35 anos de carreira de Rumiko Takahashi, em entrevista

RumikoTakahashiInterview

Yo!

A Comic Natalie fez uma bela entrevista com a autora de Inuyasha, Rumiko Takahashi, por causa dos eventos de comemoração de seus 35 anos de carreira. Bora ver!!

E como eu sou safado, estou aqui traduzindo o conteúdo da entrevista.

Rumiko Takahashi é um dos pilares históricos da Shonen Sunday, uma das três grandes revistas para garotos do mercado japonês. Ela teve três sucessos longevos e incontestáveis na revista: Urusei Yatsura, Ranma½ e Inuyasha. Isso por si só já é um feito para pouquíssimos autores no mundo inteiro. Mas ela continua na ativa. Atualmente, publica na mesma revista Kyokai no Rinne.

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Para celebrar essa carreira, ela publica pela primeira vez um box especial, contendo um livro de ilustrações completo, SHOWTIME, com mais de 400 artes selecionadas, retiradas de todas as suas séries, histórias curtas, especiais… Até mesmo artes raras, usadas em encartes da Shonen Sunday, estarão presentes. Item para qualquer fã ficar satisfeito.

Além disso, um guia completo do Rumik World, o universo de personagens de Rumiko Takahashi, com dados e curiosidades de sua obra. ALL STAR tratá centenas de personagens de cada série, mas não apenas listando, todos terão uma arte e alguns dados e os principais devem ganhar mais destaque. Um livro para relembrar o enorme panteão de personagens da autora.

E também será publicado pela primeira vez em um encadernado, a história MOON Dai Pet Oh, que saiu na revista infantil Shogaku 3nensei, da Shogakukan. Em quatro partes, a história apresenta MOON, um alienígena que vive na lua e tem a forma de um coelho. Um dia, ele vem à Terra e passa a viver na casa do garoto Shota. Uma história rara da carreira de Takahashi, feita para um público infantil.

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Finalizando, uma série limitada de selos com os personagens será dada apenas para quem reservar com antecedência nas lojas credenciadas. Serão apenas dois, mas acompanham a arte.

 

Agora, vamos à entrevista! Ela é original da Comic Natalie, visite o site deles para fotos e imagens!

 

Rumiko Takahashi – Entrevista de 35 anos de carreira

Eu quero que todos meus personagens sejam felizes

-Parabéns pelos 35 anos de carreira. Relembrando todos esses anos, qual o seu sentimento?

Hm… 35 anos… Passou rápido!

-Acontece de você reler os seus materiais passados?

Isso não costuma acontecer. Eu sou das que não voltam para ler o que já terminaram. Só costumo reler os trabalhos em que ainda estou trabalhando, para relembrar episódios e ver o curso da história. Ah, mas quando eu era mais nova, sempre que saía um encadernado, lia e relia diversas vezes de alegria.

-Na época de Urusei Yatsura e Maison Ikkoku?

Sim. Eu lia completamente pelo lado dos leitores! (risos)

-Com este novo Box Especial, vai sair o livro ALL STAR, onde se reúne os personagens, itens e lugares de suas histórias. Há algum personagem com o qual você se deparou depois de muito tempo?

Ah, sim. Mas mesmo que eu não leia muito, os personagens não saem da minha memória. Acho que é por que eu sou a criadora (sentido ambíguo, criadora no sentido mãe). Este livro é um guia muito detalhado, acho que aqui tem o volume equivalente a um romance!

-E o livro de ilustrações SHOWTIME também é lindo!

Eu mesma penso “como desenhei tanta coisa?”. Na época de Urusei Yatsura, fora os encadernados, eu também publiquei um Mook, com ilustrações, para a Shonen Sunday Graphics Urusei Yatsura, 4, 5 vezes por ano. E a cada edição, eu fazia 3, 4 ilustrações coloridas. Eu era jovem… Hoje é impossível! (risos)

-E é impressionante como Urusei Yatsura e Maison Ikkoku ainda hoje são relidos e não parecem velhos.

Ah… é? Não sei, mas eu acho que os diálogos do começo de Urusei Yatsura são um pouco ultrapassados. Comédia sempre precisa se valer do que está na moda. Aparece “Disco” (nota: discoteca) nas frases. As pessoas de hoje não sabem o que é Disco!

-As gírias podem ter envelhecido, mas o timing das piadas e a tensão não envelheceram nem um pouco.

