5+1 mangás sobre fazer mangá

51MangasdeManga

Yo!

Bakuman se tornou um sucesso falando sobre fazer mangá. Entre seus méritos está o fato de que criou uma onda de novos artistas, que acaba sendo também seu ponto mais irritante. Todo mundo virou “especialista de mangá”. Vamos ver mais cinco obras que abordam o tema?

 Otoko no Jouken

Uma das primeiras séries da Shonen Jump, Otoko no Jouken abordava uma época diferente do Japão. Kazutaro largou os estudos depois do ginásio para trabalhar em uma indústria, em condições sub-humanas. Seu sonho era fazer mangá e para isso, ele tenta se tornar assistente de um grande mangaká. Recusado, ele acaba se metendo em uma briga com a yakuza e tem sua cabeça ferida por uma garrafa. Com o seu próprio sangue, Kazutaro prepara as páginas de um teste, que o faz ser finalmente aceito. Imagine os exageros dramáticos dos gekigás da década de setenta em uma história de sucesso pessoal. Como se Kyojin no Hoshi se misturasse com Bakuman. Isso é Otoko no Jouken. É tão dramático que seu rival não quer simplesmente fazer um mangá melhor, ele quer mesmo matar o protagonista!

Apesar de parecer interessante pela premissa e ter dois grandes autores produzindo, Otoko no Jouken durou apenas dois volumes e foi cancelado. E nunca mais foi republicado, salvo uma ou outra aparição em compilações, como a Jump Legend (que eu tenho!). Somente com o passar do tempo é que seu nome passou a ficar conhecido entre os leitores mais obstinados, como um material cult. O interesse cresceu depois de ser citado em Bakuman, com suas cinco regras do mangaká MACHO! (tipo fazer do seu sangue o seu nanquim…)

Autores: Ikki Kajiwara e Noboru Kawasaki, a dupla de Kyojin no Hoshi. Foi publicado entre 1968 e 1969, na Shonen Jump.

OtokonoJouken

Manga Michi

Com certeza o maior mangá sobre fazer mangá. Está na prateleira de praticamente todo grande mangaká da atualidade, de Eiichiro Oda à Harold Sakuishi. É a história auto biográfica de Fujiko Fujiyo A, um dos mangakás da dupla Fujiko Fujiyo. Eles fizeram parte da segunda geração do Tokiwa-sou, a pensão lendária onde Osamu Tezuka viveu, e foram assistentes e amigos pessoais do deus do mangá. Na época deles, fazer mangá era mais do que publicar semanalmente, mensalmente… A maior parte dessa geração publicava mais de uma história simultaneamente. Faziam dezenas de páginas por semana e viviam na adrenalina de múltiplos deadlines. Mas eram apaixonados por tudo isso. E por isso aguentavam tudo, mesmo sem todo o glamour dos grandes nomes de hoje.

Eles viviam em quartos de quatro tatames e meio ( cerca de seis metros quadrados), com banheiro e cozinha coletiva, não tinham carros caros e nem filas de fãs. Mas exatamente por isso, eram apenas os que viviam o mangá com o coração. E é esse o grande charme da obra. Ela mostra o verdadeiro amor por fazer mangás e é considerado a alma do mangaká, a essência de viver pela arte.

Autor: Fujiko Fujiyo A. Publicado entre 1970 e 1972, na Shonen Champion.

Mangamichi

Manga no Tsukurikata

Uma inusitada visão da produção de mangá feminino, que segue uma forma completamente diferente do mangá para garotos. Claro que é uma área ainda mais particular, por causa do romance velado entre garotas, o yuri, que rola na história. Nela, Asuka Kawaguchi, um prodígio dos mangás, que iniciou sua carreira aos 13 anos, está com 19 e há um bom tempo em uma crise criativa. Fora do mercado, ela se inspira em uma nova mangaká para criar uma nova história. Para isso, ela busca experiência com algo que tem funcionado no mercado: o yuri, a relação amorosa entre duas garotas. Usando uma amiga que é apaixonada por ela, Kawaguchi cria as situações para sua nova obra. Mas essa amiga é Morishita, que assina seus mangás como Sachi, a mangaká que colocou Kawaguchi de volta no mercado.

Ao contrário dos outros, é uma obra mais de relacionamento do que de produção em si, mas toca em um ponto muito importante do mangá feminino, que é o de se tornar cobaia de suas histórias. Muitas autoras de mangá se forçam a viver relacionamentos e terminar eles para criar histórias realistas sobre sentimentos e esse é o ponto dessa história. Apesar do rótulo -yuri-, que acaba sendo uma versão com meninas do boys love, a história consegue ir um pouco além. Os diálogos são bacanas, e mesmo quando não dizem nada, acabam por dizer muita coisa. Ah, e vale dizer: o mangá é seinen, ou seja, para homens.

Autora: Aori Hirao. Publicado desde 2007, na Comic Ryu, e ainda é publicado.

