Atualmente, o cenário se repete: Naruto parece estar chegando ao fim e One Piece, apesar de ainda distante, tem sido figura deste questionamento. Quando eles se forem, a revista vai aguentar o tranco?

Edição que marcou o fim de Shizukanaru Don: último sucesso selou o fim da publicação.

Edição que marcou o fim de Shizukanaru Don: último sucesso selou o fim da publicação.

Claro que temos novos sucessos com cara de que podem ser longevos, como Toriko. A própria Jump parece estar preparando “para-quedas” antes do fim de séries de sucesso, para que isso não influencie nas vendas, que podem criar um tombo gigantesco de uma hora pra outra. Mas talvez só descobriremos se a nova Shonen Jump está pronta para o fim de suas séries principais quando Naruto acabar.

Explicando como o mercado reage, o negócio é o seguinte: A Shonen Jump, hoje, imprime por semana, cerca de 3 milhões e meio de cópias. Esse número não é por acaso. Eles estipulam isso usando os dados de venda e popularidade, para imprimir somente o necessário para atender a demanda total. O encalhe de revistas periódicas é perdido completamente por não poder ser reaproveitado depois de seu período, voltando para a reciclagem e se tornando prejuízo para a editora, portanto, é extremamente necessário que esse número seja o mais preciso possível. Mais, dá prejuízo. Menos, venda perdida e público perdido. Existe um efeito dominó de mercado que é disparado sempre que o balanço pende pra algum dos lados.

Quando Dragon Ball acabou, a revista passou a vender METADE do que vendia, impressionantes 7 milhões de cópias por semana. O prejuízo foi enorme nas primeiras semanas, até se adequarem. Mas logo na sequência, veio o tombo de Slam Dunk, tirando mais metade dos leitores restantes, diminuindo os números de uma forma impossível de se prever, mesmo nas piores estimativas.

O grande problema é que uma revista grande é feita com uma produção equivalente. Muitas pessoas trabalham para a Shonen Jump para que toda semana saia a revista da forma que precisa sair. Sua tiragem e popularidade garantem a tropa de editores e assistentes. Essa queda repentina muda todo o cenário, tornando necessária a demissão ou remanejamento de muitos envolvidos e parando máquinas caríssimas, que são usadas exclusivamente pela revista. Quem trabalha na área gráfica sabe, máquina parada é custo. E tudo isso acontecendo praticamente da noite pro dia.

A sombra do fim assusta muito a Shonen Jump, mais do que a Magazine ou Sunday (que tem outros traumas – coisa pra outro post). E o fim da Manga Sunday serve como exemplo em escala menor do que pode vir a acontecer. Os japoneses precisam pensar em alternativas de mercado, antes que o mercado obrigue-os a isso.

2 ideias sobre “A sombra do fim: Cai o véu na antologia Manga Sunday”

  1. eu acho que quando naruto acabar talvez eles pensam em retornar para uma serie de anime/manga antigo com dragon ball etc.

  2. Se One Piece acabasse adruptamente por qualquer motivo seria o funeral da JUMP. Perder novamente metade das vendas não a sustentaria.

    A Prova de fogo vai ser quando Naruto terminar, nesse momento que vai dar pra quantificar quais os efeitos atuais de se perder um dos pilares.

    O que deve dar mais medo é a falta de perspectiva de outro sucesso de mesmo nível pra o substituir.

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