É, mesmo sendo antigo, as piadas tem o nori-tsukomi (um tipo de piada, se aceita o absurdo em primeiro momento e depois volta atrás, reagindo. Comédia japonesa de hoje usa muito). Mesmo que eu nem fizesse ideia do que isso significava na época. (risos)

-Existe algo que você mesma saiba que não muda em seu jeito de fazer mangá?

Acho que é priorizar o entretenimento. Se você ler, se diverte. Isso tem sido a base dos meus mangás. A vida não é apenas diversão, e isso serve pras crianças também. Mas garantir a diversão pelo menos durante o tempo de leitura, é o que eu chamo de mangá. Por isso, eu quero que meus personagens sejam todos felizes. Em histórias mais sérias, talvez isso não se aplique, mas… Por exemplo, personagens que morrem, eu ainda assim, penso em alguma forma de lhe criar algo especial no fim. Eu sempre vim pensando dessa forma.

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Rumiko Takahashi

Só conheço suas personalidades quando os coloco no papel pela primeira vez

-Mesmo em comédias como Urusei Yatsura e Ranma½ as histórias se inflam, e você pode perceber muito do estilo de vida dos personagens, não é?

Para Ranma, na verdade, o editor havia me pedido para fazer um grande ciclo dramático no início… Mas o que eu não consigo, não consigo mesmo! (risos) De alguma forma, eu consegui jogar isso no final.

-Foi com pedidos desses que você criou um Taiga Drama (série de época) como Inuyasha?

Hm, esse foi diferente. Inuyasha nasceu do meu desejo de fazer uma história séria de aventura.

-Você junta ideias durante a vida?

Não, não é isso. Eu sempre penso só depois que termino uma série. Depois de Urusei Yatsura e Ranma, que eram séries de histórias curtas, eu queria algo em maior escala. Foi simples assim. E quando Inuyasha acabou, foi a vez de voltar às raízes. E então, fiz Kyokai no Rinne como uma comédia.

-Em Kyokai no Rinne, o começo parece de uma história séria, mas é muito engraçado a disparidade entre o personagem galante de Rinne e seu problema com dinheiro.

Eu acho que gosto muito de piadas de pobreza!  (risos) Maison tinha Godai, Urusei tinha Ryunosuke… Escrevo me divertindo!

-Eu sempre ouço que os mangakás costumam estocar ideias em blocos de nota para usar em novas séries…

Eu não faço… Porque quando eu começo a escrever, vai mudando tudo, então eu já sei que não adianta eu querer planejar, que tudo vai mudar. Por exemplo, Maison é isso aí. Antes de começar, eu fiz os personagens e a história, recebi o OK do editor, mas quando comecei a fazer o primeiro capítulo, parece que tudo se foi. Quando eu vejo uma nova perspectiva, eu abraço ela.

-Mas então sobre o que deveria ser?

Era uma espécie de teatro sobre moradores de uma pensão. Mas quando fiz o primeiro capítulo, é incrível, mas o tom do romance tomou a história.

-É aquilo de “os personagens criarem vida”?

Fui eu que os criei, mas só conheço suas personalidade quando os coloco no papel pela primeira vez. “Ah, então ele é esse tipo de pessoa”. Mais ou menos assim. Só percebo quando interajo dois personagens pela primeira vez. Acho que a criação dos personagens não está terminada quando eu faço um por vez. Quando eu finalmente coloco um personagem para falar com o outro é que eles começam a se impor. E para explicar isso, eu vou mudando a história.

-A cada fala dos personagens, a história vai se moldando, não é?

Sim. Por exemplo, o Kuno, de Ranma. Eu o escrevia e ia pensando “Mas por que ele é assim?”, “Ah, não consigo mais acompanhar ele…!”.

 

Lum, no começo, deveria ser apenas uma convidada de um capítulo apenas.

-Os mangás que você faz sempre apresentam personagens singulares.

Enquanto eu escrevo, vou criando. Não estava previsto, mas acho que esse é o momento mais divertido de colocar um personagem, e o coloco. Então, eu penso em um tipo que eu nunca usei… E me esforço pra criar. Por isso, existem persoangens que ganham o amor dos leitores e outros não aparecem mais.

-Existe algum ponto em comum entre os personagens que duram?

É o fato de ele se dar muito bem com algum outro personagem. Eu os crio sempre pensando em alguma utilidade… mas é compatibilidade. Se ele der certo, dura muito.  Não importa se ele está bem estruturado ou se tem personalidade forte. Mas como ele funciona dentro da história. Se eu não começar, nunca vou saber.