ManganoTsukurikata

Eroman no Hoshi

Esse é uma grande surpresa. O título se traduz para “A Estrela do Mangá Erótico” e realmente se trata de um garoto almejando se tornar um mangaká de pornografia. Mas se leva tão a sério que chega a ser uma leitura de alto nível, cheia de referências otaku de todo tipo, bem humorado, louco, mas cheio de dicas valiosas e verdadeiras, sobre tudo da produção de um mangá, desde o roteiro até a arte, indo de amador à assistente e depois profissional. Eu diria que em dois volumes, ele vale mais para um aspirante a mangaká do que os vinte volumes de Bakuman. E o final ainda pode ser tão intenso que vai tirar lágrimas dos mais sensíveis. Sério! Um mangá que leva a masturbação a níveis quase científicos!

Provavelmente o que eu deixaria no topo da leitura para quem se interessa.

Autor: Morihito Kanehira. Publicado em 2010, na Young King Ours.

EromannoHoshi

Bokuman

O polêmico. Shuho Sato nasceu com uma veia para a contestação. Seu maior sucesso, Black Jack ni Yoroshiku, critica abertamente o sistema de saúde japonês, que tem problemas que transformariam o SUS em modelo de atendimento. Reparou que nos mangás, todo mundo que quer se recuperar de alguma doença grave vai para os EUA? Além disso, ele criou um mega sucesso nas adaptações, Umizaru, que bateu recordes nos cinemas em sua segunda adaptação e criou uma briga entre ele e a Fuji TV, que produziu as adaptações de suas obras, por conta de repasses duvidosos e falta de comunicação no uso da marca. Agora, imagine o que pensa um cara como esse quando vê o idealista e fantasioso Bakuman? Bokuman é uma resposta direta ao positivo mercado do mangá de Oba Tsugumi e Takeshi Obata. Muito mais duro e cheio de áreas cinzentas, ele trata o mercado de mangás com o mesmo carinho que tratou o sistema de saúde. Mas infelizmente a série durou apenas 3 capítulos e foi cancelada, sem final. Na verdade, sem começo até, já que a história nem ao menos havia engrenado. Shuho explicou em seu site dizendo que houve complicações contratuais que não puderam chegar a um acordo entre as partes e o afastou da produção. Havia a possibilidade do artista tomar as rédeas, mas no fim, a série foi mesmo cancelada, apesar de toda a repercussão que causou.

Não vale a leitura? Vale. Sato é um bom narrador, extremamente detalhista na criação de página e sua história parecia estar caminhando bem. Mas três capítulos inconclusivos e sem chegar a lugar algum em nenhum ponto é bem frustrante. Vale ver o making off, publicado no site do autor, uma verdadeira aula de engenharia de página, mostrando como posicionar balões e imagem de forma fluida e natural. Mas pelo assunto em si? Não vale.

Autores: Shuho Sato e Tokihiko Ishiki. Publicado em 2011, na Manga Action.

Bokuman

E mais um de bônus!

Uchi no San Shimai

Pegue uma veterana artista de mangá, que publicou por anos na Margaret, selo shojo da Shueisha. Coloque ela para falar de suas três filhas, em um mangá simples, sobre o cotidiano. E você tem uma obra incrivelmente simpática sobre uma dona de casa comum, que trabalha em seus mangás, cuida da casa e cria suas três filhas pequenas, com tudo que acontece normalmente, mas de uma forma que só uma pessoa criativa pode contar. Às vezes, misturando fantoches e brincadeiras de criança. Outras, videogames e coisas que ela abandonou com o tempo. Virou um manual e uma espécie de confessionário de jovens mães como ela e um sucesso respeitável, com um anime bacana, games, produtos…

Você não vai ver dica nenhuma aqui, nem tanta coisa de bastidores (só coisas tipo “minha segunda filha vomitou enquanto eu fazia uma página”) mas vale pra ver o esforço de ser mãe e ser mangaká ao mesmo tempo.

Autora: Pretz Matsumoto. Publicado desde 2005 e ainda em publicação. Na Manga Club, depois migrou para a Suku Suku Paradise.

Uchino3shimai

 

Pra complementar…

Shuho Sato fala para quem quer ser mangaká

A história de Shigeyuki Fukumitsu, a terceira divisão do mangá

Mangaká o caralho!

6 ideias sobre “5+1 mangás sobre fazer mangá”

  1. Otimo post, mas só para copletar, faltou a continuação do Hetappi mangá (aquele do Toryama) só que com nova historia/personagens, agora desenhado pelo Murata, autor de Eyeshield 21! Hettapi Return

    1. É que a intenção desse post foi mais mangás de história que falam sobre fazer mangá. O Manga Hetappi (tenho os dois) é um bom guia para fazer mangá, mas não é história. Quem sabe falo deles algum dia…

  2. Fabio, não acho Eroman no Hoshi em inglês. Realmente nenhum sub o traduziu? Agora que você falou me instigou a ler Ç.Ç

  3. Mais uma das ótimas matérias do site! Parabéns!

    Adoro essas dicas de temas específicos de mangás. Sempre é bom alimentar que eles são muito mais do que apenas os shonens mainstream.

  4. Ótimo texto. Eroman no Hoshi principalmente me deixou bem curioso. Acho que outros dois mangas com a temática que fazem bem são Even a Monkey Can Draw Manga e G Senjou Heaven’s Door.

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