-Existe algum que superou suas expectativas?

Tem a Lum. No começo, ela deveria ser uma convidada de um episódio apenas. Ela aparece no primeiro, não aparece no segundo, e volta no terceiro com muito esforço, pra falar a verdade (risos).

-Lum não era a protagonista? Isso é uma surpresa!

Urusei Yatsura começou como uma série de cinco capítulos. Ataru deveria encontrar pessoas estranhas, em uma espécie de coletânea de contos. A primeira era Lum. E depois outro, mas quando eu decidi do nada colocar a Lum de novo no terceiro, o universo se montou…

-A previsão de apenas 5 capítulos acabou virando uma série longeva, não é?

Sim. Mas não posso dizer que isso se deve apenas ao sucesso de Lum. Os leitores mandaram muito mais cartas perguntando “Como vai ficar a relação entre Ataru e Shinobu?”.

-Será que não é por causa da relação entre Lum, Ataru e Shinobu? Isso que intriga?

Quando eu percebi que os leitores liam dessa forma, foi um grande aprendizado.

-Urusei e Maison devem ter tido muitos. Quem fica com quem, quem fica com ciúmes, os preferidos dos leitores. Os que querem que Benten apareça mais, que Godia e Kozue fiquem juntos… Havia esses pedidos, não é?

Sim, e isso me deixava feliz. Os leitores colocavam suas emoções nos personagens.

-De sua história toda, existe algum em especial?

Hm… Não posso responder… Gosto de todos! Essa pergunta sempre me atormenta!

-A pouco, você disse que mais do que personalidade individual, a relação entre personagens era importante. Existe algum exemplo bom disso?

Em Urusei, Ryunosuke. Em Inuyasha, tem o Sesshomaru… Depois de aparecer, eles ajudaram muito a história a avançar.

-Seu trabalho atual, Kyokai no Rinne, tem sua heroína, Sakura, como uma personagem mais fria e durona.

Pra falar a verdade, Sakura ainda é um mistério pra mim. Acho que vamos saber o que ela pensa aos poucos.

-O jeito de soltar detalhes da personalidade e do passado aos poucos se assemelha tanto com a vida comum que nos lembra a sensação de conviver com alguém.

Enquanto eu escrevo, penso “por que ele tem esse jeito?”, “por que tem esses poderes?”, vou imaginando as razões e os acontecimentos passados vão sendo descobertos.

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Se eu achar chato, a mão não se mexe durante a artefinal.

-É diferente fazer um material shonen ou seinen?

Eu não presto muita atenção na mudança. Minha experiência com seinen é uma vez por ano, fazendo o “Takahashi Rumiko Gekijo” na Big Comic Original. Mas esse material eu converso com o editor e dessa reunião a história vai se formando. Tendo um público de adultos e contando histórias cotidianas, eu preciso estudar qual o assunto do momento. Todo mundo sabe que a vida real é dura, mas eu quero mesmo contar uma história que tenha sonhos e fantasias, mesmo que o cenário seja cotidiano.

-É isso que todas as suas obras têm em comum, né? Então, o que você fazia para trocar a cabeça para trabalhar em séries simultâneas, como Maison e Urusei?

Se são séries de tipos diferentes, é até fácil fazer a troca. Quando eu fazia Urusei, ficava com vontade fazer Maison. E o contrário também. Eu era evasiva. Fazia mangá de forma evasiva. (risos)

-Você tem a fama de ser muito rápida para terminar suas páginas.

18 páginas, eu faço até os esboços em três dias, mais dois para a artefinal.

– Antes dos esboços, você prepara o cenário ou argumento?

Não, eu não faço nada disso, começo a fazer os quadros. Eu passo mais tempo pensando aí. Os esboços são muito importantes.

-E você revisa/refaz alguma parte?

Antes de começar uma nova série, eu arrumo muito. Urusei teve umas sete revisões. Ranma também deve ter tido por aí.

-E isso é crítica do editor?

Crítica minha também, mas o editor opina muito. Mesmo que eu me sinta bem, se não conseguir convencer outra pessoa, acho que não está certo. Se não for minucioso assim, não fica divertido. Às vezes, acontece de um roteiro ser aprovado sem estar tão bom assim. Mas ai, quando eu vou finalizar, a minha mão não se mexe, por instinto. Acho que não quero fazer coisas que não são divertidas.

-E o que você faz quando sua mão não se mexe mais?

Se isso acontece, refaço desde o esboço. Acontece de eu perceber na finalização. “Ah, o editor estava com uma cara meio entediada (durante a checagem do roteiro)” (risos). Mas eu não quero desenhar um mangá do qual eu não possa reler depois… apesar de ser terrível refazer tudo.

 

Me surpreendi com as linhas das garotas de Go Nagai

-Desde sua estreia, você viveu sempre fiel ao gênero shonen. Você tem alguma ligação com esse gênero?

Claro que tenho! Quando era criança, eu também lia shojo, mas me envolvia mais no universo dos shonen.

-E que mangá você mais gostava na época?

Quando eu era pequena, gostava muito de Osomatsu-kun (Fujio Akatsuka), Obake no Qtaro (Fujiko F Fujiyo, Fujiko Fujiyo A). E do Osamu Tezuka, Dororo e W3. Quando estava no ginásio, os mangás de Ryuichi Ikegami me chocaram. Eu busquei muito em livrarias de usados o Homem Aranha dele. No colégio, li Yakyukyo no Uta (Shinji Mizushima) e Ashita no Joe (Asao Takamori, Tetsuya Chiba)… Não lia apenas mangá shonen popular, lia também a Garo, coisas de revistas mais underground.

-Como desenhista, tem algum artista que te influenciou?

Até esse meu trabalho mais recente, acho que o que mais me influencia é o trabalho de Go Nagai. Harenchi Gakuen e Devilman me deixaram hipnotizada. Na época, fazer mangá de história ou de piada eram coisas completamente distintas. Mesmo que o mesmo autor faça os dois, sempre havia aquilo de desenhar de forma diferente cada tipo de história. Só que o Nagai Sensei usa praticamente o mesmo traço para qualquer história, mesma proporção para histórias sérias ou de piadas… “Dá pra fazer isso”, me surpreendi.

-Ele te influencia em seu jeito de ser autor, né?

Claro que também influencia o traço. Harenchi Gakuen tem garotas com linhas sinuosas que me inspiraram muito.

-Ah, sim! As garotas que você faz não são glamourosas mas ainda são bem sexies, então é essa a origem? Não existe um modelo real?

Não. Ah, a Lum recebeu o nome de Agnes Lum, de quem eu achava a linha dos seios muito linda.

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Agnes Lum, modelo de Lum

-É uma característica das idols da década de 70, não é? O mundo das gravure (álbum de fotos de ensaios) acabou se voltando as peitudas. O que acha disso?

Ah, quando eu vi as irmãs Kanou (irmãs ricas e conhecidas por sua forma física e estilo de vida. Google aqui “叶姉妹”) eu tomei um susto! Parecia aquelas mulheres de mangá, com peitos como melancias, achei que fossem mentira, mas era verdade! (risos) Eu acho que minhas garotas estão ficando com os peitos cada vez menores.

-Desenhando, que história e que cena você mais se divertiu?

Entre os mais sérios, a série da sereia… Aquele eu fiz degustando como se fosse um leitor.

-A série da sereia tem uma certa relação com Inuyasha, pelo lado folclórico, não é?

A série da sereia é densa e bizarra, em Inuyasha, eu queria dar um aspecto de fantasia. Eu pesquisei um pouco na época de Inuyasha, os yokais japoneses são bem dóceis, não comem pessoas (risos). Eu queria algo mais assustador, por isso boa parte dos yokais de Inuyasha são originais.

-Os seus yokais são bizarros, mas indo um pouco além, por exemplo, eles podem ser gigantes, mas com alguma coisa bonitinha por trás, acho que o nível de liberdade poética é bem alto.

Ah! Tem uma coisa que eu me divertia desenhando! As cenas de luta de Ranma! Eu gosto muito de filmes de comédia com kung-fu, especialmente de Jackie Chan em Drunken Master. Eu me imaginava desenhando aquelas divertidas cenas de ação!

 

Entendendo a criação do Rumik World

-De atrapalhadas comédias até histórias mais sérias, você trabalhou com uma vasta gama de histórias, criando um termo que define suas criações, o “Rumik World”. Quando isso aconteceu?

Isso aconteceu em Urusei, como uma chamada. No começo era “Comédia hilária de monstros”, eu gostava dessa. Depois, o segundo editor colocou esse “Rumik World” como chamada. E essa pessoa acabou sendo meu editor em Maison Ikkoku.

-E o que o levou a criar isso, você sabe?

Ideia mesmo acho que não tinha… Acho que ele pensou em criar uma palavra especial e atrair a atenção dos leitores. Quando eu ouvi pela primeira vez, fiquei contente. Tinha o meu nome e com isso, os leitores iriam se lembrar.

-Realmente, Urusei é chamado de Comédia Ficção Científica, mas não define completamente. Maison é um Drama Romântico, mas não é só isso. Essa palavra acertou perfeitamente o seu futuro.

Verdade. Acho que ele fez algo que completa muito bem. Por exemplo, em Takahashi Rumiko Gekijo, um salaryman protagoniza, mas tem um pouco de fantasia. Acho que isso é o Rumik World.

-Por outro lado, acontece de você criar algo pensando no Rumik World?

Não acontece muito. Eu sempre faço sozinha, então enquanto eu continuar assim, acho que o conceito deve continuar sem grandes mudanças.

-Acho que um detalhe importante pro Rumik World é o tom da comédia. Qual a origem dessa comédia?

O que eu lembro de imediato é um programa que eu assistia quando era criança, chamado Taisho Terebi Yose, onde rakugokas e manzaishis (comediantes tradicionais japoneses, se valem mais das palavras do que de movimentos ou gestos. Manzai é bem próximo do stand up americano). Acho que aprendi aí o mecanismo do nori-tsukomi.

-Sobre o cenário da comédia, tinha algo que eu queria muito lhe perguntar hoje…  Cenas atrapalhadas sempre tem um detalhe em comum. As duas mãos fazem um gesto, com dois dedos do meio dobrados. Acho que é só você quem desenha essa pose, tem algum significado especial?

Isso (ela faz a pose)? Não pensava muito para fazer, mas… O que será? Por exemplo, em uma cena atrapalhada, alguém apanha, né? Se ele for arremessado, passa a impressão de doloroso, de dor, mas com essas mãos, não parece tão triste assim (risos). Não foi tão forte assim, ele está bem pra fazer piada, acho que eu penso isso.

-Quando começou a desenhar isso?

Acho que foi em Urusei. Ah, é! Depois eu fui descobrir, em uma carta de leitor que esse gesto tem um significado, significa “I Love You”. Eu não fazia a menor ideia! Não achei que fosse uma pose tão bacana assim!

-Não, não! Aquela pose é um símbolo do Rumik World pra mim. Ah, e nas cenas atrapalhadas ainda tem a onomatopéia CHUDOON!, não é?

Ah, muita gente me diz isso, mas não fui eu que criei. CHUDOON! apareceu junto com Urusei Yatsura, em outra série da Shonen Sunday chamada Dekin Boy, de Nobu Tamura Sensei. Ele é incrível! Eu fui depois, quem lia a Sunday naquela época deve saber.

 

Abençoada pelos dubladores em diversas versões em anime.

-E o que acha dos seus mangás virarem anime?

As versões em anime eu considero um prêmio pelo sucesso do mangá. Fico muito feliz.

-Em Urusei, teve o longa Beautiful Dreamer, que segue uma linha diferente do mangá. Pros fãs, leva a longas discussões.

Eu considero ele um filme de Mamoru Oshii e me divirto assistindo assim.

-Mas será que isso é um pedaço do Rumik World?

Os animes são feitos por muitas pessoas. Em um anime pra TV, existem diversos desenhistas, um diretor e a visão dele é que define. Eu tento não me envolver na produção do anime. Por isso, eu fico ansiosa para ver o anime todas as vezes, assisto em tempo real.

-Os dubladores também parecem já terem papéis cativos.

Em cada trabalho, eu fui abençoada pelo dubladores, agradeço muito isso. Em Urusei, tinha Toshio Furukawa, que fez o papel de Ataru (nt: e do Piccolo e de Portgas D. Ace), fiquei muito contente! Eu era muito fã da série Shirobai Yaro Jon & Ponch (CHiPS, pelo nome no Japão), e o Ponch era dublado por Furukawa e ele ia dublar meu personagem!  Mendo era dublado pelo Akira Furuya (o Kenshiro, de Hokuto no Ken)… Quanta gente espetacular no casting, eu pensei. Em Maison, a Kyoko tinha a voz de Sumi Shimamoto, que fez a Nausicaa, fiquei emocionada!

-Você consegue ouvir que tipo de voz os personagens têm enquanto desenha?

Não, eles ainda não têm voz nos meus esboços. Mas a partir de Maison, Ranma, eu comecei a participar das escolhas das vozes e dizer que voz que eu acho que combina melhor.

-Tem alguma exigência que você faz nessa hora?

No começo de Ranma, as vozes de Ranma homem e mulher seriam feitos por uma única dubladora mulher. Claro, tem mulheres dubladoras com vozes masculinas incríveis, mas eu preferia que as vozes fossem separadas, e falei que imaginava assim. A voz do Ranma homem de Kappei Yamamoto (o Ussop e Inuyasha) ficou perfeita.

 

Quero continuar fazendo shonen o máximo que puder

-Depois de ultrapassar a meta de 35 anos de carreira, existe alguma meta que você ainda quer alcançar?

Por enquanto, é só continuar desenhando Kyokai no Rinne o máximo que eu puder. Meta… Quero continuar fazendo shonen o máximo que puder.

-Para você, existe uma forma que o shonen deve manter?

Por padrão, ser alegre. Mesmo tendo batalhas, o personagem que perde não perde a dignidade. Mesmo quando é o rival (ou vilão, a palavra aqui é ambigua), existem coisas que podem e que não podem ser feitas.

-Você tem mesmo amor por todos os personagens que cria?

Mesmo os mais perversos sempre tem alguma coisa boa, eu espero que tenha algo de bom. Eu não consigo desenhar ele se não encontrar nada de bom. Quando é um mangá de outros, eu posso ler mesmo os personagens mais perversos, mas quando é comigo… não sei por quê, eu não consigo desenhar.

-Será que é por pensar nos leitores mais jovens?

Não é isso. É algo comigo. Acho que minhas exigências são altas demais quanto à isso (risos).

-O mangá shonen é feito principalmente para os garotos lerem. Você tem alguma mensagem em especial que gostaria de passar aos leitores?

Eu não penso em passar nenhuma mensagem em especial para quem lê. Mas se eu conseguir que a pessoa que lê, mesmo que tenha algo de muito triste em sua vida, sinta um pouco de alegria, seria muito bom… Só isso.

-Assim como você mesma fazia quando lia mangás em sua infância, não é?

E hoje também (risos). O momento em que estamos lendo mangá é apenas diversão, né? Quero continuar a fazer mangás que passem esse tipo de sensação. Eu aposto nisso. Eu penso que é esse o papel que o mangá desempenha!

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E é isso. Traduzi por cima, na pressa, então se você lê japonês e quer comparar… feche a janela e seja feliz! Lembrando que o conteúdo é da Comic Natalie LINK AQUI e eu traduzi pela pura safadeza e porque é um texto muito legal.

9 ideias sobre “35 anos de carreira de Rumiko Takahashi, em entrevista”

  1. Gostei muito da entrevista…. Adora as obras da Rumiko, mas com certeza a minha favorita é Inuyasha. Foi por causa de Inuyasha que eu me apaixonei por animes…. A aventuras, o romances e o drama do anime me conquistaram completamente. Bem que podia ter uma continuação ou outro filme só pra dar um agradinho para nós fãs…. XD

  2. sem duvidas, parta mim o melhor manga e anime ainda eh inuyasha.. queria tantoo q tuvesse cotninuaçao..a vida nao para neh?

  3. A entrevista dada pela grande mestra Rumiko Takahashi é, sem dúvida,
    muito instrutiva, pois mostra como ela consegue fazer aquelas histórias
    que cativaram legiões de fãs, eu incluso.
    E, sem dúvida, sua
    influência se estende a outros autores e autoras de mangá, sendo que o
    que mais se aproxima do estilo de suas histórias, na minha opinião, é o
    mestre Riichi Ueshiba, autor de Nazo no Kanojo X (série essa que têm
    semelhanças com Urusei Yatsura e outras séries da mestra Rumiko).

    Sem dúvida, ela influenciou o mestre Ueshiba, isso se percebe depois de
    ler as obras dele. Além da série atual, NazokanoX, Ueshiba criou outras
    séries, como Discommunication e Yume Tsukai. Só Yumetsukai e Nazo no
    Kanojo X ganharam versões em forma de anime, pelo menos por enquanto.
    Mesmo assim, vale a pena ler todas as obras dele).

  4. Parabéns pela tradução, além de ter sido uma ótima leitura para esse sábado, confirmou uma série de curiosidades que eu imaginava sobra a Rumiko!

  5. Achei que os dedos do meio dobrados fossem referência ao Homem-Aranha, personagem que a Takashola é fã. De todo modo, excelente matéria, Sakuda.

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